Dor contínua: algo desagradável,
desconfortável e incapacitante. Aspectos físico-sensoriais e emocionais
alterados e desarticulados. Não há experiência pior, principalmente, quando ela
se torna crônica. E quando a dor instala-se nas articulações, os movimentos
estão impedidos; a vida cotidiana começa a perder sentido e a cama é o melhor
lugar pra se esconder. Não há mente saudável que se sustente. Estamos incapazes
de nos comunicar facilmente com o mundo e com as pessoas: nunca mais correr,
abraçar, pegar, andar, eis os pensamentos que esvaziam nosso vigor. Não há
subjetividade nisso: a dor dói mesmo. A engrenagem corporal funcional aos
trancos e barrancos; e o cérebro começa a jorrar cortisol nos sistemas: surge a
vontade de ‘nada’; surgem mais respostas ‘não’ do que ‘sim’; surge o olhar
cinza e a utilidade de solidão; surge o silencio, a falta de humor e o
sedentarismo. Assim chega e fica a doença trazida pelo Aedes Aegypis, no meu
caso, a Chicungunha. Mais do que febre ou infecção, a inoperância dos
movimentos traz muita dor física e também emocional. É um alerta de que, de
novo, estamos á mercê da sorte e/ou na mão do outro. É um alerta à nossa
fragilidade e limitação orgânica em meio a uma Natureza tão violada por nós
mesmos. De repente e sempre, estamos disfuncionais e não há o que fazer. Cinco
dias, um mês, seis meses, dois anos: quanto tempo podemos suportar os limites
do corpo às nossas vontades e responsabilidades, sem enlouquecer ou deprimir? A
dor apresenta a possibilidade de olharmos nosso corpo e nossa mente de outra
maneira: diferente; e investe na possibilidade de criar estratégias para
retomar o caminho da saúde; mas a questão crônica nos impede de perceber a
positividade desse momento. A dor demora. Demora demais. É uma experiência que
não desejamos, mas que, de uma hora para outra, nossa pele está alterada, nossa
temperatura elevada e nossas articulações travadas / doloridas. E nossas
responsabilidades, aquelas que nos distraem do corpo e da mente, não tem como
serem descartadas. Saídas de carro, aula com febre, movimentos, toques, tudo
continua só que há um novo elemento: A DOR. É pesado! É duro! É desesperador! Tudo
dói demais em dupla face: por dentro (efeito da picada) e por dentro (emocional
/ psicológico). Experiência sensorial sem alinhavo e concordância: só uma
vontade louca de deitar e dormir eternamente sem dor. De uma hora para outra,
só temos a necessidade de tolerância. Quanto tempo podemos tolerar a dor?
Particularmente, tempo nenhum! Essa tolerância sim pode ser considerada
subjetiva: ela está relacionada ao tanto de dor já vivido e superado.
Tolerância depende também da experiência de / da dor. Além de nos surpreender
com o corpo e a mente, nossa individualidade percebe a dor de acordo com nossa
experiência de vida. Em dor estamos altamente estimulados na parte afetiva,
fisiológica, cognitiva: estamos à flor da pele. Ansiedade, medo e depressão tem
uma proximidade bem forte aos nossos pensamentos: são fantasmagóricos e
arrepiantes. Vontade de nada mesmo! A dor faz interação direta com o
psicologismo do sujeito. Quanto tempo isso dura? Quanto tempo a tolerância é
positiva? Estamos alarmados (doloridos). Estamos ‘psicossocialmente’
disfuncionais. E os dias se tornam angustiantes e tristes. Meu sistema nervoso
central interpreta assim: agonia. Vou deitar de novo... Claudia Nunes
O mundo é desconhecido e estou desbravando a mim mesma para aceitar o mundo como ele é. Como professora (Estado), Tutora em cursos de EAD, Revisora de Material Didático e MESTRE em Educação (UNIRIO), estou seguindo a vida fazendo o que gosto, como gosto e com quem gosto muito. Escrevo e publico textos para me esvaziar de mim e poder aceitar o Outro como vier. De resto meu vicio é o mundo virtual, ainda que eu nao seja dissimulada. Mutante? Isso! Eu gosto de ser mutante!
quinta-feira, 7 de abril de 2016
207 O REAL VALOR DA PÁSCOA
Pensando em Páscoa
(Pêssarr, em hebraico = passagem). É um jogo de memória. É uma forma de lembrar
que precisamos ter mais humildade, paciência, consciência ecológica, amor
verdadeiro, força de vontade e juízo. Sim, devemos reorganizar nossos
sentimentos ao encontro de mais juízo e identidade. Nós, humanos, somos luz do
mundo, mas sozinhos não iluminamos nada e nem ninguém. Eu e o outro promovemos
a fé e a confiança necessárias às promessas, às alianças, ao sucesso, à
superação e ao entendimento dos nossos dias sem tantos problemas. Da Natureza,
somos as criaturas das mudanças e do pensamento; da curiosidade e da
criatividade; logo somos símbolos de uma representação de fé, comunhão e
solidariedade. E precisamos de mais libertações das mentiras, das falsidades,
das maldades, das indiferenças e das malícias. Páscoa é a lembrança de jantares
em família; risos na mesa; trocas de afagos e abraços; conversas francas; sem
pressas, desatenções ou celulares. Nós não somos mais escravos de nada ou
ninguém; e nem deveríamos optar por sê-lo em nome da modernidade, civilização
ou atualização. Não somos mais cordeiros; mas devemos nos ‘alimentar’ de bons
fluidos e energias, quando diante de um bem, um bom, uma bonança, um benefício,
uma beleza sem orgulhos bobos; e devemos saber juntar e viver as diferenças com
respeito e silencio. Silencio é a tônica dos dias atuais sem que se perca a
identidade ou a verdade. Silêncio é a tônica da gratidão mesmo se for nossa
última opção de bem-estar. Páscoa é herança de fé e de força seja ela sentida
como ‘Easter’ (adoração à deusa Ishtar) ou ‘Pêssach’. Páscoa traz o conceito de
primavera: reflorescer, revitalizar. Páscoa é a fertilidade de campos, corações
e mentes para um novo tempo ou ciclo de vida. Páscoa é uma passagem de vida
para uma nova vida cheia de oportunidades e surpresas: daí a representação do
coelho (fértil) e do ovo (início da vida). Até os dias de hoje muitas histórias,
de culturas diferentes, se uniram para agradecer e entender este momento. Há
uma grande ritualização necessária a sensação de renascimento, mesmo que a
penitencia seja importante. É um período de parada, entendimento, menos
velocidade, mais interiorização, de expectativa sobre morte e ressurreição:
metáforas da nova oportunidade de mudarmos nossas formas de viver como lagartas
e reviver como borboletas. Eu acredito nisso. Eu acredito muito nisso. Estamos
às portas de uma entrada para a verdadeira ‘vida eterna’ e precisamos decidir
vivê-la com menos invenções, restrições ou tensões junto aos outros tão
importantes em nossas vidas. Páscoa é isso: outra data para decidirmos o que
seremos nos próximos dias e quais valores / pessoas nos envolverão com graça,
calma e amor. Chocolate é bom; mas o amor ao próximo é fundamental. Claudia Nunes
206 'DEUS não joga dados com o universo'
Quando vivemos nossos sonhos
precisamos ter muitos cuidados, principalmente em nossas relações. Nunca
devemos ignorar a simplicidade de duas palavras: gratidão e humildade. Mesmo
com rios de dinheiro ou holofotes de celebridade não podemos perder a noção de
humildade. Nós voltaremos ao pó, mas vivemos a vida esperando não conviver em
pó: sozinho, fluido, vagando e sem base afetiva. Precisamos da humildade. O
sentido da gratidão é reflexo de nossa humildade sempre. Será que perdemos
isso? Será que ficamos tão duros ao ponto de aceitar a soberba ao invés da
humildade? Os tempos estão difíceis e confusos. Mas viveremos com os outros, e
onde estará a amizade? Sem humildade, difícil ser amigo. Mesmo se alcançarmos
todos os degraus dos desejos, os outros sempre serão a participação especial
nesse processo. Precisamos ser humildes mesmo! E assumir a responsabilidade de,
apesar de conquistadores, manter um olhar em nossos pés (casa, amigos, afetos)
sem as prepotências dos ganhos obtidos. Sejamos humildes! Ninguém é melhor ou
pior que ninguém. Dignidade, respeito e honestidade, por exemplo, são ganhos de
homens de bem em todos os setores da sociedade. Fama, sucesso, dinheiro são
importantes? Sim, lógico, mas há algo a se lembrar sempre: somos limitados,
temos limitações, não somos perfeitos. E a modéstia, nossa melhor amiga e fonte
de atitudes positivas, sempre nos possibilitará elevação espiritual, tão
importante ao futuro quando fama, dinheiro e sucesso estiverem em outras mãos.
