terça-feira, 15 de março de 2022

Sancha + PÁSCOA = passagem

           Mais um dia observando a casa vazia. Mais um dia especial nada especial. Desde cedo, Sancha não conseguiu sair de sua cama. Luz do sol. Silencio em casa. Vazia de alma. Sancha respira profundamente e pensa no passado. Um passado em que a mesa da cozinha nunca estava vazia ou em que sua casa tinha movimentos intensos e variados. Ah havia sempre música. Muita música.

Hoje é Páscoa e seu presente é o silêncio. A passagem de mais um dia de silêncio. Lá fora: Jesus, crucificação, ressurreição, reis magos, libertação, anjo da morte, passagem. Dentro de sua casa e mente: saudades, lembranças, silêncio, mesmice. Sancha não era religiosa, então, para seu autocontrole, sua mente corre ao passado para entender o presente.

Mesmo depois dos 50 anos, cadê a blusinha de presente escondida para brincar de quente e frio? Sim! Em sua casa, Páscoa, Cosme Damiao e Dia das Crianças sempre foram lembrados com risos de criança. Da cama, ela olha ao redor e... nada... ninguém. Nada diferente em volta. A porta não vai se abrir para ela escutar: “Oiiiii!! Não vai levantar não??? Já fiz café!” Não há barulhos na cozinha. Não há surpresas no celular. É o sol, a casa, a cama e ela.

Ela lembra: Páscoa como passagem. Jura? Passagem de um tempo a outro muito sem graça, sem destino, sem liberdades, sem o beijo da manhã avisando: “café está pronto, cortei o abacaxi e fiz arroz; to saindo para Sueli, ou Norma, ou Graça. Elas me chamaram para almoçar. Passa lá depois”. Sancha, de novo, chora. Essa passagem é uma dolorosa.

Páscoa = passagem. Passagem para o novo mundo; para uma aventura ‘fênix’; para dias bobos; para falta de sorrisos, agitação, cuidados e segurança; mas também, para aprendizados. Sancha se sente muito só. Esta é sua passagem para ressurreição sem celebrações; é ressurreição por obrigação ou para sobrevida. No celular, muitos afetos, muito carinho, muitas palavras; só que tudo isso não preenche o silencio dos últimos 5 meses. E ela sabe disso.

Sancha sabe que seus sentimentos devem ter a durabilidade de uma decisão e uma ação. Mas só hoje, só por hoje, Páscoa = passagem de uma dor para outra dor sem remédio, sem compreensão e sem paz. É um sacrifício imposto sem piedade. Sancha não tem força para se levantar. Então, ela se deixa levar. Não tem jeito. Ela sonha e lembra: a força fundamental de uma vida é saber vive-la em toda a sua intensidade. Assim viveu sua mãe. Assim Sancha vai aprender a viver.

“Levanta-te e anda”! A vida não para mesmo.

 

FELIZ PÁSCOA a todos

Profª Claudia Nunes (04.04.2021)

 

 

 

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