Em projetos focados nos desejos
e sonhos dos alunos (adolescentes) surgem sempre dúvidas sobre o futuro.
Perguntas como ‘o que vc pretende depois do ensino médio?’ ou ‘o que fará
profissionalmente depois do ensino médio?’ ou mesmo, ‘vai cursar alguma
universidade depois do ensino médio?’ causam preocupações às vezes impensadas.
Eles passam o tempo como se tivessem todo o tempo do mundo para decidir a vida.
Só que, ao final do 3º ano do ensino médio, eles se sentem angustiados porque
as exigências sociais se apresentam e o tempo ‘over’.
Depois de um seminário sobre
características realistas hoje (aula de literatura), muitos pensamentos me
preocuparam ainda mais em relação a esta geração de quase 21 anos. Do terceiro
bimestre em diante, há um novo movimento nas turmas: é a inserção no social
através de outros estudos e novos trabalhos sendo exigidos pelos adultos, mas
eles nem sabem por onde começar e o que pensar sobre isso. É hora de SE definir,
dizem a eles. E a ansiedade tem suas taxas internas avolumadas. Como? – se
perguntam...
Antes disso, algo deve ser
observado: eles não sabem aproveitar oportunidades e/ou tempo de aprendizado. E
mais, ainda que o tempo seja sentido como inextinguível, comportamentos,
desejos e emoções tem uma velocidade exponencial: eles fazem tudo correndo. O
foco é o fim, nunca o processo. Amam, comem, dormem, realizam tudo correndo. A
ação reflexiva em que o cérebro precisa de tempo para se adaptar à frequência e
rotatividade de informações ocorre aos trancos e barrancos. Os sentidos não
confluem para o fortalecimento das suas experiências; eles são acessados apenas,
por exemplo, no momento da prova em que serão avaliados. As chances de conexões
de qualidade são poucas.
A matemática do comportamento adolescente
é: sentido + ação (foco) = nota máxima. Em muitas escolas, NOTA é a base dos
movimentos à aprendizagem e os recursos para que alcancem estas notas nunca
giram em torno do tempo passando, mas sim no tempo da HORA acontecendo. E eles
se tornam ansiosos na produção dessas NOTAS porque estas se relacionam ao sucesso,
conquistas, privilégios e separações. No trigo, eles querem ser JOIO e a NOTA
(meritocracia) faz bem isso para suas emoções e para suas relações em geral.
Adolescentes têm outros
aguçamentos emocionais, isto é um fato. Amores, celular e redes sociais, por
exemplo, são seus mundos e por eles ganham status com outros colegas e/ou na
família: quem TEM não TEME nada. Com estas ferramentas, eles conversam,
interagem e se relacionam, ao contrário do que muitos pensam. Eles estão
formando outras redes em outras redes / ambientes / plataformas. Nesses
territórios, constroem identidades, formas de pensar e certezas no agir. As
diferenças entre ambiente virtual e real diminuem; os prazeres e os desejos
podem ser experimentados; e a formação humana ganha outra arquitetura. E como
fica a formação na escola? Resposta: desconectada.
Com interesses ignorados, eles
precisam funcionar em paralelo entre ambientes: o real e o virtual; entre a
obrigação e o prazer; e entram numa correria contra o tempo em que o tempo da escola
torna-se uma obrigação social sem nenhum prazer. Eles passam esse tempo
observando a vida lá fora (da escola), numa rotina de prazeres múltiplos por
dentro, em contato confuso com emoções, pessoas e decisões. Como querer que,
depois de três anos de ensino médio, eles tenham um futuro profissional
definido? Nem a palavra ‘definição’ os reflete. Difícil... tudo está muito
difícil... para eles.
Quando paramos para ouvir e
pensar esse adolescente, reconhecemos uma rotina agitada de vida urbana, cheia
de afazeres e sem pensar no amanha. Em sua maioria, eles têm uma liberdade
inconsequente. E se chocam consigo mesmos quando se deparam com o fim do curso:
tornam-se ansiosos ‘do depois’. É uma ansiedade da hora, do agora, do hoje por
causa ‘do depois’. E se não estão trabalhando (sendo úteis), eles ratificam o
que sempre lhes disseram de uma maneira abrupta: eles não são ninguém; eles não
são nada. Pergunta base: o que fazer? Por onde começar?
Adolescentes dificilmente se
deixam desfrutar pelo futuro no presente. Sua ansiedade é hoje. É preocupante
esta ansiedade: ela é paralisante e o corpo se acostuma com níveis altos de
cortisol. Engraçado que o tempo (passado, presente, futuro) é característica
humana. Somos todos formatados por esses tempos por causa da convergência de
nosso cérebro reptiliano (sobrevivência contra predadores, fome, sede), nosso
cérebro emocional (percepções, luta e encontro de abrigo) e nosso cérebro
racional (relação, pensamento, raciocínio), logo ansiedade nos capacita a criar
estratégias adaptativas do sistema nervoso, do corpo e da mente para conquistar
objetivos, sonhos e pessoas.
De outro lado, a ansiedade
fortalece nossa criatividade, habilidades, competências no trato com o meio
ambiente. É uma reação natural do organismo humano em situações de medo, dúvida
ou expectativa. Ou seja, há motivações. Adolescentes indisciplinados, agitados,
com linguagem confusa, podem apresentar ansiedades com intensidade e duração
inadequada. Resultado: professores reclamando muito. Quais gatilhos estimulam
esses comportamentos? Formas de aproximação? Insatisfações? Falas grosseiras?
Emoções pessoais despercebidas? Práticas de ensino inadequadas? Atividades pedagógicas
desinteressantes? Perda da sensação de pertencimento? Muitos estímulos sonoros
e visuais em sala? Resposta: tudo isso junto!