Tenhamos humildade quanto ao modo de vida; às posses; ao jeito de agir e falar;
às escolhas; às decisões; às formas de afeto das outras pessoas; afinal as experiências
são diferentes e merecem nosso melhor sorriso, cuidado e respeito sempre.
Humildade abre um leque para empatia e simpatia, e constrói uma vida quase
isenta de solidões e mal-entendidos. Sim, os pouco humildes sofrem demais,
afinal suas fraquezas estão disfarçadas com a chamada personalidade. Há uma
capa fina os protegendo das invasões e das perdas. Os ‘sem humildade’ não sabem
perder e por isso tem um manto de invisibilidade: são duros, marrentos e
arrogantes. Perderam a noção do amor e da delicadeza com o próximo. E se
desculpam porque a vida não lhes deu trégua até serem o que são. Pena! Triste!
Sem humildade, as pessoas são encaradas como perigosas, invasivas, inúteis,
descartáveis. Sem humildade, a tal personalidade se sente superior e, como um trator,
passa por cima das pessoas, mesmo as que mais ama, sem lembrar que o amanha
existe. Eles acreditam sinceramente que são melhores e não mais se lembram da
virtude de um abraço simples, de um silencio respeitador, de um sorriso aberto
ou de um papo livre de senões ou certezas absolutas. Sem humildade, a vida é
uma tensão constante e cheia de orgulhos bestas. Por favor, sejamos humildes!
Em meio ao sucesso, sejamos cordiais, hábeis e simples. Não há glória na
solidão, nas inimizades, nos desencontros, nas perdas que a falta de humildade
oferece. Todos somos iguais, apenas alguns souberam aproveitar as oportunidades
da vida e alcançaram outros patamares de aprendizagem. Há de haver humildade
para saber escutar, falar, sentir, rir, esperar, se desculpar, se abrir ao
novo, ignorar pensamentos ruins, esvaziar-se de preconceitos e ser feliz junto,
nunca separado. Humildade é a virtude central da vida em vida e para vida. Ela
é testada todos os dias talvez para confirmarmos ou não nosso merecimento a
partir de nossas atitudes e ações. Humildes, mas com atitude. Humildade, mas
com elegância. Humildade, mas com limites e delicadezas. Não há rebaixamento
nisso, é o reconhecimento humanizado e real de nossas falhas. Fertilizamos
nossa vida através da humildade sem pieguice. Não neguemos esse sentimento. Não
ignoremos sua força. Não descartemos sua enorme energia transformadora. Nossos
sonhos podem ser realizados, mas exigem disciplina e simplicidade para
construi-los objetivamente. A humildade se compromete, realiza, alcança,
conquista, compartilha e nos disponibiliza para saber mais e melhor junto com
os outros. Humildade é junto; o orgulho é separado e estagnado. Não há
movimento no orgulho. Sofremos da aparência do movimento porque nos orgulhamos
de quem somos e do que conquistamos; quando deveríamos aprender e agradecer o
tempo de luta até reconhecermos quem somos e o que conquistamos. Sejam sociais
e menos possessivos. Nada é seu; tudo pode favorecer a todos. Não desejemos
grilhões; desejemos portas abertas e um livre trânsito de emoções e pessoas que
possam nos ajudar a continuar crescendo: isto é humildade! Se o mar quisesse
ser o primeiro, se quisesse ficar acima de todos os rios, não seria mar, seria
uma ilha. E certamente estaria isolado. Sócrates já dizia ‘só sei que nada
sei’. Este é o ponto da humildade. Esta é nossa busca eterna: sonhar, agir,
aprender e conquistar sem escravidões orgulhosas. Humildade é um valor, não uma
condição: e é para vida toda. Àqueles com humildade sabem que nada sabem e
procuram aprender sempre; sabem dar valor a quem lhes ajuda ou ajudou; sabem conviver
com as diferenças sem exigir que provem quaisquer coisas ou que o outro seja o
que não é. Pessoas, sejamos humildes e, com certeza, nosso mundo entrará em uma
rotação mais positiva e feliz com a Naturezal. Aproveitem, afinal, como afirma
Einstein, ‘Deus não joga dados com o universo!’. Claudia
Nunes
204 RETORNO À OUTRA DIMENSÃO
Vamos voltar à sala de aula adolescente!
Corpo e mente estão eletroquimicamente se organizando (e alterando) para
este novo momento na vida de milhares de profissionais da educação. Mesmo
aqueles mais cansados, desiludidos ou indiferentes, sempre há uma ponta de
expectativa quanto ao retorno ao trabalho e ao que encontrarão como aprendente.
Em ambos os lados dessa balança chamada ‘ensino-aprendizagem’ há sonhos,
vontades, esperança de realizar um bom trabalho ou de ser um bom aluno.
As férias são importantes para a neuroplasticidade profundamente positiva:
somos professores e humanos; logo a distração, prazer, o tempo vago (vagando),
a família, os amigos, reestruturam a composição orgânica e mental porque tem
seu tempo de vivência intensa e livre. Noradrenalina, serotonina e dopamina
renovando corpo e mente: é a esperança ganhando espaço. Neste sentido (e tempo)
pensamos o futuro e sinceramente imaginamos um tempo mais promissor sempre ‘da
próxima vez’. Parece que há múltiplas dimensões / realidades e com elas
convivemos todos os dias até as férias; daí em diante, Sangrilá se estabelece e
vivemos dias de reorganização emocional. Em férias, eu vivo a cultura carioca e
em geral, e penso constantemente no que posso me rever como profissional, mas
sou assolada por uma tristeza enorme: meus alunos não tem a mesma oportunidade.
