quinta-feira, 7 de abril de 2016

MICROCONTOS 189, 190, 191, 193, 196

189 (11.01.16) Voou...
A recepção silenciosa e fria. Desde os tempos de infância, a recepção dava medo: cheiro de dor. Quando foi chamado, correu pela escada de serviço. Ele precisava ver o mundo de outro jeito: ele queria ritmo e solidão. Tudo vai dar certo, diziam seus pés. Hemodiálise tem todos os dias e hoje se permitiu voar... Claudia Nunes


190 (11.01.16) Mesma volta
Ele voltou! Ele voltou! Casa desarrumada; vida mudada, sentimentos trocados e tempo mais velho. Mas ele voltou! A vida girou como previra. O som de seus passos semeou novo sorriso. Coração nunca se engana: ela precisava ser rápida. Ele voltou, limpou seu lugar, tocou seu corpo, fez uma mala e se foi... Claudia Nunes


191 (12.01.16) Valor da dor

Na cama do hospital, um movimento ruidoso: medo. A vida passa e o ruído continua: medo. Amanda sentia o peso das ações através dos tantos estranhos que a tocavam e se aproximavam, todos os dias, de seu corpo. Na cama de um hospital, as ardências incomodam muito, mas as feridas do passado latejavam muito mais. Essa é a hora da verdade? Da sua verdade? O tempo só mostrava o seguinte: descanse. Uma mensagem de paz e de medo. Seu coração vibrava em arritmias. Ela sentia o gosto do sangue e da vida. Hospital não era o lugar do sonho; era lugar da saúde dolorida; e saúde exigindo infusões, reflexões, repasses, limpezas e mudanças profundas e íntimas. Será que fora boa? Será que fora amada? Será que fora útil? Na cama de um hospital não há nomes, apenas dores e lutas. Só lhe resta olhar, aceitar e dormir. “Vou dormir na esperança de outro corpo...” E a máquina grita um apito alto e contínuo: piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... Claudia Nunes

193 (12.01.16) Silêncio e vento
Quando o silêncio é a melhor opção; os ruídos destroem o respeito. Depois que foi o que queria, Soares recomeçou sua luta sozinho e livre... O desapego fora sua melhor arma e destino... cerrou suas algemas e encontrar as surpresas de outono. Claudia Nunes

196 (12.01.16) Um nada...
Carolina tomou um susto. Ao abrir a porta, o mundo se foi. Nem o tapete da porta contaria sua história. Tudo era branco e sem cor. O corpo paralisou: não tinha para onde ir. Quando o coração acalmou, decisões: ou fugia, ou mudava, ou enfrentava. Nunca as consequências foram tão velozes: ela perdera tudo de repente. Cega, andava pelas ruas pedindo algo para comer e reviver. O caminho não tinha mais ritmo, apenas um pedido: por favor, pode me ajudar? Claudia Nunes

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Nada nunca é igual

  Nada nunca é igual   Enquanto os dias passam, eu reflito: nada nunca é igual. Não existe repetição. Não precisa haver morte ou decepçã...