sexta-feira, 22 de maio de 2020

Novo mundo, novas atitudes e funções executivas


        Não há melhor hora para pensarmos em formas de convivência. Em isolamento social, humanos não estão impedidos de viver ‘com’ como antes. Não podemos, por experimentação, ultrapassar a linha do conhecido para ser íntimo. No âmbito do conhecido, o humano ‘está com’ nas filas, nas escolas, nos bares, nos parques, nos teatros, nos estádios, nas igrejas, nas ruas, nas festas. E, no âmbito do íntimo, o humano ‘vive com’ nas próprias casas e nos condomínios.
O momento não nos permite o ‘socialmente próximo’; o momento nos permite o ‘socialmente próximo’, de maneira virtual ou se obrigados, quando faltam alimentação e remédio. Nós precisamos evitar o outro e a rua; e ainda assim manter a saúde mental. No processo, ansiedade, stress, tristeza, irritações, dúvidas, indiferença participam da nossa vida. Então, nós precisamos de atitude. Saber como ter atitude, apesar do limite de espaço e de movimento.
Depois de 60 dias de isolamento social, nós estamos em desarmonia emocional. A agitação da vida moderna está em velocidade lenta. E de novo, nós precisamos nos adaptar. O cérebro está confuso, em expectativa, com estímulos estranhos e criando neuroconexões desordenadas. A manutenção do autocontrole é muito difícil.
Além disso, há o tempo. Estamos tempo demais longe da vida que criamos; da velocidade que gostamos; das pessoas que amamos; dos lugares que trabalhamos. Não há o dia cheio, como antes. Não há as reclamações de falta de tempo, como antes. Nós fomos despertados para outra dimensão de realidade, ignorada ou mesmo esquecida. E isso é tenso.
Ainda assim, ‘é o que se tem para hoje’ e nós precisamos nos adaptar. Nós precisamos compreender a nova rotina, reajustar o autocontrole, criar e experimentar estratégias para vive-la, e ter certo inconformismo como motivação. Nós precisamos das chamadas ‘funções executivas’ que, segundo Mallony-Diniz, 2008), é o “conjunto de processos cognitivos que, de forma integrada, permitem ao indivíduo direcionar comportamentos a metas, avaliar eficiência e a adequação desses comportamentos, abandonar estratégias ineficientes e, desse modo, resolver problemas imediatos, de médio e de longo prazo”.
Para a construção de outro movimento em tempos de isolamento social e remodelar características da convivência, nós precisamos ter a intencionalidade de reAPRENDER a sermos sujeitos sociais. Sem essa intenção de reaprendizagem, nós corremos o risco de adoecer, inclusive fisicamente.
Nessa hora, é a atitude, nosso diferencial entre a esperança e a realidade. Nós precisamos de atitudes. Atitudes positivas, focadas em nossas memórias afetivas e realizáveis em curto prazo. E, de novo, presentes as funções executivas, habilidades relacionadas ao planejamento e execução de atividades em geral e, lógico, nossa sobrevivência, apesar e depois do vírus.
Com menos velocidade para gerir tarefas, mais proximidade com a família e a própria casa, o cérebro humano está menos exigido em seus sentidos. O movimento multissensorial se altera. Há tempo para sentir, pensar e agir com adequação. E diante do que nos aconteceu, nós, humanos, temos a oportunidade de sermos mais comprometidos, motivados, positivos, flexíveis, a partir de habilidades importantes com que precisamos / precisaremos lidar, como: atenção sustentada, memória operacional (de trabalho), inibição dos impulsos, fluência verbal, pensamento abstrato, flexibilidade de pensamento e planejamento cognitivo.
No fim de tudo, tudo são decisões diárias focadas em:

Respirar, priorizar, decidir, ficar bem com isso e viver para acordar em novo dia.

Prof.ª Ms. Claudia Nunes (22.05.20)


Inteligência e cérebro executivo em alta


         Em quarentena, o cérebro executivo está em alta. Quando o mundo exigiu parada quase total e nos limitou à nossa casa, nossos cérebros foram sensibilizados a realizar movimentos neuroplásticos (adaptativos) diversos. Nossas funções cognitivas foram estimuladas a pensar e agir de outras maneiras porque a realidade do movimento no mundo mudou. De repente, nós lembramos como são e quais são as sensações quando estamos limitados / presos, independente de nossas vontades. Desta forma, aspectos como curiosidade, criatividade e imaginação estão em sinergia, principalmente, para fortalecer nossa inteligência. E como afirma Kurzweil (2014), “como fenômeno mais importante do universo, a inteligência é capaz de transcender as limitações naturais e de transformar o mundo à sua própria imagem”.
Mas inteligência é uma construção que depende dos tipos de estímulos e impulsos que recebemos rotineiramente, no caso, deste momento, de nossas respirações em suspenso e de nossas amígdalas em alerta ‘sinistro’. E a rotina constrói estilos de vida: estilos de sentir, pensar e agir. O formato cognitivo depende, então, da aquisição e assimilação das emoções, para que sua evocação seja pertinente e funcional. Somos civilizados porque sabemos ser executivos-inovadores, quando em necessidade.
Neste processo, a memória se qualifica tanto para lembrar, quanto para esquecer: princípio da adaptação cerebral. E nossa inteligência, capacidade de pensar e superar desafios utilizando todas as informações da memória, será nossa forma de demonstrar que aprendemos e podemos realizar ou superar quaisquer restrições, tanto de nossas heranças biológicas, quanto de nossas convivências ou ausências sociais.
Hoje, lendo um pouco de Kurzweil (2014) pensei na situação humana de ter que se reinventar para continuar vivendo na Terra, junto e separado, por causa de um vírus, aparentemente criado por ele mesmo, em laboratório. Não está sendo fácil!
Nossas invenções causaram múltiplas mudanças nos estudos, nas profissões, nas artes, nas famílias, nas formas de comunicação e de construção das relações amistosas e amorosas. Ou seja, de novo, nossas invenções, nos deram a possibilidade de sair de uma atuação constante e ilusória de vida para experimentarmos a experiência inusitada de reprogramação desta mesma linha, a toque de caixa. Hoje, nós precisamos sobreviver ao estilo McGayver: usando o que estiver em mãos e nossa memória de trabalho, mesmo que de casa.
Estamos diante do nosso grande medo: o improvável que chega, sem pedir licença; que assume o comando de todo o mundo; e que exige que nós, os executivos / os racionais, fiquemos ao largo, em casa, esperando. É a hora do controle inibitório: parar, esperar, escutar e pensar. É a hora da flexibilidade cognitiva: parar, esperar, escutar, pensar e DECIDIR. É a hora de deixar fluir, com estratégia, a memória de trabalho: parar, esperar, escutar, pensar, decidir e AGIR, mesmo na incerteza e na urgência.
Em quarentena, esta é a corda bamba em que estamos; e cordas bambas desequilibram, mas também exigem de nosso cérebro uma confluência atencional criando um composto atencional profundo e concentrado, para não sucumbir. Nós não queremos cair, não podemos cair e temos que fazer algo para não cair. Nós precisamos superar este movimento inventando e reinventando competências e possibilidades, na hora, agora. Nós temos que recompor nossa história num mundo baseado em informações e, na sempre parceira evolutiva, comunicação.
Em quarentena, nós sobrevivemos e protegemos nossa espécie; desenvolvemos redes de comunicação e decisão (sistemas nervosos readaptados); e experimentamos o autoconhecimento e o controle de nossa saúde mental. Mas, depois de tudo, quais comportamentos emocionais e cognitivos permanecerão? Não sei...
Se somos capazes, como descreve Kurzweil (2014) “de pensamento hierárquico, de compreender uma estrutura formada por elementos distintos e dispostos num padrão, de representar essa disposição por meio de um símbolo e, depois, de usar esse símbolo como um elemento de uma configuração ainda mais complexa” para nos comunicar, pensar e criar; seremos capazes de recriar uma dimensão de realidade mais positiva, recursiva, assertiva, estruturada, empática, solidária, enfim, humana.
Será possível? Você acredita? Eu ainda não...

