Há uma certeza
com a qual devemos conviver sempre: somos seres curiosos de nós mesmos. E
principalmente, somos seres curiosos sobre nossas mentes. No processo de
evolução do cérebro, principalmente do córtex pré-frontal, adquirimos aptidão
para metacognição (pensar sobre o pensar) e para estabelecer conexões mentais
criativas a partir de nossas experiências. Porém nem só de experiência se
constrói um ser humano: devemos levar em consideração a genética, o acaso e,
também, a experiência.
Nesta
perspectiva, tanto o autoconhecimento, quanto a empatia, além do autocontrole e
das habilidades sociais, tornam-se essenciais ao sucesso, por exemplo, profissional,
e à harmonia emocional. A essa conexão, em franca expansão interna, chamamos de
neuroplasticidade: toda conexão causa novas rotinas cerebrais e estabelece
continuidade às necessidades adaptativas.
Em
desenvolvimento interno (endógeno) e externo (exógeno), os seres humanos vivem
em resposta a formatação tridimensional referida: genética, acaso e
experiência. Só que, ao observamos os procedimentos dos seres humanos em
sociedade, em suas interações e integrações cotidianas, percebemos que há
diferenças, alias muitas diferenças, então nova formatação tridimensional deve
ser levada em consideração: emoção, memória e linguagem.
A questão é
sempre: como VIVER e CONVIVER apesar das perdas, traumas ou decepções? Esses
dias tenho pensando nisso. E uma resposta sempre básica é: SUPERE. Mas como? As gravidades das situações
investem nos circuitos neurais, as vezes, de forma tão intensa e com tal
volume, que a perda dos padrões de pensamentos e sensações é enorme.
Interessante é que sempre o conjunto de experiências que formam a memória
humana (conjunto hipotalâmico) ou talvez o imaginário, não dá conta de todo o
processo e, arrebatado, inaugura inconscientemente, nova pessoa
(personalidade): é o cérebro se defendendo se remodelando.
O cérebro e o
corpo refletem defesas e, a reboque, por exemplo, eliminam os outros do arco de
visão para poderem (os seres humanos atingidos), de alguma maneira, se
reorganizarem e sobreviverem. Em nosso processo de conquista de ‘um lugar ao
sol’ em sociedade, então, precisamos ficar cientes de que nossas mentes são
flexíveis, agentes receptoras e autônomas, diante das tantas informações
(estímulos) a que temos acesso e que integram nosso corpo mental, e por isso
sempre estamos em exigência amigdalítica (sistema límbico), ou seja,emocional.
Somos bons e
maus. Somos tímidos e extrovertidos. Somos cruéis e felizes. Somos ‘tudo ao
mesmo tempo agora’. Mas não devemos aceitar, por tempos demais, os ‘pilotos
automáticos’ dos comportamentos fixos (respostas habituais)’ como os hábitos,
as certezas, o comum, o ‘todo mundo’, o ‘qualquer um’, os circuitos neurais cujos
procedimentos acontecem dia a dia sem máculas ou diferenças. Diante do
inusitado, como o cérebro busca outras formas de continuar vivo, devemos saber
nos recompor sem perder mais do que devemos, ou quase tudo que somos.
Segundo Siegel
(2012), se quisermos ter uma saúde mental devemos procurar assumir uma visão
mental sobre nós mesmos e o outro em termos de posturas, atitudes e emoções.
Não devemos brincar com expectativas e imaginários porque incorremos no erro de
trilharmos o caminho das reações brutais, da ansiedade desequilibrada, dos
impulsos grosseiros ou, mesmo, das tristes ironias verbais.
Muito tempo
aceitando e acreditando nisso podem nos tornar prisioneiros de nós mesmos e até
nos fazer repetir falas, emoções e posturas em outros ambientes e com outras
pessoas, agora, inconscientemente: é a questão da naturalização do pensamento
tóxico. Em sendo assim, a visão mental “nos permite ‘nomear e dominar’ as
emoções que vivenciamos, em vez de sermos dominados por elas” (Siegel, 2012):
essa é uma necessidade que se aprende todos os dias. Mesmo indo ao fundo do
poço emocional, os seres humanos precisam abrir mão de si para se adaptar a uma
nova situação. Uns podem ser ‘pentiuns’; outros, ‘lentiuns’, nesse processo;
mas a transformação é necessária e saudável.
Quando amamos,
por exemplo, temos a tendência a reproduzir padrões e querer incluir o outro
nesse conjunto padronizado. O imaginário fortalecido por experiências
anteriores estabelece focos conhecidos para investir e conquistar, sem abrir
mão de nada. Difícil! Muito difícil! No processo de amadurecimento emocional,
temos que abrir mão de algo, desapegar e mudar como a borboleta. Cada escolha é
como um ‘bisturi’ no cérebro reformulando (e reesculpindo) a circuitaria
neural. E o cérebro cresce, ganha convergência e readquire a ‘alegria de viver’.
Lógico que a intensidade da paixão pode desencadear desequilíbrio sináptico e
atingir a memória (sistema hipotalâmico) de forma excessivamente libertadora;
isso rompe com as estruturas mentais e causam distúrbios, as vezes, controlados
apenas com ajuda profissional (terapia). Mas não é a regra!
Segundo Siegel
(2012), ‘a mudança nunca acontece espontaneamente ou surge automaticamente; é
algo que temos que trabalhar com atenção, foco e muita prática. Para amar é
preciso aptidão e aptidão adquire-se com ritmo, esforço e repetição (vivências).
É importante ter habilidades sociais e socioemocionais aprimoradas o tempo
todo. “Atividades mentais, como pensamentos, sensações, memórias, crenças,
atitudes, esperanças, sonhos e fantasias, preenchem o nosso dia a dia” (Siegel,
2012); mas também é preciso cuidado com o que se deseja imaginariamente:
“podemos ser receptivos às riquezas do cérebro e não apenas reativos a seus
reflexos” (Siegel, 2012). E o amor sempre transversa, bagunça, confunde.
Quando se
apaixonar e perder, dê tempo ao tempo, revisite-se, evite emoções tóxicas, não
se aprisione às rotinas comportamentais negativas; promova novas conexões. De
acordo com Siegel (2012), uma grande transformação começa quando olhamos a
nossa mente com curiosidade e respeito em vez de medo e afastamento, ou seja,
leve pensamentos e sentimentos ao nível da consciência, de maneira a permitir que
se aprenda com eles, e não que seja guiado por eles.
Claudia Nunes
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