quinta-feira, 7 de abril de 2016

208 A DOR

Dor contínua: algo desagradável, desconfortável e incapacitante. Aspectos físico-sensoriais e emocionais alterados e desarticulados. Não há experiência pior, principalmente, quando ela se torna crônica. E quando a dor instala-se nas articulações, os movimentos estão impedidos; a vida cotidiana começa a perder sentido e a cama é o melhor lugar pra se esconder. Não há mente saudável que se sustente. Estamos incapazes de nos comunicar facilmente com o mundo e com as pessoas: nunca mais correr, abraçar, pegar, andar, eis os pensamentos que esvaziam nosso vigor. Não há subjetividade nisso: a dor dói mesmo. A engrenagem corporal funcional aos trancos e barrancos; e o cérebro começa a jorrar cortisol nos sistemas: surge a vontade de ‘nada’; surgem mais respostas ‘não’ do que ‘sim’; surge o olhar cinza e a utilidade de solidão; surge o silencio, a falta de humor e o sedentarismo. Assim chega e fica a doença trazida pelo Aedes Aegypis, no meu caso, a Chicungunha. Mais do que febre ou infecção, a inoperância dos movimentos traz muita dor física e também emocional. É um alerta de que, de novo, estamos á mercê da sorte e/ou na mão do outro. É um alerta à nossa fragilidade e limitação orgânica em meio a uma Natureza tão violada por nós mesmos. De repente e sempre, estamos disfuncionais e não há o que fazer. Cinco dias, um mês, seis meses, dois anos: quanto tempo podemos suportar os limites do corpo às nossas vontades e responsabilidades, sem enlouquecer ou deprimir? A dor apresenta a possibilidade de olharmos nosso corpo e nossa mente de outra maneira: diferente; e investe na possibilidade de criar estratégias para retomar o caminho da saúde; mas a questão crônica nos impede de perceber a positividade desse momento. A dor demora. Demora demais. É uma experiência que não desejamos, mas que, de uma hora para outra, nossa pele está alterada, nossa temperatura elevada e nossas articulações travadas / doloridas. E nossas responsabilidades, aquelas que nos distraem do corpo e da mente, não tem como serem descartadas. Saídas de carro, aula com febre, movimentos, toques, tudo continua só que há um novo elemento: A DOR. É pesado! É duro! É desesperador! Tudo dói demais em dupla face: por dentro (efeito da picada) e por dentro (emocional / psicológico). Experiência sensorial sem alinhavo e concordância: só uma vontade louca de deitar e dormir eternamente sem dor. De uma hora para outra, só temos a necessidade de tolerância. Quanto tempo podemos tolerar a dor? Particularmente, tempo nenhum! Essa tolerância sim pode ser considerada subjetiva: ela está relacionada ao tanto de dor já vivido e superado. Tolerância depende também da experiência de / da dor. Além de nos surpreender com o corpo e a mente, nossa individualidade percebe a dor de acordo com nossa experiência de vida. Em dor estamos altamente estimulados na parte afetiva, fisiológica, cognitiva: estamos à flor da pele. Ansiedade, medo e depressão tem uma proximidade bem forte aos nossos pensamentos: são fantasmagóricos e arrepiantes. Vontade de nada mesmo! A dor faz interação direta com o psicologismo do sujeito. Quanto tempo isso dura? Quanto tempo a tolerância é positiva? Estamos alarmados (doloridos). Estamos ‘psicossocialmente’ disfuncionais. E os dias se tornam angustiantes e tristes. Meu sistema nervoso central interpreta assim: agonia. Vou deitar de novo... Claudia Nunes

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