Prof.ª Ms. Claudia Nunes (15.05.20)

Referência:
KURZWEIL, Ray. Introdução. In. Como cria uma mente: os segredos do pensamento humano. São Paulo: Aleph, 2014.

GINA – Isolamento e pensando em ideias fixas



“Eu sou e penso assim mesmo e pronto! Você me conheceu desse jeito!” – e assim, Pedro desligou o telefone na cara de Gina. Sem nenhum tipo de reação, ela olhou o telefone, respirou, pensou e se disse: “Ufa, acabou!”. Há situações que se resolvem sozinhas e, por isso, devem ser abençoadas. Sem esforço algum, nós podemos seguir em frente e reinventar mundos com outra flora e fauna. Gina limpa e incensa a casa, pega uma caneca de café e, pela janela, observa o sol se pôr. “Como é possível ter ficado 6 meses com alguém assim? Como é possível entender uma pessoa com ideias tão fixas? Como manter ideias fixas e ainda assim acreditar em mudanças?”. Gina não entende seus sentires, mas a expressão ‘ideia fixa’ lhe incomoda. Em isolamento social, pensar nisso é matar o tempo para aprender mais um pouco sobre si mesma e a vida que construíra. Com tantas coisas diferentes acontecendo no mundo, por alguma razão, nós ainda não nos permitimos ampliar nosso olhar para a possibilidade de nos transformarmos, quando desejarmos. Diante de um vírus incomum, talvez seja a hora de pensamos de outras maneiras sobre muitos assuntos e experimentarmos outros gostos, toques, visões e escutas. Só que ainda desejamos nossas rotinas anteriores; ainda estamos divididos entre ‘sim e não’, ‘bom e mal’, ‘certo e errado’. E ficamos chatos. Nós precisamos decidir o que seremos ao voltarmos para fora. Somos hábeis em mudar de rumo e de assunto. Somos hábeis em imaginar, experimentar e inovar. Mas, diante do medo ou da ignorância, aceitamos ideias fixas, nem sempre surgidas da nossa memória e experiência de vida, como proteção. E o diálogo consigo, com o mundo, com os outros, se estanca, confunde e cria conflitos. O medo sempre prefere o monólogo da fala e do pensamento únicos. É energia magnética. É casulo. Mas também é demonstração de insegurança, é medo do próprio medo e de se reconhecer com conhecimento frágil. Eis o terreno fértil para ideia fixa. A ideia fixa pressupõe tentativa de impressionar, de mostrar saber, de criação de valor e respeito, e de poder. Não é necessário entender de tudo para ampliar visões de mundo; mas precisamos entender que saber escutar, por exemplo, é abrir-se à possibilidade de pensar diferente e ainda assim sermos aceitos com respeito; e é ter controle do que se é, como ser pensante, para escutar outros comportamentos e começar a escolher no que acreditar ou o que precisa pesquisar melhor. O mundo é mutante, assim como nossos cérebros. Somos adaptáveis porque somos seletivos; e esta seleção ocorre pelas formas com que os estímulos ‘tocam’ nossas memórias. Em potência, somos sistemas nervosos em movimento de mudança constante; logo, é estranho a permanência e manutenção das ideias fixas, em longo prazo. Hoje, diante do isolamento, depois da reação intempestiva de Pedro, Gina entende que ter ideias fixas é ilusão de sabedoria. Ela precisa largar de mão a rotina anterior em todas as dimensões conhecidas, inclusive àquelas com Pedro, para viver sua própria realidade com clareza e sozinha. A ilusão de realidade ‘bem vivida’ ou ‘normal’ acabou. As peças do quebra-cabeças estão pelo chão a espera de novo milagre. Sem ‘neuras’ maiores, Pedro se foi e levou consigo, as ideias fixas da relação. Agora ela estava ali, inteira, lembrando e esquecendo. Estava em oportunidade de adaptação. Não há vazio simples ou luto histérico. Agora, sua mente é um terreno que precisa de nova limpeza para viver novas emoções e aprendizados, sem ideias fixas. E, em cada passo, ela precisa tomar muitos cuidados. Ela vai começar tudo de novo: observar, se aproximar, duvidar, experimentar e amar de novo. Na ilusão de proteção, junto a Pedro, a capa protetiva da ideia fixa se fortaleceu e, cega, ela foi vítima da má informação, da distorção, da mentira, da ilusão, do romantismo e da insinuação. “Sinistro!” – pensa ela. Sua sensibilidade foi afetada. Suas decisões ficaram deformadas. Seu comportamento foi visto como estranho ou incoerente. Por ‘n’ vezes, por paixão, ela agiu sem pensar ou apenas com foco em suas certezas e crenças; e perdeu o discernimento de quem era quem, na relação. Culpa das ideias fixas. Culpa do desejo por padrões e hábitos. Culpa dela mesma. Gina estava preocupada. Sem Pedro, ela precisava reconquistar a si mesma sem nenhuma ideia fixa. E Pedro fora sua maior ideia fixa. Em sua memória afetiva havia comportamentos estranhos, desejo de atenção contínuo, inseguranças, pensamentos sem nexo, emoções conturbadas. Ela não se reconhecia naquilo tudo. Estava surpresa. A ideia fixa traz o medo de se envolver e gerar cumplicidades mais profundas; é caminhar em linha reta sem admitir imperfeições, pedras ou desvios. Com a ideia fixa, não há como improvisar, sair da zona de conforto, eliminar hábitos; não sabemos como transitar em ambientes fora do nosso contexto amoroso e social; e pode engatilhar ou fortalecer vícios, compulsões, solidão, depressão, ansiedades, medos, dificuldades em geral. “Realmente, tinha que acabar” – sorriu ela. Ainda que o medo persista, ela desejava diversidade; viver para outras interpretações, mesmo as mais frustrantes; abrir-se para desorganizações emocionais; editar novas memórias; criar novos pensamentos e atitudes; amar a possibilidade de sentir-se plena em novos amores; renovar alma e corpo com sentidos renovados; voar até as estrelas só para sentir mais uma grande paixão. E assim acabou o café, seu dia, seu namoro, sua ideia fixa. “Ufa, fim de caso... estou bem na fita”.

