Na noite sem estrelas, eu respiro e deixo as emoções seguirem seu curso seja qual for. É o luto. São os limites testados radicalmente. É vida em preto e branco sem muitos critérios. É menos força, vontade e alegria. Desistir é a loucura e uma resposta. As opções são muitas e todas sem os hábitos anteriores. Estou sem chão, ainda... Ás vezes, a vitimização e a alienação são interessantes e estimulantes. É a noite da melancolia; de olhar a mesa da cozinha cheia de cadeiras vazias; e de viver a tristeza egoísta de Arnaldo Antunes. É a noite da chatice: estou chata e sem graça. Pensar em recuperação é possível, amanhã.
Hoje é a dor, o
cinza e o autoconhecimento. Até que ponto posso chegar? Até onde posso ir?
Noite do inimaginável em mim: a falta de humor. Tudo bem. Noite, lugar do eu
sem sombrinhas; lugar do eu negro. É ruim demais. Há um eu negro em mim. Negro
que desgoverna, ameaça, amedronta, esclarece. Há negro no eu de todos também,
mas só eu posso enfrentar o meu. Ninguém é capaz de sentir por mim. E mentiras
sobre isso seguem sendo ditas. É um descaminho total.
Luto: jornada que
não tem nada de heroica. Jornada noite adentro sem proposta de reconhecimento é
horrorosa. Jornada para ir porque ir é a única opção para crescer, dizem. Sei
não... Noite, negro, jornada e dor. Coração palpita e o rosto ganha uma máscara
trágica. É solitário andar pela noite do luto. Dependo de mim mesma. Sem
antolhos, bengalas, amigos ou família. Não é a jornada do herói, mas é a hora
da verdade.
Luz no fim do
túnel só pode ser vista se o corpo entra em movimento retilíneo uniforme sem
recear tropeços. Ninguém pode viver minha vida, nesse movimento. A vida real
não admite a opção ser coadjuvante. Minha vida, minhas regras, minhas contas. E
nessa hora, o ponto do salto. Eu quero o salto. E salto só ocorre com memórias
intensas. Depois de viver o negro de mim, é a hora da revanche. Fundo do poço,
revanche, energia, reajuste de memórias e emoções; e, como um bebê, reaprender
a andar, aproveitando inúmeras lembranças.
Posso viver como
se não houvesse amanhã? Sim! Posso sair ‘fora da caixa’ do habito e dar vazão
aos sonhos? Sim, de novo! Posso procurar ajuda para reconhecer o tempo e tomar
as decisões com mais calma? Sim, outra vez! Perfeição e felicidade não existem
100%. Existe o caminho, os acontecimentos e muita gratidão pela vida. É preciso
coragem para assumir o tempo que o tempo tem, agora, por exemplo, na ausência
de um ente querido. É coragem, crescimento e o desenho. Da noite sem estrelas,
a luz no fim do túnel ganha cores, traços e curiosidade.
Fim de setembro,
quase outubro, a trama macabra da vida familiar foi revivida. Só que não sou de
‘coitadismos’. E os dias subsequentes não me deixaram rachar de todo. Não dei o
‘pulo do gato’; tive que ficar na ‘crista da onda’; agir e reagir. E a arte do
DESENHO me ajudou demais! Fui desenhar para iluminação, conscientização e
superação de uma dor muito cruel. Como afirma Fernando Pessoa: “a arte anima e
é vital para a vida”. Experimento desenho em madeira, papel e tecido.
Experimento emoções em ebulições profundas em madeira, papel, tecido e
personalidade.
Ponto de partida:
MANDALAS. Só ponto de partida. O autoconhecimento segue demarcando novos lances
e vida. E eu sigo aceitando as mudanças nos traços e nos tamanhos. O dia chegou
e o ritmo circular foi se ampliando em outras geometrias. Quebrei o ritmo da
noite sem estrelas, da rotina de lamentações e da falta de humor.
Renasci.
Segue o baile
Prof.ª
Claudia Nunes (22.03.2021)
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