Depois do vendaval, não sentir é a melhor decisão. Ele foi embora. Deixou um bilhete. E Sancha segue apaixonada. Não entendeu nada. Era uma dor insuportável, mas aconteceu. Opção: autocontrole e não sentir. Outra escolha seria morte certa. Ela estava apaixonada. Três dias na cama. Três dias tentando entender. Três dias de anestesia emocional: ela não sentiria nada! Na cama, ela tinha lembranças, um corpo exigente e algumas provocações dramáticas. Só não tinha como se livrar disso tudo. Amargura, adversidade, golpe baixo. Ele a abandonou e a vida tinha um fundo imenso. Mas ela não sentiria nada. Essa taquicardia passaria. Projetos acabados. Insegurança. Sofrimento. Baixa autoestima. Tristeza. Anedonia. Sancha se levantou, foi em seus livros e pesquisou: anedonia é a incapacidade de sentir prazer e aproveitar as coisas boas. Isso! Assim seria ela. Cérebro desconectado, sentimentos ignorados. Não sentir para não sofrer, isolar-se, ficar anestesiada. Os dias seriam assim. Anedonia e apatia. Essa dor não seria minha. Não quero viver isso. Ele se foi e pronto. E ela apaixonada. Por dias, ela agiria assim. Nenhum prazer de viver. Mecanismo de defesa mesmo. Anedonia positiva: falta de interesse pelas relações sociais, pela comida, pela comunicação com os outros… é dormir, dormir e dormir. Sancha quer um muro entre o que lhe aconteceu e sua paixão. Carinho é mentiroso. Pessoas são fingidas. Interesses são bobos. Ela queria cura. Ela queria uma alma livre do que lhe aconteceu. Tempo passou. Corpo amoleceu. Como nos livros, o cérebro se modificou: o lóbulo frontal, relacionado com a tomada de decisões, se reduz; os gânglios basais, relacionados com o movimento ficam afetados e exigem muito esforço para acontecer; o hipocampo, relacionado com as emoções e a memória, perde volume e surgem as falhas. Sancha se aprisionou. Sancha estava apaixonada.
Prof.ª
Claudia Nunes (08.04.2021)
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