Prof.ª Ms. Claudia Nunes (20.05.20)

terça-feira, 12 de maio de 2020

Em casa, uma jornada emocional



Nada na vida é caminho que devemos seguir sozinhos. Mas tem horas que a própria vida nos joga em terreno movediço com a mensagem: se vira! É a hora da verdade. Uma verdade que contém tudo o que nós aprendemos enquanto crescíamos. A hora da verdade é a hora em que realmente sabemos quem somos e de onde viemos. Logico que precisamos de apoio, conselhos, parcerias. Mas coube a nós o desafio e cabe a nós, comportamentos e decisões para seguir na/em frente. Nessa hora também surgem os julgamentos, seus e de outros. Não devemos ligar. Julgamentos são escutas que diminuem a velocidade das ações para que pensemos próximos caminhos ou descartemos algumas informações. Com discernimento, isso não é tão ruim... Nós devemos sim criar coragem para estarmos presentes sob quaisquer motivos e sabermos desenrolar cada sub-desafio com calma e coragem. Todos os sentidos estão entregues a estes momentos. É a jornada à sintonia emocional. É um tempo de trabalho sério para criar respirações mais equilibradas a nós mesmos. É a maneira de se encontrar a harmonia interior, apesar de. Não é fácil. Sabemos que, vez por outra, nós vamos sucumbir às nossas raízes primitivas e agir no susto ou no desespero. Só que, na jornada da sintonia emocional, há preparações internas. Há diminuição da intensidade da sensação de se pisar em terreno movediço, principalmente, quando este terreno significa a presença da D. Certeza Ruim. É a hora da percepção de que o fundo do poço tem um porão cheio de molas que, tanto sustentam o movimento de subir e descer (momentos de altos e baixos), quanto, quando pisadas com força, nos levam diretamente para a luz fora do poço. É o que dizem ‘tudo dá certo no final”. Em ambas as situações, nós só temos o ‘se vira’ como responsabilidade. Resta sabe: em cada impulso da vida, você sabe se virar? Eu sigo me experimentando...

Prof.ª Ms. Claudia Nunes (12.05.20)



Num novo mundo, se joga!



Da noite para o dia, nós nos interessamos por nossas próprias vidas. É tempo de se perguntar: valeu a pena? Embora estejamos mais tristes, é hora de pensar em gostos, crenças, amigos, trabalho, diversão, amor. Em casa, estamos em crise, com medo, agoniados e, lógico, esperançosos. É hora da experiência de expressão dos sentimentos: todos eles... Por dentro sentimos que há borbulhas de emoções que precisam de livramento. Não temos escapatória. Por vivermos num mundo altamente veloz, nunca paramos para pensar realmente ‘quem somos nós’, na fila do banco. Nós sempre acreditamos que seriamos a ‘última bolacha do pacote’. Puro engano! Em isolamento, nós precisamos nos esforçar para reconhecer erros e defeitos. Primeiro, ignoramos essa hora. Depois, sentimos que o melhor é aceita-las. Por último, abrimos o peito para a vida. Estamos sós, por que não? O isolamento chama atenção para tudo o que não temos atenção real: nós mesmos com nossas esquisitices. Estamos traídos pelo tempo. E traídos, negamos, ignoramos, enfrentamos, nesta ordem. A aura de segurança segue sendo corroída, vazada, escorrendo. Não devemos nos privar desta hora. Nós devemos aceitar a capacidade de viver e sentir sozinhos. Nós devemos aproveitar a hora e trilhar novas maneiras de ser. É cobrir o corpo e a mente com outro véu protetor. Um véu mais poroso, com tramas fortes e multicolorido. É hora de se entregar à necessidade de ser feliz, num mundo totalmente diferente. Como? Sei lá! Se joga!

Prof.ª Ms. Claudia Nunes (12.05.20)




domingo, 10 de maio de 2020

A metáfora da bola de neve


A bola de neve começa a rolar quando um líder se dispõe a ficar vulnerável diante de seus subordinados. Uma atitude considerada corajosa pelos membros da equipe e estimula os outros a seguir o mesmo caminho. (BROWN, 2016). Não se pode ter um estilo centralizador sempre. Isso impede a criatividade e a proatividade. Hoje em dia precisamos de pessoas com iniciativa. Certa exposição de fragilidades mudam o comportamento das pessoas ao redor. Reconhecimento de erros muda a dinâmica das atitudes. Quando nós nos mostramos humanos, há uma transformação em espiral de todos mais próximos ou nem tanto. Não precisamos de ponto de força únicos, precisamos de uma árvore de contatos possíveis em cujos ramos há aberturas às inovações, curiosidades e superações diversas. Não é possível ter medo de mostrar vulnerabilidade em determinados momentos. Nós descobrimos então que aprender a se entregar ao desconforto da incerteza, do risco e da exposição emocional era, de fato, um processo doloroso, mas algo que fortalece diferentes tipos de vínculos, além de criar relações de respeito. Não falamos de amizade; falamos sobre confiança e segurança, apesar das diferenças, inclusive de pensamento. E para isso devemos entender claramente a palavra CONTROLE. Nós desejamos o controle de tudo para nos sentir confortáveis e isentos de problemas; mas a vida sempre nos apresenta a certeza de que não temos o controle de nada. Controle total é inútil e perda de energia; representa insegurança e medo; é uma falsa proteção; é uma couraça porosa e imperfeita. Em isolamento, nós reconhecemos que, ao sermos apenas humanos entre humanos, podemos receber mais apoio e amor. Haverá consequências, mas é bom, em alguns momentos, viver na corda bamba e experimentar o desequilíbrio; é bom aprender a estabelecer novos limites e a dizer “não”, mesmo quando, por exemplo, estamos com medo de deixar alguém magoado, recusamos alguns convites, ignoramos determinadas tensões (no trabalho ou em família). É a certeza que, em algumas situações, nós iremos lamentar resultados e consequências; mas, entre ter paz e ter razão, a paz é um bom remédio, amigo ou amante. E a bola de neve continua rolando carregando novas experiências, objetos e pessoas.

