segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

MULETAS MENTAIS (184)


184 Muletas mentais Hoje estou pensando em relação de dependências. Uma amiga fez uma cirurgia nos joelhos e teve problemas em se relacionar com as muletas. Observando aquela dança desengonçada de pernas e muletas, pensei: como temos pessoas que se escondem atrás de ‘muletas’! Não assumem seus passados / vidas e buscam o conforto na vida de outras pessoas, ambientes ou teorias. São singularidades em crise procurando terreno fértil fora de si mesmo para se reconhecerem. Eles se escondem, criam blefes e vivem de acordo com esse imaginário. É um espelhamento pernicioso! Que triste! São frágeis, inseguras, às vezes difíceis e sempre dominadoras. Agem criando linhas retas, pontos exatos e ações padronizadas que não podem ser transgredidos porque ‘sempre foi assim’. O viés, a esguelha, o sinuoso, o salto, o desvio são impensados porque podem colocar em xeque sua verdade. Em todos os casos, há dependência emocional. Muletas são a metáfora de uma dependência emocional velada / disfarçada. Essa semana toda estou pensando em ‘muletas’. E as muletas quase têm ‘vida própria’ de tão autônomas: difícil ser bípede, pior ainda ser ‘trípede’ em sociedade. Daí eu pensei e perguntei: quantas pessoas realmente usam muletas? E me surpreendi com a resposta: muitas! Lendo aqui e ali, na Internet e em alguns artigos, eu percebi que muletas podem ser crônicas e moldar uma personalidade, hábitos e relações. Muito estranho... Como crônicas, as muletas precisam ser observadas com cuidado pelo Outro da relação (de qq relação), afinal sua persistência ou seu acontecimento pode causa mal-estar, desconforto e incomodo também ao Outro da relação. ‘Muletas mentais’ e relações não se sustentam. Não se pode depender de algo ou alguém para sempre. A perspectiva de mudança é real e precisa ser vivida, mesmo com certo sofrimento. É possível ser carente para sempre? Talvez... realmente minha resposta é talvez... Uma ‘muleta mental’ é a necessidade de se criar uma aura de intimidade eterna e envolvendo essa relação / sensação numa grande redoma. Laços afetivos, empatias, moral, bondade, razão, ética, decência são preocupações e atitudes saudáveis quando, de acordo com a situação e o momento, estão equilibradas e sendo vivenciadas coerentemente. Ninguém é bom ou mal sempre. As ‘muletas mentais’ tem fundamento no ‘para sempre’. É a questão do ‘sou assim e pronto’. Que triste! Quaisquer mudanças ou convergência de novas relações estimulam sentimentos como desconforto, raiva, indiferença e até mágoa. Sentimentos complicados, mas concretos a quem se imbui das ‘muletas mentais’. Quero entender isso, só entender. Quero caminhar por trilhas de luz e sombra: só luz cega; só sombra cria o medo. É o intransitável e o intragável na mesma moeda: puro blefe pessoal. Diante das ‘muletas mentais’, há saltos interesseiros: é importante aliar-se à relação de momento e sugá-la até um novo movimento de satisfação. A convergência necessária ao aprendizado e à maturidade é difícil: o ser com ‘muletas mentais’ não se ama; se disfarça; e constrói outra vida interna, a partir da vida do outro ou do desejo de ser outro alguém. Penso às vezes em perturbação ligada à insatisfação e muita repressão no próprio passado. As pessoas só dão o que tem e nada mais. Mas o que pode acontecer de pior? Constrangimento social, perda do respeito alheio e certo julgamento negativo sobre os outros. Nós crescemos e devemos repensar lógicas e pensamentos para viver melhor. É preciso desprender-se de si e optar pela dinâmica relacional: e esta se fundamenta nos processos e na lógica alheia para sentir, pensar e (SE) superar. É o processo de resgate da autoconfiança. E, nessa hora, será que os amigos ajudam? Talvez... Um ser com ‘muletas mentais’ precisa de ajuda urgente e constante. Não se pode apenas dialogar, é preciso agir, mas sempre com cuidado, atenção e sorriso. Um amigo tem paciência, afinal ‘muletas mentais’ são panoramas emocionais sendo montados por muito tempo e, às vezes, ratificado pelas atitudes dos próprios amigos como: ‘não o incomode’, ‘ ele é assim mesmo’, ‘não gosto, mas, fazer o que?’, ‘não quero perturbações...’, ‘Ele é uma pessoa boa’, enfim ‘muletas mentais’ sendo aprofundadas pelas distrações dos outros ou pela permanente falta de foco e de autoestima de todos. Muletas mentais causam enganos e criam momentos de mentira... mentira sentimental... Gente, cuidado com pessoas ‘coitadinhas’, que falam no diminutivo, que declamam o amor perfeito, que esquecem seus ‘telhados de vidro’, que julgam sem dó e nem piedade, e que, principalmente, tentam ser o centro do universo de outra pessoa por amizade, religião ou profissão: suas muletas mentais sugam nossa força e coragem para ser o que somos sem medo de ser feliz. Atenção e cuidado... Claudia Nunes

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