segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

TEMPO: MOEDA DE TROCA (MICROCONTOS 174, 176)

176 O tempo é uma moeda cujo verso e reverso sempre provocam uma aposta. No tempo somos o que somos sem nos dar conta do que realmente somos. Nós apenas somos e vamos indo em busca de muito sol. E assim recontamos a vida. Há uma memória de passado, um sonho de futuro, e apenas o presente para que nossas mentes criem o tempo. Todo o tempo é o tempo que nos provoca. Estou muito interessada no tempo. Anos percebendo que o tempo é uma moeda cujo verso e reverso sempre provocam uma aposta e uma atitude. Estou pensando no tempo e nas formas de viver esse tempo com mais tempo para o que for significante para mim. Há um livro chamado ‘o poder do agora’ e esse adjunto de tempo sempre chama minha atenção. Agora. Quanto tempo o tempo tem? Só o agora. É no agora que se concentram nossas potencialidades e o refluxo de possibilidades de SER amigo, amante, mulher, vizinha, profissional, tia etc. Nos bares, a perspectiva é de muito tempo. As vidas têm muito tempo para sorrir, planejar, amar e sonhar. Não se pensa em interrupções, se pensa apenas nos planos para os dias seguintes e nas vitórias. Na concorrência das horas, o agora nos permite escapulir da certeza de morte e criar muitos vãos (ambiente / territórios) para nos percebermos possíveis no futuro, tempo construído na mente e sempre conquistado e conquistador. No agora, a experiência da dor é real; mas a vivência do prazer uma virtude. Num bar, numa noite de sexta, os sorrisos dão o tom do agora e das promessas de amanha. Os excessos aumentam o foco: agora sabemos que o amanha existe mesmo, afinal já o decidimos. Naquele bar, estou só observando: quanta ilusão... quanta beleza na ilusão... que felicidade as ilusões... Há uma preciosismo na perspectiva do tempo: ele é sempre agora. Entre amigos, dentro do quarto, num shopping, com bebidas, a força de vontade cria a ilusão de conquista simplesmente porque pensamos e decidimos como será o amanha. Tudo parece fácil e superável só porque se quer. Depois do agora, o mundo não tem doenças, violências, perdas ou tristezas: todos estão no embalo do sucesso. Apesar do agora somos invencíveis. E o agora vai passando... Ano a ano, o agora vai passando... É um agora com suores e lágrimas, mas também de crescimento e construção, e ainda assim, mantemos a dimensão da ilusão: o futuro. Depois de dois copos de vinho, eu começo a entender o sentido da felicidade contida no futuro: ele é o tempo dos heróis... é o tempo dos heróis de qualidade... é o tempo da força do herói mágico das ficções infantis... Oh gente de ilusões boas!                       Claudia Nunes

174 De repente, Liza se sentiu mal. Dentro do banheiro, ela ficou zonza e pensou que desmaiaria. Tudo tão de repente que ela nem teve tempo de sentar. No banheiro deitou e respirou. Sozinha não havia muito o que fazer. Ali, no chão, ela só tinha tempo para respirar e pensar. Estava morta? Não! Como falaria sua mãe: estava entupida. Tempo muito tenso. Tempo complexo. Tempo de muitas decisões. Tempo sem sono. Ela estava entupida. Ela era energia represada. Nela não havia fluidez. No chão, ela queria uma passagem, um passaporte, um passado. Presa no chão, nem a respiração lhe aliviava. Canos podem ser entupidos e pessoas também. Menos controle, menos rigidez, menos poder: ela queria goteiras de qualquer tipo. Como? Seu corpo precisava de alívios reais em que as infiltrações sejam pontos de liberdade. Aos poucos, ela sente harmonia e o sono. Sono de amor e felicidade. Horas depois, no quarto de dormir, ela busca em seus álbuns suas afetividades e, sem controle, chora ao telefone falando com sua amiga de escola. O mundo lhe dá uma nova chance. Claudia Nunes

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