quinta-feira, 7 de abril de 2016

ADOLESCÊNCIA e suas ANSIEDADES

Em projetos focados nos desejos e sonhos dos alunos (adolescentes) surgem sempre dúvidas sobre o futuro. Perguntas como ‘o que vc pretende depois do ensino médio?’ ou ‘o que fará profissionalmente depois do ensino médio?’ ou mesmo, ‘vai cursar alguma universidade depois do ensino médio?’ causam preocupações às vezes impensadas. Eles passam o tempo como se tivessem todo o tempo do mundo para decidir a vida. Só que, ao final do 3º ano do ensino médio, eles se sentem angustiados porque as exigências sociais se apresentam e o tempo ‘over’.

Depois de um seminário sobre características realistas hoje (aula de literatura), muitos pensamentos me preocuparam ainda mais em relação a esta geração de quase 21 anos. Do terceiro bimestre em diante, há um novo movimento nas turmas: é a inserção no social através de outros estudos e novos trabalhos sendo exigidos pelos adultos, mas eles nem sabem por onde começar e o que pensar sobre isso. É hora de SE definir, dizem a eles. E a ansiedade tem suas taxas internas avolumadas. Como? – se perguntam...

Antes disso, algo deve ser observado: eles não sabem aproveitar oportunidades e/ou tempo de aprendizado. E mais, ainda que o tempo seja sentido como inextinguível, comportamentos, desejos e emoções tem uma velocidade exponencial: eles fazem tudo correndo. O foco é o fim, nunca o processo. Amam, comem, dormem, realizam tudo correndo. A ação reflexiva em que o cérebro precisa de tempo para se adaptar à frequência e rotatividade de informações ocorre aos trancos e barrancos. Os sentidos não confluem para o fortalecimento das suas experiências; eles são acessados apenas, por exemplo, no momento da prova em que serão avaliados. As chances de conexões de qualidade são poucas.

A matemática do comportamento adolescente é: sentido + ação (foco) = nota máxima. Em muitas escolas, NOTA é a base dos movimentos à aprendizagem e os recursos para que alcancem estas notas nunca giram em torno do tempo passando, mas sim no tempo da HORA acontecendo. E eles se tornam ansiosos na produção dessas NOTAS porque estas se relacionam ao sucesso, conquistas, privilégios e separações. No trigo, eles querem ser JOIO e a NOTA (meritocracia) faz bem isso para suas emoções e para suas relações em geral.

Adolescentes têm outros aguçamentos emocionais, isto é um fato. Amores, celular e redes sociais, por exemplo, são seus mundos e por eles ganham status com outros colegas e/ou na família: quem TEM não TEME nada. Com estas ferramentas, eles conversam, interagem e se relacionam, ao contrário do que muitos pensam. Eles estão formando outras redes em outras redes / ambientes / plataformas. Nesses territórios, constroem identidades, formas de pensar e certezas no agir. As diferenças entre ambiente virtual e real diminuem; os prazeres e os desejos podem ser experimentados; e a formação humana ganha outra arquitetura. E como fica a formação na escola? Resposta: desconectada.

Com interesses ignorados, eles precisam funcionar em paralelo entre ambientes: o real e o virtual; entre a obrigação e o prazer; e entram numa correria contra o tempo em que o tempo da escola torna-se uma obrigação social sem nenhum prazer. Eles passam esse tempo observando a vida lá fora (da escola), numa rotina de prazeres múltiplos por dentro, em contato confuso com emoções, pessoas e decisões. Como querer que, depois de três anos de ensino médio, eles tenham um futuro profissional definido? Nem a palavra ‘definição’ os reflete. Difícil... tudo está muito difícil... para eles.

Quando paramos para ouvir e pensar esse adolescente, reconhecemos uma rotina agitada de vida urbana, cheia de afazeres e sem pensar no amanha. Em sua maioria, eles têm uma liberdade inconsequente. E se chocam consigo mesmos quando se deparam com o fim do curso: tornam-se ansiosos ‘do depois’. É uma ansiedade da hora, do agora, do hoje por causa ‘do depois’. E se não estão trabalhando (sendo úteis), eles ratificam o que sempre lhes disseram de uma maneira abrupta: eles não são ninguém; eles não são nada. Pergunta base: o que fazer? Por onde começar?

Adolescentes dificilmente se deixam desfrutar pelo futuro no presente. Sua ansiedade é hoje. É preocupante esta ansiedade: ela é paralisante e o corpo se acostuma com níveis altos de cortisol. Engraçado que o tempo (passado, presente, futuro) é característica humana. Somos todos formatados por esses tempos por causa da convergência de nosso cérebro reptiliano (sobrevivência contra predadores, fome, sede), nosso cérebro emocional (percepções, luta e encontro de abrigo) e nosso cérebro racional (relação, pensamento, raciocínio), logo ansiedade nos capacita a criar estratégias adaptativas do sistema nervoso, do corpo e da mente para conquistar objetivos, sonhos e pessoas.

De outro lado, a ansiedade fortalece nossa criatividade, habilidades, competências no trato com o meio ambiente. É uma reação natural do organismo humano em situações de medo, dúvida ou expectativa. Ou seja, há motivações. Adolescentes indisciplinados, agitados, com linguagem confusa, podem apresentar ansiedades com intensidade e duração inadequada. Resultado: professores reclamando muito. Quais gatilhos estimulam esses comportamentos? Formas de aproximação? Insatisfações? Falas grosseiras? Emoções pessoais despercebidas? Práticas de ensino inadequadas? Atividades pedagógicas desinteressantes? Perda da sensação de pertencimento? Muitos estímulos sonoros e visuais em sala? Resposta: tudo isso junto!