A questão da identificação do
gatilho é importante. Porém o professor deve saber antecipadamente: ansiedade
fora do normal é persistente, aparece todos os dias e pode apresentar uma ou mais reações físicas como boca seca,
taquicardia, sudorese excessiva, tensão muscular, tremores, tonturas e dor de
cabeça, frutos de um desequilíbrio nas funções internas. Adolescentes estão
excitados e são excitáveis facilmente. Há hormônios demais em questão, o que
pode acarretar o estímulo excessivo da noradrenalina, neurotransmissor produzido nas glândulas suprarrenais
(localizadas nos rins), cerúleo e núcleo amigdaloide cerebral. E ele
realmente fica à mercê de uma genética (programada) e um meio ambiente
(adquirido) e sem controle.
Tal ansiedade gera dificuldades de rendimento cerebral,
principalmente das funções cognitivas, na forma de esquecimentos e dificuldade
de concentração. Temos que lembrar com calma: adolescentes tem pouco tempo
de vida informativa e emocional, mas tem problemas, muitos problemas e quase
sempre relacionados às indecisões, às desinformações, às incertezas e às
exigências excessivas externas. É preciso ter cuidado e, principalmente, entender,
reconhecer e trabalhar estas memórias tão complexas.
Como as questões de trabalho (mercado
de trabalho) ainda não estão definidas, a maioria dos problemas é emocional. Sem
equilíbrio emocional, tudo tem cores exageradas na adolescência, afinal procuram
afirmação para e no grupo. Entre estudar sujeito e predicado para a prova
final; e reconquistar a namorada que está com outro cara da sala ao lado, o que
acham que os preocupam mais? Adultos entendem (não sabem) o que é prioridade e
autoestima; mas adolescentes? Eles querem tudo e um pouco mais para suprir
rápido seus desconfortos. Eles querem se integrar, tem objetivos, mas não tem
estratégias e nem recursos saudáveis, em sua maioria, para realizar.
A ansiedade vai gerar confusão
mental e ineficiência de ação; logo eles não serão coerentes em seus argumentos
e atitudes; e privilegiarão o momento, o grito e o uso exacerbado do palavrão
(palavras de baixo calão). A ansiedade gera resposta imediata em que o córtex
pré-frontal tem pouca participação, num primeiro momento. O contexto corporal
fica desorganizado e há uma reação em cadeia: fala acelerada, parte para briga,
bate nas coisas, grita muito: ele SE prejudica e não consegue parar.
Nos dias seguintes temos que
ter atenção, segundo estudiosos, porque podem surgir problemas cardiovasculares e gastrointestinais; problemas no sistema
imunológico; e algumas inflamações e infecções. Caso não haja interferência
nesse processo (familiar, pedagógica, médica), estes são pontos de origem para algumas
fobias, síndrome do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno
de ansiedade e estresse pós-traumático. E se todos se misturam, temos o
transtorno de ansiedade generalizada (TAG).
Importante salientar, por
exemplo, que, na educação infantil, é possível reconhecer um ansioso, já que os sintomas se manifestam desde cedo, sendo
uma criança agitada, às vezes hiperativa, que tem dificuldades para dormir e
que chora com facilidade. De outra forma, é válido ressaltar que a exposição de uma criança a um ambiente
problemático, em que ela se sinta insegura, pode gerar ansiedade mesmo em quem
não apresente qualquer tipo de predisposição. E como a escola é o segundo
momento em que a criança interage, o contexto familiar pode ser tão perigoso
quanto o DNA, ou mesmo o nosso ritmo moderno atual.
Adolescentes são sociais e
estão em frente às questões pedagógicas todos os dias por isso é importante pensar
formas de aprender e sobre suas emoções; por isso é importante conhecer o
adolescente, talvez oportunizando práticas diferentes e proativas que
possibilitem certa exposição de suas formas de pensar o mundo, seus sonhos
neste mundo e a si mesmo neste mundo.
Professores de adolescentes
tratam, antes de tudo, com emoções já pontuadas na inserção social. Emoções em
sobrecarga numa sociedade competitiva e exigente. Emoções que desconhecem
limites ou a possibilidade de mudança de hábitos. Emoções em processo de
amadurecimento e que, por isso se apresentam inadequadas: pelo excesso ou pela
total indiferença.
Nós, professores, temos opções
para amenizar essas sobrecargas e estes comportamentos, mesmo reconhecendo a participação
do contexto externo? Sim, temos. Sugestões:
ð Atividades de produção em grupo;
ð Ações de construção de
propostas sociais (doações, solidariedade);
ð Dinâmicas de grupo voltadas à
autoestima, ao corpo e à relação interpessoal;
ð Avaliações através de
manifestações (pintar, escrever, desenhar, criar vídeos);
ð Aconselhamento esporádico da
orientação pedagógica;
ð Sugestões de outras atividades
à / com a família;
ð Visitas pedagógicas de tempos
em tempos;
ð Momentos simplesmente lúdicos
(jogos e brincadeiras);
ð Discussões temáticas orais
(seminários, apresentações);
ð Indicação de alimentação;
ð Palestras motivacionais com
pouco controle da expressão de pensamento;
ð Utilização pedagógica de certas
mídias;
ð Demonstrações de afinidade e
reconhecimento constante.
Por
fim, atenção, em todo processo, feedbacks são fundamentais. Adolescentes
precisam de limites reconhecidos. Ou seja, eles precisam reconhecer por onde e
como caminham em relação à própria aprendizagem em sua área de saber.
Prof.ª Claudia
Nunes
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