Prof.ª Ms. Claudia Nunes (10.05.20)

Referência:
BROWN, Brenè. A coragem de ser imperfeito: como aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem você é. Rio de Janeiro: Sextante, 2016.



sexta-feira, 8 de maio de 2020

Pensando em confiança, de novo



Na vida, tudo tem um peso. Não apenas as palavras, mas a energia das palavras tem um peso. Um peso que pesa na memória mais afetiva. É difícil pensar nisso, mas esse peso para mim se chama CONFIANÇA. É realmente difícil pensar nisso. No movimento dos dias, juntam-se muitas pessoas e experiências. Nosso organismo, por associação, vai organizando informações e decidindo: isso é importante; isso é aprendizado. Não é um simples sim ou não. É observação, desafio, interesse, pensamento e sentimento: é um esforço intenso. Sinergia de energias criando relações mais coloridas (felizes) e outras, nem tanto (só relações). E nessa sinergia, nós ajustamos os sentidos e criamos a aura da confiança. Há outros que tocam em nossos pontos agradáveis: ponto cheios de informações boas. E o liame se fortalece. Somos confiantes e criamos confianças. Confianças são como tentáculos de um polvo e estes alcançam vários objetos e pessoas, às vezes esquisitas; e, essa onda, planos, risos, planejamentos, gostos, amizades e a própria confiança. E nessa onda, nós criamos expectativas. Puft! Areia movediça pura! É nessa hora que perdemos o contato com a realidade, colocamos antolhos emocionais e... acreditamos sem imaginar que o outro não está na mesma ‘vibe’. É uma bola de neve descendo ladeira íngreme demais. Como afirma “A coragem de ser imperfeito” (ano), “assim como a confiança, a maioria das experiências de traição se acumula lentamente, com uma bolinha de gude de cada vez”. É preciso ter cuidado. “A confiança é um produto da vulnerabilidade que cresce com o tempo e exige trabalho, atenção e comprometimento total”. Total? Eis o erro mortal. Desconfiar, sim, é o coelho na cartola de quaisquer relações. No humano, em algum momento, surge o cheiro da maldade, da ‘puxada de tapete’, e do desinteresse; e ai há a fragmentação das verdades, agora, reconhecidas como cartas frágeis, utilizadas como andaime, numa construção, que ficou apenas no primeiro andar. Sendo assim,“confiança não é uma postura nobre – é uma coleção de bolinhas de gude que cresceu” e, em sua expansão, em algum momento, pode perder seu foco ou sua essência: a sinceridade. Ainda assim, desde que nascemos, nós não vivemos sozinhos; precisamos de apoio; “precisamos de pessoas que nos ajudem na tentativa de trilhar novas maneiras de ser e não nos julguem; precisamos de uma mão para nos levantar quando cairmos (e se você se entregar a uma vida corajosa, levará alguns tombos).” Então como nos precaver: vez por outra, diálogo franco, ajustes emocionais realistas e certa dose de resiliência. Ah, outra coisa: saiba viver sozinho, mesmo com gente demais à volta.

Prof.ª Ms. Claudia Nunes (08.05.20)


Phineas Gage, nós e mundos estilhaçados



De novo, relendo a história de Phineas Gage. De novo tentando entender o princípio das habilidades que nos fazem ser executivos, em um mundo em velocidade 5. De novo pensando em comportamentos disfuncionais por causa das exigências de captação rápida das habilidades que nos fazem ser executivos e que, por isso, são descartados. Por que tanta ênfase na funcionalidade do hemisfério esquerdo?
Ainda que se escrevam livros e mais livros sobre equilíbrio emocional, nossa sociedade enfatiza rotineiramente os sentidos do olhar e do ouvir, porque assim, diz, a produção é mais focada e a atenção perde a possibilidade de divisão. Que pena! Humanos só o são porque ultrapassam os limites biológicos criando um mundo surpreendente, basicamente através dos sentidos, todos eles. Humanos são curiosos, precisam das habilidades de execução de pensamentos, desejos e sentidos, em estratégias de superação de quaisquer ‘nãos’, mas também precisam dos andaimes emocionais. E mesmo assim, em isolamento social, somos surpreendidos pela importância dos ambientes, pessoas e atividades que descartamos como ‘inúteis’ em nosso dia a dia. Como assim isso existia? Como assim guardei isso? Como assim ele\ela age\pensa assim? Realmente Roberto da Mata tinha razão: a casa e a rua são diferentes em nossa sociedade.
Nosso cérebro é integrado e funciona em sinergia; mas nós selecionamos o mundo que queremos viver e acreditamos que é o ÚNICO possível. Nós criamos expectativas e caminhos em linha reta; e esperamos comboios de pessoas passivas nos seguindo. Grande erro! Quando conhecemos a história de Phineas Gage, um capataz de estrada de ferro que, por causa de uma detonação de uma carga explosiva, teve seu cérebro varado por uma vareta de ferro de mais de 30cm de comprimento e uma polegada de espessura, através de sua bochecha, por trás do olho esquerdo, através do lobo cerebral frontal e saindo pelo topo da cabeça, sobreviveu, apesar de ter mudado radicalmente sua maneira de ser (antes calmo e confiável, Phineas tornou-se ineficiente, teimoso, incapaz de cumprir um plano e propenso a gritar obscenidades); nós percebemos que, por diferentes questões, há outras dimensões de realidade. Junto com um pedaço do cérebro, um pedaço de sua mente se fora. Seus amigos diziam que ele “não era mais Gage”. Agora, outro ser se apresentava e precisava se inserir.
Nós somos pessoas cujas mentes sociais constroem um mundo particular para vivermos confortavelmente. Nele apostamos nosso corpo e a própria mente para o autodesenvolvimento e autoconfiança, além de estabelecermos metas para sonhos e conquistas. E a vida segue: isso é bom, isso não; isso serve, isso, não. Só que a vida nunca segue linearmente.
A vida é uma moça independente, brejeira e autoritária, tal e qual Capitu, ou as Moiras, que tem a roda da fortuna e nosso destino, em suas mãos. Por isso, só sabemos como realmente agiremos ou como realmente pensamos ou nos emocionamos, quando parte do mundo construído diz “não!” e senta na plateia, sem explicações, para nos ver assustados, paralisados, duvidando, negando, investindo e arriscando manter o movimento do mundo, agora, com tudo o que lhe aconteceu. É a parada obrigatória para vivermos a certeza de que tudo é uma ilusão.
Diante do que lhe aconteceu, independente de sua vontade, Phineas alterou seu comportamento, saiu dos trilhos (regras sociais), apresentou outras eficiências e, por isso, perdeu seu mundo ‘arrumadinho’. Phineas e seu mundo foram descartados. Hoje, passamos pela mesma situação. Em isolamento compulsório, nosso mundo está estilhaçado e quase sem a possibilidade de remontagem. Fomos atravessados pelo medo da morte, agora, algo muito próximo e real. E, de novo, como o Neanderthal, por necessidade, a vontade de sobreviver é nosso maior combustível. Só que agora em outro mundo; em outra dinâmica; com outros olhares e escutas; outros comportamentos e alianças; com outras presenças e recursos; e com a certeza de que ‘tudo que é sólido se desmancha [realmente] no ar’.
Em isolamento social, nós estamos fazendo parte de um novo tempo de seleção pouco natural, mas uma seleção. Que os céus nos ajudem e nos traga a bonança de tempos mais “abracentos” outra vez!

