“O que muda na mudança se tudo em volta é uma dança no trajeto da esperança, junto ao que nunca se alcança?” Carlos Drummond de Andrade.
A evolução colocou o homem de pé. Tornou-o bípede. Os membros do corpo humano adquiriram outras funções. No caso das mãos, essas perderam a função de parceiras das pernas para o equilibro do corpo junto ao chão. Tornar-se homos erectus revolucionou a mente e lançou o homem num mundo de muitas incertezas e desequilíbrios.
As mãos se apresentaram como base para os instrumentos de caça e como parte do movimento exigido pelo cérebro para ressignificar a linguagem oral. As mãos serão os instrumentos pelos quais, primeiro o desenho, depois a escrita, vão se realizar. As mãos são as conexões selecionadas pelo cérebro para “traduzir” as informações recebidas através dos gestos, nas cavernas, no papel (ou papiros e pergaminhos) ou na tela do computador. Quase uma “entidade”, as mãos “baixaram na mesa branca” da história para compartilhar segredos ou notícias da mente (pensamento) a toda a nossa descendência: é o conhecimento. Eis o primeiro passo da escrita!
Evoluir é uma ação perigosa. Seu segredo é a imaginação, espaço da mágica comunhão entre percepção e sensação na transformação da informação em saber. Ponto inicial: a criação de uma mitologia, recurso humano de comunicação (o primeiro é a oralidade) com o ambiente desconhecido e que envolveu a humanidade organizando os destinos do mundo com dupla pretensão: perenidade e sabedoria. E a escrita perpetuou essas pretensões.
Escrever incorporou assim certa exclusividade em seu papel inicial de transmissora do conhecimento e se tornou a ferramenta da separação. Ela apartou o ser humano da sua interação plena com os transtornos da realidade e suas provocações mais latentes e latejantes (plataformas importantes para a frutificação da árvore do conhecimento) ao focalizar o olhar interpretativo sobre um único objeto: o papel (e, em sua evolução, a tela). Hoje o mundo acredita no “vale o que está escrito!”.
O ser humano, a seu turno, montou um cerco sobre sua própria criatividade e freou a flexibilização das interpretações sobre o continuum. A simbologia da escrita, as palavras, vívido ecossistema da comunicação interpessoal, estabeleceu uma distância da efervescência da vida, pelo menos em termos mais holísticos e integrais. Logo, quando hoje falamos em aprender a distância, somos extremamente redundantes: a escrita já nos tornou distantes. É quase palatável a sensação de que somos finitos!
Essa “finitude” é a força motriz de nossa humanidade. Isso estimula uma crescente plasticidade em nosso cérebro visando estender nossos “tentáculos” (cabeça, pés e mãos) a contextos temporais e espaciais sem precedentes. O Fogo de Prometeu reconstituiu a gravação do próprio humano e suas idéias e objetos em dimensões até improváveis. Essa gravação é a escrita.
O pacto entre verdade e escrita acabou? É possível... Sabemos que o “olho-no-olho” e o som da voz não são mais os únicos elementos em que o homem pode intuir e sentir a verdade das comunicações. A relatividade de Einstein “in-formatou” a informação e a comunicação. Escrever trouxe a intermediação como um movimento tão importante quanto os resultados que dela decorreram. A invisibilidade dos personagens que narram (que constituem) a história da humanidade é a tônica das novas estruturas de pensamento, de produção e de investimento. A relação com o mundo não se dá mais diretamente, mas está mediada por um elemento parcial e tendencioso: a escrita.
Como a humanidade se reinventa a cada momento, todos os investimentos do homem no mundo, na natureza, na realidade, acontecerão por tentativa e erro: são as chamadas experimentações. Cada experimentação surge da curiosidade humana diante da dinâmica de seu próprio mundo e realidade. Essa atitude irá ajuda-lo a compor novas outras explicações para o sentido de sua existência, o funcionamento das coisas e a transformação da natureza. Essas explicações constituirão as diferentes leituras ou visões sobre o mundo.
Toda essa transformação vem acontecendo, paulatinamente, através da construção de instrumentos e recursos (objetos ou sentimentos) que ajudem o homem a enfrentar os desníveis das relações sociais de maneira mais simples e menos confusa. Ao transformar a pedra e o pau em moradias e armas de defesa pessoal, ele transformou a natureza e, ao fazê-lo, também transformou seu psiquismo, seu comportamento e suas formas de se relacionar. É justo entender, então, que cada cultura criou/cria instrumentos para atender às suas necessidades diárias e para solucionar problemas. Essa postura gerencia nossas inteligências.
