Como diminuir os comportamentos indisciplinados? Como um professor pode
estimular mudanças nessas emoções indisciplinadas e, por conseguinte, nos
comportamentos para aprendizagem? Parando de gritar! Professor, pare de gritar!
Nós podemos ser impositivos olhando nos olhos e tendo calma na fala. A
questão do tom da voz é muito importante. Pense: será que grito resolve? Grito
mudaria seu comportamento, professor? Para o aprendente, em meio aos colegas, o
grito é chocante e humilhante; e, provavelmente estabelece links com sua
memória afetiva mais negativa; e, ai surgirá reação impulsiva também negativa
ou a interrupção dos processos de aprender. Primeiras atitudes do aluno: susto,
silêncio, estranhamento e uma decisão ‘tô fora desse professor!’. E, dependendo
do aluno, no momento seguinte, haverá CONFRONTO, nunca CONFLITO. Eis a
indisciplina...
Em sala, professor, regras estabelecidas devem ser cumpridas. Importante
um nível de flexibilidade? Com certeza. Mas deve-se esclarecer o porquê das
mudanças e procurar não repeti-las. Depois de certo tempo, exemplo e rotina, o
aluno, que gosta de arrumar confusão, perceberá sua insensatez, sentir-se-á
como um ‘peixe fora d’água’, pensará duas vezes antes de agir negativamente e,
em médio prazo, poderá colaborar com a aula com mais prazer, mais do que
atenção. Professor, mudança de comportamento tem relação direta com a
aprendizagem, mas ela começa em você. Gritar não adianta...
Professor, talvez algumas sugestões lhes sejam interessantes: temos que
mudar o foco das atenções incluindo, por exemplo, o movimento do corpo em sala
de aula. No movimento do corpo, é possível que os gritos da memória afetiva se
enfraqueçam; que, na corrente sanguínea, seja introjetado um conjunto
neuroquímico diferente e renovador; que a sensação de bem-estar e tranquilidade
ganhe primazia; e que os alunos permaneçam ativos, só que agora positivamente. Eles
têm vontade de participar, discutir, questionar, colaborar, se solidarizar,
tornarem-se proativos, autônomos e, enfim aprender; só que gritos, muito
relacionados ao medo de perder a autoridade ou sensação de impotência,
minimamente danificam a autoestima; esvaziam a possibilidade de confiança; e,
por fim ‘alimentam’ o descontrole emocional. Como aprender assim?
Depois da primeira semana de aula, professor, vamos pensar diferente e de
acordo com Alberca (2015), vamos pensar que “a atenção é a capacidade que o
cérebro tem de dirigir a sua atividade para algo concreto de forma voluntária;
logo, a atenção é um estado afetivo” (p.101); e, por conseguinte, vamos pensar
que, “na realidade, a distração não é mais do que a fixação da atenção em outra
coisa” (p.103); ou seja, “a dificuldade de aprender deve-se, com frequência, a
uma incapacidade para fixar a atenção, o que não vem incorporado no corpo
humano, mas é adquirido” (p.104). Será que parte dos problemas de aprendizagem
foi adquirida pela vivencia dos gritos familiares e sua reprodução pelos
professores?
Sem querer eu descobri: os gritos do mundo fundamentam fortemente as
dificuldades de aprendizagem e distraíram os caminhos da inteligência. Por
causa dos inúmeros e diferentes gritos travaram-se os procedimentos das emoções
/ dos afetos, e criaram-se pensamentos quase unânimes: ‘não sou capaz’; ‘não
adianta’; ‘sempre tive essa dificuldade’; ‘sou igual ao meu irmão’. Pelo que
observei, os alunos perderam a consciência de suas potencialidades intelectuais
e emocionais. Eles foram moldados pelos tantos gritos ‘afetivos’ e a eles
recorrem quando pensam em se integrar ou precisam escapar de situações de
emoções intensas.
E foi isso que percebi, ao final da primeira semana de aula, diante de
avaliações diagnósticas, no Ensino Médio, turno da noite, de uma escola pública,
localizada no subúrbio do Rio de Janeiro, através de discussões e jogos
temáticos. Os gritos adquiridos embotaram suas inteligências com muitos NÃOS e,
por estes, eles vem se adaptando, se desenvolvendo e sobrevivendo
solitariamente.
Para a semana seguinte e a partir da análise das avaliações
diagnósticas, pensei em algumas alternativas para que estes gritos comecem a
ser esquecidos:
ð ao apresentar uma atividade, dê tempo para que a realizem, ainda que, no
processo, haja papo paralelo, afinal o coletivo é importante nesse período (não
incomode o brainstorm);
ð com tempo para realizar a atividade, medie os grupos e suas ideias,
afinal eles são proativos e, com certeza, pensarão em outras formas de
realiza-la (saiba gerenciar a si e aos grupos com tranquilidade e escuta
sensível);
ð enquanto realizam a atividade, ofereça o maior numero de informações
possíveis e abra espaço para pesquisa online (alunos do Ensino Médio adoram
seus celulares) sem tantas restrições (introduza informações novas sempre que
for necessário utilizando múltiplos recursos);
ð não trave os movimentos do corpo, saiba que muitos alunos precisam do
movimento para realizarem suas tarefas sem tantas dificuldades (compreenda que
o movimento serve para ‘esfriar a cabeça’ e eliminar o cansaço mental);
ð mesmo em meio à atividade, crie momentos lúdicos em que o aluno fale de
si (adolescentes adoram isso) sem medos ou mentiras (crie espaços de
aproximação e de crescimento da confiança mútua);
ð entenda que todos têm formas de concentração diferentes (transforme a
distração comum em algo proveitoso e de sucesso);
ð estabeleça momentos de discussão cuja avaliação dependa da participação
e do comportamento, mas lembre-se: fora do padrão é outra forma de padrão (seja
flexível com as formas de se apresentar, falar, ouvir, avaliar);
ð sempre que puder, quebre a rotina das aulas criando momentos mais
significativos, e as melhores opções podem acontecer nos projetos de ensino;
ð e, por último, e não menos importante, dialogue, pergunte, divida ideias
(esteja disponível mesmo fora do seu tempo de aula).
No meu Ensino Médio, os gritos formataram um silencio comportamental e
este vem determinando a perda da curiosidade. A questão atitudinal adolescente está
presa no que conhecem / vivem. Se não há a curiosidade, não há possibilidade de
superação, não há o olhar ‘para além’ e nem encontro com outras realidades. Os
alunos equilibram suas emoções nos exemplos que têm (gritos, castigos, críticas
constantes) e no que a vida lhes apresenta todos os dias. É sobrevivência de
qualquer jeito e uma sequencia de ações ‘tapa buracos’, reflexos de uma sociedade
sem prioridades, novidades, estímulos e/ou atenção em relação às novas
gerações. E aos ‘trancos e barrancos’, eles vão vivendo.
Professor, a experiência do grito desilude, inclui indiferença e
constrói corpos sem textura afetiva. E sendo assim, a aprendizagem não tem
cores, caminhos e/ou sentidos. Os tempos da juventude não podem ser optimizados
na vida adulta como fazemos ou fazíamos em nossos computadores. Maus exemplos e
problemas de conduta são aliados às chamadas indisciplinas; e estas tanto
surgem dos gritos, quanto constroem gritos que interferem, basicamente, na
aprendizagem e, pasmem, no poder de resiliência futura.
Professor, atenção a isso. Para provocar atenção, tenha atenção aos seus
gritos internos e tão presentes nos comportamentos de seus alunos adolescentes.
Profa Claudia Nunes
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