quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Escrita pelas Mãos


“O que muda na mudança se tudo em volta é uma dança no trajeto da esperança, junto ao que nunca se alcança?” Carlos Drummond de Andrade.

A evolução colocou o homem de pé. Tornou-o bípede. Os membros do corpo humano adquiriram outras funções. No caso das mãos, essas perderam a função de parceiras das pernas para o equilibro do corpo junto ao chão. Tornar-se homos erectus revolucionou a mente e lançou o homem num mundo de muitas incertezas e desequilíbrios.

As mãos se apresentaram como base para os instrumentos de caça e como parte do movimento exigido pelo cérebro para ressignificar a linguagem oral. As mãos serão os instrumentos pelos quais, primeiro o desenho, depois a escrita, vão se realizar. As mãos são as conexões selecionadas pelo cérebro para “traduzir” as informações recebidas através dos gestos, nas cavernas, no papel (ou papiros e pergaminhos) ou na tela do computador. Quase uma “entidade”, as mãos “baixaram na mesa branca” da história para compartilhar segredos ou notícias da mente (pensamento) a toda a nossa descendência: é o conhecimento. Eis o primeiro passo da escrita!

Evoluir é uma ação perigosa. Seu segredo é a imaginação, espaço da mágica comunhão entre percepção e sensação na transformação da informação em saber. Ponto inicial: a criação de uma mitologia, recurso humano de comunicação (o primeiro é a oralidade) com o ambiente desconhecido e que envolveu a humanidade organizando os destinos do mundo com dupla pretensão: perenidade e sabedoria. E a escrita perpetuou essas pretensões.

Escrever incorporou assim certa exclusividade em seu papel inicial de transmissora do conhecimento e se tornou a ferramenta da separação. Ela apartou o ser humano da sua interação plena com os transtornos da realidade e suas provocações mais latentes e latejantes (plataformas importantes para a frutificação da árvore do conhecimento) ao focalizar o olhar interpretativo sobre um único objeto: o papel (e, em sua evolução, a tela). Hoje o mundo acredita no “vale o que está escrito!”.

O ser humano, a seu turno, montou um cerco sobre sua própria criatividade e freou a flexibilização das interpretações sobre o continuum. A simbologia da escrita, as palavras, vívido ecossistema da comunicação interpessoal, estabeleceu uma distância da efervescência da vida, pelo menos em termos mais holísticos e integrais. Logo, quando hoje falamos em aprender a distância, somos extremamente redundantes: a escrita já nos tornou distantes. É quase palatável a sensação de que somos finitos!

Essa “finitude” é a força motriz de nossa humanidade. Isso estimula uma crescente plasticidade em nosso cérebro visando estender nossos “tentáculos” (cabeça, pés e mãos) a contextos temporais e espaciais sem precedentes. O Fogo de Prometeu reconstituiu a gravação do próprio humano e suas idéias e objetos em dimensões até improváveis. Essa gravação é a escrita.

O pacto entre verdade e escrita acabou? É possível... Sabemos que o “olho-no-olho” e o som da voz não são mais os únicos elementos em que o homem pode intuir e sentir a verdade das comunicações. A relatividade de Einstein “in-formatou” a informação e a comunicação. Escrever trouxe a intermediação como um movimento tão importante quanto os resultados que dela decorreram. A invisibilidade dos personagens que narram (que constituem) a história da humanidade é a tônica das novas estruturas de pensamento, de produção e de investimento. A relação com o mundo não se dá mais diretamente, mas está mediada por um elemento parcial e tendencioso: a escrita.

Como a humanidade se reinventa a cada momento, todos os investimentos do homem no mundo, na natureza, na realidade, acontecerão por tentativa e erro: são as chamadas experimentações. Cada experimentação surge da curiosidade humana diante da dinâmica de seu próprio mundo e realidade. Essa atitude irá ajuda-lo a compor novas outras explicações para o sentido de sua existência, o funcionamento das coisas e a transformação da natureza. Essas explicações constituirão as diferentes leituras ou visões sobre o mundo.

Toda essa transformação vem acontecendo, paulatinamente, através da construção de instrumentos e recursos (objetos ou sentimentos) que ajudem o homem a enfrentar os desníveis das relações sociais de maneira mais simples e menos confusa. Ao transformar a pedra e o pau em moradias e armas de defesa pessoal, ele transformou a natureza e, ao fazê-lo, também transformou seu psiquismo, seu comportamento e suas formas de se relacionar. É justo entender, então, que cada cultura criou/cria instrumentos para atender às suas necessidades diárias e para solucionar problemas. Essa postura gerencia nossas inteligências.

Cada objeto criado carrega em si a função que determinou sua criação e sua utilização por esse específico grupo social e sua necessidade. São objetos mediadores entre o indivíduo e o mundo, e têm a proposta de criar novos mundos e novos indivíduos, além de ampliar seus espaços de atingimento. O Fogo e, depois, a Roda, foram os estímulos mais importantes para os diferentes investimentos do homem dentro dos procedimentos de sentir, perceber, ensinar, aprender, construir e, mesmo, destruir.

O homem entendeu que era preciso manter-se pertencendo e sobrevivendo, seja lá como for, e isso foi facilitado por cada nova invenção. Mesmo, num primeiro momento, com explicações baseadas na magia e na religião, a percepção de que era possível alterar o mundo ao redor, modificou o olhar dos primeiros seres humanos sobre as dificuldades que os cercavam e, cada etapa vencida, constituiu um salto para a humanidade.

Os textos mais teóricos nos contam que o fato mais importante na pré-história da escrita foi o homem perceber que era capaz de usar a Natureza para mudar o ambiente e a própria vida. A partir de certo momento, o homem necessitou relacionar as coisas ao redor e aí, do arado à roda, criou-se (criamos) um círculo vicioso e a necessidade tornou-se a chave de todas as invenções! Sendo assim, as finalidades e objetivos de cada avanço precisam, além de seguirem interesses de cada grupo, terem uma relação simbólica de conhecimento e evolução. As descobertas giram em torno de sua função, significado e/ou valor na sociedade que as produz.

A decisão humana de investir no potencial natural, embora também se preocupe com sua defesa, se implementa na perspectiva de manter a mente ocupada em construir e inovar. Nada de passividade, conformidade e dependência! É preciso se re-inaugurar sempre! E aí “a necessidade torna-se a alma do negócio”! Ave Escrita!

Profa. Claudia Nunes
Tutora do curso de Pedagogia a distancia do IAVM
Mestranda em Educação / UNIRIO

sábado, 23 de fevereiro de 2008

TRÓIA: História sem Deuses e sem Cassandra!

Pessoas, eu adoro cinema! Simplesmente não passo uma semana sem ver um filme. Mas há períodos em que, o melhor, é a videolocadora. Mesmo sendo fiel à telona, tem filmes que escapam, aí o melhor é aguardar o VHS (ainda não aceito ou entendo direito o DVD rsrsrsrs). Essa minha sanha aumenta muito quando há filmes épicos em exibição. Ih! Aí, eu não perco mesmo! Nesses dias mais calmos eu vi (de novo!) TRÓIA.

Eu não sei vocês, mas cada vez que vejo esse filme fico arrasada com o que pode ser feito com a mitologia greco-romana. Para que isso? Sei que o cinema é outra linguagem, mas não respeitar minimamente as linhas mestras dessa história, ah, isso é o fim! Revejo o filme porque desentendo a razão do volume de mídia que o recheia. Conclusão: um filme para mostrar um Brad Pitt lindo e musculoso, mas sabe Deus se verdadeiros... Ainda assim acompanhem-me.

Licença poética é uma expressão que se apresenta quando, a partir de textos tradicionais, recontamos as diferentes histórias de forma mais adequada ao tempo, às nossas idéias, às nossas maneiras de ser e viver o/no mundo. Licença poética é um conceito artístico que referencia a intertextualidade literária. E Hollywood tem se tornado expert nessas formas de re-produzir olhares sobre tudo. Mimeticamente há uma “onda” de reconstituições de fatos históricos ou de famosos textos literários na intenção de revigorá-los e recolocá-los ao sabor de olhares atuais. É a chamada revisitação, palavra também da moda e uma atitude com um adjetivo adequado à sociedade atual: lucrativa.

Porém, existem algumas revisitações (re-leituras) que, por uma questão ética, deveriam se preocupar minimamente com a verdade dos fatos e incentivar, por isso, a curiosidade das gerações mais jovens. Incentivar a verdade dos fatos, não quer dizer cópia ou perpetuar saudosismos, mas construir essas re-leituras sob linhas verdadeiras, linhas que, pelo menos, convoquem o ideário a qual a obra relida fora conformada.

De acordo com as regras das grandes produções criadas pelos filmes épicos, o filme TROIA é extremamente funcional: grandes planos fotográficos (imagens), um herói com apelo sexual extremo (Brad Pitt), efeitos especiais (poucos no caso em questão) e uma história que a tradição “fora-telona” pré-determinou como grandiosa.

Mas onde estão os deuses? Ou melhor, onde está a verdade dessa história? Como identificar o imaginário do período? Historicamente sabemos que a cultura grega está intimamente vinculada aos deuses. O divino responde a todos os questionamentos, incertezas e nos dá todos os significados (sentidos), a que estamos “acostumados”, até os dias de hoje, sem nem mesmo sabemos o porquê. Essa memória incorpora a razão de fatos reais à vontade divina e tudo é explicado e entendido por aí.