Na volta à sala de aula adolescente, penso em meus alunos e nos
planejamentos. Eu preciso planejar um ano inteiro, em língua portuguesa e
literatura, para quase 110 alunos, de 2º e 3º anos do Ensino Médio público,
turno da noite. E a pergunta primeira é COMO?
Do subúrbio carioca, de contexto semiviolento, qual é a dimensão
cultural vivida / experimentada por eles, de forma a favorecer o aprendizado de
língua portuguesa e literatura? Pelo que escuto e observo, é quase nada. Fora
do tempo da escola, estão na vida como vagalumes: atraídos por quaisquer luzes
bonitas que os façam distrair de suas mazelas diárias. E eu vou voltar a essa
dimensão. Em sala as duas dimensões: a minha e a deles. Não é só uma crise
geracional; é uma crise de oportunidades. É uma viagem sem luxo ou paz, e,
quase sempre, na base dos conflitos.
Sou otimista, mas, em quase 10 anos, volto para um profundo processo de
nadificação intelectual e social. Os alunos passaram as férias trabalhando
(único momento fora do contexto); em festas; namorando sem qualidade; cuidando
dos irmãos menores; em meio a violências; sendo violentos ou maltratados;
brigando; vagando; nas esquinas e bares; nas madrugadas sangrentas; sem paz
carinho, amor, novidades, leituras, informações, limites, silêncios e sono.
Mesmo sendo seres vivos humanos adaptados aos seus ambientes e
necessidades; são zumbis do seu tempo e das oportunidades. E de novo o ano
recomeça e só o que temos é o que Pandora prendeu: a esperança.
Vamos tentar novamente mudar os rumos e os olhares desses grupos de
alunos que chegam ou retornam às escolas.
Escola como salvação? Não! Mas escola como espaço das possibilidades e onde
devemos tentar, tentar e tentar oferecer outros conhecimentos, com criatividade
e muita, muita paciência. Claudia Nunes
MICROCONTOS 196, 197, 198, 199
196
(12.01.16) Um nada...
Carolina tomou um susto. Ao abrir a
porta, o mundo se foi. Nem o tapete da porta contaria sua história. Tudo era
branco e sem cor. O corpo paralisou: não tinha para onde ir. Quando o coração
acalmou, decisões: ou fugia, ou mudava, ou enfrentava. Nunca as consequências
foram tão velozes: ela perdera tudo de repente. Cega, andava pelas ruas pedindo
algo para comer e reviver. O caminho não tinha mais ritmo, apenas um pedido:
por favor, pode me ajudar? Claudia Nunes
197
(12.01.16) Sem volta
Os pensamentos surgem por causa de
gatilhos dos sentidos. Estes sim merecem nossa atenção constante. Eles são
crianças que nos acessam quando querem e estimulam nossas memórias mais
guardadinhas. Estudando memória, Selena se perdera em sua própria vida. Não
sabia reencontrar o foco. Sabia que suas emoções estavam liberadas e não havia
como parar. Duras e prazerosas, elas ganharam seu corpo e tiraram sua querida
passividade: ela era ela sem ser o ‘ela’ de sempre. Ela não tinha paz; mas ‘ela’
tinha controle. Ela tinha liberdade; mas ‘ela’ vivia dentro de limites. Elas
não se completavam e eram a mesma pessoa. Muito barulho e pontas, e ela com
profundos andaimes de atenção e linguagem pelo corpo. Selena não tinha como
voltar; não sabia como voltar; os caminhos eram um pó elétrico se chocando entre
si e criando outros comportamentos e emoções dentro dela. O que pode ser mais
fútil, insensato ou insano do que criar resistências? E assim se rendeu e se
encontrou. Sim! Serena era a melhor pessoa do mundo, diziam seus amigos
psicólogos! Claudia Nunes
198
(12.01.16) Opções
Sem perder tempo, não leve a vida tão
a sério; acredite no tempo; limpe as coisas e armários ruins; sinta a leveza da
vida, da paz e do sorriso; aja com cuidado, carinho e humor; respeite o futuro
e o alheio; nunca seja vítima de si mesmo e das palavras; apodere-se de quem é
e dos ensinamentos; lustre os recantos emocionais e seus entulhos; tenha atitudes
bonitas e loucas; festeje os dias e a vida; ache a senha do silencio e do
beijo; perdoe ansiedades, amores e amigos; mude o gesto, o jeito, o peito;
cresça com coração, oração e gratidão; honre pai, mãe, amigos e a si mesmo;
lute com fé, a pé e todos os ‘zés’ da vida; e, com tudo isso, Claudio inventou
uma linha para a vida: a consciência e o otimismo. Claudia Nunes
199
(14.01.16) FÉRIAS...
E ela foi às férias. Sem crachá e
identidade, ela foi à vida para respirar. Nada suspenderia seu momento. Iria respirar
o que fosse necessário, sozinha e independente. Seus passos tinham memórias;
mas seu futuro estava sombreado e em paz. Ela tinha que respirar e esquecer.
Anos pensando em mudanças, planos, atitudes, amores e loucuras. Anos sendo o
fenômeno de humano da força, da fé e da compreensão. Anos se trocando, se
doando, se esquecendo, se controlando. Agora foi às férias. Férias definitivas.
Férias das lutas, dos descasos, das necessidades, das responsabilidades e das
farsas. Sim, ela queria ficar longe das farsas das relações de todo dia. Que
prazer! Que amor! Que sol! Que luz! Se mais, Camila desligou os aparelhos que
mantinham sua mãe viva há 03 anos: férias... Claudia Nunes
POESIAS 188, 192, 194, 195, 203
188
(11.01.16) Deus dará
Um dia precisamos dizer adeus
Não há aprendizado para isso.
A vida se apresenta firme
E tudo o que doeu
Precisa dizer adeus.
De uma hora para outra
Acabam manhas e manias;
Chatices e bobices;
Senões e fantasias;
Amores e dinastias.
A lei é dizer adeus.
A esperança passou,
O medo sumiu,
Na frente dos olhos
Apenas a necessidade de dizer adeus
Com choro ou desejos
Pendências ou cortejos
Lamentos e apreços.
Quando se diz adeus
A Deus
Dará.
Claudia
Nunes
192
(12.01.16) Alma
Olhares que se encontram
Quando a dor desencanta
São sentidos desembaraçados
Pela vida mercante que canta
Se no caminho se chocam
Melhor o silencio andante
O respeito ululante
E os abraços refrescantes
É preciso recompor os amantes
Pra uma luta incessante
E uma sobrevivência rompante
A maturidade é isso
Olhares que se encontram
Com promessas veladas
A vida baseada,
Assim dizem
Revivem
Transgridem
Progridem
Animem
Animas
Alma
Claudia
Nunes
194
(12.01.16) Hall de Hospital
Encontros e choros
Choros e amizades
Amizades e imagens
Imagens e memória
Memória e medo
Medo e ansiedade
Ansiedade e vazio
Vazio e silencio
Silencio e ruído
Ruído e dor
Respiração
Morte
Morte?
