Em tempos de pandemia, a motivação é uma força interna que devemos desenvolver com lucidez e vontade. Por que? Porque motivação exige um desafio e uma necessidade. E haverá recompensas sempre: algumas reais e físicas (dinheiro, conquistas, definições) e outras, mais subjetivas e muito pessoais (mudança de comportamento, autoconhecimento, liberdade, justiça).
Mas hoje,
assumindo que nada voltará ao normal facilmente, nós sabemos que a luta é por
sobrevivência. É instintivo. Através de emoções equilibradas, primitivas ou
transcendentais, nós vamos em frente por um único interesse: sobreviver ao dia
seguinte e com saúde. É a hora da imaginação e da criatividade; mas também da
presença de sentimentos desengonçados como irritação, agressividade, egoísmo e
solidão... muita solidão.
Em cada casa,
empresa, escola, hospital, repartição etc., motivação significa respirar
melhor; procurar memórias antigas de desejos, sonhos e alegrias; e criar
estratégias que reflitam hábitos e experiências que nos motivem a viver apesar
de tudo. Nós estamos reencontrando prazeres antigos ou investindo em desejos
reprimidos.
Em tempos de
pandemia, motivação é uma forma de sublimação de nossas sombras que teimam em
experimentar visibilidade comportamental e cujo teor estabelece qualidade à
nossa saúde mental, social, relacional e interpessoal. Vamos pensar:
parcialmente mais em casa do que na rua, as experiências de aprendizagem são as
mais variadas justamente porque são de / em / para casa; de / em / para o
corpo; ou mesmo, de / da/ em mente para tudo isso junto. Cantar, cozinhar,
tocar, desenhar, pintar, fazer choche, escrever, ler são ações que seguem
determinando nossa existência junto a perdas irreparáveis e insensatas. Arte
como forma de supressão do medo, da ansiedade, da irritação, do desespero, das
angustias e da solidão... de novo, a solidão.
As manifestações
artísticas se oferecem então como terrenos de sobrevida, espaços de
autorreflexão e elementos de recuperação de nossa criança anterior e interior.
É a arte sendo base da motivação que nos distrai do mundo lá fora e nos
recompõe ao mundo aqui dentro, para entender que não podemos ir lá fora, por
enquanto. Ela nos distrai, nos fortalece, nos movimenta e nos transforma.
Neste movimento,
de repente, surpresas. Nós nos surpreendemos com nossas antigas e/ou novas
habilidades e conhecimentos práticos; com nosso poder de escolha; com nosso
espaço de vida; com os comportamentos dos familiares; com as novas formas de
trabalho; e, principalmente, com nosso entendimento de que o tempo tem seus
humores e estes não devem nos governar, nos paralisar, ou mesmo, nos matar.
Pandemia como
oportunidade de aprendizados automotivados; de exploração interior; de
compartilhamento de sentimentos, experiências e conhecimento; de acomodação das
certezas sobre tudo; de reelaboração de princípios e valores; de colaboração na
resolução de problemas, também em grupo; de engajamento em diferentes
ambientes, agora virtuais, para dialogar e/ou aprender; de estimulação da mente
da forma mais positiva possível; de forte trabalho de nosso lado mais
emocional; e de assimilação de mais força, confiança e competência à medida que
nos autovalorizamos; dentre outras atitudes.
Sendo mais
acadêmica, é o tempo em que os movimentos precisam ser voluntários (lobo
frontal) para acontecer, buscando satisfazer alguma necessidade ou algum desejo
(BEAR, 2008). Nós devemos ser voluntários para a vida. É a vida que estabelece
nossos comportamentos, mesmo os mais abstratos ou irreverentes, às vezes, de
uma vida inteira.
Em tempos de
pandemia grave, motivação é uma construção de vida diária; é uma forma de
homeostase (equilíbrio interno do ambiente); é um jeito de ajudar o hipotálamo
em sua função de regulação da temperatura corporal, do balanço de fluidos, do
balanço energético (BEAR, 2008); quiçá, da temperatura emocional.
Motivação é um
jeito de se evitar desvios dos neurônios sensoriais ao ponto de fundamentarem a
ansiedade, a depressão, a timidez, o estresse, ou mesmo, a agressividade; e é a
maneira como o ser civilizado controla sua resposta humoral, vícero-motora e
somático-motora, de forma integrada.
Não adianta
resistir.
Em tempos de
pandemia, o ser vivo humano tem, em sua biologia, a possibilidade de se
autoorganizar para sobreviver. Então, uma pergunta:
- O que você tem
feito de você com o que a pandemia fez de / com você?
Profª.
Claudia Nunes (19.03.2021)
Referencias:
BEAR, Mark. F; CONNORS, Barry W.;
PARADISO, Michael A. Motivação (cap.16).
NEUROCIENCIAS: desvendando o sistema
nervoso. 3ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2008, p.509-532. [Dados Eletrônicos].
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