segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

MUDANÇA DE PLANOS (165)


165 Mudança de planos Outro dia estava olhando um cérebro. Vocês já perceberam quantos vales existem ali? Vales, precipícios e cavernas. Nós temos um órgão cheio de vãos imersos no líquido cefalorraquidiano (liquor). Uma solução salina muito pura, pobre em proteínas e células, e que age como amortecedor para o córtex cerebral e medula espinhal. Atuam no suprimento de nutrientes e remoção de resíduos metabólicos do tecido nervoso. Tem como função primordial a proteção mecânica do SNC; além disso, suaviza os efeitos do seu peso, prevenindo traumas. Mas será que pensar gera traumas? Fazer com que neurônios atravessem todo o encéfalo e se concentrem em determinados pontos para iluminar a mente, é difícil? Não sei... Cada vez mais tenho pensado em autonomias e vãos. Os vãos nos diferenciam. Em cada estímulo somos iluminados pela possibilidade, pelo insight e pela racionalidade. Mas é preciso disponibilidade; é preciso querer; e onde está esse querer? Hoje pouco importa. Vãos, cavernas e precipícios estão em nossas rotas e constroem nossas almas. E assim mal sabemos o que fazer na vida, mas fazemos. Particularmente observo as práticas pedagógicas, por exemplo, como esses vãos. Parecem momentos mágicos em que educadores têm a intenção de transformar mentes. Práticas de subida aos céus da liberdade de pensar sobre as próprias formas de pensar; e, por consequência AGIR. Práticas que revolvem o liquor, apesar dos fenômenos sociais que degradam, engessam e desmotivam os novatos. Gente, prática de ensino não é mágica, mas coagula, ilude. A questão é outra: não se pensa sobre as práticas realmente. E quando se pensa, não se pratica, não se criam experiências, não se alimentam potencialidades. Não podemos pensar apenas. Os vãos precisam ser preenchidos com mudanças de rota, proteínas e ferramentas. Os novatos precisam ser elucidados, precisam de luz, às suas incertezas e receios, mesmo dentro da escola. Repensar práticas e recursos. Agregar outros conceitos de outras disciplinas para renovação das posturas acadêmicas e pedagógicas. Os novatos querem ser surpreendidos e reocupar seus vãos com novidades reais, usáveis e práticas. Sem estímulos, impossível mantê-los atentos, vibrantes, correspondendo, escolhendo, falando. Pensar é uma emoção elaborada, ou seja, precisa de parceria, compromisso, acertos, movimentos, diálogo. Vamos sair do senso comum! Vamos deixar de lado velhas práticas e experimentar adaptações e inovações preservando o diálogo entre todos. É possível usar ferramentas emocionais (escuta, silencio, respeito, sorriso, abraço) e cognitivas (conteúdos, projetos, pesquisa, seminários). Devemos aceitar que somos globais, estamos em rede e nos articulando numa teia narrativa e comunicativa viciante (no bom sentido). Não pode haver mais distancias de nenhum tipo. Vamos sair dos vãos, subir nossos precipícios e ganhar o tempo e a luz. A informação está à disposição em grande profusão e é preciso saber ouvir, tocar, cheirar, falar, sorver; é preciso reprogramar os sentidos com outras agendas e outras rotas. Todos longe das correntes da mesmice e da rotina. Longe das aparências e das inconstâncias. Reapreender algumas atitudes, mesmo diante das injustiças sociais. Fora das cavernas! Fora dos limites indignos. Fora da escuridão das ditaduras de ensino! Somos mais do que passageiros na vida. Somos companheiros de viagem cujo desenvolvimento cognitivo precisa ser desvendado todos os dias e de forma proteica. Claudia Nunes

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