Outra vida
Sempre vida
Claudia
Nunes
195
(12.01.16) De fé
A magia se fez
Quando o coração se refez
Não há primeiros nem últimos
Há os presentes
Presentes de vida,
De sorrir e de chorar.
Nada é tão importante
Do que as presenças
E os eternos presentes
Impossível resistir
Fingir ou iludir:
Os presentes são a moda
E nossa responsabilidade.
Diante de portas fechadas
Mentes e presentes
De sempre
De frente
Enfrente
Frente
Entes
De fé
E a pé.
Claudia
Nunes
203 (29.01.16) SURPRESAS
Sem destino
certo
Encontrei
um mundo no lixo
Um lixo de
sombras e alegrias
Sujeiras,
risos e esperanças.
A surpresa
derreteu a negação
E pude
simplesmente olhar e viver.
Esse é o
lugar das oportunidades!
Crianças
brincavam na lama;
Crianças,
bolas de gude e bolas de meia;
Crianças,
piqueta e pega-pega;
Crianças,
amizades e muito calor;
Eram
pequenas e grandes;
Felizes,
sujas e sortudas.
A surpresa
travou minha fuga
E o impulso
‘falou’ mais alto.
Eu corri ao
encontro da alegria e dos sonhos!
Impossível
iludir os sentidos
Quando a
força da verdade nos sufoca.
Os gritos
mudaram meu coração
E eu não
pude fugir
A surpresa
desesperou meu cotidiano
Trouxe inverno
às minhas certezas e rotinas
E gelou
tudo o que era ‘de sempre’ e correto.
Sem blefes,
manchas ou fumaças,
Juntei
abraços e encontrei beijos.
Assumi o
entusiasmo das pernas alegres
E ocupei
meus dias de grandes abraços.
O vento não
deixou de soprar
E ninguém
parou de sofrer
Mas sem as
surpresas da vida
Não há
evolução e nem viver.
Claudia Nunes
MICROCONTOS 189, 190, 191, 193, 196
189
(11.01.16) Voou...
A recepção silenciosa e fria. Desde os
tempos de infância, a recepção dava medo: cheiro de dor. Quando foi chamado,
correu pela escada de serviço. Ele precisava ver o mundo de outro jeito: ele
queria ritmo e solidão. Tudo vai dar certo, diziam seus pés. Hemodiálise tem
todos os dias e hoje se permitiu voar... Claudia
Nunes
190
(11.01.16) Mesma volta
Ele voltou! Ele voltou! Casa
desarrumada; vida mudada, sentimentos trocados e tempo mais velho. Mas ele
voltou! A vida girou como previra. O som de seus passos semeou novo sorriso. Coração
nunca se engana: ela precisava ser rápida. Ele voltou, limpou seu lugar, tocou
seu corpo, fez uma mala e se foi... Claudia
Nunes
191
(12.01.16) Valor da dor
Na cama do hospital, um movimento
ruidoso: medo. A vida passa e o ruído continua: medo. Amanda sentia o peso das
ações através dos tantos estranhos que a tocavam e se aproximavam, todos os
dias, de seu corpo. Na cama de um hospital, as ardências incomodam muito, mas
as feridas do passado latejavam muito mais. Essa é a hora da verdade? Da sua
verdade? O tempo só mostrava o seguinte: descanse. Uma mensagem de paz e de
medo. Seu coração vibrava em arritmias. Ela sentia o gosto do sangue e da vida.
Hospital não era o lugar do sonho; era lugar da saúde dolorida; e saúde
exigindo infusões, reflexões, repasses, limpezas e mudanças profundas e íntimas.
Será que fora boa? Será que fora amada? Será que fora útil? Na cama de um hospital
não há nomes, apenas dores e lutas. Só lhe resta olhar, aceitar e dormir. “Vou
dormir na esperança de outro corpo...” E a máquina grita um apito alto e
contínuo: piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... Claudia Nunes
193
(12.01.16) Silêncio e vento
Quando o silêncio é a melhor opção; os
ruídos destroem o respeito. Depois que foi o que queria, Soares recomeçou sua
luta sozinho e livre... O desapego fora sua melhor arma e destino... cerrou
suas algemas e encontrar as surpresas de outono. Claudia Nunes
196
(12.01.16) Um nada...
Carolina tomou um susto. Ao abrir a
porta, o mundo se foi. Nem o tapete da porta contaria sua história. Tudo era
branco e sem cor. O corpo paralisou: não tinha para onde ir. Quando o coração
acalmou, decisões: ou fugia, ou mudava, ou enfrentava. Nunca as consequências
foram tão velozes: ela perdera tudo de repente. Cega, andava pelas ruas pedindo
algo para comer e reviver. O caminho não tinha mais ritmo, apenas um pedido:
por favor, pode me ajudar? Claudia Nunes
ADOLESCÊNCIA e suas ANSIEDADES
Em projetos focados nos desejos
e sonhos dos alunos (adolescentes) surgem sempre dúvidas sobre o futuro.
Perguntas como ‘o que vc pretende depois do ensino médio?’ ou ‘o que fará
profissionalmente depois do ensino médio?’ ou mesmo, ‘vai cursar alguma
universidade depois do ensino médio?’ causam preocupações às vezes impensadas.
Eles passam o tempo como se tivessem todo o tempo do mundo para decidir a vida.
Só que, ao final do 3º ano do ensino médio, eles se sentem angustiados porque
as exigências sociais se apresentam e o tempo ‘over’.
Depois de um seminário sobre
características realistas hoje (aula de literatura), muitos pensamentos me
preocuparam ainda mais em relação a esta geração de quase 21 anos. Do terceiro
bimestre em diante, há um novo movimento nas turmas: é a inserção no social
através de outros estudos e novos trabalhos sendo exigidos pelos adultos, mas
eles nem sabem por onde começar e o que pensar sobre isso. É hora de SE definir,
dizem a eles. E a ansiedade tem suas taxas internas avolumadas. Como? – se
perguntam...
Antes disso, algo deve ser
observado: eles não sabem aproveitar oportunidades e/ou tempo de aprendizado. E
mais, ainda que o tempo seja sentido como inextinguível, comportamentos,
desejos e emoções tem uma velocidade exponencial: eles fazem tudo correndo. O
foco é o fim, nunca o processo. Amam, comem, dormem, realizam tudo correndo. A
ação reflexiva em que o cérebro precisa de tempo para se adaptar à frequência e
rotatividade de informações ocorre aos trancos e barrancos. Os sentidos não
confluem para o fortalecimento das suas experiências; eles são acessados apenas,
por exemplo, no momento da prova em que serão avaliados. As chances de conexões
de qualidade são poucas.
A matemática do comportamento adolescente
é: sentido + ação (foco) = nota máxima. Em muitas escolas, NOTA é a base dos
movimentos à aprendizagem e os recursos para que alcancem estas notas nunca
giram em torno do tempo passando, mas sim no tempo da HORA acontecendo. E eles
se tornam ansiosos na produção dessas NOTAS porque estas se relacionam ao sucesso,
conquistas, privilégios e separações. No trigo, eles querem ser JOIO e a NOTA
(meritocracia) faz bem isso para suas emoções e para suas relações em geral.
