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NIX, o valor da noite Depois do princípio, só restava a noite. NIX foi
embora e ninguém poderia ajudá-lo. Ele não queria dormir. Ele tinha muitos
afazeres, mas hoje ele não queria dormir: tenso. Sua mãe ligara preocupada com
seu comportamento no jantar de família: ele ficara na sala lendo e escutando
musica por horas. NIX o deixara sem função e ele não queria dormir. Havia uma
vitalidade na noite que ele queria viver e sentir. Só que a família impedia e não
havia como sumir; como não dar explicações; como ser ‘de repente’ outro alguém.
NIX fora embora sem deixar rastros, apenas marcas duras no coração, no
apartamento e nas memórias. Em sua maturidade, ele não queria dormir mais.
Havia um sentido em dormir: perda de tempo, de vida, de chão, de luz. NIX representava
tudo isso. Anos vivendo um grande amor dia e noite; e agora só restavam os dias.
Como são tristes os dias sem NIX, sua noite mais iluminada. Inteligente, livre,
solteiro, ele sentia que, nas noites, ele era alguém muito especial e ajustado.
Seu trabalho exigia atenção e interpretações constantes: era economista e
literato. Ele era o dono dos números e da imaginação. Mas, ao mesmo tempo, era
um desajustado: o dia lhe dava incômodos, febres, inutilidades. Ele estava sem
graça e queria NIX de volta. Seu ‘mundo melhor’ era escuro, intenso, controlado,
mapa de um tesouro perdido: outros mundos mais razoáveis. Ele se sentia assim:
de outros mundos mais razoáveis. E, na noite, sabia vive-los sem cortes ou
edições da tal personalidade e como expressão dos ‘n’ convívios tão ignorantes.
Noite! NIX! Noite... Ele não queria que seu hipotálamo fosse tão exigido; ele
queria o controle; e apenas um tempo para ajeitá-lo. O dia tinha falta de
segredos; incluía enfrentamentos; buscava esclarecimentos; oferecia escolhas
demais; não admitia blefes sociais estratégicos; mas a noite...
Ah, a noite! Ah,
NIX! Esta tinha um glamour como cobertores que surgem quando estamos com frio e
com preguiça de levantar. Depois de um dia de trabalho, ele abria a porta de
casa e NIX ocupava tudo: geniosa, quente, sorridente, brigona, elegante, cheia
de complexidades, ela gingava pelos cômodos e lhe energizava de cheiros e sons.
A noite era a sensação de calor, de força, de solidão, de tentativas sem erros
criticáveis, de surpresa, de muitas promessas; é tempo para viver o pensar e
agir sobre esse pensar sem vozes, ruídos ou toques inesperados ou
inconsistentes cuja alteração o tirava do prumo e da própria consciência. Ele
vivia o sol; mas a noite era para ser sentida sem apagamentos. Em casa, ele
ligou o rádio, acendeu um incenso, fez um café e sentou em frente ao seu
notebook. A vida precisava começar. Ele sabia que como humano e com um hipotálamo
perfeito só tinha duas opções: saber como se manter alerta (dia) e quando é
hora de descansar (noite) sem NIX. Mas, além de descansar, a noite tinha a
graça dos prazeres disfarçados no dia: é a chamada ‘asas à liberdade’. Ele
tinha outro sono; tinha um acordo com Morpheus; optou por outros padrões de
vida e de noite; tudo porque NIX escolhera o anonimato dos dias mais distantes
sem sua companhia. A noite, então, se abria às propostas de mudanças e aos
riscos da maturidade. Estamos propensos às adaptações e vulnerabilidades quando
sozinhos? Não! NIX é nossa maior popularidade porque, com ela, sonhamos e
criamos objetivos. NIX propunha mil recursos e os desejos pareciam muitos
naturais e viáveis. O mundo sem NIX estava parado no dia sem noites. Ele não sabia
como resistir à depressão. Ele se cansava, vivia mais devagar e perdia a
espontaneidade. O coração pulsava em outra ordem e a sonolência da morte em
vida o abraçava calmamente. Onde estaria NIX? Em seu notebook, uma mensagem:
como vc está? Ufa! Que alegria! NIX voltou. Ela voltou. Sua deusa voltou e
tinha um sorriso maravilhoso. Assim era a noite e sua NIX. Depois do caos, ela
emergiu do vazio, sem melancolia ou palidez; era forte e incansável; era
mágica, cheia de mistérios e segredos. NIX era sua vitalidade e seu encantamento.
NIX, a indomável e sua esperança. Sem mais, refeito da sensação de perda do seu
WI-FI, ele tomou um banho e começou a trabalhar: a noite era mesmo uma
criança... Claudia Nunes
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