A história de Tróia não foge a essa concepção. Príamo, em segundas núpcias, com Hécuba, tem dois filhos: Heitor e Paris. Antes do nascimento e a partir de um sonho, Hécuba vê a cidade de Tróia em chamas e completamente arrasada. Sacerdotes entendem que Paris será o responsável e determinam a sua morte (há alguma relação com a história de Édipo?). Paris não é morto, é criado por uma ursa (algum relação com Rômulo e Remo, fundadores de Roma?). Jovem, forte, retorna a cidade Natal e é bem recebido pelo pai.

Antes disso, nos bosques onde cresceu, se vê diante de três deusas (Atena, Hera e Afrodite) e Hermes (o mensageiro dos Deuses). Ele foi escolhido por Zeus para terminar com uma disputa entre elas: quem seria a mais bela? Atena lhe oferece a arte da guerra. Hera lhe oferece o reino da Ásia inteira. E Afrodite lhe oferece HELENA, o amor. Obviamente, Afrodite ganha.

Tróia tem a marca da tragédia e todos os fatos confluem para que isso ocorra. A Moira, o destino cego, é determinada, não gratuitamente, mas diante de uma falta humana, mesmo que essa falta seja inconsciente ou seja gerada pela indiferença diante dos presságios divinos. Logo podemos entender que Tróia é uma cidade imaginária, concebida para justificar o início de todas as histórias gregas chegadas aos nossos tempos: da Ilíada (história de Ílion, ou Tróia), apresentam-se A Odisséia (história de Odisseu, ou Ulisses) e A Eneida (história de Enéas). Todos personagens referendados no filme de forma clara ou apenas como sugestão. E a veracidade da existência de Tróia está em alguns trechos do livro “A República” de Platão, filósofo que, por sua vez, em algumas análises mais modernas, também é suspeito de ser apenas organizador dos textos que levaram o seu nome. Ou seja, até as indicações relacionadas à cidade estão sob suspeita, mas mesmo assim foram justificativas suficientes para que o imaginário humano a concebesse como real.

O que falta ao filme é a complementação melodiosa que a presença dos deuses incidiriam sobre a história. Há apenas um certo tom de veracidade diante da violência, das guerras, das intransigências, da ditadura masculina, bem típicos dos dias atuais, mas perde-se a mão quando não se presentifica nenhum tipo de reflexão sobre a intromissão dos deuses nos fatos. Mesmo se não falasse da sociedade grega, sabemos que o ser humano também se relaciona com o divino em busca de toda e qualquer conquista. Desse jeito, as atitudes humanas, então, também requerem um grau de risco que, se realizadas, possibilitam a certeza de que a fé, a inserção da fé, do pensamento positivo, é passível de grandes realizações.

Paris amava, como todos, a fama de bela que Helena tinha. Atenção: Paris amou primeiro a FAMA da bela Helena! É o chamado amor platônico, tipicamente humano. Porém a ele foi dada a possibilidade de realização desse amor, em detrimento de todo o sofrimento a que relegaria sua cidade Natal e seus familiares. Razão passa longe! Porém Paris não é o inconseqüente que o filme plastifica. Paris justifica a interferência divina por ser o fio condutor de todas as outras tragédias: morte de Aquiles, Ájax, Heitor, Pátroclo. E isso se perde no filme, na intenção de mostrar apenas a figura, às vezes insossa, pelo excesso de crises existenciais, de Brad Pitt.

E o que dizer de Helena? Helena foi dada a Menelau. Era filha de Zeus e Leda (Helena seria outra semi-divina como Aquiles?). Tantos foram os seus pretendentes que Tíndaro, seu pai humano, a conselho de Ulisses, determinou que, sendo Grego ou Bárbaro, se algum pretendente viesse a raptá-la e a violar o seu leito, todos os outros se ligariam para a destruição daquele: Tróia foi construída para morrer!

Mesmo assim, Paris passa a amar Helena e à Helena é incutido o amor por Paris através da referência a sua beleza como sendo semelhante a de Dionísio. Atenção de novo: Helena também ama primeiro a FAMA de beleza de Paris! Ou seja, antes de trocarem olhares, Dionísio estava na mente de Helena, ou seja, a sedução era a força motriz de toda a sua expectativa. Não havia mesmo jeito de escape para os dois amantes. Todos os seus atos estavam determinados pelos deuses já que Tróia era o foco principal. Não há um raciocínio equilibrador diante da pura excitação. Paris e Helena dão o movimento de todas as ações do filme e da história. Importante: Paris e Helena sobreviverão.

Outro personagem impressionantemente determinado pelo divino é Aquiles. Uma das formas de contar sua história diz que Zeus liberta Prometeu quando este finalmente concorda em lhe contar um segredo: um filho de Tétis (ninfa marinha) com Zeus estava destinado a ser mais importante que seu pai. Zeus decide então que Tétis deveria se casar com Peleu (rei dos mirmidões da Tessália). O filho dos dois chamou-se Aquiles. Ao nascer, a mãe o mergulhou no Estige, o rio infernal, para torná-lo invulnerável. Mas a água não lhe chegou ao calcanhar, pelo qual ela o segurava, e que assim se tornou seu ponto fraco - surge o proverbial "calcanhar de Aquiles".

Tétis resistiu a esse casamento, mas se submeteu. No dia da festa de casamento, Éris, a única deusa que não tinha sido convidada entrou abruptamente no local e atirou entre os convidados o Pomo da Discórdia (uma maça), com a inscrição "a mais formosa" (alguma relação com A Gata Borralheira?). Esta maça foi requisitada por três deusas, Hera, Atena e Afrodite. Como elas não conseguiram chegar a um acordo, e Zeus estava compreensivelmente relutante em resolver a disputa, enviou as deusas para terem suas belezas julgadas pelo pastor Páris, no Monte Ida, fora da cidade de Tróia, na orla oriental do Mediterrâneo.

Paris e Aquiles fazem parte então de um mesmo destino: a destruição de Tróia. E cada um estará em cada vertente diferente desse movimento, mas em função de um mesmo fim. E no filme nada disso se esclarece. Nomes são soltos durante a narrativa. Histórias importantes ficam vagas. E o alinhavo necessário para o entendimento de toda a película se perde dentro de uma única certeza: o amor destrói!

Em alguns momentos há referências aos ditames dos deuses: (1) ao aconselhar Aquiles, Tétis lhe dá uma escolha: ficar em sua cidade Natal e ter uma descendência, mas ter o seu nome esquecido no tempo, ou partir para guerrear em Tróia, marcar na eternidade seu nome, mas morrer jovem e sem deixar descendência; (2) Paris ao ver o Cavalo de Agamenon exige que o queimem, o que não é feito (pensemos que sua credibilidade é nula diante de sua atitude “covarde” frente a Menelau; (3) Heitor é contra atacar as tropas recém-derrotadas de Agamenon, pois estariam incorrendo no mesmo erro que os derrotados, mas sacerdotes tinham voz ativa nas decisões do reino e presságios indicavam glória para Tróia; (4) Ulisses teme a idéia do Cavalo pois percebe que, após o início da invasão, as tragédias seriam ininterruptas, ou seja, todos sofreriam as conseqüências dos seus atos, ali e para sempre; etc. Todas essas relações, ao se ler A Ilíada, estão na boca ou em meio a conversas entre deuses, enquanto a guerra de Tróia se dá. Todas essas falas são “sopradas” na mente dos humanos para que as determinações divinas se dêem como “combinado”. Todos os fatos são estratégias concebidas por deuses em disputa.

Os espectadores se vêem diante de muitos nomes, muitas referências, mas diante de um único sentido: a guerra. E diante do nosso momento em que o pedido de paz é moda, um filme cujo maior ditador, Agamenon vence, é uma contradição.

É um filme sem o glamour do épico hollywoodiano. Nem de perto se assemelha a: O Gladiador, Matrix, Ben-Hur, Cleópatra, Rei dos Reis, Coração Valente, Dança com Lobos, Gandhi, JFK: a pergunta que não quer calar, e outros. Está na categoria de: Titanic, Waterworld, Lista de Schindler, ou seja, insossos, deturpadores e inúteis.

Alguns podem gostar por alguns aspectos mais individuais, mas a história não é contada, é apenas e no mínimo pincelada. Usam-se os nomes heróicos em vão. Não há como entender a idéia do Cavalo de Tróia. Fica-se perguntando de onde veio a idéia da sua construção? Por que um cavalo? Por que não um leão, figura tão comum entre os gregos? Agamenon foi burro até ali, e de repente, essa grande sacada? Outra coisa: Briseida, prima de Páris? Caramba, ela sempre foi sacerdotisa, foi levada a Tróia por Andrômeda, mulher de Heitor, mas nunca foi prima de Páris! Como Páris entrega a espada real ao primeiro que corre e esse ser justamente Enéas, personagem principal do livro Eneida? A espada teria que acompanhá-lo até o fim! Ah, é fazer de quem gosta de mitologia, um idiota!!!

Muita coisa errada, muita coisa distorcida. Nem quem não conhece nada da história entendeu várias passagens do filme, por exemplo: Aquiles tão forte, tão senhor de si, e morre com uma flecheta no calcanhar? Eu conheço o mito, mas os tantos alunos de escolas particulares e estaduais que estavam no cinema junto a mim, entenderam aquela cena tão rápida? Só se o professor os preparou antes... A cena é simplesmente boba... Impressionante!