A questão da identificação do gatilho é importante. Porém o professor deve saber antecipadamente: ansiedade fora do normal é persistente, aparece todos os dias e pode apresentar uma ou mais reações físicas como boca seca, taquicardia, sudorese excessiva, tensão muscular, tremores, tonturas e dor de cabeça, frutos de um desequilíbrio nas funções internas. Adolescentes estão excitados e são excitáveis facilmente. Há hormônios demais em questão, o que pode acarretar o estímulo excessivo da noradrenalina, neurotransmissor produzido nas glândulas suprarrenais (localizadas nos rins), cerúleo e núcleo amigdaloide cerebral. E ele realmente fica à mercê de uma genética (programada) e um meio ambiente (adquirido) e sem controle.

Tal ansiedade gera dificuldades de rendimento cerebral, principalmente das funções cognitivas, na forma de esquecimentos e dificuldade de concentração. Temos que lembrar com calma: adolescentes tem pouco tempo de vida informativa e emocional, mas tem problemas, muitos problemas e quase sempre relacionados às indecisões, às desinformações, às incertezas e às exigências excessivas externas. É preciso ter cuidado e, principalmente, entender, reconhecer e trabalhar estas memórias tão complexas.

Como as questões de trabalho (mercado de trabalho) ainda não estão definidas, a maioria dos problemas é emocional. Sem equilíbrio emocional, tudo tem cores exageradas na adolescência, afinal procuram afirmação para e no grupo. Entre estudar sujeito e predicado para a prova final; e reconquistar a namorada que está com outro cara da sala ao lado, o que acham que os preocupam mais? Adultos entendem (não sabem) o que é prioridade e autoestima; mas adolescentes? Eles querem tudo e um pouco mais para suprir rápido seus desconfortos. Eles querem se integrar, tem objetivos, mas não tem estratégias e nem recursos saudáveis, em sua maioria, para realizar.

A ansiedade vai gerar confusão mental e ineficiência de ação; logo eles não serão coerentes em seus argumentos e atitudes; e privilegiarão o momento, o grito e o uso exacerbado do palavrão (palavras de baixo calão). A ansiedade gera resposta imediata em que o córtex pré-frontal tem pouca participação, num primeiro momento. O contexto corporal fica desorganizado e há uma reação em cadeia: fala acelerada, parte para briga, bate nas coisas, grita muito: ele SE prejudica e não consegue parar.

Nos dias seguintes temos que ter atenção, segundo estudiosos, porque podem surgir problemas cardiovasculares e gastrointestinais; problemas no sistema imunológico; e algumas inflamações e infecções. Caso não haja interferência nesse processo (familiar, pedagógica, médica), estes são pontos de origem para algumas fobias, síndrome do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de ansiedade e estresse pós-traumático. E se todos se misturam, temos o transtorno de ansiedade generalizada (TAG).

Importante salientar, por exemplo, que, na educação infantil, é possível reconhecer um ansioso, já que os sintomas se manifestam desde cedo, sendo uma criança agitada, às vezes hiperativa, que tem dificuldades para dormir e que chora com facilidade. De outra forma, é válido ressaltar que a exposição de uma criança a um ambiente problemático, em que ela se sinta insegura, pode gerar ansiedade mesmo em quem não apresente qualquer tipo de predisposição. E como a escola é o segundo momento em que a criança interage, o contexto familiar pode ser tão perigoso quanto o DNA, ou mesmo o nosso ritmo moderno atual.

Adolescentes são sociais e estão em frente às questões pedagógicas todos os dias por isso é importante pensar formas de aprender e sobre suas emoções; por isso é importante conhecer o adolescente, talvez oportunizando práticas diferentes e proativas que possibilitem certa exposição de suas formas de pensar o mundo, seus sonhos neste mundo e a si mesmo neste mundo.

Professores de adolescentes tratam, antes de tudo, com emoções já pontuadas na inserção social. Emoções em sobrecarga numa sociedade competitiva e exigente. Emoções que desconhecem limites ou a possibilidade de mudança de hábitos. Emoções em processo de amadurecimento e que, por isso se apresentam inadequadas: pelo excesso ou pela total indiferença.

Nós, professores, temos opções para amenizar essas sobrecargas e estes comportamentos, mesmo reconhecendo a participação do contexto externo? Sim, temos. Sugestões:
ð  Atividades de produção em grupo;
ð  Ações de construção de propostas sociais (doações, solidariedade);
ð  Dinâmicas de grupo voltadas à autoestima, ao corpo e à relação interpessoal;
ð  Avaliações através de manifestações (pintar, escrever, desenhar, criar vídeos);
ð  Aconselhamento esporádico da orientação pedagógica;
ð  Sugestões de outras atividades à / com a família;
ð  Visitas pedagógicas de tempos em tempos;
ð  Momentos simplesmente lúdicos (jogos e brincadeiras);
ð  Discussões temáticas orais (seminários, apresentações);
ð  Indicação de alimentação;
ð  Palestras motivacionais com pouco controle da expressão de pensamento;
ð  Utilização pedagógica de certas mídias;
ð  Demonstrações de afinidade e reconhecimento constante.

Por fim, atenção, em todo processo, feedbacks são fundamentais. Adolescentes precisam de limites reconhecidos. Ou seja, eles precisam reconhecer por onde e como caminham em relação à própria aprendizagem em sua área de saber.

Prof.ª Claudia Nunes



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