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Muletas mentais Hoje
estou pensando em relação de dependências. Uma amiga fez uma cirurgia nos
joelhos e teve problemas em se relacionar com as muletas. Observando aquela
dança desengonçada de pernas e muletas, pensei: como temos pessoas que se escondem
atrás de ‘muletas’! Não assumem seus passados / vidas e buscam o conforto na
vida de outras pessoas, ambientes ou teorias. São singularidades em crise
procurando terreno fértil fora de si mesmo para se reconhecerem. Eles se
escondem, criam blefes e vivem de acordo com esse imaginário. É um espelhamento
pernicioso! Que triste! São frágeis, inseguras, às vezes difíceis e sempre
dominadoras. Agem criando linhas retas, pontos exatos e ações padronizadas que não
podem ser transgredidos porque ‘sempre foi assim’. O viés, a esguelha, o
sinuoso, o salto, o desvio são impensados porque podem colocar em xeque sua
verdade. Em todos os casos, há dependência emocional. Muletas são a metáfora de
uma dependência emocional velada / disfarçada. Essa semana toda estou pensando
em ‘muletas’. E as muletas quase têm ‘vida própria’ de tão autônomas: difícil
ser bípede, pior ainda ser ‘trípede’ em sociedade. Daí eu pensei e perguntei:
quantas pessoas realmente usam muletas? E me surpreendi com a resposta: muitas!
Lendo aqui e ali, na Internet e em alguns artigos, eu percebi que muletas podem
ser crônicas e moldar uma personalidade, hábitos e relações. Muito estranho...
Como crônicas, as muletas precisam ser observadas com cuidado pelo Outro da
relação (de qq relação), afinal sua persistência ou seu acontecimento pode
causa mal-estar, desconforto e incomodo também ao Outro da relação. ‘Muletas
mentais’ e relações não se sustentam. Não se pode depender de algo ou alguém
para sempre. A perspectiva de mudança é real e precisa ser vivida, mesmo com
certo sofrimento. É possível ser carente para sempre? Talvez... realmente minha
resposta é talvez... Uma ‘muleta mental’ é a necessidade de se criar uma aura
de intimidade eterna e envolvendo essa relação / sensação numa grande redoma.
Laços afetivos, empatias, moral, bondade, razão, ética, decência são
preocupações e atitudes saudáveis quando, de acordo com a situação e o momento,
estão equilibradas e sendo vivenciadas coerentemente. Ninguém é bom ou mal
sempre. As ‘muletas mentais’ tem fundamento no ‘para sempre’. É a questão do
‘sou assim e pronto’. Que triste! Quaisquer mudanças ou convergência de novas
relações estimulam sentimentos como desconforto, raiva, indiferença e até
mágoa. Sentimentos complicados, mas concretos a quem se imbui das ‘muletas
mentais’. Quero entender isso, só entender. Quero caminhar por trilhas de luz e
sombra: só luz cega; só sombra cria o medo. É o intransitável e o intragável na
mesma moeda: puro blefe pessoal. Diante das ‘muletas mentais’, há saltos
interesseiros: é importante aliar-se à relação de momento e sugá-la até um novo
movimento de satisfação. A convergência necessária ao aprendizado e à
maturidade é difícil: o ser com ‘muletas mentais’ não se ama; se disfarça; e
constrói outra vida interna, a partir da vida do outro ou do desejo de ser
outro alguém. Penso às vezes em perturbação ligada à insatisfação e muita repressão
no próprio passado. As pessoas só dão o que tem e nada mais. Mas o que pode
acontecer de pior? Constrangimento social, perda do respeito alheio e certo
julgamento negativo sobre os outros. Nós crescemos e devemos repensar lógicas e
pensamentos para viver melhor. É preciso desprender-se de si e optar pela
dinâmica relacional: e esta se fundamenta nos processos e na lógica alheia para
sentir, pensar e (SE) superar. É o processo de resgate da autoconfiança. E,
nessa hora, será que os amigos ajudam? Talvez... Um ser com ‘muletas mentais’
precisa de ajuda urgente e constante. Não se pode apenas dialogar, é preciso
agir, mas sempre com cuidado, atenção e sorriso. Um amigo tem paciência, afinal
‘muletas mentais’ são panoramas emocionais sendo montados por muito tempo e, às
vezes, ratificado pelas atitudes dos próprios amigos como: ‘não o incomode’, ‘
ele é assim mesmo’, ‘não gosto, mas, fazer o que?’, ‘não quero perturbações...’,
‘Ele é uma pessoa boa’, enfim ‘muletas mentais’ sendo aprofundadas pelas
distrações dos outros ou pela permanente falta de foco e de autoestima de
todos. Muletas mentais causam enganos e criam momentos de mentira... mentira
sentimental... Gente, cuidado com pessoas ‘coitadinhas’, que falam no
diminutivo, que declamam o amor perfeito, que esquecem seus ‘telhados de vidro’,
que julgam sem dó e nem piedade, e que, principalmente, tentam ser o centro do
universo de outra pessoa por amizade, religião ou profissão: suas muletas
mentais sugam nossa força e coragem para ser o que somos sem medo de ser feliz.
Atenção e cuidado... Claudia Nunes
O mundo é desconhecido e estou desbravando a mim mesma para aceitar o mundo como ele é. Como professora (Estado), Tutora em cursos de EAD, Revisora de Material Didático e MESTRE em Educação (UNIRIO), estou seguindo a vida fazendo o que gosto, como gosto e com quem gosto muito. Escrevo e publico textos para me esvaziar de mim e poder aceitar o Outro como vier. De resto meu vicio é o mundo virtual, ainda que eu nao seja dissimulada. Mutante? Isso! Eu gosto de ser mutante!
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
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