O editor e o montador se perderam completamente! Sabem quantas horas de filme foram cortadas? Sete horas. Cortadas para a montagem, lógico, não por serem proibidas. E a questão dos deuses, é o fim! Sabe qual foi a alegação prática do diretor para não incluir os deuses? Encareceria demais o produto, pois exigiria efeitos especiais muito sofisticados...

Nem digo nada quanto a cruel desvalorização do feminino, de todas as personagens femininas. Então pergunto: onde foi parar Cassandra, irmã de Paris, e uma das figuras mais importante de toda a trama de Tróia?

Profa. Claudia Menezes
Especialista em Tecnologia Educacional / IAVM
Mestranda em Educação / UNIRIO

Assédio Moral

À Profa. Emilia Parentoni
“A frágil esperança é benéfica para muitos, embora para outros não passe da ilusão dos seus anseios. O homem, que tudo ignora, caminha no seu encalço até sentir queimar os pés em alguma brasa. Um sábio adágio dos antigos nos diz: ‘o mal se afigura um bem para aqueles a quem a divindade quer arrastar à perdição; pouco tempo ele viverá isento da desgraça’”. (CORO, 2002: pág. 102).

VELOCIDADE, EXCESSO, SIMULAÇÃO, eis as palavras de ordem da chamada “pós-modernidade”. Diferentes ambientes são atingidos pela fascinação significante desses três substantivos. E um deles é o ambiente de TRABALHO. O tempo de freqüência nesse ambiente estimula às relações e inter-relações entre vários indivíduos em várias ordens. A confluência entre emoção e razão faz aflorar sentimentos de todos os tipos, inclusive os mais torpes. Por que? Porque o desenvolvimento do trabalho (lucro, capital, valorização, marketing) depende mais dos encontros humanos que se farão ao longo do tempo da convivência do que das competências ali concentradas. Aliás, atualmente, competência não é mais a “alma dos negócios”.

Profissionais fechados vários dias da semana dentro de um mesmo espaço acabam criando tanto afinidades, quanto desafetos, dependendo dos julgamentos sobre as aparências de cada um. As discussões de trabalho (com divergências) tornam-se situações em que a sensibilidade é dicotomizada entre os certos e os errados. Mais do que competência, o que vale são os níveis de vaidade, inveja, superioridade, de cada um ou setor no que concerne aos diferentes gestos de ordem, solicitações, pedidos etc. As atitudes são quase passionais e, além de desagregarem qualquer equipe, direcionam o convívio dentro de uma estratégia de guerrilha: os profissionais dizem SIM e agem como NÃO às diferentes solicitações da chefia-assediante, e assim mina-se o desenvolvimento da produção ou o aumento dos lucros ou as formas de conexão afetiva, ainda em seu nascedouro.

Para não falarmos dessas “estratégias” o tempo todo, usaremos uma expressão que está ascendendo no meio profissional: o ASSÉDIO MORAL. Depois de anos de leituras, foi com grande surpresa que, numa conversa informal, ouvimos essa expressão. Intrigados fomos em busca de material sobre o assunto. Descoberta: esse fenômeno é tão antigo quanto o trabalho. É parte do desabrochamento do individualismo e reafirma-se no perfil do ‘novo’ trabalhador: ‘autônomo, flexível’, capaz, competitivo, criativo, agressivo, qualificado e empregável, ainda que preso às tiranias “veladas” das chefias. Ilustra-se, aqui, com clareza, a questão do “lucro a qualquer preço”, nosso bem conhecido lema capitalista. E o preço maior que se paga é a repressão das competências, criatividades e independências de ser, agir e estar.

Dentro desse panorama, o ambiente de trabalho torna-se um ambiente em que pululam contradições: tantas habilidades tanto trazem a perfeita qualidade de profissional exigida pelo mercado, ou seja, um profissional completamente multimídia e tendo acesso aos diferentes setores funcionais; como também trazem diferentes e maquiavélicas formas de coação àqueles profissionais que procuram se estabelecer pelo saber, pelo conhecimento, pela competência, individualmente ou em equipe. E uma das formas mais pérfidas e populares de coação (repressão) é o ASSÉDIO MORAL. O que significa isso?

Segundo o dicionário Aurélio, ASSÉDIO é “cerco posto a um reduto para tomá-lo; insistência inoportuna, junto de alguém com perguntas, propostas e pretensões” (pág. 163). Ou seja, todo assédio reside no fato de alguém querer algo do outro (vida, amigos, saber, vaga, amor, dinheiro, pose etc) com ações e falas periféricas que intentam pulverizar o bem-estar do profissional no ambiente de trabalho. Há a criação de um silêncio diante das pretensões do assediante tendo em vista a impossibilidade de comprovação de suas atitudes ou comentários. A partir disso, há a construção de estratégias que entornem o objeto de desejo de tal forma que não haja outra possibilidade que não a entrega, por bem ou por mal, do “bem” objetivado.

E por que assédio MORAL? Porque o assediante estabelece um clima de incerteza ao redor do profissional e suas regras de conduta em sociedade: são as observações veladas em meio às conversas informais que deixam dúvidas quanto à integridade do profissional-assediado; são os avisos de orientação aos mais novos, por exemplo, quanto às pessoas com quem falar ou confiar; são as histórias contadas, vez por outra, ratificando a idéia de que o profissional-assediado deve ser temido; etc. Idéia principal: todo ASSÉDIO MORAL é maléfico, repressor, constrangedor, humilhante e, pode até, matar porque atinge invariavelmente os brios e os costumes de um determinado indivíduo ou grupo de maneira a, primeiro, exclui-lo do grupo; segundo, destruir sua auto-estima; e, por fim, eliminá-lo do grupo, do setor, da vida. Atenção: ASSÉDIO MORAL é passível de processo jurídico!

Como se dá o ASSÉDIO MORAL? Através de ações pouco pontuais (claras), ou seja, através de ações indiretas ao redor do objeto de desejo e que tenham a propriedade de reprimir pensamentos, vontades, individualidades, e pior, reprimir todo tipo de criatividade, de maneira que os papéis sociais (no caso aqui, dos profissionais) não se modifiquem (permaneçam estagnados) ou de maneira que certos indivíduos “tornados” perigosos sejam expurgados de certos setores funcionais, denegridos ou descaracterizados. Esse procedimento, num ambiente de trabalho, refere-se aos chefes que investem em seus “subordinados” denegrindo de alguma forma seu conhecimento, suas ações, ou mesmo, sua auto-estima. É a chamada PERSEGUIÇÃO, conjunto de atitudes aleatórias direcionadas a um indivíduo ou grupo por motivo vago ou torpe com o intuito (quase sempre gratuito) de eliminar esse indivíduo. Inicia-se os chamados SOFRIMENTOS MORAIS.

Essa atitude está ficando tão intensa, grave, ampla e banal, em nosso tempo, que a formação de grupos profissionais (empresas, organizações etc) se dá mediante a expressão “amigos dos amigos”, ainda que incompetentes. Essa redoma se firma a partir de diferentes sofrimentos morais e vários assediados nem se dão conta de seu desenvolvimento, já que, em muitos casos, não há como identificar a fonte de tanta discórdia, inveja e insatisfação. Fala-se muito do ASSÉDIO SEXUAL, este tem um espaço imenso na mídia, no direito e no imaginário de todos e, em conseqüência, acredita-se que o ASSÉDIO MORAL pode ser resolvido (quando percebido) com a INDIFERENÇA, ou o silêncio, ou mesmo deixando o tempo passar. Ledo engano! Passar muito tempo exposto a ele pode recobrir muitas inteligências com a quase certeza da INCOMPETÊNCIA ou LIMITAÇÃO, e isso destrói, por exemplo, a relação funcionário-empresa, inibe bons projetos de gestão de pessoas e de empresas, além de estagnar todos os processos de alteração de cargos e salários. Quem tem poder se mantém, quem não o tem se anula.

A base do assédio moral é a HUMILHAÇÃO, sentimento de ser ofendido/a, menosprezado/a, rebaixado/a, inferiorizado/a, submetido/a, vexado/a, constrangido/a e ultrajado/a pelo outro/a. É fazer com que o Outro sinta-se um ninguém, sem valor, inútil, magoado/a, revoltado/a, perturbado/a, mortificado/a, traído/a, envergonhado/a, indignado/a e com raiva. Ainda que os assediados se sentiam dessas diferentes maneiras, essa humilhação não pode acontecer com grande intensidade ou de uma vez só, deve ser acessada constantemente, em momentos específicos, e, em muitos casos, deve acontecer em frente a outras pessoas. Por que? Porque ela não só atinge ao assediado, mas aos outros que assistem silenciosos a esses momentos. E, além disso, mais do que atingir aos indivíduos, atinge o grupo como um todo (até se for contado como “fofoca de escritório”) e desestimula ao pensar individual e criativo. O grupo perde o caráter, a dignidade e a independência. O assediado está só.

Todos ficam expostos ao assédio moral. Se não pela humilhação clara, por cenas de CONSTRANGIMENTOS velados repetitivos. O ambiente de trabalho torna-se tenso, denso e frio. Constroe-se a linguagem dos sussurros nos cantos do espaço físico. Tudo isso é muito comum, por exemplo, em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração. A intenção é a desestabilização dos subordinados com o ambiente de trabalho e a organização, e, em certos casos, forçando pedidos de demissão, explosões de temperamento (demissão!) ou até agressões verbais e físicas (demissão, de novo!).