Prof.ª Ms. Claudia Nunes (06.05.20)



Mesa posta, vasilhas abertas, enfrentamentos


De acordo com Brenè Brown, em seu livro, ‘A coragem de ser imperfeito’, nós precisamos fazer algumas perguntas quando em isolamento social: “Como sei se posso confiar em alguém o bastante para ficar vulnerável?”; “Só me mostrarei vulnerável a alguém se estiver seguro de que essa pessoa não me decepcionará.”; “Como saber se alguém irá trair minha confiança?”; “Como desenvolver a confiança nas pessoas?”. Em casa, brincamos ansiosamente com algumas palavras, como: confiança, decepção, fragilidade e superação. Depois de estabelecer quais atividades realizaremos para não enlouquecer, sempre precisamos de um tempo para respirar, descansar, sentir e pensar. Ai a mente, às vezes, é carrasca. Em atividade, ela fica à espreita; mas quando nos distraímos, ela nos cobre com suas artimanhas surpreendentes. Mas às vezes, as surpresas são tóxicas. É uma traição. De novo, uma luta sinistra. Diante do véu caído, o jeito é enfrentar, catar os cacos e remontar o quebra-cabeças. O tempo precisa ser bem usado e ai brincamos de ressentir mágoas, decepções, amigos, segredos, risadas com uma intensidade que não imaginávamos ter. Em isolamento, a mesa da vida está posta e precisamos abrir seus vários potes e vasilhas para deixar fluir intransigências, orgulhos e até sonhos. Talvez os problemas emocionais relacionados ao grande período de isolamento social, se deve ao desaguamento ininterrupto de potes e vasilhas pessoais cujo fim ainda não sabemos quando será. Sem problemas, limpezas e arejamentos psíquicos são sempre interessantes, logo descubramo-nos, de um jeito ou de outro, sempre seremos diferentes.

Profª Ms Claudia Nunes (01.05.20)



Em isolamento, e a tal Liberdade?


Quando pensamos em liberdade, pensamos em uma vida livre de toda e qualquer regra. Que engano! A conquista de liberdade é algo diário cujo melhor resultado é o respeito dos outros sobre você. Liberdade exige descartes, negações, limites claros e muita responsabilidade. Em isolamento, se nós estamos sozinhos, o ideal é criar suas próprias liberdades como fazem os pinguins: uma marcha eivada de pequenas decisões, alguns cansaços gostosos e desafios fora dos costumes, mas uma marcha contínua. Liberdade, em isolamento, é envolver-se de bons pensamentos, boas posturas e boas ações que ajustem ou desbastem emoções e pensamentos. Não há total assepsia do corpo e da alma, estamos impuros demais, nossa primitividade é nosso ‘tendão de Aquiles’; mas é inevitável viver e crescer, apesar de. Liberdade é aceitar a incerteza, os riscos e certa exposição emocional; e ainda assim, acreditar que tudo vai mudar para melhor ou que os problemas não são tão grandes ao ponto de não poderem ser resolvidos. Hoje estamos em xeque-mate. A tal primitividade está em xeque-mate. Os vínculos não são os mesmos. De acordo com Brenè Brown, em seu livro, ‘A coragem de ser imperfeito’, algumas perguntas nós devemos nos fazer: 1. O que eu faço quando me sinto emocionalmente exposto? 2. Como me comporto quando me sinto muito desconfortável e inseguro? 3. Estou disposto a correr riscos emocionais? Brown refere-se ao conceito de vulnerabilidade; nós, em isolamento, nos referimos à palavra LIBERDADE e essas perguntas exigem que pensemos sobre ela, principalmente, sobre a liberdade de expressão, que não se refere apenas a fala, mas também aos comportamentos relacionados aos diferentes tipos de convivência, inclusive conosco mesmos. Liberdade como inventário da vida: como pensamos, reagimos, falamos, ouvimos, agimos até aquele momento? Oh como é estranho, duro, difícil! É uma batalha de uma pessoa real com muitas outras imaginárias; e nós nunca chegamos ao ponto de origem. Isso é importante! É só uma forma de voltar a luta com outros pontos de contato cognitivos para continuar a experiência de confiança, reciprocidade, compartilhamento, limites, relacionamento e alguns falências naturais. Humanos entre humanos depois que sairmos de casa vão precisar estar prontos para outras liberdades.

Profª Ms Claudia Nunes (01.05.20)


O que você fez com você nesse tempo em que viveu junto aos outros?


Tem horas que o isolamento, um bom café e o tempo passando nos leva a lugares interessantes na memória. Como não vamos a lugar nenhum, o melhor lugar para se ir é à memória. Que lugar! Situações, parentes, amigos, perdas, conquistas, atitudes e amores. Nossa, quanta coisa escondida em nossas memórias porque, em nosso desenvolvimento e formas de convivência, fomos levados a ter atenção a outras coisas, como as tais responsabilidades. Nem temos tempo para pensar: vale a pena? E nessas memórias, nós nos revemos e reconhecemos: nós podemos mudar com certeza. Foram muitos tropeços, falhas, falas estranhas ou nervosas, muitos estudos, jantares de família, brigas em família, distanciamento, socorros, sei lá quantas coisas mais. Interessante é saber que as memórias nunca são verídicas. Memórias são compostas por impulsos que nos atingem e se movimentam eletroquimicamente em todos os tipos de uso. Somos feitos de lembranças e esquecimentos. Quando não o fazemos há certo esgaçamento das convergências neuronais e ai não lembramos de tudo exatamente como foi ou não esquecemos corretamente. Aliás nada tem uma narrativa verídica em nossas memórias ou lembranças. E isso é bem bacana. Somos feitos de edições sem roteiro prévio. Por isso, nosso cérebro se adapta às informações que recebemos e, dependendo da intensidade e vivência destas emoções, as estruturas cerebrais se alteram e ai nós reprimimos, esquecemos, alteramos e criamos experiências misturadas ou em lugares e\ou pessoas imaginárias. É, de novo, bem bacana isso. Nós temos um órgão que nos protege, incomoda, alivia e\ou destrói, como hospedeiro. Que máquina! Nós somos participantes de um mundo cuja dinâmica nós mesmos criamos e gerenciamos, por isso nossas memórias sempre são reconectadas, revisitadas, transformadas e reconectadas ao sabor do tempo e das necessidades. E, nessa hora de isolamento, um bom café e essa onda mnemônica, nós surfamos por dentro de nós mesmos, sem vergonha, sem sustos, sem dramas, sem mentiras e sem ninguém tentando responder a seguinte pergunta: O que você fez com você nesse tempo em que viveu junto aos outros?

