Sábado à noite. Um dia casual de céu limpo e muito azul. Acordo um pouco ansiosa: tenho dois eventos festivos e preciso me organizar. O dia está em silêncio, mas minha cabeça ferve: preciso estar em dois lugares quase ao mesmo tempo. Depois do café da manhã, sento para ouvir um pouco de rádio. Estranho não? Descarto meus vícios tecnológicos para escutar um rádio de pilha encontrado numa gaveta do quarto. Eu o experimento e ele funciona perfeitamente. Engraçado o ato de escutar, ato simples, mas que demanda movimentos complexos e seletivos dos sentidos. Em casa tudo é som, porém escutar é selecionar harmonias que me preencham com paz, tranqüilidade e pequenas exaltações. Sentada na cadeira da cozinha, não consigo desligar o rádio e aspiro seus sons e sentidos tal e qual uma liturgia. Escutar é uma solenidade à minha capacidade de sentir algo imaterial. Sem fechar portas emocionais, sou preenchida por uma massa organizada de novas aprendizagens e fortes experiências. A casa não se move com a ação das pessoas e eu me aceito dentro deste tapete mágico sonoro por muito tempo. Pela pele me deixo invadir e aposto: vou viver mais um pouco. De repente o rádio se cala. O mundo profano destrói meu enlevo sagrado e me lembro de que preciso agitar os membros para honrar meus compromissos: as festas, outros momentos em que novas celebrações emocionantes me fariam escutar a música do coração, da amizade e da alegria. Estes pontos me retroalimentam tal e qual as pequenas percepções sensíveis do carinho, aconchego, interesse e confiança dos outros. Estou certa: hoje é um sábado de celebrações importantes! Dia de diferentes festejos ao gosto, aos amigos, às relações, aos ídolos, à energia positiva, às minhas (nossas) manias camaleônicas de viver a vida em busca de amor. Isso! Todos nós estamos em busca de amor, dos festejos do amor incondicional a todos que, minimamente, nos devolvam um sorriso, estendam as mãos e/ou nos reconheçam, em meio à multidão de desconhecidos fanáticos por nossa alegria de ser. Estou pronta: depois da festa de aniversário de um vizinho muito querido, verei, de novo, o show do grupo Celebrare, na Lona Cultural João Bosco, em Vista Alegre. Eu vou celebrar publicamente todo o meu carinho por eles e sua doação de saúde e vitalidade. Eu vou celebrar momentos cada vez mais especiais de reconhecimento e valor. Eu vou celebrar minhas motivações de vida. Eu vou celebrar mais essa oportunidade de estabelecer um ritual de passagem entre o que sou e o que posso ser simplesmente no dia seguinte. Eu vou celebrar a perda do tempo rígido e a fluência desordenada das batidas do meu coração e das minhas potencialidades. Eu vou celebrar a perda paulatina das minhas reticências quanto a pegar autógrafo de parte do meu imaginário. Por algum insano motivo, estou na fila dos autógrafos: coragem é um negócio dolorido. Ao redor novas escutas: força, alegria, desejos. Escuto os silêncios das bocas, mas os estopins dos sentimentos. Todos bastante ansiosos. Aos poucos vamos entrando e começo a assumir minha timidez. O que fazer? Falar o que? Só foto? Foto e autógrafo? Só autógrafo? Muitas dúvidas que seguem me travando as pernas e que pensam num desvio de caminho. Estou surda para o som do meu nome. Estou surda para o chamado: ‘Claudinha!’. Estanco, surpreendida: ao chamado do meu nome segue-se um abraço incrivelmente sincero de um (quase) ídolo. Será verdade? Será que mereço? É comigo mesma? Eu não sei, mas uma amiga, certa vez, me disse: em toda relação de amor ou de amizade se não houver ADMIRAÇÃO, não há continuidade, é fácil o desrespeito e o fim é uma realidade. Escuto aquele olhar, aquele abraço, com tamanha pureza, que só tenho tempo de sorrir e torcer para que este seja entendido como correspondente há tanta delicadeza. Hoje, depois de assistir (e estar com) o grupo Celebrare aceito o pensamento de minha amiga por dentro da alma. Ainda não peguei meu autógrafo, mas carrego, por dentro, a alegria forte de uma noite vulcânica e de um abraço sincero e delicado. Sylvia e Celebrare, obrigada por tudo!
O mundo é desconhecido e estou desbravando a mim mesma para aceitar o mundo como ele é. Como professora (Estado), Tutora em cursos de EAD, Revisora de Material Didático e MESTRE em Educação (UNIRIO), estou seguindo a vida fazendo o que gosto, como gosto e com quem gosto muito. Escrevo e publico textos para me esvaziar de mim e poder aceitar o Outro como vier. De resto meu vicio é o mundo virtual, ainda que eu nao seja dissimulada. Mutante? Isso! Eu gosto de ser mutante!
domingo, 27 de março de 2011
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Um comentário:
Como foi bom começar meu dia lendo este seu belo texto Claudinha! Celebremos a vida com uma boa decisão: celebrar a amorosidade durante esta semana e por toda a nossa (breve) vida!
Beijocas no coração!
João Beauclair
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