“O povo fala. Por mais que os tiranos sejam afeitos a um povo mudo, o povo sempre fala. Fala sussurrando amedrontado, à meia luz, mas fala”. (Antígona, 2002: pág. 98).
O ASSÉDIO MORAL é uma degradação deliberada determinada por ações negativas de sujeição aos desejos, “loucuras”, destemperos de indivíduos com médio ou grande poder. O ambiente de trabalho torna-se EMOCIONAL, ou seja, as condutas práticas que resultariam à prosperidade da organização ou empresa, no mercado de trabalho, ficam na dependência do HUMOR com o qual os funcionários perceberão seus chefes-assediantes. Logo, a tendência é a desconstrução de um ambiente promissor e a construção de um ambiente, no mínimo, ditatorial.

Como isso começa? Inicialmente, temos um chefe-assediante. Provavelmente será um chefe com problemas existenciais (psicológicos) sérios e limitado em relação ao conhecimento de seu cargo. Talvez tenha chegado ao cargo através de QI – “quem indica”. Essa limitação não o leva a buscar pares em meio aos seus funcionários de forma a “encapar” sua deficiência e em cujo lema esteja a formação de equipes de trabalho nos pontos em que haja problemas. Essa limitação o leva a estabelecer uma distância em relação àqueles funcionários que julga serem perigosos a sua posição e a passar boa parte do seu tempo “criativo”, pensando em como irá minar a posição de sua(s) “vítima(s)”. Autoritário, isola sua(s) vítima(s) do grupo, através de hostilizações gratuitas, culpabilizações sem análises prévias e, principalmente, a criação de um ambiente da “fofoca” em que o ponto chave é a criação da descrença da(s) vítima(s), no campo pessoal e/ou profissional, diante de todos.

“(...) O homem que a cidade escolheu para governá-la deve receber obediência total, quer seus atos pareçam justos, quer não. Quem é assim obediente, saberá certamente executar as ordens recebidas tão bem como comandar, por sua vez; e na guerra será um aliado valoroso e fiel. Com certeza a rebeldia é a maior das calamidades; causa a ruína dos povos, abala as famílias e provoca a derrota dos aliados em uma guerra. Ao contrário, o que garante os povos, quando bem governados, é a voluntária obediência”. (Creonte, 2002: págs 103/104).

Como o principal pavor da pós-modernidade é o DESEMPREGO, seguido de um processo feroz à competitividade, o ASSÉDIO MORAL acaba rompendo diferentes laços afetivos internos e, freqüentemente, acaba reproduzindo e reatualizando ações e atos do chefe-assediante. Instaura-se o chamado pacto de TOLERÂNCIA e do SILÊNCIO no coletivo. Sem pensar no todo em questão (a empresa e/ou organização), o chefe-assediante, gradativamente, vai desestabilizando o coletivo formador do ambiente de trabalho e destruindo toda e qualquer AUTO-ESTIMA ou capacidade laborativa.

Duas idéias se chocam então: mesmo com o assédio moral, o chefe-assediante quer produtividade, obediência às regras, boas idéias e respeito às regras e/ou aos padrões estabelecidos. Ou seja, a questão da produtividade permanece, mesmo que os funcionários estejam com a identidade, dignidade e relações afetivas e sociais comprometidas. Riscos? Do desemprego até morte tudo é possível.

“(...) Errar é coisa comum entre os humanos, mas se o homem sensato comete uma falta, é feliz quando pode reparar o mal feito sem enrijecer em sua teimosia, pois esta gera a imprudência. (...)” (Tirésias, 2002: pág. 113).

Logo, muita atenção: você é assediado moralmente?

Referência bibliográfica:
HIRIGOYEN, Marie France. Assédio Moral: a violência perversa no cotidiano. Ed. Bertrand do Brasil.
SÓFOCLES. Édipo Rei / Antígona. São Paulo: Ed. Martin Claret, págs. 81 a 142, 2002.

Profa. Claudia Nunes
Especialista em Tecnologia Educacional / IAVM
Tutora do curso de Pedagogia a distância / IAVM

Chorar um amigo.....

Dizem que a vida é dura. Enganam-se. A vida só é reflexo da atualização constante dos sentimentos e das pessoas que nos atravessam o corpo e a mente. Não somos mais importantes para formar “conjunto de obras” porque somos banais demais. Tudo só é bom enquanto dura, dizem... Nosso último reduto de energia foi o sonho. E esse se perdeu nas brumas das necessidades. Nossos alimentos não têm mais tempo para criar a aceleração cardíaca. Daí só conseguimos apontar o triste, o chato, o bobo e/ou intencional. Ato contínuo: chorar. Dizem que é lavar a alma. Será? Nossos amigos são “chorados” porque estão em transição. Não tem jeito! Ficar junto só pode ser definido pelo nível de desfaçatez que temos com nossos próprios escrúpulos diante da convivência. Se não for assim, o abandono e a superficialidade do sentir é real. É um “jeitinho” de morrer na vida... Nada pode estar pronto. Nada é. Tudo foi. Tudo já foi... A nuvem que nos persegue é a da volubilidade porque o fim último de nossas esquisitices é manter a luminosidade da afetividade, mesmo sob a sombra de uma perda. Mas algo é invariável: as pessoas mudam, se desmancham no ar. A amizade sofre porque acreditou-se na soberba do “nós somos sempre!”, mesmo que a vida siga implementando sustos e insights que joguem por terra esta certeza.

Entre amigos, o amor desequilibra a verdade. Não falo do amor entre ambos, isso é básico, senão não seria amizade, mas falo do amor dos terceiros. Enfim chega um terceiro! Namorado (a) ou outro amigo (a), uma viagem ou a morte, um terceiro qualquer coisa sempre chega! Os nervos ficam à flor da pele porque a admiração ganha outra esfera. Uma lembrança: as pilastras que sustentam qualquer amizade são a admiração e a confiança. Só que, diante do terceiro, a indestrutibilidade do afeto pede um tempo e escolhe outros espaços para se repensar e viver. A vida é renovação, dizem... Difícil é a transição. Dois amigos, nessa hora, revêem suas cicatrizes emocionais com ressentimentos: são as cobranças, os ciúmes e... tudo jogado na cara! Que horrível! Esse desgaste sugere o medo de perder: perder o amigo, a segurança do afeto e, principalmente, a grandiosidade da simples presença. E cá entre nós, isso também merece muito respeito!

Não é fácil reiniciar qualquer projeção nas relações na intenção de criar outras e novas amizades porque as escolhas só se farão pelas decepções. Era tanto o tempo junto que esquecemos de nossas individualidades, nossas premissas, nossas diferenças. Realmente a amizade nos dá o tom/dom da unidade, a beleza da juventude e a alegria de viver. As expectativas são de plenitude eterna! Porém um terceiro se apresenta... e é necessário! Por qualquer razão que seja, o terceiro, em uma dupla, revela as diferenças, apresenta novas idéias, exige novas atitudes e, principalmente, inicia um processo de mudança no pensar a realidade, o outro e a si mesmo. Novos questionamentos são proporcionais a este tempo, inclusive quanto a verdade da amizade. O pacto com o “para sempre” é quebrado em função do respeito aos “quero ser” outra coisa. Os caminhos tomam novos rumos. A qualidade dos carinhos sofre tremores porque a quantidade de tempo junto diminui. Os olhares trocados, antes tão significativos, agora precisam da linguagem e uma linguagem muito objetiva, para ganharem sentido. Ascendem à proposta de recuperação da sinergia inicial, as tecnologias como e-mail, MSN e telefone, ainda que frios. O esquecimento é de que amizade não é feita de obrigações, cujos ressentimentos e cobranças são resultados. Nenhum tipo de obrigação cabe aqui porque tudo fluiu naturalmente... Verdadeiros amigos, enfim, ajudam a crescer... um ao outro. Mas o tempo junto vai ficar oculto... por um tempo.

Mesmo sentindo o momento de distanciar, é preciso recuperar a auto-estima criando estratégias, não para que o amigo paralise, mas para que ele cresça, invista e aprenda qualquer que seja o seu desejo ou qualquer que seja sua escolha pessoal. Decidir quando daremos um empurrão no amigo e quando esperar o momento certo é complicado. Cada decisão em função dessa idéia deve levar em consideração todo o nosso conhecimento sobre o amigo. Falar ou não falar? Esse não é problema. O problema é como falar. Porque falar é básico já que interferir, mesmo que o amigo não nos peça ajuda, é a atitude de um amigo justo. Se até então o interesse maior era partilhar e compartilhar, diante da novidade de um terceiro, todos precisam continuar se divertindo. E assim a felicidade do estar junto continua... em outra dimensão.


 
Profa Claudia Nunes
Mestranda em Educação / UNIRIO
Especialista em Tecnologia Educacional / IAVM



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Tensão de... Afetos!

São 0h39min. To cansada e com sono. Penso na vida. Na vida dos outros. Folheio revistas e leio um artigo: “não me deixe só...”[1]. Olho a página cheia de letras e imagino o “só”. Como é ser “só”? Por que ser “só”? Não somos ilhotas soltos num mar de realidade para nos sentirmos só. Ou somos? Não! Dependemos. Depender é o verbo da inclusão. Dependemos de um Outro. Dependemos para transformar, escutar, admirar, sentir, existir, não necessariamente nesta ordem. Nisso recusamos tensões, desconfortos, desequilíbrios, perdas. Dependemos de nossas parcerias: amigos, amantes e suas conversas maravilhosas.

