segunda-feira, 2 de julho de 2018

E chega o primeiro FIO BRANCO


“Não tenho medo de morrer, tenho pena.” – Chico Anysio

Aos 53 anos, diante do espelho, escovando os dentes, eu encontro o PRIMEIRO fio de cabelo branco. Paraliso. Emudeço. Sorrio. Eu cheguei ao primeiro fio de cabelo branco. Meu corpo enviou um sinal: estou maduro. Eu sou uma pessoa madura! Sem desespero, observo com carinho aquele fio cuja mensagem traz todas as minhas memórias, além da certeza da passagem do tempo. Ideia inicial: não quero disfarça-lo. Sentimento: eu o amo! Nossa, eu o amo mesmo! Conhecimento: as células que produzem a melanina (cor do cabelo e da pele) estão disfuncionais. Que luxo ter a sorte de ser surpreendida por um cabelo branco cheio de informações de meu meio século de vida. Eu já vivi meio século! Isso! Estou diante da minha vida e de tudo pelo que passei para chegar até hoje em frente ao espelho. Observo tudo ao redor: estou de pé, ativa, escovando meus dentes, autônoma, sonhadora, desejante, projetando, amando, pensando, decidindo, lutando por cada por do sol; e isso significa aquele fio de cabelo branco! Minha utilidade não está questionada, mas sim o tempo de utilidade. Um fio de cabelo branco é a certeza de que pude muito e de que posso muito mais, justamente diante da presença dele. Puxa que sorte! Será estresse, hereditário, muitas noites mal dormidas ou déficit de cobra na alimentação? Tudo e nada! É a sorte de viver o tempo passando, ultrapassando obstáculos e pessoas, em busca de um horizonte de muitas conquistas e amigos, sem muitas frescuras. Meu fio de cabelo branco seja bem vindo! Mesmo sendo imigrante digital, fui pesquisar razões pelo aparecimento dos primeiros fios de cabelos brancos. Muita gente escrevendo suas impressões; mas ninguém dando conta dos meus sentimentos. Estou feliz demais! Eu tenho um fio de cabelo branco e, pelo jeito, é hora de deixar a vida realmente seguir seu curso e acompanhar novos e belos aparecimentos com mais simplicidade. Não vou e nem quero disfarçar! Eu sou eu com tudo o que tenho direito. É mutação, evolução, revolução dentro do curso natural de um organismo. Alma superinfantil, mas corpo no pico da resistência. Sua durabilidade já apresenta probleminhas. Mas e a experiência? Antes de pensar dentro de um redemoinho de emoções incomodas, devo relaxar: os fios chegam para todos que tem a sorte de chegar aos 53 anos. Ao terminar de escovar os dentes, continuo observando
este fio causador de tantos pensamentos. Ele não está sozinho e nunca chega de repente! Mas seu brilho é único: porque sou eu e ele é meu. Sem preocupação, angústia, ou gerúndio: é apenas hora de refletir melhor sobre mim, minhas atitudes, meu futuro, meus projetos, minha coleção particular de certezas e crenças. Será que tudo ainda vale tão a pena assim? Fio de cabelo branco é como um grito de ‘Eureca’! E o tempo é curto mesmo. Quais lições eu posso aproveitar ou reaproveitar? Quais emoções eu devo manter ou descartar? Um fio de cabelo branco serve para, de novo, que nós agradeçamos pela vida... pelo tempo de vida... e deixemos de surrupiar este mesmo tempo com competições, ressalvas, mesquinharias ou ilusões. O tempo é curto mesmo! Penso: um fio de cabelo branco nunca é ingrato: chega quieto e sem alarde, mas nunca é ingrato. Ele coroa um estilo de vida. Descobri-lo é um alarde, mas ele nos observa sorrindo. Não podemos (e nem devemos) nos livrar. Ele exige que o encare e se aceite. Eu mesma sou o tempo que o tempo me deu. E agora os cuidados comigo devem ser maiores e prioritários: eu sou o meu poder e minha autoridade. Fora isso, eu sou comum: um fio de cabelo branco que chega para todo mundo. Agora: que estilo assumir? Fio de cabelo branco nos obriga a um novo estilo ‘de tudo’! Diante dele, não há outro jeito: sinto-me vital, gentil, normal, energética, positiva, boa, esperançosa e quase realizada. Adoro meu fio de cabelo branco, meu espelho e minhas descobertas, sem ‘neuras’.

Profª Claudia Nunes

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