O ano letivo vai começar. De
novo professores preocupados com seus planejamentos. De novo reuniões
pedagógicas com informes burocráticos, de esperança, sobre projetos e mudanças
de comportamentos. Estamos no ensino Médio. Nós reconhecemos um nível de dispersão
e de dificuldade muito grande. Só que o ano começa, tudo começa e é necessário
repensar a arquitetura pedagógica e as dinâmicas da sala de aula valorizando o
que o aluno sabe. Reação: ‘mas eles sabem o que? Eles não querem nada!’ –
afirma um professor. Choque. O aluno não quer saber de nada e por isso o
professor não faz quase nada. Choque. É um choque. E a palavra DIFICULDADE
torna-se uma tatuagem.
Ambos têm dificuldades. Há um
social, econômico, político que desvaloriza o profissional e a formação; o
saber e a juventude. DIFICULDADES. Nós todos temos dificuldades. Todos temos um
nível de dispersão enorme. Todos estamos cansados das adversidades
ininterruptas. Só que os alunos estão em desenvolvimento e em nossas mãos.
Cérebros em expectativa de aprendizagem. Cérebros plásticos acessando constantemente
às informações / estímulos inadequados. Cérebros emocionais em fraca rotação
negativa.
Nós, professores, precisamos
pensar nisso e reconhecer nossa importância diante dos próprios olhos. Nós nos
formamos para trabalhar com as dificuldades, principalmente as emocionais.
Autocontrole e controle inibitório são fundamentais. Linguagem, atenção e
memória também. Então o que fazemos? Começamos. E recomeçamos.
Adolescentes estão mais
imaturos; não tem autocontrole adequado; tem problemas emocionais; acessam
ambientes disfuncionais; tem difícil motivação acadêmica, são bem distraídos;
agem por impulso; são estratégicos e bem inteligentes; são proativos por
interesse; amam desafios em grupo; são visionários; e precisam ser trabalhados
constantemente. Adolescentes são complexos assim mesmo: tudo ao mesmo tempo
agora de 13 aos 19 anos. Mas como estão em desenvolvimento, tem diferentes
dificuldades de aprendizagem porque realizam diferentes imersões sociais. Temos
indisciplinados, indiferentes, insolentes, agitados, tímidos, difíceis,
sociais, malandros, falantes, imaturos, românticos, descrentes, violentos,
amistosos, animados, ilustrativos, inteligentes e únicos. E todos precisam de
aproximações afetivas, mediadas e desafiantes.
O paradigma escolar precisa ser
quebrado. Não dá mais para classificá-los como tendo baixa inteligência,
insolência ou preguiça, e seguir adiante sem fazer nada ou estigmatizando. A
ansiedade é nossa. As expectativas são deles. E o embate é certo, forte e de
todos. Que tal acreditar que eles são possíveis? Que tal reconhecer seus
potenciais? Que tal conhecê-los? Sucesso é uma singuralidade construída por
cada um de acordo com as ferramentas a que se tem acesso e de como são utilizadas
em diferentes situações. Atenção: sucesso é motivação de uma singuralidade!
Então onde estão as dificuldades?
“Para
começo de conversa, o termo dificuldades de aprendizagem refere-se não a um
único distúrbio, mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer
área do desempenho acadêmico”
(SMITH, p.15, 2007). Alguém já pensou no que provoca nas mentes dos
adolescentes conviver em ambientes violentos e barulhentos? O que pode afetar
saber que um dos responsáveis está preso ou está na ilegalidade? Conviver com
drogas na mesa de casa ou ser responsável por irmãos menores sendo menor? Estes
e outros aspectos podem prejudicar o funcionamento cerebral e causar problemas
psicológicos sérios. Somos o que lembramos. Somos o que não esquecemos. Somos o
que efetivamente esquecemos. Somos o que decidimos lembrar e/ou esquecer. Somos
tudo o que nos aconteceu e, em muitos casos, não sabemos o que fazer com isso.
Nossa memória tem dificuldade também.