Profª Ms Claudia Nunes (01.05.20)


Aberturas e outras conexões


“Longe de ser um escudo eficaz, a ilusão de invulnerabilidade desencoraja a reação que teria fornecido uma proteção genuína”. Fiquei pensando nisso. Nós, humanos, precisamos manter aberturas internas para desaguar emoções que precisamos lidar sozinhos ou não. Nós precisamos parar de ter medo da exposição emocional seja ele em que tom for para tranquilizar os batimentos cardíacos e os comportamentos intranquilos. É uma forma contínua de conexão. É uma maneira de obter o reconhecimento coletivo: somos humanos; somos os chamados ‘de carne e osso’. Importante a empatia, a resiliência e a solidariedade; mas mais importante é o autoconhecimento emocional para construir auras e atitudes relacionadas a estas palavras, e seguir em frente. Quando estamos sós, pelo tempo que for, temos a oportunidade de renovar energias de proteção e nos esforçar para não perder o fio da meada da vida: é a sobrevivência sem artifícios. Nós temos que aproveitar, criar uma mesa de verdades e mentiras, impedir ilusões reconfortantes, jogar os dados da memória e enfrentar a casa sem medo de ser feliz. Difícil? Com certeza! Só que ninguém quer morrer antes do tempo e, como esse tempo da morte é desconhecido, precisamos aceitar determinadas desordenações, imprevistos, imperfeições e erros para surfar ondas maiores de paz, tranquilidade, alegria e fé, no dia seguinte. Essa é a onda perfeita! Essa é a grande coragem! Respiremos fundo, aceitemos inspirações e nos joguemos no tempo com poucos medos. A hora é essa! Ouse!

Profª Ms Claudia Nunes (31.04.20)


Vida em nudez: aproveite!


“Não adianta. Você está nua e precisa aprender a ser gente! Essa é a essência da humanidade!” Zapeando pela TV fechada eu me deparo com essa afirmação numa das minhas séries policiais preferidas. Que loucura! Realmente, hoje, “o rei está nu”. Humanos estão nus, limitados, expostos em suas emoções e, depois de mais de 40 dias de isolamento social, ainda ignorante que a vida anterior acabou. É a pior nudez. Da organização cotidiana, estamos na desorganização cotidiana e social, na esperança de que estejamos criando um mundo mais humano, empático e solidário. É a esperança de que, depois desse momento de exceção mundial, haja um mundo melhor. Você acredita? Eu não. Ainda em processo de sobrevivência, nós estamos adaptando nossa realidade ao mundo anterior. Ainda estamos agarrados à perspectiva de que, de alguma maneira, precisamos nos manter numa volúpia espiral de atividades e de estudos para não enlouquecer, perder ou morrer. Às vezes temos a sensação de que isso é a grande distração do grande medo real: medo de termos vividos uma vida em erro, dissonante e\ou frágil. Esse medo nos leva a invadir os diferentes ambientes virtuais com ‘n’ ações referentes ao tempo anterior justamente para não perdê-lo ou interrompê-lo. É também o medo da desconexão de um mundo confortável e conhecido. Difícil sair das rotinas, hábitos e\ou certezas, mesmo que já sejam enfadonhas ou tóxicas. É uma intensa luta que, ao invés de nos tranquilizar, reforça, por exemplo, a presença e o aumento das doenças psicossomáticas. Somos muito covardes! Em isolamento social, nós precisaríamos experimentar a dor da mudança, romper seu ciclo negativo em tempo mais curto possível e remodelar a nova realidade para oportunizar novo uso à imaginação, à criatividade e, principalmente, à curiosidade. A trilogia Matrix nos mostra que há sim diferentes dimensões de realidade. Ela nos convoca a tomar decisões: pílula vermelha ou azul? E, por isso, ela também nos lembra que o futuro é uma decisão que se toma no presente. Ainda que sejamos influenciados por todos que perpassam nossas diferentes fases do desenvolvimento, há uma verdade no livre arbítrio: somos possíveis. Nós temos escolhas. E, diante de uma situação de exceção, investir em nossa inteligência e sagacidade para mudar o panorama da própria realidade, é a melhor decisão a se tomar. Não podemos esperar apenas aplausos ou deboches, ambos virão; mas devemos esperar mudanças e novas oportunidades de sair do casulo e tentar realizar sonhos. Somos humanos em processo, principalmente, de adaptação, e esta vem sendo exigida há mais de 40 dias quando repentinamente, de casa, só precisamos lidar conosco e nossos pertences e descendentes. Então estamos realmente nus. É uma nudez forçada, mas uma nudez. E por isso está aberta a estação da memória afetiva em que estão contidos sonhos, desejos e fantasias que guardamos por causa da força e exigências do mundo exterior. De qualquer jeito, eu não acredito em mudanças internas muito fortes, mas posso oferecer sugestões: abra a torneira de opções emocionais e reveja necessidades, comportamentos, pensamentos, atitudes e a própria vida. Vai ser bom! Vai ser doloroso, mas vai ser bom. Vale a pena!

Profª. Ms Claudia Nunes (31.04.20)


Pensando em ATENÇÃO PLENA



Estou lendo sobre atenção plena. Reconhecidamente este conjunto de técnicas promove conexão e reconexão; novas perspectivas às vezes dando alguns passos para trás; percepção real das dificuldades internas e externas; aumento das possibilidades de escolhas; aprendizagens mais receptivas e compreensivas; um repertório estratégico mais realista e adequado; o controle natural das emoções; menos dependência da presença ou fala alheia; e, enfim, o decantado autoconhecimento.
Estou lendo sobre atenção plena e reconhecendo que equilíbrio emocional, enfrentamento cognitivo dos conflitos, compreensão e aceitação das diferenças e decisões mais inteligentes são ações e atitudes que realizamos ou tomamos todos os dias. Ou seja, aprender a ter atenção plena é estimular nossas funções executivas sempre na intenção de manter o movimento cognitivo, as diversas emoções e as capacidades de escolhas em funcionamento saudável.
Estou lendo sobre atenção plena e aprendendo que preciso aprender a cuidar de mim mesma em momentos de dificuldade e sofrimento; a me valorizar e a responder com mais sensibilidade e gentileza; a ser menos autocrítica e reconhecer o impacto disto na vida, principalmente, pós-isolamento; a me sintonizar mais com minhas experiencias de forma mais positiva; e a desenvolver minha capacidade de blindagem emocional para me dedicar a uma vida livre e tranquila (SILVERTON, 2018).
Estou lendo sobre atenção plena é tudo ainda está bem...

