sábado, 9 de novembro de 2019

Privacidade na vida moderna



Estamos nas nuvens. Estamos distorcidos pelo ambiente virtual. Com a internet, corpos e mentes estão misturados e alcançando lugares inimagináveis. Quando pensamos em teoria da conspiração, a paranoia vai além do adequado. Mas estamos nas nuvens mesmo. Já somos arquivos estabelecidos na Internet e provocando contatos múltiplos. Nós tocamos tudo de forma consciente ou não. Mentes com memórias organizadas e expostas junto a muitas raízes cujas pontas não temos ideia onde tocam. É círculo vicioso de toques, expressões e conquistas.
Ainda assim queremos privacidade. Ainda assim acreditamos que, nas redes sociais, podemos estabelecer privacidade, nichos, espaços individuais e segurança. Como assim? Nosso imaginário se perdeu? Nem na vida real, nossas redes sociais têm esse caráter possessivo. Aliás, nessa tal ‘vida real’, possessividade é sempre um sentimento visto de soslaio e analisado como negativo às relações, então como querê-lo em rede social virtual? Só para lembrar e pensar: com o CPF, nós já não temos privacidade muito antes da Internet. Nossos dados (vida) estão nas nuvens há muito tempo.
A rede nos desestabilizou; ignorou nosso véu de segurança construído a duras penas; abriu-se ao uso pleno de todos, com todas as intenções; aceitou todas as formas de ideias, desejos, imersão e interatividade; gerou prazeres diversos, mesmo os mais torpes; e alimentou nossa vontade de nos desdobrar em muitos espaços. E a privacidade? Grande ilusão de uma era a.C.
Nós precisamos reaprender a nos controlar em nossa vontade de ser ‘super’ qualquer coisa e voltar ao simples da vida, basicamente, voltado ao autoconhecimento. Como dizem sempre os mais velhos: “feche a boca sobre seus planos, porque nem sempre quem escuta quer o seu bem”. Ou “escute mais e fale menos”. E, no caso da rede social virtual, “exponha-se menos, observe mais e viva com mais saúde”. Afinal, privacidade é uma construção de quem sabe que determinados momentos da vida precisam ser preservados ou cujas informações devem ser bem administradas, individualmente.
A rede social virtual ampliou nossa rede social real e nós perdemos o controle de nós mesmos. Como assumir ‘telhado de vidro’ é difícil, culpar o outro, no caso a Internet, é mais cômodo e gera uma capa de invisibilidade às nossas incapacidades sociais / relacionais. Nada de teoria da conspiração: estamos sempre nas nuvens, somos observados mesmo e precisamos apenas nos controlar em nossas comunicações e interações.
Privacidade é uma decisão para o fortalecimento da memória e qualificação das experiências. Mas se o coletivo da rede social virtual lhe agrada, se controle, pare de reclamar, você nunca foi uma ilha!

Profª Claudia Nunes (07.11.2019)

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