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Encruzilhada Espaço
que apresenta muitos caminhos. Caminhos demais... Quais são os rumos da vida? O
que fazer agora? Qual o sentido de ser o que é? Valeu à pena? Depois de anos, o
olhar de Julia estava embotado de dúvidas. Ela enxergava o de sempre, mas o de
sempre não servia mais. Sentou numa esquina e pediu um café. Nem a leitura
caberia nesse momento: nada mudaria seu momento. O cheiro do café a fazia
apenas fechar os olhos, o que estremecia seu corpo. Sem olhos, o que fazer?
Como fazer? O cheiro lhe apartava do corpo, mas não lhe tirava a verdade: ela
estava se estranhando e colocando em xeque o próximo passo, o próximo ano, os
próximos movimentos de vida na vida. O cheiro de café... Que interessante o
cheiro de café. Em uma encruzilhada de emoções, o cheiro de café acalorava seus
sentidos e seus pensamentos. Mesmo assim, a encruzilhada incomodava. Ela se
sentia escapando e suas mãos não alcançavam nada firme. Firmeza seria algo
muito confortável. Ela tinha formação, tinha certeza, tinha postura, mas algo
faltava... Cheiro de café e 50 anos. Sim, Julia tinha 50 anos e estava à beira
de mudanças que não conhecia. Não estava devastada, chateada, triste ou
deprimida, apenas queria entender os próprios sentimentos estranhos que lhe
assolavam: que caminho tomar? O amadurecimento causa isso: crise, critica,
dúvida. Racionalmente tudo estava bem, porém além do cheiro do café havia uma
brisa diferente e isto que a distraia da própria rotina de ser e estar.
Enquanto engolia o café, pensava: ‘para onde ir? Como começar? O que escolher?’
Seu baú de guardados mental estava revolto; a memória não tinha mais portas
fechadas; os sentimentos estavam lhe sobrevoando a mente e o corpo; e o cheiro
de café a mantinha em bases conhecidas e isso era importante. Na rua, os carros
passavam e buzinavam; as pessoas caminhavam e conversavam; as luzes e as cores
estavam por toda parte; mas ela só tinha a certeza do cheiro do café e da sua
insegurança: quem era ela afinal? Aos 50 anos, profissional, ativa, motivada,
de repente estava pequena e sem decisões. Sua encruzilhada era enorme,
silenciosa e solitária. Julia e a encruzilhada. Julia, encruzilhada e o cheiro
de café. Tem gente que, aos saltos, promove mudanças inigualáveis porque não
tem tempo para pensar. Ela tinha. Julia tinha tempo para pensar. Sentada à
beira de um bar, tomava seu café e observava a fumaça. Para onde ela iria?
Julia não sabia. Sabia apenas do movimento. Sim, diante da encruzilhada, o
movimento precisava acontecer: pensar, rearrumar, reorganizar, agir e mudar. Na
encruzilhada, ela tinha tempo para pensar nesse movimento, sem prisões, em
silencio e com interesse em se transformar e sem deixar nada debaixo do tapete.
Julia queria detalhes, queria desesperadamente imprimir novas marcas à sua
vida, queria mais vitalidade em seu SER. No cheiro do café a procura do brilho
dos olhos diante das cores de um novo despertar. E ela permanecia sentada. A
volúpia do mundo a cercava; mas ela estava atraída por um cheiro de café tão
promissor. E a noite caiu. Segunda xícara de café, ela precisava de decisões: 1
mudar sua rotina interna; 2 experimentar novos sentimentos; 3 permitir-se
outras atitudes / pessoas; 4 viver em outros ambientes; 5 criar estratégias de
desapego; 6 encarar os dias de forma positiva; 7 ter mais sabedoria diante dos
obstáculos; 8 eliminar julgamentos / preconceitos; 9 viver o presente do jeito
que vier; 10 conhecer e reconhecer o momento SIM e o momento NÃO consigo e com
os outros. Julia anotou tudo num guardanapo. Era o seu mapa; sua forma de sair
da encruzilhada; e seu jeito de manter o movimento em busca de si mesma. Estes
seriam os pontos básicos de sua travessia e sua forma de encarar o livre
arbítrio. Julia e sua encruzilhada escutaram sua mente e se libertaram de seus
medos. Julia e a encruzilhada negam a realidade idealizada e foram ali realizar
e viver. Julia e a encruzilhada: por favor, traz uma xícara de chá? Estou com
fome... Claudia Nunes
O mundo é desconhecido e estou desbravando a mim mesma para aceitar o mundo como ele é. Como professora (Estado), Tutora em cursos de EAD, Revisora de Material Didático e MESTRE em Educação (UNIRIO), estou seguindo a vida fazendo o que gosto, como gosto e com quem gosto muito. Escrevo e publico textos para me esvaziar de mim e poder aceitar o Outro como vier. De resto meu vicio é o mundo virtual, ainda que eu nao seja dissimulada. Mutante? Isso! Eu gosto de ser mutante!
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
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