Profª Ms Claudia Nunes (26.04.20)

Referência:
SILVERTON, Sarah. A Revolução Mindfulness: um guia para praticar a atenção plena e se libertar da ansiedade e do estresse. 2ª ed. São Paulo: Alaúde Editora, 2018.


Quando ‘engolir sapo’ é positivo


Embora saibamos que a vida tem altos e baixos cujos tempos são indefiníveis, vivemos como só os altos fossem importantes. A parabólica quando está em baixa exige outros comportamentos, sentimentos e atitudes. E nesses aspectos, nós vamos ‘engolir sapos’ para sobreviver, conviver e se conhecer melhor. ‘Engolir sapos’ é se silenciar diante das próprias verdades por causa de alguma necessidade que não pode ser perdida. É o silencio sem prévio consentimento. É retesar ideias ou informações em nome da sanidade mental ou social ou mesmo profissional. Mas nem sempre se relaciona apenas a uma situação desagradável, as vezes relaciona-se a necessidade de dar qualidade de vida a outra pessoa cuja consciência está perdida ou confusa demais. Não é fácil lidar com a racionalidade organizada perdida. Ai ‘engolir sapo’ é atenção, paciência, aceitação, afetividade. Nós devemos pensar que o sentido de ‘engolir sapo’ e outras expressões populares dependem do ponto em que estamos na vida e que, por isso, nossas mãos estão atadas quase completamente. A questão não é ‘engolir sapos’; a questão é saber o que fazer com os sapos engolidos. Como podemos fazer essa digestão sem gerar toxinas no corpo e na mente? Não é fácil. As mudanças são muitas. Talvez possamos recuperar distrações antigas e, em alguns momentos, ‘fingir dêmencia’. Talvez devamos aceitar que perdemos a luta e procurar horas de liberdade emocional com aquelas distrações antigas. Talvez possamos acreditar que, no silencio dos próprios raciocínios, reencontremos o outro em suas dependências e possamos ajuda-lo sem julgamentos. Talvez... talvez... e muitos talvezes... E os sapos se esvaem, as mãos param de suar, a chateação encontra a esperança e seguimos em frente até onde der.

Prof.ª Ms Claudia Nunes (26.04.20)



Copo meio vazio ou copo meio cheio?


Depois de 39 dias de isolamento, qual é o nosso maior desafio? ATENÇÃO. De repente por razões alheias à nossa vontade, estamos com os sentidos desfigurados, além de extremamente atentos. Dentro de casa, nossa capacidade de perceber e sentir ‘ganha’ outras habilidades, facilidades e flexibilidades. Em quarentena, nós precisamos sobreviver porque, enfim, estamos atentos a outros pontos da própria realidade, agora, cheia de limites. De acordo com Silverton (2018, p. 12), a atenção plena tem como fundamento o “ensinamentos budistas que baseiam-se na compreensão de que todos os seres humanos experimentam o próprio mundo de certas maneiras”. E, hoje, insatisfeitos, tristes, ansiosos, amedrontados, nós estamos atravessando uma experiencia sombria de vida e precisamos “lidar com sintomas crônicos no corpo e na vida da melhor forma possível” (p. 13). Daí a melhor opção de sobrevivência são os pensamentos, as atitudes e a respiração em processo de conhecimento. Em isolamento é a hora de atenção plena mesmo! Mas o que seria isso? Primeiro é uma alternativa de vida saudável, curiosa e positiva. Segundo (e pasmem!) é algo que fazemos naturalmente desde a “infância quando estamos plenamente atentos, percebendo os detalhes das experiencias tais como são, sem julgamentos ou tentativas de muda-la imediatamente” (2018, p. 18). E, por último, a segunda opção é tudo o que desejamos retomar com a ajuda da atenção plena. Em casa, sozinhos ou acompanhados (em família), “somos treinados para analisar e dar sentido a nossas experiencias, na maior parte do tempo apenas pensando sobre elas. Não somos encorajados a brincar, a explorar ou realmente experimentar nosso mundo” (p. 18) porque já somos adultos. Por isso a atenção plena é uma maneira de reconexão, reconstrução e religamento de todas as nossas experiencias através dos sentidos para nos dar tranquilidade. É uma oportunidade de prestar atenção a nós mesmos, com mais detalhes, mesmo em situação de exceção. E como reestruturamos os sentidos, diante da ação de atenção plena, há referência direta à neuroplasticidade (capacidade de alteração do sistema nervoso a partir das informações ou dos estímulos que recebemos e evocamos diariamente). A atenção plena, então, é capaz de provocar “alterações importantes na ativação do córtex pré-frontal” (p. 22). De acordo com Silverton (2018, p. 22), muitos estudos já mostram que, no processo de ativação da atenção plena, há “ativação maior do lado esquerdo em áreas fundamentais do cérebro associadas com a regulação das emoções, sugerindo um aumento na capacidade de lidar com situações de forma mais positiva e equilibrada”. A atenção plena então tem se apresentado como meio de reencontrarmos equilíbrio e satisfação tanto para o autoconhecimento, quanto para superação dos momentos difíceis. São alterações cujas áreas cerebrais atingidas ainda estão em processo de reconhecimento e entendimento. Mas possibilidade é possibilidade; alternativa é alternativa. Não se pode negar a experiencia na\com a vida; mas é possível sabotar os momentos da\na vida, reconduzindo novas energias aos nossos pensamentos e emoções. Não somos vítimas de nada ou de ninguém; somos pessoas em desenvolvimento de nossos monstros pessoais, em quarentena e aceitando os desfios cotidianos. Questão-base: em tempos de quarentena, diante da opção atenção plena, estamos com copos meio vazios ou copos meios cheios?

Prof.ª Ms Claudia Nunes (26.04.20)

Referência:
SILVERTON, Sarah. A Revolução Mindfulness: um guia para praticar a atenção plena e se libertar da ansiedade e do estresse. 2ª ed. São Paulo: Alaúde Editora, 2018.


Vivendo em ‘modo ostra’


Num mundo confortável, nós estamos sempre prontos a nos colocar ao lado de alguém que atravessa uma grande dificuldade. As vezes até assumimos alguns desafios alheios acreditando que somos muito poderosos. Mas quando o desafio é nosso, assumimos um lado ostra. Estamos fechados. Ignoramos nossas possibilidades. Fechamos a porta de quem realmente somos. Em ostra, reconhecemos nossas fragilidades. Em ostra, não controlamos a saída de nossas fraquezas. Logo por que dividir? Difícil. A exposição é uma câmara de tortura; é um risco social; é aceitar a vida em corda bamba; e é destruir a própria imagem. Triste. Estamos hoje na ostra. E as máscaras estão desmoronando. Estamos inseguros, assustados, tensos, ansiosos, esperançosos, irritadiços, reativos, perdidos e impacientes. É muita confusão. É a tal câmara de tortura. A possibilidade da troca afetiva e o desaguamento das insatisfações estão limitados. Como encontrar coragem para viver este momento? Enfrentamento, positividade e atitude. Nunca deixaremos de acessar nosso ‘modo ostra’ quando os medos quiserem fazer morada. Nós devemos entender que ninguém vive nossa vida, que as pessoas podem nos ajudar e que tudo é uma questão de atitude, decisão e postura. Estes são outros limites para que as exposições emocionais mantenham suas características: compreensão e superação. Acredite, ‘fora da ostra’ há uma vida bem saudável e amiga.

