Vamos voltar à sala de aula adolescente!
Corpo e mente estão eletroquimicamente se organizando (e alterando) para
este novo momento na vida de milhares de profissionais da educação. Mesmo
aqueles mais cansados, desiludidos ou indiferentes, sempre há uma ponta de
expectativa quanto ao retorno ao trabalho e ao que encontrarão como aprendente.
Em ambos os lados dessa balança chamada ‘ensino-aprendizagem’ há sonhos,
vontades, esperança de realizar um bom trabalho ou de ser um bom aluno.
As férias são importantes para a neuroplasticidade profundamente positiva:
somos professores e humanos; logo a distração, prazer, o tempo vago (vagando),
a família, os amigos, reestruturam a composição orgânica e mental porque tem
seu tempo de vivência intensa e livre. Noradrenalina, serotonina e dopamina
renovando corpo e mente: é a esperança ganhando espaço. Neste sentido (e tempo)
pensamos o futuro e sinceramente imaginamos um tempo mais promissor sempre ‘da
próxima vez’. Parece que há múltiplas dimensões / realidades e com elas
convivemos todos os dias até as férias; daí em diante, Sangrilá se estabelece e
vivemos dias de reorganização emocional. Em férias, eu vivo a cultura carioca e
em geral, e penso constantemente no que posso me rever como profissional, mas
sou assolada por uma tristeza enorme: meus alunos não tem a mesma oportunidade.
Na volta à sala de aula adolescente, penso em meus alunos e nos
planejamentos. Eu preciso planejar um ano inteiro, em língua portuguesa e
literatura, para quase 110 alunos, de 2º e 3º anos do Ensino Médio público,
turno da noite. E a pergunta primeira é COMO?
Do subúrbio carioca, de contexto semiviolento, qual é a dimensão
cultural vivida / experimentada por eles, de forma a favorecer o aprendizado de
língua portuguesa e literatura? Pelo que escuto e observo, é quase nada. Fora
do tempo da escola, estão na vida como vagalumes: atraídos por quaisquer luzes
bonitas que os façam distrair de suas mazelas diárias. E eu vou voltar a essa
dimensão. Em sala as duas dimensões: a minha e a deles. Não é só uma crise
geracional; é uma crise de oportunidades. É uma viagem sem luxo ou paz, e,
quase sempre, na base dos conflitos.
Sou otimista, mas, em quase 10 anos, volto para um profundo processo de
nadificação intelectual e social. Os alunos passaram as férias trabalhando
(único momento fora do contexto); em festas; namorando sem qualidade; cuidando
dos irmãos menores; em meio a violências; sendo violentos ou maltratados;
brigando; vagando; nas esquinas e bares; nas madrugadas sangrentas; sem paz
carinho, amor, novidades, leituras, informações, limites, silêncios e sono.
Mesmo sendo seres vivos humanos adaptados aos seus ambientes e
necessidades; são zumbis do seu tempo e das oportunidades. E de novo o ano
recomeça e só o que temos é o que Pandora prendeu: a esperança.
Vamos tentar novamente mudar os rumos e os olhares desses grupos de
alunos que chegam ou retornam às escolas.
Escola como salvação? Não! Mas escola como espaço das possibilidades e onde
devemos tentar, tentar e tentar oferecer outros conhecimentos, com criatividade
e muita, muita paciência. Claudia Nunes
Nenhum comentário:
Postar um comentário