sábado, 9 de novembro de 2019

Um ponto de mutação real: permita-se!



“Quando não podemos mudar a situação, temos o desafio de mudar a nós mesmos”. (Victor Frankl)

Um dia de domingo. Um dia que, de repente, repensar experiências e memórias surge de forma avassaladora e dolorida. Será o calor? Sonia não sabe... Mas é um sentimento / uma necessidade estranha. Sonia acorda e intensifica os trabalhos domésticos. Seus pensamentos não podem fazer morada em sua mente. Ela acabara de sair de uma depressão. Varrer casa, estender a roupa, lavar banheiro, tomar café, lavar louça, Sonia precisa ocupar mente e corpo, para distrair-se de seus pensamentos. É importante não se deixar levar pelo mais fácil porque ela sabe onde isso a levara. Fazer, agir, decidir, arrumar, ações que injetam adrenalina e paz. O meio dia chega. Nada a fazer, e agora? Sonia mergulha no armário e em sua enorme estante de livros. Agora sim, nada a perturbara. Agora sim, ela está blindada com seus prazeres. Agora sim, seus pensamentos perdem intensidade. Ainda que todos os livros de autoajuda se recusem a entender, há horas em que hábitos e costumes salvam uma pessoa de seus próprios demônios. Sonia se sente organizada e como ‘boa humana’ pensa sobre seus pensamentos. Não há como escapar das experiências já vividas. Nós somos quem somos pelo conglomerado de experiências que incluímos e trabalhamos na memória, ao longo da vida. Será que repensar pode ser visto como momento de coragem? Será que a dor sentida junto ao repensar é remédio, traz metamorfoses, cria ideias de superação? Sonia, agora mais calma, gosta do que sente. Como o tempo só anda para frente, nós não podemos pensar em substituir experiências, principalmente, as desagradáveis. O tempo não para e não volta. A melhor atitude é, vez por outra, encarar e ressignificar o que for preciso ou necessário. Isto não é fácil porque tocar em feridas é revivê-las, porém, de outra forma, revivê-las é ter a oportunidade de repensá-las e requalificá-las com mais positividade. A vida e o tempo só são bons para quem, em diferentes situações, e com bom autoconhecimento, consegue bom equilíbrio emocional, apesar da dor, qualquer que seja. Sonia, depois da depressão, quer isso para ela. Só para ela. Só para vida dela. Depressão é uma experiência ruim. Mas sair de uma depressão é encarar outra perspectiva de vida, algo menos angustiante, solitário e cansativo. Sonia tinha essa oportunidade. Agora, seu processo era de aprendizado. Ela aprendera a dar outro sentido às emoções que, de repente, lhe assolavam negativamente. Seriam mesmo negativas? Precisavam ter essa carga negativa? Na terapia, Sonia aprendera que pensar em como sentir e pensar emoções era fundamental para se entender e viver as próprias emoções. Sentada no chão do seu quarto, Sonia lia... se distraia... pensava... se acalmava... e repensava suas emoções da manha. Sonia se readaptava, se reconstruía, entendia suas emoções e se preparava para inutilizar a carga emocional como algo necessário, um aprendizado, mais um aspecto para sua saúde mental. É um processo de descoberta e autoconhecimento que Sonia teria que realizar a vida toda sozinha ou com ajuda profissional. Com a tarde chegando, Sonia se arrumou, pegou seu carro e, sorrindo, dirigiu livremente pela cidade, com pequenas certezas criando raízes em sua mente: eu sei me controlar; eu me conheço; eu tenho valor; eu posso estabelecer limites; eu sei o que quero fazer dia a dia; eu aprendi a ‘ser gente’ mesmo com emoções estranhas; eu posso pedir ajuda; eu consigo viver bem hoje; eu tenho com que contar; eu sei o que fazer. Sonia seguia seu mantra de saúde mental. E assim repensar experiência e memórias pode liberar tensões, aprofundar o autoconhecimento, aumentar a autoestima e o equilíbrio emocional, criar mais assertividade nas relações, desenvolver mais resiliência e empatia. Hoje Sonia se conheceu mais um pouco... Parabéns! Permita-se!

Profª Claudia Nunes (13/10/19)

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