segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

SOU O TEMPO DO 'SOU', DO 'SOUL', DO SOL (175)


175       Sou o tempo do ‘sou’, do ‘soul’, do sol
Embora tenhamos o tempo como tempo de vida, esquecemos que o tempo também é tempo de morte. Nunca o tempo será amigo se não nos dermos tempo de autoconhecimento e sorrisos. Sim, sorrisos são fundamentais no tempo que o tempo tem para nós. Sem tempo, dissipamos, inutilizamos e engessamos o tempo que o tempo tem para tudo.
O assunto tempo torna-se pedra no sapato: e, no tempo, matamos leões e cordeiros além do tempo. Sem a lua ou o sol para energizarem as emoções e os passos, o tempo traz a luta das cobras: tempo da inutilidade, afinal, venenosas ou não, todas as cobras morrerão entrelaçadas, sangrentas e coletivas apesar do tempo que o tempo tem.
Eu sugiro o seguinte: sorriam e amem.
No tempo que o tempo tem, aprendam a diluir as dores e as delícias das relações sem tempo para ser triste. Ser triste é realmente perda do tempo que o tempo tem para nós: não vale a pena! Pense em tempo, com tempo, no tempo e dê um tempo.
Hoje a idade está avançada e contraditória: é fonte de frescor e de frescuras com enorme tempo de se reviver ou se matar. Nós nos envolvemos com desejos e crescemos indesejáveis perdendo tempo com amores sem tempo ou amizade limitadas por um tempo, antecipadamente, adjetivado: interesseiro.
Eu queria a paz do silencio das pequenas solidões, mas não sei viver sem os barulhos das grandes multidões; então não entendo privacidades ou imunidades dentro do meu tempo. Esses esconderijos ignoram o tempo da experiência e da aprendizagem dentro de uma bolha de tradições e frivolidades de outro tempo.
Entendo valores como respeito, apreço e endereços afetivos para salvaguardar também o meu tempo. E as cartas dos baralhos se desmancham lindamente: são os jogos de paciência do tempo. Elas não caem, elas se desmancham mesmo e ignoram territórios, certezas e constelações de tempos sem tempo para ter tempo para a vida do tempo.
Sentada à beira do rio, minhas pernas estão sem sentidos, sem paz e sem tempo. Repasso a vida diante da verdejante loucura das ignorâncias e das invasões de todos com todos com tão pouco tempo. É difícil pensar no tempo sem tempo para pensar no tempo.
Penso em generosidades, em educação, em delicadezas, em elegâncias e me assusto pensando em pessoas que perdem seu tempo com o tempo alheio. Oh raça ruim! Oh raça complexa! Oh gente bacana!
O rio passa sob meus pés e suas águas me arrepiam: no tempo, preciso enxergar além dos medos que o tempo me trouxe. É difícil. É uma questão de generosidade comigo mesma, ainda que misturada com uma personalidade que só eu e o tempo sabemos entender. Não vou escapar de mim, mas a invisibilidade do caminho das emoções é minha maior inteireza no tempo que me resta. Sou o que sou porque o tempo me permitiu assim.
Lavando os pés, pegando a roupa, caminhando por todo tipo de estrada, a vida torna-se plena sem que eu perceba porque o tempo não é material; ele me leva como passageira em ventos que nem tem tempo para me sentir, apenas tocar.
Ao olhar a beira do rio e as beiras do caminho, sei que o tempo é uma ilha enevoada em que a minha participação monta um quebra-cabeças de quem sou no tempo que tenho para ser quem sou.
Eis o meu segredo: sou o tempo do ‘sou’, do ‘soul’, do sol.
É luxúria isso? Que bom!
Sou o que sou no tempo que tenho para ser o que sou sem ninguém ter o direito de dizer quem sou no tempo que tenho para ser quem sou.
Luz, sombra e meu ego são o que sou no tempo que tenho para ser quem sou.
Fui... Claudia Nunes


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