Fim do ano.
Hora das notas e dos resultados. Muitos estão felizes e outros nem tanto.
Quando compreendemos que nem todos aprendem em um ano, aceitamos que nem todos
passarão para a próxima fase escolar e ai mora o perigo discente e os incômodos
docentes. Nós, professores, precisamos refletir sobre isso e na relação com o
bom uso da memória.
Durante o ano,
duas funções cognitivas são muito importantes: atenção e memória. Diante de
diferentes áreas de saber, o sistema nervoso é assolado por informações que, dizem,
são necessárias para a participação adequada dos alunos em sociedade. Mas,
mesmo diante das informações, o trabalho docente não é apenas esse. Nós
precisamos dar qualidade às informações, oferecer contextualizações claras e
realistas e, assim, criar memórias de longa duração ou de trabalho. Mas, e
quando os alunos não querem ou podem lembrar?
A velocidade
das informações dentro e fora da escola está tão vertiginosa que, por vezes,
nossos alunos não querem e/ou podem lembrar. É difícil. É uma exigência
difícil. Memória requer movimento, descarte (seleção), esforço e emoção. E não
adianta saudosismo, nós, professores, precisamos mudar práticas pedagógicas e
posturas relacionadas ao conhecimento porque o mundo mudou e as formas de
assimilação das informações também.
Começo a
acreditar que a memória se desenvolve diante da emoção do outro sobre o
conhecimento exposto: é a chamada ‘afetação inicial’. O professor precisa
gostar do que faz e viver com brilho nos olhos para proporcionar ‘afetação’,
curiosidade e aprendizagem em seu aluno. Todavia, por diferentes e reais
motivos, estamos ficando esquecidos desta emoção, nos tornando mais mecânicos,
e nossos alunos tem muita dificuldade em se relacionar com as informações. Em
dificuldade e com esquecimento, a memória perde consistência.
Alguns
teóricos relacionam essas perdas com o envolvimento tecnológico em nosso
cotidiano. Gradativamente estamos perdendo a capacidade de lembrar porque há
ferramentas artificiais que vem substituindo a memória humana. Professores são
imigrantes digitais (formação em outro tempo com outras tecnologias); mas
nossos alunos, principalmente adolescentes, são nativos digitais (nasceram
imersos nas mídias digitais); logo tem hábitos cognitivos diferentes e até mais
velozes, algo que possibilita dificuldades em lembrar e certo transtorno no
pensar práticas pedagógicas.
Celulares,
tablets, notebooks e desktops surgem como outros ambientes para o
relacionamento, o aprendizado e a informações. Eles estão na arena do vício. A
aventura do vício concedido pela sociedade. E a escola tenta mediar o processo.
Mais do que informação (que todos tem), a escola dialoga com as várias
informações como proposta de criar processos reflexivos e/ou críticos. Só que
muitos alunos, ao final do ano, não lembram. Memória não é uma espécie de
músculo que, exercitado, torna-se forte para todas as atividades. Não há
técnicas mágicas que os façam lembrar de tudo na hora certa. Só que eles não
lembram mesmo. Lembrar exige um ESFORÇO e uma DISCIPLINA que, muitas vezes, os
alunos parecem desconhecer ou não estão dispostos a depender. Parece que tem
outros interesses, outras necessidades, e tem mesmo. Tudo pode ser resumido ao
grau de ATENÇÃO que derem a algo. Devemos reconhecer então: só lembramos aquilo
que prestamos atenção.
A vida social
de um adolescente é vertiginosa e aventureira. O esforço necessário ao seu
desenvolvimento integral, nesta fase, está ligado às relações afetivas e à
inserção em diferentes grupos, em sua maioria. A desatenção faz parte da
seleção natural, ao mesmo tempo que a atenção disputa lugar com um mundo cheio
de informações; e a escola parece um campo minado de coisas chatas e estranhas
para fazer. A escola não consegue trabalhar com os distraídos (aqueles que tem
sua atenção em outras informações); e acaba os estigmatizando e, em muitos
casos, reprovando. É difícil. Muito difícil para um professor.
Fim do ano e
os corredores da escola ficam cheios de memórias perdidas, ansiosas, querendo
recuperar, em minutos, o tempo perdido. De repente, o mundo lá fora se torna
mais problemático se forem reprovados. Há tensão, medo, hiperatividade e
ansiedade mesmo. As memórias precisam de recompensa, mesmo quando, durante todo
o ano, nós, professores, avisamos quanto às posturas, às responsabilidades e aos
compromissos escolares. A arte da memória está esquecida e todos muito tensos.
Única lembrança: ‘preciso passar de ano’. Sua dependência tecnológica e social
fez com que os alunos esquecessem o tempo e as próprias formas de memórias:
eles não sabem, estão desnorteados, irritados, sozinhos. E agora game over. Sendo assim, vamos oferecer
alguns conselhos para o próximo ano:
ð
Mantenha
um caderno organizado;
ð
Faça
questionários próprios;
ð
Resolva
dúvidas sozinho (pesquisa) ou com seu professor;
ð
Anote
eventos e atividades em uma agenda;
ð
Crie
grupo ou de estudo, ou de lembranças;
ð
Separe
momento para, pelo menos, ler a matéria;
ð
Seja
proativo nos projetos;
ð
Alimente-se
e durma bem e corretamente;
ð
Escolha
horários para atividades físicas quaisquer;
ð
Negue
julgamentos preestabelecidos (estigmas e/ou preconceitos);
ð
Frequente
a escola com regularidade;
ð
Aprenda
técnicas de memorização;
ð
Divirta-se
sempre que puder;
ð
Crie
objetivos reais para o ano;
ð
Use
menos as tecnologias em seu dia a dia.
Profª
Claudia Nunes
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