Adolescentes têm outros
aguçamentos emocionais, isto é um fato. Amores, celular e redes sociais, por
exemplo, são seus mundos e por eles ganham status com outros colegas e/ou na
família: quem TEM não TEME nada. Com estas ferramentas, eles conversam,
interagem e se relacionam, ao contrário do que muitos pensam. Eles estão
formando outras redes em outras redes / ambientes / plataformas. Nesses
territórios, constroem identidades, formas de pensar e certezas no agir. As
diferenças entre ambiente virtual e real diminuem; os prazeres e os desejos
podem ser experimentados; e a formação humana ganha outra arquitetura. E como
fica a formação na escola? Resposta: desconectada.
Com interesses ignorados, eles
precisam funcionar em paralelo entre ambientes: o real e o virtual; entre a
obrigação e o prazer; e entram numa correria contra o tempo em que o tempo da escola
torna-se uma obrigação social sem nenhum prazer. Eles passam esse tempo
observando a vida lá fora (da escola), numa rotina de prazeres múltiplos por
dentro, em contato confuso com emoções, pessoas e decisões. Como querer que,
depois de três anos de ensino médio, eles tenham um futuro profissional
definido? Nem a palavra ‘definição’ os reflete. Difícil... tudo está muito
difícil... para eles.
Quando paramos para ouvir e
pensar esse adolescente, reconhecemos uma rotina agitada de vida urbana, cheia
de afazeres e sem pensar no amanha. Em sua maioria, eles têm uma liberdade
inconsequente. E se chocam consigo mesmos quando se deparam com o fim do curso:
tornam-se ansiosos ‘do depois’. É uma ansiedade da hora, do agora, do hoje por
causa ‘do depois’. E se não estão trabalhando (sendo úteis), eles ratificam o
que sempre lhes disseram de uma maneira abrupta: eles não são ninguém; eles não
são nada. Pergunta base: o que fazer? Por onde começar?
Adolescentes dificilmente se
deixam desfrutar pelo futuro no presente. Sua ansiedade é hoje. É preocupante
esta ansiedade: ela é paralisante e o corpo se acostuma com níveis altos de
cortisol. Engraçado que o tempo (passado, presente, futuro) é característica
humana. Somos todos formatados por esses tempos por causa da convergência de
nosso cérebro reptiliano (sobrevivência contra predadores, fome, sede), nosso
cérebro emocional (percepções, luta e encontro de abrigo) e nosso cérebro
racional (relação, pensamento, raciocínio), logo ansiedade nos capacita a criar
estratégias adaptativas do sistema nervoso, do corpo e da mente para conquistar
objetivos, sonhos e pessoas.
De outro lado, a ansiedade
fortalece nossa criatividade, habilidades, competências no trato com o meio
ambiente. É uma reação natural do organismo humano em situações de medo, dúvida
ou expectativa. Ou seja, há motivações. Adolescentes indisciplinados, agitados,
com linguagem confusa, podem apresentar ansiedades com intensidade e duração
inadequada. Resultado: professores reclamando muito. Quais gatilhos estimulam
esses comportamentos? Formas de aproximação? Insatisfações? Falas grosseiras?
Emoções pessoais despercebidas? Práticas de ensino inadequadas? Atividades pedagógicas
desinteressantes? Perda da sensação de pertencimento? Muitos estímulos sonoros
e visuais em sala? Resposta: tudo isso junto!
A questão da identificação do
gatilho é importante. Porém o professor deve saber antecipadamente: ansiedade
fora do normal é persistente, aparece todos os dias e pode apresentar uma ou mais reações físicas como boca seca,
taquicardia, sudorese excessiva, tensão muscular, tremores, tonturas e dor de
cabeça, frutos de um desequilíbrio nas funções internas. Adolescentes estão
excitados e são excitáveis facilmente. Há hormônios demais em questão, o que
pode acarretar o estímulo excessivo da noradrenalina, neurotransmissor produzido nas glândulas suprarrenais
(localizadas nos rins), cerúleo e núcleo amigdaloide cerebral. E ele
realmente fica à mercê de uma genética (programada) e um meio ambiente
(adquirido) e sem controle.
Tal ansiedade gera dificuldades de rendimento cerebral,
principalmente das funções cognitivas, na forma de esquecimentos e dificuldade
de concentração. Temos que lembrar com calma: adolescentes tem pouco tempo
de vida informativa e emocional, mas tem problemas, muitos problemas e quase
sempre relacionados às indecisões, às desinformações, às incertezas e às
exigências excessivas externas. É preciso ter cuidado e, principalmente, entender,
reconhecer e trabalhar estas memórias tão complexas.
Como as questões de trabalho (mercado
de trabalho) ainda não estão definidas, a maioria dos problemas é emocional. Sem
equilíbrio emocional, tudo tem cores exageradas na adolescência, afinal procuram
afirmação para e no grupo. Entre estudar sujeito e predicado para a prova
final; e reconquistar a namorada que está com outro cara da sala ao lado, o que
acham que os preocupam mais? Adultos entendem (não sabem) o que é prioridade e
autoestima; mas adolescentes? Eles querem tudo e um pouco mais para suprir
rápido seus desconfortos. Eles querem se integrar, tem objetivos, mas não tem
estratégias e nem recursos saudáveis, em sua maioria, para realizar.
A ansiedade vai gerar confusão
mental e ineficiência de ação; logo eles não serão coerentes em seus argumentos
e atitudes; e privilegiarão o momento, o grito e o uso exacerbado do palavrão
(palavras de baixo calão). A ansiedade gera resposta imediata em que o córtex
pré-frontal tem pouca participação, num primeiro momento. O contexto corporal
fica desorganizado e há uma reação em cadeia: fala acelerada, parte para briga,
bate nas coisas, grita muito: ele SE prejudica e não consegue parar.
Nos dias seguintes temos que
ter atenção, segundo estudiosos, porque podem surgir problemas cardiovasculares e gastrointestinais; problemas no sistema
imunológico; e algumas inflamações e infecções. Caso não haja interferência
nesse processo (familiar, pedagógica, médica), estes são pontos de origem para algumas
fobias, síndrome do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno
de ansiedade e estresse pós-traumático. E se todos se misturam, temos o
transtorno de ansiedade generalizada (TAG).
Importante salientar, por
exemplo, que, na educação infantil, é possível reconhecer um ansioso, já que os sintomas se manifestam desde cedo, sendo
uma criança agitada, às vezes hiperativa, que tem dificuldades para dormir e
que chora com facilidade. De outra forma, é válido ressaltar que a exposição de uma criança a um ambiente
problemático, em que ela se sinta insegura, pode gerar ansiedade mesmo em quem
não apresente qualquer tipo de predisposição. E como a escola é o segundo
momento em que a criança interage, o contexto familiar pode ser tão perigoso
quanto o DNA, ou mesmo o nosso ritmo moderno atual.
Adolescentes são sociais e
estão em frente às questões pedagógicas todos os dias por isso é importante pensar
formas de aprender e sobre suas emoções; por isso é importante conhecer o
adolescente, talvez oportunizando práticas diferentes e proativas que
possibilitem certa exposição de suas formas de pensar o mundo, seus sonhos
neste mundo e a si mesmo neste mundo.