Considerações rápidas: Conhecer é simples. Conviver é complexo. Conhecer é básico. Conversar é uma necessidade. Ufa! Não nos interessa que linguagem escolher, o básico é conversar. E nisso, existências são francas e franqueadas. Acontecimentos são “normalizados”. Realizações são conquistadas. E conversar? Conversar alivia, rejuvenesce, energiza. Mas um segredo: esta ação pressupõe escutar, silenciar-se. E assim amigos ou amantes são felizes.

Estou preocupada com amigos e sua repentina “falta” de (com)versa.

A vida e seus eventos insólitos (re)criou o (re)encontro. O cotidiano estreitou seus gostos, talvez por fragilidade, carência e solidão. E tudo isso construiu uma certeza: admiração, senha que inspirou a força da experiência da amizade; sentimento que estabeleceu o amor pela alegria de estar junto. Paixão? Fantástico! Há uma sabedoria que cresce imensa e aceleradamente na evolução desse sentimento: estamos virtuosos em relação ao Outro. Meus amigos tinham isso. Formavam um par. Eram (par)ceiros em tudo! Da fala, pelo gesto e ao olhar, a fusão era perfeita. Tempero? O riso fácil. O beijo inocente. O abraço sincero. Tudo por uma vontade constante de voz, de toque. O bem do par era o bem de todos, ainda que poucos fossem os escolhidos a seu compartilhamento.

Prazer, bem, beleza e alegria, esses elementos, cuja aceitação se dava sem “fins interesseiros”, deram intensidade, criaram intimidade e provocaram anseios à relação. Em alguns momentos, a força desses sentidos pode até ser lida como interesse (profissional) ou obrigação (por causa do profissional). Mas não é. Os dois queriam ficar juntos porque os dois estão separados, ou seja porque estavam ocupados “só” de realidade e em rotina em outras dimensões. A expectativa da amizade (igual à expectativa pelo momento da festa) era de mais profundidade, carinho e lealdade a cada encontro. O que se quis sempre foi felicidade. É um amor (amigo) que nunca se perde. E de acordo com Aristóteles, “os amigos são o suporte da nossa prosperidade e o nosso crescimento”.

Porém, mesmo almas tão grandes, sofrem com as armadilhas da vida, sofrem porque buscam o bem, o bem comum... por prazer. Decisão: cada um vai ficando cada vez mais “na sua”. Razão? Respeito... Cuidado... Temperamento... Imaturidade... Semelhantes ao mito da caverna platônico, cada um revive o/num fundo de caverna a experiência da escuridão e se encaminha para outras luzes, outros brilhos porque “nada será como antes”. Interessante é que essa atitude revela o quanto de hábito, apego e comodismo havia na relação porque as dimensões da felicidade e da confiança foram perdidas. O que se viu foram estratégias de conquista inúteis, sem objetivo, sem juízo e sem verdade. Meus amigos se distraíram de si e foram cometer outros erros, mas não querem distanciar-se. Meus amigos querem novos posicionamentos diante de si e do outro, porém não querem a desconfiança in presença. Meus amigos, hoje, como Sartre e Simone, têm um amor contingente, não mais necessário.

Por que isso? Porque “viver é preciso”...

Profa. Claudia Nunes
Mestranda em Educação / UNIRIO


[1] “Não me deixe só...” - Revista FILOSOFIA – Ciência & Vida – nº 09, 2007, págs. 70 a 77 – Ed. Escala

Gerações e Mídias

Sou professora do Ensino Médio (EJA) a mais de 13 anos. Lido com jovens e adultos diariamente. Logo pude acompanhar algumas mudanças nos comportamentos, principalmente, dos jovens, diante da realidade veloz e tecnológica, e a partir de seus desejos cada vez mais “diferentes”. Logo também pude (tive que?) mudar minhas maneiras de analisar esses mesmos comportamentos e todos os modos com as quais interagiam e contextualizavam suas vontades, mesmo, em detrimento dos conteúdos curriculares exigidos. Eles são surpreendentes, um pouco esquizofrênicos, mas surpreendentes.

Essa percepção se fortifica quando entendo que as mídias agem influenciando, talvez em demasia, e em todo o tempo histórico, seus gostos, posturas e valores. E isso me preocupa. Observo os dias como dias “anabolizados”, ou seja, dias em que as mídias impõem um amadurecimento muito rápido à nossa juventude. Esse amadurecimento, aparentemente, cria “mão-de-obra” e atende ao mercado de trabalho, mas coloca em crise, pelo desentendimento, conceitos sempre muito valorizados, como ética, respeito, compromisso e solidariedade. O que percebo, então, não é um aprofundamento desses conceitos, com a participação efetiva da escola e da família, mas um inchaço, uma fragmentação de seus conteúdos, em favor de todo o tipo de subterfúgio que os completem (complementem?), porque eles, os nossos jovens, estão literalmente sozinhos em busca de si mesmos. Essa “anabolização” está vinculada a todos os tipos de acesso a que esses mesmos jovens se expõem por tempo indeterminado (excessivamente?) e longe da “contrariedade” da observação limitante da família. E a escola, mantendo suas estratégias tradicionais, não dará conta disso nunca!!

Muito incomodada com tudo isso, fui fazer uma pesquisa sobre como se desenvolve a postura do jovem na história brasileira, sobre como acontecem as mudanças em seus comportamentos e sobre como se apresentam seus processos de criatividade diante de experiências existenciais e históricas tão diferentes, diante das mídias. De pronto fui confrontada com o óbvio: cada década trouxe um diferencial às estruturas nas quais cada juventude formou suas atitudes, seus comportamentos e suas projeções nas relações familiares, políticas, mercadológicas e pessoais, por eleger uma mídia como veículo às informações nacionais e mundiais. São (somos) gerações marcadas na história pelo envolvimento específico com determinados tipos de mídia.

Esse texto pretende compartilhar um pouco dessa pesquisa.

Eu não “nasci a dez mil anos atrás”, como canta Raul Seixas, mas a 40 anos, logo a década de 70 é uma vaga lembrança. Por isso, os livros didáticos me foram de grande valia nesse primeiro momento da pesquisa. E, segundo muitos deles, o Rádio dava lugar à TV nos lares brasileiros. É uma nova linguagem. A imagem padronizava as formas de rebeldia e de transgressão, e tornava-se mais que real porque a natureza era reduzida à aparência da aparência. O tele-visual remexia no “baú de ossos” das famílias e impunha novos assuntos e novos debates. Era o início da intimidade tele-visiva. Era o fim da exclusividade. Os jovens tornaram-se, como a imagem, multissensoriais e simuladores. Estavam na “crista da onda” o psicodelismo, o amor livre, a alimentação natural etc. Lema? Paz e Amor, bicho!!! Em paralelo, o regime militar, consumo, industrialização e velocidade. Mesmo assim, criou-se a dimensão do novo (nunca das novidades) abrangendo novas modalidades de informação e comunicação, interesses comunitários, culturas alternativas e mídias “inteligentes”. As gavetas da criatividade estavam plenamente abertas para novos procedimentos estéticos e nova paisagem ética. Outra vez, mesmo assim, é uma geração existencialmente em crise e angustiada, pois a integração de todas essas “novas” idéias é muito difícil. Como escapar de estilos de vida padronizados e cheios de repetições confortáveis?

A década de 80 já mistura pesquisa histórica e minhas vivências e experiências. As mídias eletrônicas retomaram seu poderio. Ao estabelecer debates cada vez mais acirrados e radicais sobre as chamadas novas tendências cotidianas, as mídias passaram a simular o próprio cotidiano. Sinalizaram e redirecionaram as muitas transgressões éticas e estéticas experienciais, logo remodelaram e neutralizaram as “viagens” juvenis.

As mídias eletrônicas criaram interfaces com a realidade em que sonhos, desejos e vontades entraram em processo de modulação. Todas as estratégias de marketing deram certo e o consumo tornou-se símbolo de status. Aqui, nesse período, as imagens estão limpas, assépticas. Há linearidade nas propostas de sentido. E o efêmero é o elemento incentivador das experiências diárias: consumir é preciso!

Se antes as criatividades estavam “à flor da pele”, na década de 80 aceitamos a Indústria Cultural, ou seja, sem obviedade, cedemos lugar a um espírito do tempo marcado pelo crivo do mercadológico. Gostos musicais, vestimentas, modos de comportamento, de visibilidade e de linguagem, todos importados, são as ferramentas aprendidas, absorvidas e reproduzidas por “osmose” pela invocação insistente da internacionalização. O contexto torna-se de violência e criminalidade, visto que a inadequação é cada vez mais vertiginosa. A juventude sente-se estrangeira em seu próprio país. São mentes sem pré nem pro(cedência) e todas as suas alternativas são vistas sob suspeição.

É tempo de novos “Apolos” midiáticos. É preciso ser destaque. Ser destaque é a conquista da felicidade total. E felicidade, nesse período, é resultado de se saber “tirar vantagem” em/de tudo e todos. Cada jovem quer ser único! Há a sensação (percepção?) de certa programação coletiva para a individualização e a vivência narcísica da realidade. O pertencimento acontece pelo estabelecimento de características telemáticas às novas formas de relação: mais clareza, espontaneidade, atitudes mais cruas, fragmentação da sensibilidade e espírito aventureiro.

