Estamos nas
nuvens. Estamos distorcidos pelo ambiente virtual. Com a internet, corpos e
mentes estão misturados e alcançando lugares inimagináveis. Quando pensamos em
teoria da conspiração, a paranoia vai além do adequado. Mas estamos nas nuvens
mesmo. Já somos arquivos estabelecidos na Internet e provocando contatos
múltiplos. Nós tocamos tudo de forma consciente ou não. Mentes com memórias
organizadas e expostas junto a muitas raízes cujas pontas não temos ideia
onde tocam. É círculo vicioso de toques, expressões e conquistas.
Ainda assim
queremos privacidade. Ainda assim acreditamos que, nas redes sociais, podemos
estabelecer privacidade, nichos, espaços individuais e segurança. Como assim?
Nosso imaginário se perdeu? Nem na vida real, nossas redes sociais têm esse
caráter possessivo. Aliás, nessa tal ‘vida real’, possessividade é sempre um
sentimento visto de soslaio e analisado como negativo às relações, então como
querê-lo em rede social virtual? Só para lembrar e pensar: com o CPF, nós já
não temos privacidade muito antes da Internet. Nossos dados (vida) estão nas
nuvens há muito tempo.
A rede nos
desestabilizou; ignorou nosso véu de segurança construído a duras penas;
abriu-se ao uso pleno de todos, com todas as intenções; aceitou todas as formas
de ideias, desejos, imersão e interatividade; gerou prazeres diversos, mesmo os
mais torpes; e alimentou nossa vontade de nos desdobrar em muitos espaços. E a
privacidade? Grande ilusão de uma era a.C.
Nós precisamos
reaprender a nos controlar em nossa vontade de ser ‘super’ qualquer coisa e
voltar ao simples da vida, basicamente, voltado ao autoconhecimento. Como dizem
sempre os mais velhos: “feche a boca sobre seus planos, porque nem sempre quem
escuta quer o seu bem”. Ou “escute mais e fale menos”. E, no caso da rede
social virtual, “exponha-se menos, observe mais e viva com mais saúde”. Afinal,
privacidade é uma construção de quem sabe que determinados momentos da vida
precisam ser preservados ou cujas informações devem ser bem administradas,
individualmente.
A rede social
virtual ampliou nossa rede social real e nós perdemos o controle de nós mesmos.
Como assumir ‘telhado de vidro’ é difícil, culpar o outro, no caso a Internet,
é mais cômodo e gera uma capa de invisibilidade às nossas incapacidades sociais
/ relacionais. Nada de teoria da conspiração: estamos sempre nas nuvens, somos
observados mesmo e precisamos apenas nos controlar em nossas comunicações e
interações.
Privacidade é
uma decisão para o fortalecimento da memória e qualificação das experiências.
Mas se o coletivo da rede social virtual lhe agrada, se controle, pare de
reclamar, você nunca foi uma ilha!
Profª Claudia Nunes (07.11.2019)
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