Professores de adolescentes
tratam, antes de tudo, com emoções já pontuadas na inserção social. Emoções em
sobrecarga numa sociedade competitiva e exigente. Emoções que desconhecem
limites ou a possibilidade de mudança de hábitos. Emoções em processo de
amadurecimento e que, por isso se apresentam inadequadas: pelo excesso ou pela
total indiferença.
Nós, professores, temos opções
para amenizar essas sobrecargas e estes comportamentos, mesmo reconhecendo a participação
do contexto externo? Sim, temos. Sugestões:
ð Atividades de produção em grupo;
ð Ações de construção de
propostas sociais (doações, solidariedade);
ð Dinâmicas de grupo voltadas à
autoestima, ao corpo e à relação interpessoal;
ð Avaliações através de
manifestações (pintar, escrever, desenhar, criar vídeos);
ð Aconselhamento esporádico da
orientação pedagógica;
ð Sugestões de outras atividades
à / com a família;
ð Visitas pedagógicas de tempos
em tempos;
ð Momentos simplesmente lúdicos
(jogos e brincadeiras);
ð Discussões temáticas orais
(seminários, apresentações);
ð Indicação de alimentação;
ð Palestras motivacionais com
pouco controle da expressão de pensamento;
ð Utilização pedagógica de certas
mídias;
ð Demonstrações de afinidade e
reconhecimento constante.
Por
fim, atenção, em todo processo, feedbacks são fundamentais. Adolescentes
precisam de limites reconhecidos. Ou seja, eles precisam reconhecer por onde e
como caminham em relação à própria aprendizagem em sua área de saber.
Prof.ª Claudia
Nunes
OS GRITOS DA SALA DE AULA
Como diminuir os comportamentos indisciplinados? Como um professor pode
estimular mudanças nessas emoções indisciplinadas e, por conseguinte, nos
comportamentos para aprendizagem? Parando de gritar! Professor, pare de gritar!
Nós podemos ser impositivos olhando nos olhos e tendo calma na fala. A
questão do tom da voz é muito importante. Pense: será que grito resolve? Grito
mudaria seu comportamento, professor? Para o aprendente, em meio aos colegas, o
grito é chocante e humilhante; e, provavelmente estabelece links com sua
memória afetiva mais negativa; e, ai surgirá reação impulsiva também negativa
ou a interrupção dos processos de aprender. Primeiras atitudes do aluno: susto,
silêncio, estranhamento e uma decisão ‘tô fora desse professor!’. E, dependendo
do aluno, no momento seguinte, haverá CONFRONTO, nunca CONFLITO. Eis a
indisciplina...
Em sala, professor, regras estabelecidas devem ser cumpridas. Importante
um nível de flexibilidade? Com certeza. Mas deve-se esclarecer o porquê das
mudanças e procurar não repeti-las. Depois de certo tempo, exemplo e rotina, o
aluno, que gosta de arrumar confusão, perceberá sua insensatez, sentir-se-á
como um ‘peixe fora d’água’, pensará duas vezes antes de agir negativamente e,
em médio prazo, poderá colaborar com a aula com mais prazer, mais do que
atenção. Professor, mudança de comportamento tem relação direta com a
aprendizagem, mas ela começa em você. Gritar não adianta...
Professor, talvez algumas sugestões lhes sejam interessantes: temos que
mudar o foco das atenções incluindo, por exemplo, o movimento do corpo em sala
de aula. No movimento do corpo, é possível que os gritos da memória afetiva se
enfraqueçam; que, na corrente sanguínea, seja introjetado um conjunto
neuroquímico diferente e renovador; que a sensação de bem-estar e tranquilidade
ganhe primazia; e que os alunos permaneçam ativos, só que agora positivamente. Eles
têm vontade de participar, discutir, questionar, colaborar, se solidarizar,
tornarem-se proativos, autônomos e, enfim aprender; só que gritos, muito
relacionados ao medo de perder a autoridade ou sensação de impotência,
minimamente danificam a autoestima; esvaziam a possibilidade de confiança; e,
por fim ‘alimentam’ o descontrole emocional. Como aprender assim?
Depois da primeira semana de aula, professor, vamos pensar diferente e de
acordo com Alberca (2015), vamos pensar que “a atenção é a capacidade que o
cérebro tem de dirigir a sua atividade para algo concreto de forma voluntária;
logo, a atenção é um estado afetivo” (p.101); e, por conseguinte, vamos pensar
que, “na realidade, a distração não é mais do que a fixação da atenção em outra
coisa” (p.103); ou seja, “a dificuldade de aprender deve-se, com frequência, a
uma incapacidade para fixar a atenção, o que não vem incorporado no corpo
humano, mas é adquirido” (p.104). Será que parte dos problemas de aprendizagem
foi adquirida pela vivencia dos gritos familiares e sua reprodução pelos
professores?
Sem querer eu descobri: os gritos do mundo fundamentam fortemente as
dificuldades de aprendizagem e distraíram os caminhos da inteligência. Por
causa dos inúmeros e diferentes gritos travaram-se os procedimentos das emoções
/ dos afetos, e criaram-se pensamentos quase unânimes: ‘não sou capaz’; ‘não
adianta’; ‘sempre tive essa dificuldade’; ‘sou igual ao meu irmão’. Pelo que
observei, os alunos perderam a consciência de suas potencialidades intelectuais
e emocionais. Eles foram moldados pelos tantos gritos ‘afetivos’ e a eles
recorrem quando pensam em se integrar ou precisam escapar de situações de
emoções intensas.
E foi isso que percebi, ao final da primeira semana de aula, diante de
avaliações diagnósticas, no Ensino Médio, turno da noite, de uma escola pública,
localizada no subúrbio do Rio de Janeiro, através de discussões e jogos
temáticos. Os gritos adquiridos embotaram suas inteligências com muitos NÃOS e,
por estes, eles vem se adaptando, se desenvolvendo e sobrevivendo
solitariamente.
Para a semana seguinte e a partir da análise das avaliações
diagnósticas, pensei em algumas alternativas para que estes gritos comecem a
ser esquecidos:
ð ao apresentar uma atividade, dê tempo para que a realizem, ainda que, no
processo, haja papo paralelo, afinal o coletivo é importante nesse período (não
incomode o brainstorm);
ð com tempo para realizar a atividade, medie os grupos e suas ideias,
afinal eles são proativos e, com certeza, pensarão em outras formas de
realiza-la (saiba gerenciar a si e aos grupos com tranquilidade e escuta
sensível);
ð enquanto realizam a atividade, ofereça o maior numero de informações
possíveis e abra espaço para pesquisa online (alunos do Ensino Médio adoram
seus celulares) sem tantas restrições (introduza informações novas sempre que
for necessário utilizando múltiplos recursos);
ð não trave os movimentos do corpo, saiba que muitos alunos precisam do
movimento para realizarem suas tarefas sem tantas dificuldades (compreenda que
o movimento serve para ‘esfriar a cabeça’ e eliminar o cansaço mental);
ð mesmo em meio à atividade, crie momentos lúdicos em que o aluno fale de
si (adolescentes adoram isso) sem medos ou mentiras (crie espaços de
aproximação e de crescimento da confiança mútua);
ð entenda que todos têm formas de concentração diferentes (transforme a
distração comum em algo proveitoso e de sucesso);
ð estabeleça momentos de discussão cuja avaliação dependa da participação
e do comportamento, mas lembre-se: fora do padrão é outra forma de padrão (seja
flexível com as formas de se apresentar, falar, ouvir, avaliar);
ð sempre que puder, quebre a rotina das aulas criando momentos mais
significativos, e as melhores opções podem acontecer nos projetos de ensino;
ð e, por último, e não menos importante, dialogue, pergunte, divida ideias
(esteja disponível mesmo fora do seu tempo de aula).
