Amante de um bom café. Sento na cozinha e escuto música. Nada demais. Apenas o tempo passando e eu dando liberdade aos meus sentimentos e pensamentos. Muita coisa. Muitas pontas soltas. E o cheiro de café no ar. Será que conseguirei? Sei lá. Uma certeza: eu não posso deixar o café terminar.
Penso num passado.
Outro tempo. Outra Claudia. Como mudamos? Nem sei quando foi; só sei que amanhã
não serei mais eu. A vida é assim... Nós precisamos entender melhor a passagem
do tempo. É duro, mas é bacana. Mudamos mesmo! Pensei nas pessoas que não
assumem esse risco de mudar e, por exemplo, permanecem em relações toxicas.
Pensei em amor próprio. Pensei em mim, em algumas situações. Que tenso né? Eu
acho...
Às vezes somos
espelho de pessoas que não gostam delas mesmas; que se incomodam com nossa
liberdade; e que nos machucam para não serem machucadas. Que loucura! E pior: a
gente não percebe mesmo! Hoje eu sei: o mundo realmente é redondo! O mal que se
faz provoca o aparecimento de energias estranhas em torno da relação e, no
retorno, as consequências podem ser sinistras. Mas, e o amor próprio? Ele é uma
conquista. É o ‘band-aid’ de uma ferida. E leva tempo. É preciso sim, uma
decisão: rompimento, afastamento e silencio. Essa é a sequência da resiliência,
por exemplo.
A história da
minha vida pertence somente a mim. A história é minha. Ela não pode estar nas
mãos do outro em nome quaisquer afetos. Aliás, o território do afeto é sempre o
mais atingido e machucado pelo outro, quando um ou outro, não tempo um mínimo
de amor próprio; por isso, esse amor é a melhor arma no campo de batalha das
relações. Realmente, eu e meu café não queremos mais ser plateia de ninguém;
nós queremos a cena completa e dentro dos nossos limites.
Hoje eu sei que
estou bem. Quando o passado retorna em disfarce, ou mais controlado, ou em
outro tom, intencionando aproximação, não me causa nada. O amor próprio, os
amigos, muitos cafés e o tempo foram excelentes remédios tomados diariamente.
De diferentes maneiras o passado sempre retorna; faz seus testes; e eu sou
apenas educada. Eu sou apenas eu e sem explicações. Aqui e agora me pergunto:
explicar o que, a quem? Eu, meu café, minha cozinha, aqui e agora, não
precisamos de palavras; somos nossas atitudes de todo dia; e quem quiser
aceitar ou gostar, ou não, meus parabéns! Isso é amor próprio com personalidade
e uma boa caneta para pensar antes de agir.
Há jogos de todo
tipo acontecendo perto e longe de mim, fazer o que? Incômodos, chateações,
ansiedade, frustrações, incompreensões só me farão mal, como o outro deseja.
Isso eu não permito! Nada disso! Sou melhor que isso! Conviver é uma questão de
opção. Então qual é a melhor ideia? Cuidar-me! Fingir demência, apesar das
feridas, e seguir meu caminho do meu jeito.
Alguns dizem
‘Claudia, você muito boba!’ Não é isso! É que aprendi a assimilar golpes para
sobreviver e contar toda e qualquer história. Eu quero argumento. Eu não sofro
de amnésia. Eu quero ter razão, pois a paz não me serve. Eu sorrio e sigo
conquistando o que eu quiser. Aprendi nos livros e lidando com vários tipos de
‘amigos’. Seguir sangrando em cima do nada é inútil e pode causar anemias
afetivas crônicas. Sou privilégio e não opção. Amor próprio é isso: leonina em
autoestima e em completo agradecimento pela vida que tem. Talvez o café faça
isso. É duro aprender isso. Mas o tempo é meu parceiro e dele eu cuido bem.
Amor próprio é uma
forma de ver a si mesmo e a vida; um estilo de vida real; uma sensação de
autossuficiência equilibrada; um estado de apreço por si mesmo, apesar de
reconhecer defeitos e cometer erros; é amadurecimento e autoconfiança; e é
aprendizado de relação se relacionando. O que posso fazer? Preciso ajustar a
personalidade; saber como me integrar; criar limites claros; e reconhecer as
diferenças. Olho minhas mãos. Vivo com minhas memórias. E não gosto de
submissões. Sou elástica nas permissões; mas não admito ordem e controle. Se
não for assim, eu não cresço.
Meus melhores
filtros e alívios são meus amigos, livros e escrita. Outros momentos difíceis
virão então é cair, levantar; cair, levantar. Humor é fundamental. Qual é a
questão, então? De novo: Cuidar-me! Como? Dar atenção a mim mesma sempre que
necessitar; adquirir novos conhecimentos; mudar meus caminhos ‘de sempre’;
escutar mais do que falar; sorrir apesar de tudo e todos; e sonhar sempre.
Ufa! Café acabou.
Hora de ser eu outra vez.
Profa
Claudia Nunes (15.03.2021)
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