“As
dificuldades de aprendizagem podem ser divididas em tipos gerais, mas uma vez
que, com freqüência, ocorrem em combinações – e também variam imensamente em
gravidade –, pode ser muito difícil perceber o que os estudantes agrupados sob
esse rótulo têm em comum”
(SMITH, p.15, 2007). Nós, professores, temos que ter elegância e delicadeza ao
pensarmos em tocar a mente dos nossos alunos junto às suas áreas de saber. É
sutil a possibilidade de transformar dificuldades em potencialidades e muita
felicidade.
Prestem atenção! Todos são /
somos capazes de aprender; mas será que nós professores somos capazes de tocar,
moldar e transformar essas aprendizagens com destreza? Sim! E a tríade da ação
docente é calma, tranquilidade e paciência! A velocidade do mundo não pode
sobrepor a capacidade de o cérebro transformar estímulos em memória de
trabalho. Nós temos que esperar o inesperado: um desempenho fora do comum ou
inadequado. Este desempenho fará com que repensemos (nós, professores) todos os
itens didáticos para que as formas de aprender sejam realinhadas e a autoestima
torne-se uma linha ascendente. “Na maior
parte do tempo, [as crianças] funcionam de um modo consistente com o que seria
esperado de sua capacidade intelectual e de sua bagagem familiar e educacional,
mas dê-lhes certos tipos de tarefas e seus cérebros parecem “congelar””
(SMITH, p.15, 2007).
É difícil! Elas se tornam
inconstantes. E se desorganizam. Essa desorganização mental tem como
comportamento, por exemplo, a distração. Elas são atraídas por outras
informações do ambiente ou da imaginação. Então atenção: “...as deficiências que mais tendem a causar problemas acadêmicos são
aquelas que afetam a percepção visual, o processamento da linguagem, as
habilidades motoras finas e a capacidade para focalizar a atenção” (SMITH,
p.15, 2007). Além disso, existem alguns outros comportamentos problemáticos e
que interferem na aprendizagem, como:
ð Fraco alcance da atenção =
perda do interesse, salto de uma atividade a outra, trabalhos inacabados,
dificuldade para seguir instruções, imaturidade social;
ð Dificuldade com a conversação =
inflexibilidade, teimosia, resistência, fraco planejamento e habilidades
organizacionais, pequeno entendimento sobre o tempo, dificuldade em se
organizar diante de múltiplas tarefas;
ð Distração = esquecimentos
constantes, falta de destreza (desajeitada e sem coordenação), caligrafia
péssima, inepta em esportes e jogos, falta de controle dos impulsos.
Condições sociais, ambientais e
genéticas podem causar condições neurológicas disfuncionais, ou seja,
dificuldades de aprendizagem. E isso não pode ser observado como mentira,
esperteza, preguiça ou falta de esforço. É preciso compreendê-los de forma
empática: colocar-se no lugar deles e no tempo deles e entender seus movimentos
de aprender.
Algumas dificuldades de aprendizagem
têm dificuldades emocionais relacionadas; daí a percepção de uma crescente
frustração. As solicitações devem criar emoções positivas (proatividade).
Exigir o que não conseguem ou forçar algo cuja mente não foi trabalhada para
tal é criar um campo livre para a desistência de aprender. Eles precisam ser
mediados sempre, mas do que ajudados. Senão, “muitos se sentem furiosos e põem para fora, fisicamente, tal sensação;
outros se tornam ansiosos e deprimidos. De qualquer modo, essas crianças tendem
a isolar-se socialmente e, com freqüência, sofrem de solidão, bem como de baixa
autoestima. [Por consequência] adolescentes com dificuldades de aprendizagem
não apenas estão mais propensos a abandonar os estudos, mas também apresentam
maior risco para abuso de substâncias, atividade criminosa e até mesmo suicídio”
(SMITH, p.16, 2007).
A sociedade precisa entender
que seus jovens são inteligentes, estão ansiosos por aprender, são inquietos
por natureza e que necessitam de carinho, compreensão e um olhar sincero sobre
suas mentes, jeitos e possibilidades.
REFERÊNCIA:
SMITH, Corinne e STRICK, Lisa. Dificuldades
de Aprendizagem de A a Z: um guia completo para pais e educadores. Porto
Alegre: Artmed, 2007.
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