No meu Ensino Médio, os gritos formataram um silencio comportamental e
este vem determinando a perda da curiosidade. A questão atitudinal adolescente está
presa no que conhecem / vivem. Se não há a curiosidade, não há possibilidade de
superação, não há o olhar ‘para além’ e nem encontro com outras realidades. Os
alunos equilibram suas emoções nos exemplos que têm (gritos, castigos, críticas
constantes) e no que a vida lhes apresenta todos os dias. É sobrevivência de
qualquer jeito e uma sequencia de ações ‘tapa buracos’, reflexos de uma sociedade
sem prioridades, novidades, estímulos e/ou atenção em relação às novas
gerações. E aos ‘trancos e barrancos’, eles vão vivendo.
Professor, a experiência do grito desilude, inclui indiferença e
constrói corpos sem textura afetiva. E sendo assim, a aprendizagem não tem
cores, caminhos e/ou sentidos. Os tempos da juventude não podem ser optimizados
na vida adulta como fazemos ou fazíamos em nossos computadores. Maus exemplos e
problemas de conduta são aliados às chamadas indisciplinas; e estas tanto
surgem dos gritos, quanto constroem gritos que interferem, basicamente, na
aprendizagem e, pasmem, no poder de resiliência futura.
Professor, atenção a isso. Para provocar atenção, tenha atenção aos seus
gritos internos e tão presentes nos comportamentos de seus alunos adolescentes.
Profa Claudia Nunes
APRENDIZAGEM e seus POSSÍVEIS ADJACENTES
Estamos em um
tempo em que o pensamento sempre se volta para um conceito / atitude:
aprendizagem, resultado final de imersões variadas, contínuas e complexas em um
número infinito de informações cujo foco favorece a mudança dos comportamentos
cognitivo, afetivo e físico.
No território da
educação, isto é uma constante. E por isso, de tempos em tempos, surgem ideias
compreendidas como inovadoras, principalmente, das práticas de ensino (metodologias).
Porém uma pergunta sempre surge: como estimular a vontade de aprender, mesmo em
situações de vulnerabilidade?; ou, em ambientes violentos?; ou, ainda, em
mentes com baixa autoestima? Superficialmente podemos responder: difícil diante
da crise social e econômica do país; difícil diante da rápida desvalorização da
profissão docente; difícil diante da falta de perspectiva real observada na
mentalidade dos discentes inseridos em comunidades, às vezes, de precariedades
extremas. E de tão difícil, repensamos o conceito de ‘líquido’[1]
trazido por Baumann. E de tão difícil, voltamo-nos para a biologia do cérebro e
sua complexidade neuronal.
Toda forma de
pensar é representativa do conjunto de memórias genética e social que o cérebro
assimila enquanto vivo. E justamente a memória social (aquela que compõe a inteligência
/ a ‘ecologia coletiva’ trabalhada por Pierre Levy) parece ser a fonte de uma
intensa (e, às vezes, inconsciente) adaptação das potencialidades inatas aos
sujeitos de maneira positiva ou negativa na relação com o cotidiano. Essa
adaptação, por sua vez, torna-se ponto nevrálgico em que, no processo
maturacional, se amalgama as aprendizagens.
Entendemos que
‘aprender’ é libertar das amarras; é inaugurar links para a imaginação e a
criatividade, ainda que se utilizem ferramentas cognitivas comuns; e é
desenvolvida por atitudes inovadoras que proponham, segundo Johnson (2011, p.41)
“centelhas, lampejos, sopros,
iluminações, estalos em nossa mente”.
Para aprender é
preciso desatenção das rotinas cognitivas e reorganização das redes de
neurônios, “uns em sincronia com os
outros, pela primeira vez, em nosso cérebro” (p.41). Para o senso comum,
então, à aprendizagem é necessário sair da rotina emocional, e assim “explorar o possível adjacente de conexões
que possam ser estabelecidas em nossa mente” (p.41). O outro é fundamental:
somos sociais sempre.
Nas
aprendizagens cotidianas e escolares, há um enxame de iluminações “capazes de estabelecer conexões complexas
uns com os outros” (p.42). Os estudantes têm expectativas. Mesmo àqueles
que demonstram comportamentos disfuncionais, as expectativas de estar diante de
algo diferente e aprender, permanece; logo, é importante que repensemos (nós,
os professores) nossas maneiras de apresentar os conteúdos e, assim, fortalecer
a rede de aprendizagem necessária à liberação, por exemplo, da imaginação e da
autonomia; e mesmo, necessária ao desenvolvimento qualitativo de funções
executivas[2].
Ainda que
saibamos que o cérebro é plástico, a qualidade desta neuroplasticidade exige
que estimulemos, com frequência e intensidade, novas configurações às redes de
neurônios com metodologias / práticas desafiantes, contextuais, proativas e
libertárias. “Uma rede densa que não
consegue formar novos padrões é, por definição, incapaz de mudar, de investigar
nas bordas do possível adjacente” (p.42).
Práticas
pedagógicas com recursos inovadores ou renovados trazem a ‘sensação de novidade
que torna a experiência [de aprender] tão mágica’, além de inaugurar novas
correspondências nas células do cérebro, trazendo a percepção de que, por
exemplo, os sonhos mais guardados tem real possibilidade de serem realizados.
Práticas
pedagógicas envolvendo diferentes tecnologias / técnicas, variadas
manifestações artísticas e outros movimentos de corpo recriam “um conjunto inteiramente novo de neurônios”
(2011, p.42) cujo processamento transforma a ação dos sentidos junto à
realidade e, por consequência, afetos, cognições e atitudes: comportamentos em
geral de um ser afetado integralmente pelo novo. Para Johnson, “as conexões são a chave da sabedoria (...)
logo o que importa em nossa mente não é só o número de neurônios, mas a miríade
de conexões que se formam entre elas”, quando diante de atividades
diferenciadas, desafiantes e significativas (p.42).
Nós,
professores, devemos criar uma rotina de mudanças pedagógicas tendo em vista
que estaremos sempre diante de mentalidades diferentes; são outros conjuntos de
neurônios, eletroquimicamente, ativos e ávidos por se experimentar e se
experienciar, nas diferentes configurações de realidade a que tiverem a chance
de imergir.
Só que Johnson
(2011) nos pergunta: “como impelir estes
cérebros para redes mais criativas”; no caso da escola, mais equilibradas e
atencionais; e, ainda, no caso da sociedade, mais producentes e funcionais?