As novas tribos apresentam novo estilo de família, modalidade de socialização e pertencimento. É a carnavalização do cotidiano ou, aceitando a expressão de Debord, a “espetacularização da sociedade”, de seus símbolos e ícones, semelhante a qualquer “show business”. É a era do slogan: “tudo que é sólido desmancha no ar” e nessa onda vão, por exemplo, sistemas políticos e ideologias. Na aproximação de suas fronteiras, os jovens vêem hibridizados seus objetos de consumo e, por conseguinte, seu diálogo com o contexto. Mesmo ainda vorazes em relação a quererem novas linguagens que os identifiquem (focalizem?), cada vez mais são assolados com novas “próteses” inconscientes e nada inconseqüentes.

A virada dos anos 80 para os anos 90 é triste e vivemos sua conseqüência até hoje: é a disseminação das drogas pesadas. Uma juventude angustiada encontra seu ‘lar doce lar” no uso inconteste dessas drogas. Com ela, chegam a violência exacerbada e a criminalidade sem lei. Não se sabe mais quem é bom ou mal, e seus resultados começam a ser considerados naturais por uma população que não sabe o que fazer. Inicia-se a indiferença em relação ao outro e o lema “antes ele do que eu” é sua reflexão.

O lugar sagrado das instituições (família, religião e escola) inicia seu desabamento. As mídias (principalmente a TV e sua imagem) disfarçam as turbulências que começam a “pipocar” aqui e ali na sociedade. Cresce o susto da população: vive os novos rumos da história, mas vê imagens em que preponderam leituras pacíficas e equilibradas do mundo. Nesse contexto de incompreensão e fingimento, além de perceber que as situações de violência e agressividade vão se avizinhando, há o desmanche da importância de palavras como valor, ética e conceito. O individualismo desponta como culto. Sendo assim, esse é o momento da geração de diferentes tipos de exclusão e segregação. “Lugar ao sol”: espaços sem concorrência. Sensação geral? Fragilização.

Como estão, então, os jovens aqui? São “rebeldes sem causa”. A liberdade é um objetivo a ser conquistado pelo desejo de destruição do outro. A consquista de espaços depende de quem melhor “puxar o tapete do outro”. Nada de “paz e harmonia, bicho”. Se antes se apresentou a Indústria Cultural, agora se acrescentou a vivência da Cultura de Massa. Ou seja, a juventude vive a representação da representação cuja integração ganha às raias de obsessão.

Sociedade de Industrial. Sociedade de Consumo. Sociedade da Informação. Eis a seqüência da dupla simulação. A juventude vive sob a égide de dois imaginários: o primeiro criado em relações de convívio, logo, interno; e o segundo, formado pelas imagens mostradas na televisão, logo, externo. Ambos confluem (convergem?) todo o tempo e não aceitam nenhum tipo de focalização ou tempo de maturação. Nessa corrida, a plasticidade externa (visões de mundo mutantes) está na frente dos atos em detrimento de valores apreendidos pela família. Maturar o conhecimento começa a perder terreno e a expectativa é a do “tudo ao mesmo tempo agora”.

Afetos, sensações e sentimentos estão (precisam estar) ao alcance de qualquer um. Os jovens começam a interagir com TODAS as ferramentas da sociedade que lhes dêem mais intimidade com a coletividade e isso se dá em nome de qualquer coisa. Em muitos casos, sua saúde mental depende do número dessas relações. Nada é profundo. Tudo parece fragmentado. Não se quer montar um quebra-cabeças definitivo, se quer apenas TER e conhecer as peças desse jogo. E pior: não há encaixes possíveis, aparentemente.

Por outra vertente, todas as invenções decifraram o cotidiano atual como pleno de informações (terapêuticas, dietética, medicinais, sexuais, ecológicas etc.) passíveis de engendrarem novas possibilidades de estruturação de toda uma tradicionalidade conceitual e valorativa. E isso é convocado pela força com que os jovens conseguem estabelecer interações cada vez mais surpreendentes com essas mesmas invenções, e isso, dentro de um padrão evolutivo cada vez mais criativo. Esses jovens projetam-se “ao dia seguinte” por superação de si mesmo, diariamente.

A década de 90 é a década da aparência de si mesmo (cultura do corpo). Nessa perspectiva, os mecanismos de defesa freudianos são utilizados à revelia, pois dependem das necessidades. Aproximam ou distanciam ao sabor das exigências da realidade ou da sociedade. Maturidade e responsabilidade estão nos porões de um lugar percebido como muito distante. Transitório e frivolidade são a presença (materialização?) do tempo presente. A juventude ignora a experiência, mas adora o mito.

Ufa! A criação e/ou aperfeiçoamento das mídias (hoje relacionadas no rol das “novas tecnologias”) integrou-se a alguns vazios da dinâmica social, criando um estofo representativo (imagem) às suas determinações. E os jovens “acreditaram” nessas representações e passaram a viver simulações de vida.

Atualmente, nossos jovens são “tachados” de banais e despreparados. Estão “dependentes midiáticos”. Demandam tanto “mentiras sinceras”, quanto “ilusões necessárias”. Há uma sensação de desertificação dos recursos que possam firma-los como cidadãos ou, ao menos, em que possam se apoiar para entender os próprios comportamentos diante da vida, ou mesmo, que possam propiciar outros estímulos para suas próprias novas regras sociais. Tudo parece dissemelhante. O paraíso é artificial. E, como atores sociais, vivem, segundo Walter Benjamim, “a era da reprodutibilidade técnica” e afetiva. Agir na vida é exacerbação, intensidade, catarse (às vezes atabalhoada) e arrebatamento. Hiperatividade não é só um transtorno, é sua forma de acessibilidade e de aparecer no grupo e na sociedade. Há a necessidade de ser apontado. Resultado: um tempo do “agora” ou um tempo de profundas tristezas. Lema fundamental: “era feliz e não sabia”.

Observar nossos jovens com calma é a única possibilidade de entendermos que, diante de sua imersão em padrões excessivos de comportamentos, está a chave para fecharmos a “caixa de Pandora” e, deixarmos ficar, além da esperança, seu outro provável meio de fuga: o suicídio.

Por favor, escutem mais e interfiram menos!


Profa. Claudia Nunes
Especialista em Tecnologia Educacional/IAVM
Mestranda em Educação / UNIRIO

Vida e Adolescentes

Ser adolescente é tudo! Independente? Ainda não. Centrado? Nunca! São conturbados, questionadores, reativos, imprevisíveis, o máximo! Os problemas são as cobranças incessantes da sociedade e as desatenções familiares. Como estão numa dimensão diferente (entre ser infantil e ser adulto), precisam de diversos cuidados. Como nem se descobriram como indivíduo, estão experimentando o que for necessário. Eles precisam de exemplos, mas jamais dirão isso. Seus comportamentos são verdadeiros testes de paciência.

Na história humana eles já tiveram muitas análises: primeiro foram chamados de “mini-adultos”, cooperavam no trabalho por causa da mão de obra adulta escassa (sobrevivência); segundo, com o capitalismo e a burguesia, ao invés de trabalhar, deveriam ser educados e cuidados; terceiro, quando a infância adquire o caráter de frágil e ingênua, institui-se empreendimentos sobre sua mentalidade; e, por último, no fim do séc. XIX, as idades passam a ser analisadas diferentemente a partir de critérios como maturidade, virilidade e sexualidade.

Por esse último, um momento do desenvolvimento é tornado altamente relevante: a puberdade, um momento de transformações físicas, hormonais, psicológicas, comportamentais etc. Todo o corpo “adolescente” está afetado tão direta e profundamente que tudo externa e internamente é desconfortável. Suas certezas e sensações estão em cheque. Há uma perda na imagem (está angustiado), da dimensão do espaço físico (está estabanado) e é preciso construir novas adaptações porque as representações mentais não estão alinhadas com a realidade.

Sem uma dimensão unívoca de ser (infantil ou adulto), giram entre o masculino e o feminino (bissexualidade psíquica). Não estão na fase das escolhas definitivas (apesar das cobranças sociais), estão na fase das experimentações de si e do outro, radicalmente. As preferências acontecerão, mas não sem profundas angústias. Afinal, inconscientemente, sabem que, ao escolher, abandonarão diferentes formas de prazer. Lembremos: definições são ações de abandono (deixamos de ser e fazer várias coisas), até porque são reflexos (exigências) de cada cultura.

Adolescentes estão em conflito porque estão em fase de formação de opinião. Discernir entre quem é quem ou criar sua própria história dentro de uma outra visão são o resultado da vivência de muitas situações e pessoas; e são o resultado, primeiro, de uma revolta (adolescente sempre quer tudo ao mesmo tempo e agora), depois de uma conscientização (momento das escolhas). Pai e mãe, por exemplo, deixam de ser “heróis” e surgem como pessoas, cheios de beleza e defeitos, e isso é revoltante! Adolescentes têm a beleza de serem performáticos em tudo. Freud tinha/tem razão!