Cada objeto criado carrega em si a função que determinou sua criação e sua utilização por esse específico grupo social e sua necessidade. São objetos mediadores entre o indivíduo e o mundo, e têm a proposta de criar novos mundos e novos indivíduos, além de ampliar seus espaços de atingimento. O Fogo e, depois, a Roda, foram os estímulos mais importantes para os diferentes investimentos do homem dentro dos procedimentos de sentir, perceber, ensinar, aprender, construir e, mesmo, destruir.
O homem entendeu que era preciso manter-se pertencendo e sobrevivendo, seja lá como for, e isso foi facilitado por cada nova invenção. Mesmo, num primeiro momento, com explicações baseadas na magia e na religião, a percepção de que era possível alterar o mundo ao redor, modificou o olhar dos primeiros seres humanos sobre as dificuldades que os cercavam e, cada etapa vencida, constituiu um salto para a humanidade.
Os textos mais teóricos nos contam que o fato mais importante na pré-história da escrita foi o homem perceber que era capaz de usar a Natureza para mudar o ambiente e a própria vida. A partir de certo momento, o homem necessitou relacionar as coisas ao redor e aí, do arado à roda, criou-se (criamos) um círculo vicioso e a necessidade tornou-se a chave de todas as invenções! Sendo assim, as finalidades e objetivos de cada avanço precisam, além de seguirem interesses de cada grupo, terem uma relação simbólica de conhecimento e evolução. As descobertas giram em torno de sua função, significado e/ou valor na sociedade que as produz.
A decisão humana de investir no potencial natural, embora também se preocupe com sua defesa, se implementa na perspectiva de manter a mente ocupada em construir e inovar. Nada de passividade, conformidade e dependência! É preciso se re-inaugurar sempre! E aí “a necessidade torna-se a alma do negócio”! Ave Escrita!
Profa. Claudia Nunes
Tutora do curso de Pedagogia a distancia do IAVM
Mestranda em Educação / UNIRIO
A evolução colocou o homem de pé. Tornou-o bípede. Os membros do corpo humano adquiriram outras funções. No caso das mãos, essas perderam a função de parceiras das pernas para o equilibro do corpo junto ao chão. Tornar-se homos erectus revolucionou a mente e lançou o homem num mundo de muitas incertezas e desequilíbrios.
As mãos se apresentaram como base para os instrumentos de caça e como parte do movimento exigido pelo cérebro para ressignificar a linguagem oral. As mãos serão os instrumentos pelos quais, primeiro o desenho, depois a escrita, vão se realizar. As mãos são as conexões selecionadas pelo cérebro para “traduzir” as informações recebidas através dos gestos, nas cavernas, no papel (ou papiros e pergaminhos) ou na tela do computador. Quase uma “entidade”, as mãos “baixaram na mesa branca” da história para compartilhar segredos ou notícias da mente (pensamento) a toda a nossa descendência: é o conhecimento. Eis o primeiro passo da escrita!
Evoluir é uma ação perigosa. Seu segredo é a imaginação, espaço da mágica comunhão entre percepção e sensação na transformação da informação em saber. Ponto inicial: a criação de uma mitologia, recurso humano de comunicação (o primeiro é a oralidade) com o ambiente desconhecido e que envolveu a humanidade organizando os destinos do mundo com dupla pretensão: perenidade e sabedoria. E a escrita perpetuou essas pretensões.
Escrever incorporou assim certa exclusividade em seu papel inicial de transmissora do conhecimento e se tornou a ferramenta da separação. Ela apartou o ser humano da sua interação plena com os transtornos da realidade e suas provocações mais latentes e latejantes (plataformas importantes para a frutificação da árvore do conhecimento) ao focalizar o olhar interpretativo sobre um único objeto: o papel (e, em sua evolução, a tela). Hoje o mundo acredita no “vale o que está escrito!”.
