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O
tempo é uma moeda cujo verso e reverso sempre provocam uma aposta. No tempo
somos o que somos sem nos dar conta do que realmente somos. Nós apenas somos e
vamos indo em busca de muito sol. E assim recontamos a vida. Há uma memória de
passado, um sonho de futuro, e apenas o presente para que nossas mentes criem o
tempo. Todo o tempo é o tempo que nos provoca. Estou muito interessada no
tempo. Anos percebendo que o tempo é uma moeda cujo verso e reverso sempre
provocam uma aposta e uma atitude. Estou pensando no tempo e nas formas de
viver esse tempo com mais tempo para o que for significante para mim. Há um
livro chamado ‘o poder do agora’ e esse adjunto de tempo sempre chama minha
atenção. Agora. Quanto tempo o tempo tem? Só o agora. É no agora que se
concentram nossas potencialidades e o refluxo de possibilidades de SER amigo,
amante, mulher, vizinha, profissional, tia etc. Nos bares, a perspectiva é de
muito tempo. As vidas têm muito tempo para sorrir, planejar, amar e sonhar. Não
se pensa em interrupções, se pensa apenas nos planos para os dias seguintes e
nas vitórias. Na concorrência das horas, o agora nos permite escapulir da
certeza de morte e criar muitos vãos (ambiente / territórios) para nos
percebermos possíveis no futuro, tempo construído na mente e sempre conquistado
e conquistador. No agora, a experiência da dor é real; mas a vivência do prazer
uma virtude. Num bar, numa noite de sexta, os sorrisos dão o tom do agora e das
promessas de amanha. Os excessos aumentam o foco: agora sabemos que o amanha
existe mesmo, afinal já o decidimos. Naquele bar, estou só observando: quanta
ilusão... quanta beleza na ilusão... que felicidade as ilusões... Há uma
preciosismo na perspectiva do tempo: ele é sempre agora. Entre amigos, dentro
do quarto, num shopping, com bebidas, a força de vontade cria a ilusão de
conquista simplesmente porque pensamos e decidimos como será o amanha. Tudo
parece fácil e superável só porque se quer. Depois do agora, o mundo não tem
doenças, violências, perdas ou tristezas: todos estão no embalo do sucesso.
Apesar do agora somos invencíveis. E o agora vai passando... Ano a ano, o agora
vai passando... É um agora com suores e lágrimas, mas também de crescimento e
construção, e ainda assim, mantemos a dimensão da ilusão: o futuro. Depois de
dois copos de vinho, eu começo a entender o sentido da felicidade contida no
futuro: ele é o tempo dos heróis... é o tempo dos heróis de qualidade... é o
tempo da força do herói mágico das ficções infantis... Oh gente de ilusões
boas! Claudia Nunes
174 De repente,
Liza se sentiu mal. Dentro do banheiro, ela ficou zonza e pensou que
desmaiaria. Tudo tão de repente que ela nem teve tempo de sentar. No banheiro
deitou e respirou. Sozinha não havia muito o que fazer. Ali, no chão, ela só
tinha tempo para respirar e pensar. Estava morta? Não! Como falaria sua mãe:
estava entupida. Tempo muito tenso. Tempo complexo. Tempo de muitas decisões.
Tempo sem sono. Ela estava entupida. Ela era energia represada. Nela não havia
fluidez. No chão, ela queria uma passagem, um passaporte, um passado. Presa no
chão, nem a respiração lhe aliviava. Canos podem ser entupidos e pessoas
também. Menos controle, menos rigidez, menos poder: ela queria goteiras de
qualquer tipo. Como? Seu corpo precisava de alívios reais em que as
infiltrações sejam pontos de liberdade. Aos poucos, ela sente harmonia e o
sono. Sono de amor e felicidade. Horas depois, no quarto de dormir, ela busca
em seus álbuns suas afetividades e, sem controle, chora ao telefone falando com
sua amiga de escola. O mundo lhe dá uma nova chance. Claudia Nunes
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