Também é uma fase de valorização afetiva. A emoção é a tônica de tudo. Estão exageradamente bipolares: ou tudo (amar muito) ou nada (luto radical). Família, sociedade, escola devem estar muito atentos a esse período, pois, nesta fase, o índice, por exemplo, de adolescentes iniciando o uso de anti-depressivos (quando não são aceitos no grupo), drogas (para criar auto-estima ou para livrar-se de sentimentos dolorosos), bebidas alcoólicas (para subverterem sua personalidade: fim de timidez) e outros, é real e alarmante. Como a auto-estima está difusa, encontram nesses produtos formas de escapar dos enfrentamentos. São substitutos mais fáceis e com resultados mais rápidos (ainda que momentâneos).

Adolescentes precisam de ajudas reais, ainda que feitas de maneiras indiretas, o tempo todo! Pela família ou por profissionais especializados, não há como se desconectar dessa pessoa em ascensão. Situação-problema, sentimentos e solução, tudo está dentro do corpo do adolescente em circunsvoluções aceleradas. É muita dor! E é preciso conduzir, auxiliar e redirecionar suas energias até a “luz no fim do túnel” das suas sensações de forma a que ele reestabeleça novos links com a realidade. Atenção: é ELE que re-estabelecerá o traçado do seu caminho na vida!

Como eles mesmo dizem, hoje em dia, “a fila anda”. O que isso quer dizer aqui? O mundo avança e as informações são rápidas. A capacidade de absorção está restrita ao todo (geral, superficial), não ao tudo (etapa por etapa), logo o processo de adaptação é cruel, mas imprescindível. Adolescentes estão dentro da cultura do erro, com todo o direito! Qual é então a nossa função (professores, pais)? Permitir que eles errem sim, pois “é errando que aprendem” mesmo, mas nunca esquecer de, no diálogo e sem crítica, transformar esses mesmos erros em experiências de vida. Como? Escutando... compreendendo... se disponibilizando... e, principalmente, não mentindo.

Ser adolescente é tudo... literalmente!


Profa. Claudia Nunes
Tutora do curso a distancia em Pedagogia / IAVM
Especialista em Tecnologia Educacional / IAVM

Escola Estratégica, Escola Contextualizada

Nesses dias de recesso escolar, o tempo é de leitura. Mas uma leitura mais simples, mais objetiva. Como um período de descompensação, estou escolhendo leituras que não puderam acontecer durante o ano. E hoje, caiu em minhas mãos um “libreto” chamado “Como usar o pensamento estratégico” da PubliFolha. No desenvolvimento dessa leitura, os procedimentos escolares e pedagógicos surgiram em minha mente, principalmente, quando relacionados às decisões semestrais ou anuais e estipulados sobre a manutenção do processo de ensino-aprendizagem dos educandos através de projetos e/ou planejamentos. Esses procedimentos são reavaliados e reelaborados, a cada ano, como estímulos às criatividades. E é justamente no período do recesso ou férias que penso (e tento renová-las) em minhas práticas pedagógicas e nos recursos a serem utilizados.

Esse levantamento de experiências me fez perceber que, na/para a escola, mantida por grupos de pessoas antes de tudo, há tal multiplicidade de projetos e planejamentos ideais voltados para interesses tão particulares que se torna complicado qualquer nível de adequação ao simples desejo de ensinar/aprender de forma coerente e constante. Entendemos que há uma vontade generalizada de permanecer dinamizando os educandos ao redor dos conteúdos de maneiras altamente diversificadas e criativas, mas também temos observado que tal atitude se dá na instantaneidade da moda ou sob os holofotes de fantasias pedagógicas de outras épocas. Equipe pedagógica e educadores, fechados em cronogramas e em esquemas curriculares, voltam às suas salas de aula, no início de cada ano ou semestre, com idéias prontas (e mirabolantes) sobre as estratégias que utilizarão nas turmas diante dessa ou daquela parte do conteúdo, antes mesmo de conhecerem o próprio grupo ou as próprias turmas. Todos os encaminhamentos pretendem conquistar o interesse do educando, tendo como suportes diversos instrumentos pedagógicos comuns ou diferentes: do giz ao computador, tudo serve ou tudo pode.

Não temos nada contra essas decisões e/ou visões, acreditamos nelas até (se bem planejadas), mas, diante do “libreto” lido, percebemos que a CONTEXTUALIZAÇÃO é a melhor estratégia pedagógica nos dias atuais em benefício de todo e qualquer planejamento de conteúdo ou plano de aula. E para a contextualização é preciso uma reflexão sobre todos os procedimentos a serem estabelecidos (e ultrapassados) em conjunto com todos os setores da escola, principalmente, com os educandos, atores básicos para o bom desenvolvimento, tanto dos planejamentos, quanto dos projetos mais focalizados. É um processo que exige a desarticulação de previsões arbitrárias conteudísticas ou curriculares em nome de uma pesquisa de intenções levando em consideração sua vinculação também com as especificidades de toda comunidade. Melhor dizendo: é preciso escutar! Momentos de silêncios sobre as regras tradicionalmente fixadas pela Educação e dentro da formação de professores devem atuar com o envolvimento de todos os participantes da escola e isso na busca de um mesmo fim: continuar aprendendo.

Tendo em vista que os resultados possíveis (aceitáveis?) desse tipo de contextualização incorrem em melhoramentos tanto no desempenho da equipe pedagógica e educadores quanto nas habilidades dos educandos, a escola passa a empreender uma renovação interna positiva em seus quadros curriculares, justamente porque esses quadros vão sendo checados por todos a cada tema proposto ou a cada projeto idealizado. Além disso, a maximização constante desse tipo de contextualização elimina barreiras entre escola e comunidade dando chance a que cada etapa implementada possa ser desenvolvida com análises e revisões a partir de vontades e interesses de todos. Mas resultados (aprendizagem, conhecimento, cidadania, sabe) só são alcançados com ESTRATÉGIA.

Esse ideário necessita de um pensamento estratégico. Um pensamento cujo raciocínio atinja elementos como pesquisa (conteúdo e perfil de alunos e comunidade), reuniões setorizadas, de forma a que haja dois ou três focos a serem atingidos (mais do que isso cria confusão, principalmente, confusão de interesses) e avaliação diagnóstica da escola, dos educandos e da comunidade através de questionários, entrevistas, dinâmicas de integração e reuniões com os pais e educandos. A partir disso, nova estratégia é exigida, e uma estratégia que possa responder a seguinte pergunta: após as pesquisas e avaliações iniciais, qual será o objetivo comum (norteador?) para as interações educativas do ano ou do semestre? A resposta a essa pergunta terá por base todos os instrumentos utilizados anteriormente para o reconhecimento dos ambientes os quais estarão, equipe pedagógica e educadores, promovendo/incentivando suas transformações na perspectiva de um ideal coletivo: o desenvolvimento do conhecimento.

Mesmo diante dos problemas político-econômicos que diferentes educadores, de diferentes redes de ensino e de diferentes localidades enfrentam diariamente, é possível articular, até por interesse próprio (individual, particular), movimentos diferentes em sala de aula de maneira a estabelecer novas e melhores formas de empreender o ensino-aprendizagem.

Como? Com um pensamento estratégico contextualizado! Em curto ou longo prazo, ao educador é vital estabelecer metas para a dinâmica do ensino de forma a criar rotas para os sucessos dos educandos e, com isso, solidificar as habilidades desses mesmos educandos em fazer análises coerentes sobre as situações do cotidiano. E isso está de acordo com o “libreto” ao conceituar estratégia como “uma declaração de intenções que define aonde [o educador] quer chegar a longo [ou curto] prazo”.

Nós estamos em uma sociedade em que todos estão sendo pressionados a assumir tarefas urgentes, alcançar objetivos diários e superar problemas de curto prazo e de toda ordem. Logo, no espaço escolar, é preciso manter a calma diante do inesperado, pois é, justamente na escola, que ele eclode, em sua maioria, em forma de problemas, barreiras, bloqueios, impedimentos e negações. Mesmo os mais céticos (ou cansados dos tantos embates) devem visualizar esse momento como uma oportunidade para melhorar, nunca para desistir ou esquecer ou ser indiferente.

Um pensamento estratégico contextualizado, ainda que se “movimente” em três etapas básicas, como análise, planejamento e implementação, aceita revisões, mudanças e transformações periódicas pelas intempéries que lhe possam atravessar, tendo em vista as inconstâncias do tempo presente. Concentrar-se em sucesso imediato é o início do fracasso. Concentração no presente, sem perder o futuro de vista, é um modo de prever as conseqüências no amanha. E isso a escola tem que fazer SEMPRE!

Um pensamento estratégico contextualizado embute confiança nos planos e nos projetos criados. Não há espaço para conjecturas ou estimativas, pois isso gera crises de todo tipo, dentro e fora da escola. Há sim, espaços para solidez de informações e para perspectivas de inovação, já que o processo de planejamento não pára. Aproveitando a expressão do “libreto”, o educador tem que ser “proativo!”, não pode viver tentando recuperar o tempo perdido, não pode imaginar que já sabe o que as pessoas pensam, tem que perguntar e/ou pedir ajuda (isso não é humilhação ou demonstração de fragilidade!), isso é apresentar-se como parceiro dos alunos na interrelação com os conteúdos; e assim, guiar o aluno por meio da adoção de uma visão de futuro própria, autônoma, individual.

Enfim, a escola que invoca os famosos PPPs (projetos políticos pedagógicos) dentro de padrões de um pensamento estratégico contextualizado se mantém eficiente e operacional, pela determinação sólida dos objetivos a serem atingidos; determinada, por focalizar suas estratégias através de análise do meio e da solução de desafios; com limites, pois os aceita como momentos de revisão tanto de parâmetros quanto dos futuros resultados; observante, pois momentos de anomalias tornam-se momentos de readaptação e de descobrimento de áreas mais importantes ou descartáveis; e integrada, por criar ações com interfaces com outros setores do conhecimento que possam manter interagindo equipe pedagógica, educadores, educandos e comunidade.