O ser humano, a seu turno, montou um cerco sobre sua própria criatividade e freou a flexibilização das interpretações sobre o continuum. A simbologia da escrita, as palavras, vívido ecossistema da comunicação interpessoal, estabeleceu uma distância da efervescência da vida, pelo menos em termos mais holísticos e integrais. Logo, quando hoje falamos em aprender a distância, somos extremamente redundantes: a escrita já nos tornou distantes. É quase palatável a sensação de que somos finitos!
Essa “finitude” é a força motriz de nossa humanidade. Isso estimula uma crescente plasticidade em nosso cérebro visando estender nossos “tentáculos” (cabeça, pés e mãos) a contextos temporais e espaciais sem precedentes. O Fogo de Prometeu reconstituiu a gravação do próprio humano e suas idéias e objetos em dimensões até improváveis. Essa gravação é a escrita.
O pacto entre verdade e escrita acabou? É possível... Sabemos que o “olho-no-olho” e o som da voz não são mais os únicos elementos em que o homem pode intuir e sentir a verdade das comunicações. A relatividade de Einstein “in-formatou” a informação e a comunicação. Escrever trouxe a intermediação como um movimento tão importante quanto os resultados que dela decorreram. A invisibilidade dos personagens que narram (que constituem) a história da humanidade é a tônica das novas estruturas de pensamento, de produção e de investimento. A relação com o mundo não se dá mais diretamente, mas está mediada por um elemento parcial e tendencioso: a escrita.
Como a humanidade se reinventa a cada momento, todos os investimentos do homem no mundo, na natureza, na realidade, acontecerão por tentativa e erro: são as chamadas experimentações. Cada experimentação surge da curiosidade humana diante da dinâmica de seu próprio mundo e realidade. Essa atitude irá ajuda-lo a compor novas outras explicações para o sentido de sua existência, o funcionamento das coisas e a transformação da natureza. Essas explicações constituirão as diferentes leituras ou visões sobre o mundo.
Toda essa transformação vem acontecendo, paulatinamente, através da construção de instrumentos e recursos (objetos ou sentimentos) que ajudem o homem a enfrentar os desníveis das relações sociais de maneira mais simples e menos confusa. Ao transformar a pedra e o pau em moradias e armas de defesa pessoal, ele transformou a natureza e, ao fazê-lo, também transformou seu psiquismo, seu comportamento e suas formas de se relacionar. É justo entender, então, que cada cultura criou/cria instrumentos para atender às suas necessidades diárias e para solucionar problemas. Essa postura gerencia nossas inteligências.
Cada objeto criado carrega em si a função que determinou sua criação e sua utilização por esse específico grupo social e sua necessidade. São objetos mediadores entre o indivíduo e o mundo, e têm a proposta de criar novos mundos e novos indivíduos, além de ampliar seus espaços de atingimento. O Fogo e, depois, a Roda, foram os estímulos mais importantes para os diferentes investimentos do homem dentro dos procedimentos de sentir, perceber, ensinar, aprender, construir e, mesmo, destruir.
O homem entendeu que era preciso manter-se pertencendo e sobrevivendo, seja lá como for, e isso foi facilitado por cada nova invenção. Mesmo, num primeiro momento, com explicações baseadas na magia e na religião, a percepção de que era possível alterar o mundo ao redor, modificou o olhar dos primeiros seres humanos sobre as dificuldades que os cercavam e, cada etapa vencida, constituiu um salto para a humanidade.
Os textos mais teóricos nos contam que o fato mais importante na pré-história da escrita foi o homem perceber que era capaz de usar a Natureza para mudar o ambiente e a própria vida. A partir de certo momento, o homem necessitou relacionar as coisas ao redor e aí, do arado à roda, criou-se (criamos) um círculo vicioso e a necessidade tornou-se a chave de todas as invenções! Sendo assim, as finalidades e objetivos de cada avanço precisam, além de seguirem interesses de cada grupo, terem uma relação simbólica de conhecimento e evolução. As descobertas giram em torno de sua função, significado e/ou valor na sociedade que as produz.
A decisão humana de investir no potencial natural, embora também se preocupe com sua defesa, se implementa na perspectiva de manter a mente ocupada em construir e inovar. Nada de passividade, conformidade e dependência! É preciso se re-inaugurar sempre! E aí “a necessidade torna-se a alma do negócio”! Ave Escrita!
Profa. Claudia Nunes
Tutora do curso de Pedagogia a distancia do IAVM
Mestranda em Educação / UNIRIO