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Num
ônibus ele ouviu a verdade: ‘síndrome do ninho vazio’. David desviou o olhar da
janela e se deu conta de onde estava: um ônibus lotado e sem destino. Sim, sem
destino. Seus filhos se foram. Cinco filhos e todos se foram. De casa ao trabalho
e do trabalho a casa, eu era um autômato dos dias e das noites. As cenas
passavam rapidamente em sua mente: nascimentos, primeiras bicicletas, noites
sem dormir, estudos, horários, parques, amigos, pipocas, gastos, desejos,
discussões, manias e, enfim, conquistas. Seus cincos filhos eram pessoas de bem
e em sociedade. Até ali foi duro manter o rebanho junto e controlado; mas valeu
à pena. Sua mulher morrera quando os gêmeos nasceram e ele teve que ser ‘pãe’
junto com a sogra e sua mãe. Quase 20 anos depois, ele tinha 54 anos e estava
sem humor, sem prazer, sem grandes sorrisos e com uma enorme sensação de
inutilidade. Onde estava aquela fome de viver da juventude? Cinco filhos depois
e ele ali, no ônibus, realizado, ativo, com planos, mas em silêncio e difícil. E
aquela mulher surge com uma resposta: ‘síndrome do ninho vazio’. Será? O que
isso significaria? Depois que saiu do ônibus, resolveu sentar num bar perto de
casa para pensar melhor. Em cima da mesa, um copo de vinho e suas chaves de
casa. Chaves de casa... Casa... Solidão... Quietude... Depois de tantos anos,
ele estava sozinho num apartamento de três quartos e com um vigor enorme. Em sua
cabeça só uma vinheta incomodava: ‘síndrome do ninho vazio’. O que fazer? Seus filhos
estavam na vida e bem posicionados. O que fazer? Ele se sentia preguiçoso,
lento, insatisfeito e sem graça. O que fazer? Cadê a tal força de vontade?
Muitas mulheres passaram em sua vida, só que a futilidade era a primazia. Ele era
corajoso e tinha força de vontade, só que os dias, de repente, se tornaram
monocórdios e sem grandes mudanças de tela. Trabalho, palestras, textos,
análises e casa: eis sua perspectiva de sempre. E as crianças? Ops! Elas não existem
mais; elas ganharam autonomias, liberdades; elas criaram outras famílias ou
conquistaram outras moradias. Mas ele estava ali: inviabilizado de suas funções
normais de vida e consigo mesmo para dar conta. ‘Síndrome do ninho vazio’, que
coisa! Do outro lado da rua, alguém acena repetidas vezes, mas sem seus óculos,
ele não enxerga. Mais uma vez passará por mal-educado: ele não enxerga de longe.
Isso! Além da síndrome do ninho vazio, ele não enxerga de longe: ele tem que
aceitar e encarar seu presente do jeito que é e tentar se ajudar. Ele tem que
agir de outra forma: se tudo mudou e ele não percebeu, agora a mudança é uma
questão de escolha pessoal e definitiva. ‘David, caramba, quanto tempo! Como vai
vc? O que anda fazendo?’ – diz Dario, depois de atravessar a rua e sentar à
mesa. Assustado, David só olha Dario... olha com vergonha... olha com certo
medo... ele não anda fazendo nada... nada mesmo... Ele andava perdido, sem se cuidar,
comer ou dormir direito; ele andava quieto, sem amigos e mudo; ele andava
alienado, negativo, sem foco, inútil; ele andava sem prazer e fútil. Para que
tanta responsabilidade profissional senão aproveitava a própria vida com paz e
sossego? ‘Ola Dario, como vai? Eu andava meio chato, mas estou me recuperando. A
vida precisa ser vivida de qualquer jeito, não é?’ Ele se sentiu recompensado e
positivo. Não havia mágica, viver a vida não é uma questão de mágica, era
preciso sonhar e fazer: apenas tomara uma decisão. ‘Por favor, quero uma
cerveja e traz uma para o meu amigo aqui!’ – David gritou para o garçon.
Síndrome do ninho vazio e depressão, parceiras de uma vida cheia de altos e
baixos, exigem administração frequentes e David entendeu enfim. Em apenas um
gesto, a roda da fortuna reverteu seu movimento e, ao invés do copo meio vazio,
ele sabia que estava diante de um copo meio cheio... cheio de autoestima,
elogios, força, apoio e emoções. O sentido da vida não é precisamente o de ter
tudo o que queremos, mas sim, principalmente, qualificar nossos sonhos e
desejos, e saber compartilhar tudo o que temos e sabemos com os outros. A vida
é muito curta, logo metas para os próximos dias: rompa as regras, perdoe
rápido, beije devagar, ame de verdade, ria muito e nunca se arrependa de alguma
coisa que a fez feliz. E assim, David viveu feliz para sempre... Claudia Nunes
O mundo é desconhecido e estou desbravando a mim mesma para aceitar o mundo como ele é. Como professora (Estado), Tutora em cursos de EAD, Revisora de Material Didático e MESTRE em Educação (UNIRIO), estou seguindo a vida fazendo o que gosto, como gosto e com quem gosto muito. Escrevo e publico textos para me esvaziar de mim e poder aceitar o Outro como vier. De resto meu vicio é o mundo virtual, ainda que eu nao seja dissimulada. Mutante? Isso! Eu gosto de ser mutante!
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