terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

SANCHA e sua fuga

Crescer é rascunhar e ensaiar uma grande peça teatral cujo gênero depende do momento em que o humor das Moiras puxa, repuxa ou corta o fio da vida. Mesmo em meio às situações mais díspares, a vida alucinada da realidade muda a visão de mundo de pessoa a pessoa. De novo, Sancha entra em delírio. Em casa, sozinha, ela foge para mundos imaginários, fala de forma desordenada e veloz consigo mesma, e brinca com seu guarda-roupa. Ela alucinou mesmo. Não consegue se equilibrar depois de tudo. Ela é presença única em todo lugar e em lugar nenhum. Ela não tem identidade nem ponto de contato. E a alucinação é superenergética. No quarto, ela sabe que seu mundo se esfacelou; que reabilitação e reintegração na sociedade depende da boa vontade alheia; e que liberdade pode ser moeda de troca a um tempo sem tempo para equilíbrios. Então, delírio e alucinação são a dupla que faz da vida dela uma toxina sem medicamento rápido e também sem prisões emocionais. Que coisa! Que transtorno! Que revolução! Depois de ler algo sobre esquizofrenia, ela tem medo de se identificar e viver seus sonhos lúcidos. Distraída, a noite fez morada, decorou seu espaço e arejou suas emoções de loucuras. De frente para a rua, Sancha se desconectou, se desmembrou e se esqueceu. O mundo não precisava dela com sua demência perigosa. Ela precisava de mundo com uma sanidade amorosa.

 

Prof.ª Ms. Claudia Nunes (21.12.2021)

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