189
(11.01.16) Voou...
A recepção silenciosa e fria. Desde os
tempos de infância, a recepção dava medo: cheiro de dor. Quando foi chamado,
correu pela escada de serviço. Ele precisava ver o mundo de outro jeito: ele
queria ritmo e solidão. Tudo vai dar certo, diziam seus pés. Hemodiálise tem
todos os dias e hoje se permitiu voar... Claudia
Nunes
190
(11.01.16) Mesma volta
Ele voltou! Ele voltou! Casa
desarrumada; vida mudada, sentimentos trocados e tempo mais velho. Mas ele
voltou! A vida girou como previra. O som de seus passos semeou novo sorriso. Coração
nunca se engana: ela precisava ser rápida. Ele voltou, limpou seu lugar, tocou
seu corpo, fez uma mala e se foi... Claudia
Nunes
191
(12.01.16) Valor da dor
Na cama do hospital, um movimento
ruidoso: medo. A vida passa e o ruído continua: medo. Amanda sentia o peso das
ações através dos tantos estranhos que a tocavam e se aproximavam, todos os
dias, de seu corpo. Na cama de um hospital, as ardências incomodam muito, mas
as feridas do passado latejavam muito mais. Essa é a hora da verdade? Da sua
verdade? O tempo só mostrava o seguinte: descanse. Uma mensagem de paz e de
medo. Seu coração vibrava em arritmias. Ela sentia o gosto do sangue e da vida.
Hospital não era o lugar do sonho; era lugar da saúde dolorida; e saúde
exigindo infusões, reflexões, repasses, limpezas e mudanças profundas e íntimas.
Será que fora boa? Será que fora amada? Será que fora útil? Na cama de um hospital
não há nomes, apenas dores e lutas. Só lhe resta olhar, aceitar e dormir. “Vou
dormir na esperança de outro corpo...” E a máquina grita um apito alto e
contínuo: piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... Claudia Nunes
193
(12.01.16) Silêncio e vento
Quando o silêncio é a melhor opção; os
ruídos destroem o respeito. Depois que foi o que queria, Soares recomeçou sua
luta sozinho e livre... O desapego fora sua melhor arma e destino... cerrou
suas algemas e encontrar as surpresas de outono. Claudia Nunes
196
(12.01.16) Um nada...
Carolina tomou um susto. Ao abrir a
porta, o mundo se foi. Nem o tapete da porta contaria sua história. Tudo era
branco e sem cor. O corpo paralisou: não tinha para onde ir. Quando o coração
acalmou, decisões: ou fugia, ou mudava, ou enfrentava. Nunca as consequências
foram tão velozes: ela perdera tudo de repente. Cega, andava pelas ruas pedindo
algo para comer e reviver. O caminho não tinha mais ritmo, apenas um pedido:
por favor, pode me ajudar? Claudia Nunes
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