“Quando não podemos mudar a
situação, temos o desafio de mudar a nós mesmos”. (Victor Frankl)
Um dia de domingo. Um dia que, de
repente, repensar experiências e memórias surge de forma avassaladora e
dolorida. Será o calor? Sonia não sabe... Mas é um sentimento / uma necessidade
estranha. Sonia acorda e intensifica os trabalhos domésticos. Seus pensamentos
não podem fazer morada em sua mente. Ela acabara de sair de uma depressão.
Varrer casa, estender a roupa, lavar banheiro, tomar café, lavar louça, Sonia
precisa ocupar mente e corpo, para distrair-se de seus pensamentos. É
importante não se deixar levar pelo mais fácil porque ela sabe onde isso a
levara. Fazer, agir, decidir, arrumar, ações que injetam adrenalina e paz. O
meio dia chega. Nada a fazer, e agora? Sonia mergulha no armário e em sua
enorme estante de livros. Agora sim, nada a perturbara. Agora sim, ela está
blindada com seus prazeres. Agora sim, seus pensamentos perdem intensidade.
Ainda que todos os livros de autoajuda se recusem a entender, há horas em que
hábitos e costumes salvam uma pessoa de seus próprios demônios. Sonia se sente
organizada e como ‘boa humana’ pensa sobre seus pensamentos. Não há como
escapar das experiências já vividas. Nós somos quem somos pelo conglomerado de
experiências que incluímos e trabalhamos na memória, ao longo da vida. Será que
repensar pode ser visto como momento de coragem? Será que a dor sentida junto
ao repensar é remédio, traz metamorfoses, cria ideias de superação? Sonia,
agora mais calma, gosta do que sente. Como o tempo só anda para frente, nós não
podemos pensar em substituir experiências, principalmente, as desagradáveis. O
tempo não para e não volta. A melhor atitude é, vez por outra, encarar e
ressignificar o que for preciso ou necessário. Isto não é fácil porque tocar em
feridas é revivê-las, porém, de outra forma, revivê-las é ter a oportunidade de
repensá-las e requalificá-las com mais positividade. A vida e o tempo só são
bons para quem, em diferentes situações, e com bom autoconhecimento, consegue
bom equilíbrio emocional, apesar da dor, qualquer que seja. Sonia, depois da
depressão, quer isso para ela. Só para ela. Só para vida dela. Depressão é uma
experiência ruim. Mas sair de uma depressão é encarar outra perspectiva de
vida, algo menos angustiante, solitário e cansativo. Sonia tinha essa
oportunidade. Agora, seu processo era de aprendizado. Ela aprendera a dar outro
sentido às emoções que, de repente, lhe assolavam negativamente. Seriam mesmo
negativas? Precisavam ter essa carga negativa? Na terapia, Sonia aprendera que
pensar em como sentir e pensar emoções era fundamental para se entender e viver
as próprias emoções. Sentada no chão do seu quarto, Sonia lia... se distraia...
pensava... se acalmava... e repensava suas emoções da manha. Sonia se
readaptava, se reconstruía, entendia suas emoções e se preparava para
inutilizar a carga emocional como algo necessário, um aprendizado, mais um
aspecto para sua saúde mental. É um processo de descoberta e autoconhecimento
que Sonia teria que realizar a vida toda sozinha ou com ajuda profissional. Com
a tarde chegando, Sonia se arrumou, pegou seu carro e, sorrindo, dirigiu
livremente pela cidade, com pequenas certezas criando raízes em sua mente: eu
sei me controlar; eu me conheço; eu tenho valor; eu posso estabelecer limites;
eu sei o que quero fazer dia a dia; eu aprendi a ‘ser gente’ mesmo com emoções
estranhas; eu posso pedir ajuda; eu consigo viver bem hoje; eu tenho com que
contar; eu sei o que fazer. Sonia seguia seu mantra de saúde mental. E assim
repensar experiência e memórias pode liberar tensões, aprofundar o
autoconhecimento, aumentar a autoestima e o equilíbrio emocional, criar mais
assertividade nas relações, desenvolver mais resiliência e empatia. Hoje Sonia
se conheceu mais um pouco... Parabéns! Permita-se!
Profª
Claudia Nunes (13/10/19)
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