Em
meio a pandemia, que tal nós, professores, apostarmos no potencial aprendente?
Difícil pensar diferente? Difícil sair da caixinha e agir por instinto e
experimentar outros comportamentos ou recursos? É sim. É difícil sim. Mas que
tal só experimentar? Enquanto reclamamos, impedimos nossa própria adaptação ao
que nos aconteceu e, com isso, eliminamos a possibilidade de aprender do aprendente.
Hoje estou lendo um pouco sobre a psicologia humanista de Maslow. A quarentena
tem sido de grandes descobertas sobre mim mesmo, também na seara dos
conhecimentos pedagógicos. Estou só me experimentando e conhecendo outros
autores ou áreas de saber.
Maslow pensou no
homem saudável, seus comportamentos, suas necessidades e autorrealizações. Foi e
(no meu caso) ainda é uma nova visão sobre a psicologia humana, e influenciou, não
somente a educação, como também, o campo dos negócios. Como sempre, outro autor
cuja infância e juventude foram marcadas por problemas de interação social e de
educação muito rigorosa; além disso, foi muito rejeitado por ser judeu. Impressionante
como, ao ler a biografia de diferentes autores que influenciaram a educação, eu
me deparo com situações de exceção (guerras) ou traumas em seu psicologismo, no
período da infância ou juventude, como fatores que estimular suas criatividades
em diferentes áreas de saber.
No caso de Maslow,
em seus estudos universitários, a área escolhida para aprofundamento foi a
psicologia. Depois do doutorado, publicou sua primeira hierarquia de
necessidades, um esboço daquela que seria terminada anos depois. Maslow teve
como mentor Alfred Adler e montou sua teoria da Autorrealização com base nos rastros
das personalidades de Erich Fromm, Einstein e outros.
A pirâmide de
Maslow, também chamada de hierarquia das necessidades de Maslow, conceito
criado na década de 50 para “determinar o
conjunto de condições necessárias para que um indivíduo alcance a satisfação,
seja ela pessoal ou profissional”. Tais condições vão desde aquelas
necessárias à sobrevivência até às mais complexas, em uma hierarquia de
satisfações motivadoras.
Em princípio, há
cinco níveis: fisiologia, segurança, amor e relacionamentos, estima e
realização pessoal. Mas, mais recentemente, foram incluídos mais três níveis, a
saber:
NIVEIS
DE NECESSIDADES de Maslow
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Necessidades Fisiológicas
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São as necessidades mais básicas que
precisam ser saciadas para manter o corpo saudável e garantir a
sobrevivência, a saber: processos de homeostase (sentimento da
temperatura corporal, funcionamento hormonal, entre outros); processos de respiração, sono e digestão;
saciamento de fome e sede; disponibilidade de abrigo.
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Necessidades de Segurança
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A necessidade de segurança
engloba mais do que a presença de um abrigo. A saber: estabilidade no emprego:
renda garantida; segurança do corpo: abrigo seguro, proteção contra
ameaças; segurança da saúde: planos de saúde, ausência de doenças; segurança
da família: seguros de vida; segurança da propriedade: casa
própria, garantia de proteção aos seus bens. Ou seja, esse nível da pirâmide
trata das sensações de proteção e garantias de soluções perante a situações
que estão fora do controle do indivíduo. Planos de saúde são um exemplo de
necessidades de segurança.
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Necessidades de Amor e
Relacionamentos
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Relacionadas com o senso de
pertencimento e intimidade, fatores essenciais para a felicidade humana.
Evoluímos, afinal, de maneira social. É importante para os esquemas de
motivação. A saber: Amizades; Família; Relacionamentos amorosos; Intimidade sexual;
Intimidade platônica; Pertencimento a grupos ou sociedades (igreja,
escola, grupos de atividades, grupos de interesses em comum); Identificação
e aceitação perante a seus pares.
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Necessidades de Estima
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Sensação de ser estimado. Além de
precisar desenvolver a habilidade de reconhecer suas potencialidades; que
seus pares reconheçam e identifiquem seu valor no grupo. A saber: autoestima;
confiança; conquistas e realizações; reconhecimento dos pares; respeito dos
outros; respeito aos outros; conquistas e reconhecimento.
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Necessidades de Realização
Pessoal
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São mais complexas necessidades
do ser humano e, por isso, essenciais para que o indivíduo alcance a
verdadeira realização pessoal e profissional. A saber: moralidade; valores;
independência: autossuficiência e liberdade; criatividade; espontaneidade; controle;
autoconhecimento. É preciso muito trabalho, reflexão e conhecimento de si
para satisfazer essas necessidades.
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Necessidade de aprendizado
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O indivíduo sente ânsia de
aprender, conhecer e compreender o mundo à sua volta.
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Necessidade de satisfação
estética
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A busca pela perfeição, simetria,
beleza e arte.
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Necessidade de transcendência
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Fé, espiritualidade, conexão com
a natureza, aceitação da mortalidade.
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Quadro organizado
a partir da fonte: https://www.sbcoaching.com.br/blog/piramide-de-maslow/
Mas, e as
perguntas iniciais? Como apostar no potencial humano através da psicologia
humanista? Segundo Maslow, nós devemos compreender as necessidades humanas para
seu crescimento cujo ponto culminante seria o movimento de autorrealização. Eis
aí a representação de todo o potencial humano, quando adequada e continuamente
estimulado. Neste sentido, eu fico pensando: todo comportamento reflete tanto
as necessidades humanas, quanto a ausência de respeito a elas. A
autorrealização é a parte que cabe desenvolver nas escolas, nas salas de aula,
nos grupos familiares, enquanto os aprendentes se desenvolvem biologicamente e
para que se fortaleçam emocional e cognitivamente. Na maturação das interconexões
neuronais, a partir do acesso e assimilação das informações, a autorrealização
acontece.