Profa. Claudia Nunes
Especialista em Tecnologia Educacional / IAVM
Mestranda em Educação / UNIRIO

Referência Bibliográfica:
* BRUCE, Andy e LANGDON, Ken. “Como usar o pensamento estratégico”. Série Sucesso Profissional. PubliFolha, 2000, 72 págs.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Novas Tecnologias e o Tempo Livre


Novas tecnologias e o tempo livre*

No desenvolvimento das novas tecnologias, nunca, em toda a história da humanidade, o homem foi tão poderoso como atualmente. Internet, EAD, videoconferência, realidade virtual, ciber-espaço/cultura, inteligência artificial etc. É impressionante como, além de vivermos em tempos de produção de todas as facilitações e grandes propostas de liberdade, vivenciamos a percepção da perda do tempo para descansar. Todas as exigências culturais e suas criações tecnológicas acontecem com a idéia de que teremos tempo de lazer, de descanso. Mas o que observamos é que as “máquinas”, cada vez mais ocupam “lugares” humanos, e este, desocupado, não sabe o que fazer de si mesmo ou de si mesmo com o outro (família, amigos, amores). Diante desse dilema, os indivíduos ocupam seus tempos com novas atividades tão cansativas quanto as que fazem no cotidiano rotineiro de uma semana. Sendo assim, renovam o movimento do trabalho, logo, desarmônicos em relação ao próprio corpo físico e mental, embriagam-se pelo poder, negam seus sentimentos e, vez por outra, deparam-se com a incômoda sensação de vazio: é a depressão.

Os objetos criados para facilitar nosso dia-a-dia, além dessa ação confortável, intrinsecamente, investem na ascensão de um dos grandes pecados capitais: a vaidade. Dorian Gray, personagem do livro “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde, engendra essa vaidade dentro de um grande radicalismo, pois, perante a promessa de poder, a inocência, a beleza, o amor, tudo se corrompe. As novas tecnologias, sem a devida medida, alimentam a sensação de grandeza e poder dos indivíduos, por terem grande nível de sedução. Celulares, laptops, computadores, banda larga, etc. seduzem pelo número de ações que podem oferecer (facilitar). A sensação é de estarmos nos tornando verdadeiros Rambos armados até “os dentes” por pura vaidade.

A cada semana, novos aparelhos apresentam-se ao mercado tecnológico processando mais e mais novidades em seu uso. E a cada novidade a real necessidade de seu porte não acompanha a eliminação da novidade anterior. Por exemplo, um celular, hoje em dia, além de eliminar distâncias entre as pessoas, tira fotos, é webcam, é aparelho de vídeo, toca música, diverte com vários tipos de jogos, baixa mensagens e novas músicas da Internet, ou seja, engloba diversas ações facilitadoras às “novas” exigências dos indivíduos. Em conseqüência, sempre cortejados por essas novidades, todos acreditam serem seres especiais. “Sou especial porque possuo”, acreditam. Possuir torna-se um vício e o acúmulo torna-se pernicioso às personalidades e temperamentos.

Sem o devido cuidado de todos (pais, professores, técnicos, teóricos), a cada geração estaremos, mais e mais, falando dos vazios e das faltas que percebemos nas relações que a juventude vai criando em seus poucos espaços de independência como bailes, escolas, músicas, festas, viagens. Na medida em que se exige que sejam, especialmente, brilhantes, atraentes e poderosos, mais se escondem nas novas tecnologias a que têm livre acesso e, com isso, sem a mínima direção, inflam egoicamente suas projeções (sonhos, fantasias, vontades e desejos) na cotidianidade. Cada vez mais, então, não entendem palavras como fracasso, perda ou morte. E mais, à parte de valores, conceitos, relações veiculadas como ideais, eles ainda são sobrecarregados com a idéia de que devem ser super-homens e mulheres. Êxito, sucesso, conquistas materiais e realização pessoal passam a ser expressões sinonímicas e, segundo aprendem, só são alcançados com muito trabalho, grandes descartes (negações) e pouco divertimento. Aliás, divertimento é quase uma palavra de baixo calão, diante de tais e tantas exigências.

Dentro desse pensamento, trabalhamos também com a sedução do descanso.

Todas essas exigências se apresentam estrategicamente como fórmulas perfeitas para que o indivíduo possa gerenciar seu tempo livre. Criações tecnológicas criam tempo livre, mas o que fazer com esse tempo livre? Com a presença das novas tecnologias em diversas profissões ou agilizando (ajudando) diversas profissões pelo nível de interação, o que fazer com o tempo livre?

Todos os poderes são aceitos por nos entendermos / sabermos altamente criativos sob diversos aspectos, mas essa certeza cai por terra quando temos o tempo livre. Num mundo capitalista, ser útil é ser somente trabalhador profissional. Os indivíduos não se entendem úteis sendo perceptivos de si mesmo, ou re-elaborando-se interiormente para re-investir em suas funções profissionais com mais equilíbrio e mais força.

A partir do século 19, submissão, austeridade e relações de culpa foram substituídas por maneiras de exibição. Novas tecnologias e velocidade das informações são outras maneiras de exibição. Dessa linha, surgem o voyerismo e o narcisismo. As pessoas acham-se voltadas para a sua própria imagem, estão embriagadas pelo poder e negam seus sentimentos. E o excesso de trabalho é a forma estratégica encontrada para manterem-se abaixo da linha do suicídio. Porém, mostram-se mais sujeitos à depressão e às sensações de vazio interior.

Dentro do turbilhão do trabalho diário, cada vez mais as emoções ficam “desinvestidas” da simbologia exterior e ficam muito investidas na imagem que a pessoa tem dela própria e que é criada em cima de tudo o que dizem que ela pode ser no mundo. As interações que realizam diariamente acontecem na expectativa de atrair mais e mais lucro a qualquer preço, sem dividir. Esse movimento amortece o corpo (adaptação à superestimulação das grandes cidades: barulho excessivo, ritmo intenso, tensões) e bloqueia as percepções, ou seja, os indivíduos vêem apenas o que querem ver. É um castelo de papel que construímos paulatinamente, encobrindo toda e qualquer sensibilidade e afeto até precisarmos de toda essa atividade e excitação como parte de nós mesmos e para nos sentirmos vivos. Daí a dificuldade agônica de aceitar e passar pelo tempo livre.

Na condição moderna, ao invés das pessoas se abrirem para sensações e sentimentos, tentamos nos insensibilizar para não enlouquecer. Perdemos o ritmo entre trabalho e repouso. Ação e realização são melhores do que o repouso. Fazer alguma coisa é melhor que nada. Sem descansar, ficamos desorientados. Envenenados pelo ímpeto do sucesso a qualquer preço, nossa vida corre perigo. A excessibilidade inflige sofrimento a todos. Todos estamos muito ocupados! E isso é dito com grande orgulho, afinal estamos dando conta de nossa independência, estamos sendo responsáveis. Junto às novas tecnologias enfrentamos cada dia de forma voraz e frenética, acreditando nessa dinâmica como troféu de nossa capacidade de nos multiplicarmos por atividades e no tempo.

Logo, dentro do tempo livre, não há o mínimo senso do próprio self. A inutilidade bate à porta de todos. Degradante é a sensação de desconectar-se de nossa natureza humana para sermos deuses. Que paradoxo! Em par com Prometeu, a humanidade conseguiu o fogo e dele pôde aquecer sua criatividade. Mas, e quando só viver for preciso, o que acontece? E quando precisarmos nos responsabilizar por nós mesmos em tempo livre, o que acontece? E quando necessitarmos ouvir nossas vozes mais profundas, o que acontece? Nada! Literalmente, não deveria acontecer nada! Só deveríamos sentir... Acontecerá só o movimento dos acontecimentos diante da nossa (pré) disposição para senti-los. Tempo livre é disposição para a ação do nada!

Em tempo livre, não precisaríamos resolver nada... Precisaríamos descansar, repousar, meditar, rir, brincar, papear... Buscar a alegria de viver, o sabor da vida, mesmo diante do computador, do laptop, do vídeo, da TV, do livro. Se permitimos que nossas ferramentas e recursos maquínicos estabeleçam tempos “para o nada”, aproveitemos essa ausência de esforço para outros esforços, mas esforços mais interiores, mais identitários, mais amplos de si e dos outros. Tornar o mundo frutífero é aceitar o espaço de tempo livre para ouvir as pequenas vozes ao redor. No tempo livre, é que nos lembramos de quem somos e do que sabemos. Fazer, vez por outra, um pit stop, é influenciar a ação de lembrar e, com isso, reavaliar nossas aceitações, nossos aprendizados, nossos conhecimentos, nossas posições e nossas descobertas.

O tempo livre é a dormência necessária para sentirmos nosso corpo.
O corpo é a nossa tecnologia inicial, principal e final! Tudo bem?
Vez por outra, por favor, aceitem o tempo livre!

Profa. Claudia Nunes
Ms em Educação pela UNIRIO

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  Nada nunca é igual   Enquanto os dias passam, eu reflito: nada nunca é igual. Não existe repetição. Não precisa haver morte ou decepçã...