Uma primeira
resposta, segundo Johnson (2011, p.43) seria “maravilhosamente fractal: para tornar nossa mente mais inovadora,
temos que inseri-la em ambientes que compartilhem daquele mesmo tipo
característico de rede; isto é, em rede de ideias ou pessoas que imitem as
redes neurais de uma mente que explora os limites do possível adjacente”.
Outra resposta
pode estabelecer-se na introdução da percepção de que a atividade pedagógica
oferecida é uma aventura, uma competição regrada, um jogo, com necessidade de
associações (grupo), a partir de / através da realidade (informações
conhecidas), de forma a se criar / desenvolver soluções/ resultados possíveis.
Como todos os
alunos são capazes de aprender, todos são potencialmente capazes de criar novas
conexões, de serem geradores de novas relações e de reorganizarem o ambiente
escolar realçando suas formas de pensar / agir / sentir, se a eles forem
liberadas ferramentas cognitivas coerentes, ou seja, se puderem ‘manejar’ seus
‘aprenderes’ em colaboração com as informações escolares, a partir:
ð
do
aprender a partir de;
ð
do
aprender acerca de;
ð
do
aprender através de;
ð
e,
principalmente, do aprender com[3].
Há uma energia
armazenada e pronta para ‘acontecer’ e fertilizar nossa sala de aula de
inovação, criatividade e afeto. De acordo com Johnson (2011, p.45/46), esta é a
reflexão do “poder combinatório do átomo
de carbono”. Mas, atenção professor: ‘sem um meio que lhe permita [o aluno]
colidir ao acaso com outros elementos, suas capacidades conectivas serão
provavelmente desperdiçadas’. Ou seja, o desafio, a proatividade e a
colaboração são mesmo as chaves mais interessantes para o desenvolvimento da
aprendizagem porque são chaves ‘atitudinais’ que trazem a surpresa da
possibilidade de SER diferente para o cenário da mente discente e da dinâmica
da sala de aula.
Será que videoclipes
de hip-hop podem ser introduzidos para ensinarmos elementos da comunicação, figuras
de linguagem ou gêneros textuais? Será que dinâmicas de grupo podem ser
recursos didáticos em que se vivenciem características literárias, raciocínio
lógico, expressão corporal e assim introduzir o equilíbrio emocional? Será que
jogos, como damas, bingo, xadrez, ou de memória podem favorecer mudanças de
comportamento ou o entendimento de conteúdos de física, matemática e até
geografia? Será que passeios pela comunidade ou pela própria escola podem se justificar
através de relatórios, maquetes, pinturas, desenhos, murais imagéticos, o
aprendizado de história, artes, língua portuguesa? Será que a criação de vídeos
temáticos pode ajudar nos conteúdos de química, interpretação de texto, lógica,
leitura? Será que não fazer nada, só ouvir música e conversar, ou meditar e
aprender a respirar, vez por outra, é tão improdutivo assim? Vamos nos
repensar, professor, o mundo mudou seriamente e seus alunos tem outro movimento
de realidade em seus sentidos.
‘Quando
voltamos nossos olhos para o mecanismo original de inovação na Terra,
encontramos duas propriedades essenciais. Primeiro, uma capacidade de
estabelecer novas conexões com o maior número possível de outros elementos.
Segundo, um ambiente ‘randomizante’, que estimula colisões entre todos os
elementos do sistema’
(JOHNSON, 2011, p.46).
Essa citação nos
faz pensar o seguinte: em sala de aula, há cérebros solventes e fluidos se
reorganizando sempre por combinação de estímulos e os selecionando em conexões
de interesses, e estes mudam de acordo com as faixas etárias (adaptações
estáveis) e a vivência de outros estímulos (necessidades e desejos). Nós,
professores, somos responsáveis, então por esta organização e auto-organização
quando respeitamos as formas de aprender, entendemos um pouco sobre o sistema
nervoso humano e, a partir disso, requalificamos nossas práticas.
Metaforicamente
e, como o cientista da computação Christopher Langton (apud JOHNSON, 2011,
p.47) afirma, para descrever a qualidade dessa prática, pense no comportamento
de moléculas em cada um dos três estados da matéria: gasoso, líquido e sólido:
Fator científico
|
Fator educacional
|
|
Na forma de gás
|
O
caos impera; novas configurações são possíveis, mas a todo instante são
rompidas e despedaçadas pela natureza volátil do ambiente.
|
Na sala de aula:
indisciplina, desinteresse, baixa autoestima, falta de afeto, desrespeito
entre os atores educacionais etc.
|
Na forma sólida
|
Acontece
o contrário: os padrões têm estabilidade, mas são incapazes de mudanças.
|
Na escola: práticas engessadas,
repetição de práticas de sucesso, estigmatizações, grande burocracia, falta
de flexibilidade, manutenção dos paradigmas tradicionais etc.
|
Na forma líquida
|
Cria-se
um ambiente mais promissor para o sistema explorar o possível adjacente.
Novas configurações podem emergir por meio de conexões aleatórias formadas
entre as moléculas, mas o sistema não é tão instável a ponto de destruir num
instante as próprias criações.
|
Na sala de aula e na
escola: mais independência, autonomia, prazer, colaboração, compreensão,
diálogo, afeto, respeito, integração entre todos.
|
A questão do
conceito do ‘liquido’ tem uma versão positiva quando empreendemos densidade às
células glias, à bainha de mielina, às redes neuronais ilustrando o ambiente
escolar com imagens e movimentos significativos para os estudantes e
fortalecemos as interconexões para a exploração de novos padrões em consonância
com a preservação das “estruturas úteis
por longos períodos de tempo” (p.47). Não fugiremos da construção de
padrões, mas precisamos vivenciar novidades para recriar ou reintroduzir novos
sentidos / movimentos às nossas memórias de procedimento e de longa duração.
Profa
Claudia Nunes
Referencia:
JOHNSON, Steven. Rede líquida. In. De onde
vêm as boas ideias. Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.41-59.
[1]
Bauman apresenta o conceito de ‘modernidade líquida’ como volátil, incerta e
insegura; acreditamos que, por isso mesmo, as potencialidades aprendentes
possam ser provocadas à ascensão no real como comportamentos cognitivos mais
criativos e flexíveis quando se deparam com ensinagens significativas. É o
princípio da neuroplasticidade, processo constante de adaptação do sistema
nervoso; e da criação da memória de longo prazo.
[2]
Habilidades cognitivas que nos permitem controlar e regular nossos pensamentos,
nossas emoções e nossas ações diante dos conflitos ou das distrações. Estas
habilidades estão concentradas em três grandes panoramas: autocontrole, memória
de trabalho e flexibilidade cognitiva. Fonte:
www.enciclopedia-crianca.com/funcoes-executivas
[3] Ferramentas
cognitivas ou mindtools são todas as tecnologias ou aplicações que, numa
perspectiva construtivista da aprendizagem, facilitam o pensamento crítico,
permitem uma aprendizagem significativa e envolvem ativamente os alunos: na
construção do conhecimento, na conversação, na atitude, na colaboração e na
reflexão. Fonte:
http://ferramentascognitivas.blogspot.com.br/2002_09_22_archive.html
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