Além de Maslow,
nós precisamos ler Carl Rogers, Victor Frank e Erich Fromm, por exemplo, e a
chamada Terceira Força. Em tempos de pandemia, talvez (estou apenas começando
os estudos), seja necessário que nós, professores, entendamos o valor da
descoberta de si mesmo (dos aprendentes) para o acontecimento de
autorrealização no futuro. Esta é uma capacidade aprendida juntando diferentes
saberes, de forma consciente, para que, na medida em que o córtex frontal esteja
desenvolvido, as escolhas e as decisões ocorram com equilíbrio e atenção.
Segundo alguns
textos pesquisados na Internet, “a teoria
da autorrealização de Maslow propõe que o homem é um todo integrado e
organizado; mas que, cada um tem necessidades hierárquicas que devem ser satisfeitas. Essas
necessidades são fisiológicas, afetivas e de autorrealização, e devem ser
resolvidas a partir da base da pirâmide, que são as necessidades fisiológicas,
de segurança, afetivas e de autoestima”.
Em tempos de
ensino remoto, será possível pensar desta forma? Agora nós, professores, temos
outra medida de tempo e menos mobilidades pela cidade para ensinar. Será que
temos tempo para pensar como nosso aprendente aprende e, principalmente, quais
são suas reais necessidades? Se, em quarentena, estamos nos adaptando por uma
questão de saúde mental, por que não nos adaptar respeitosamente às
necessidades de nossos aprendentes mantendo, pelo menos, uma rotina de estudos
de qualidade e significativa?
Muitos professores
me perguntarão: como? Todos estamos distantes. Os sentidos necessários para o
trabalho da percepção e da atenção (audição e visão) destas questões estão
muito limitados ou mediados pela máquina. Então como? Bem comece se
perguntando: quais são suas (deles) necessidades? Todo o processo de
ensino-aprendizagem pode, em princípio, apenas se basear no sentido da palavra
NECESSIDADE. Em linha sequencial, a MOTIVAÇÃO torna-se uma das grandes
necessidades humanas e o ESTÍMULO, uma das fontes para se criar a motivação e a
necessidade e, nessa linha triádica, se sustenta bem a questão da
AUTORREALIZAÇÃO.
Nós, professores,
poderíamos nos apresentar como grandes estimuladores ou motivadores destes
aprendentes a ponto de torná-los ‘metamotivadores’ que, segundo Maslow, a
partir de estímulos positivos, seriam os exploradores das próprias necessidades
básicas para a autorrealização. É um quebra-cabeças motivacional cujo resultado
serão os ‘peaks’ (experiências de pico), momentos em que, de acordo com Maslow,
nossos aprendentes sentem grande vontade de aprender e experimentar o que
aprenderam. Momentos de imersão em sua própria experiência de aprendizagem.
Só alguns
lembretes: hoje em dia, a pirâmide é analisada e aplicada com mais
flexibilidade; em muitos casos, não há necessidade de todos os itens de um
nível serem satisfeitos para que o aprendente passe para o segundo nível como
num jogo de videogame; sendo assim, a autorrealização nunca se completa porque
surgem sempre novos objetivos e sonhos (novas necessidades no pico da pirâmide);
é possível que determinados fatores em um dos níveis não sejam relevantes para
a motivação; é possível, em determinado momento, haver mistura de fatores de
níveis diversos e, assim mesmo, criar e manter a motivação e a criatividade; e
mesmo que a autorrealização demore a acontecer, o autoconhecimento está em
pleno andamento pela superação de cada dificuldade no processo de aprendizagem;
e, por fim, o acontecimento de frustrações, medos, angústias e inseguranças podem
ser interpretados tanto como motivadores para o alcance de determinadas necessidades
com mais coerência; como também “consequências da falha no cumprimento de
determinadas necessidades”.
Talvez devamos
pensar melhor sobre o conceito de HIERARQUIA dadas tantas flexibilidades. Mas, pelo
menos, diante da pirâmide de Maslow, nós podemos reconhecer quais necessidades
devem ser atingidas, em nossos aprendentes, para estimular seus sentidos, sua
motivação, sua imaginação, sua criatividade, de forma a se interessarem pela
manutenção da própria aprendizagem, mesmo dentro de uma rotina de estudos em
geral ou a distância.
Nesta perspectiva,
quando voltarmos ao ‘novo normal’ da sala de aula física, nós, professores,
poderemos investir em boas experiências pedagógicas que gerem, no futuro, a
autorrealização.
Ah vou lembrar:
com a presença do autoconhecimento e da autorrealização (utilização do potencial
pessoal como impulso para manter a motivação para aprender e alcançar
expressivamente seus objetivos ou sonhos), ações de empatia, resiliência, solidariedade
e equilíbrio emocional ocorrerão simples e naturalmente em nossa sociedade.
Referência:
https://amenteemaravilhosa.com.br/biografia-de-abraham-maslow/
https://www.sbcoaching.com.br/blog/piramide-de-maslow/
Indicações
de leitura:
Motivação e Personalidade, publicado em 1954; Psicologia do Ser, 1962; A Psicologia da Ciência, 1966.
Prof.ª
Ms. Claudia Nunes (16.06.20)