Prof.ª Ms Claudia Nunes (26.04.20)


Pensando em reconhecimentos


Enquanto nós vivemos em isolamento, aprendemos coisas novas. Quando os sentimentos começam a nos enlouquecer, a ideia é aceitar essa ideia e ir em busca do reconhecimento do terreno. No caso, de nossa casa. Nós e a casa. Que lugar é esse? Que pessoa é essa? As palpitações são o barulho maior que escutaremos como resposta. Reconhecimento exige parar, olhar, sentir e tomar uma decisão. Difícil quando estamos no movimento produtivo ‘fora de casa’. Mas ‘dentro de casa’, o bicho pega. Não temos escapatória. Estamos e precisamos ficar sós. O reconhecimento é um novo estágio em nossa evolução e uma grande revolução emocional. Palpitações e respirações aceleradas. Hora da iniciativa. Hora de escutar o coração. Hora de se jogar nas horas. Hora de refazer caminhos e se declarar: ‘eu posso’. Não há mal que dure para sempre, pois então aproveitemos o isolamento e nos apaixonemos pela vida aprendendo coisas novas. Nós merecemos. Você merece!

Prof.ª Ms. Claudia Nunes (26.04.20)


Pensando a palavra dúvida


Quanto de dúvida nós podemos criar para não alcançar nossos sonhos? Quando sozinhos com nossas memórias, nós nos defrontamos com a falta de garantias. Isso é uma loucura! Segurança e privacidade são ilusões criadas pela sociedade para nos manter dentro de caixinhas mentais com poucas possibilidades de saídas saudáveis. Nós temos apenas como certo, a incerteza, e isto nos fragiliza e amedronta. É a dúvida. Viver é um risco incrível porque demanda múltiplos olhares antes de cada passo para que as conseqüências sejam simples, poucas e/ou sutis. Não dá para viver sem a incerteza das emoções expostas. Estas criam uma aura ilusória de conhecimento dos outros sobre nós. E nós disfarçamos criando personalidades seguras, altivas ou mesmo soberbas. É o famoso ‘nariz em pé’. É a dúvida. Somos tão bobos... Nós precisamos aprender a nos entregar com mais facilidade aos momentos, sejam eles felizes ou nem tanto. Por quê? Porque essa entrega vem acoplada com a certeza de que ‘tudo passa’. Ai está uma garantia que nos conforta, apesar de não sermos donos do tempo. É a dúvida e os sonhos. Nós devemos apenas viver e esperar. Quando os momentos são bons, nós ficamos chateados porque ele passa; mas quando estamos em momentos ruins, ficamos ansiosos para que ele passe também. No meio do caminho, estamos nós aprendendo a ‘ser gente que sente e vive’. É a dúvida formando formas de sentir, pensar e agir para em quaisquer momentos nos recuperar das alegrias e dos sustos da vida. Isto não é um aprendizado novo. A dúvida é sempre importante para travar nossa bestialidade intrínseca, diminuir nossa vontade de ser vítima e alimentar nosso lado criativo diante do que quer que seja. Não nos deixemos enganar. Sempre que a dúvida nos impedir de alcançar sonhos, devemos lembrar que tudo o que devemos fazer é dar o primeiro passo. Não desista.

Profª Ms. Claudia Nunes (25.04.20)


Pensando a palavra solidão


Em tempos de isolamento social, a solidão é parceira e precisamos oferecer um diálogo equilibrado com ela. Nós estamos de frente à questão da existência: ‘quem somos nós’; e estamos com medo da resposta. E a presença da solidão aumenta o abismo entre ‘ser’ e ‘estar’ vivo. Muitos pensamentos ruins nos atravessam. Várias emoções negativas nos acessam e incomodam. E nós nos afastamos da sobriedade e da sanidade gradativamente. É um alto custo e estamos em solidão. É nós estamos com menos sentidos e significados quanto à vida. De repente, nós vibramos energias sombrias e desconectamos da chamada ‘paz de espírito’. Não somos fortes, nem corajosos e, muito menos pacientes. Tudo o que negamos (medo, vergonha, sofrimento, tristeza, decepção, mágoa) surge como ondas tsunamis incontroláveis e nós estamos sozinhos. Pensando na vulnerabilidade de Brenè Brown, em seu livro “A coragem de ser inperfeito”, a solidão é outra emoção real presente em nossas vidas, tanto é que a ocupamos com muitos movimentos na vida cuja senha é produtividade. E a solidão, assim como a vulnerabilidade, é o momento em que nascem o amor, a aceitação, a alegria, a coragem, a empatia, a criatividade, a confiança e a autenticidade. Essa é a atitude mental que nós devemos ter diante da vulnerabilidade expressa na sensação de solidão. Como a vulnerabilidade, a solidão também poder ser incerteza, risco e exposição emocional. E o que podemos fazer? Sobreviver e criar um novo amanhecer. Não pense em romantismo barato, apenas sinta o romantismo por um prisma incrível, diferente e luminoso.

Profª Ms. Claudia Nunes (25.04.20)


Pensando a palavra vulnerabilidade


Não há porque negar: somos vulneráveis. Passamos a vida fazendo coisas, nos protegendo, negando emoções e fingindo força. Não há porque negar: somos sentimentais demais. Nós ajudamos os outros. Nós escutamos os outros. Nós nos condoemos pelos outros. Nós estamos sempre cheios de máscaras e criando blefes em torno de nossa personalidade por causa dos outros. O melhor de tudo é aparentarmos ser corajosos e fortes. Com esses adjetivos somos respeitados e admirados: autoestima e qualidade. Medo e desconforto estão resguardados / escondidos. Segundo Brenè Brown, em seu livro, ‘A coragem de ser imperfeito’, a vulnerabilidade não é algo bom nem mau: não é o que chamamos de emoção negativa e nem sempre é uma luz, uma experiência positiva. Ela é o centro de todas as emoções e sensações. Portanto, somos humanos feitos para o sentir e sentir é estar vulnerável. Não devemos abrir mão das nossas emoções, nem nos afastarmos das nossas memórias. Vulnerabilidade é uma característica humana que torna o humano bem humano e capaz de viver entre humanos sem precisar não ser um humano de verdade. Não tenhamos medo. Vamos sentir ou demonstrar o sentir para sobreviver às sombras da vida. Vamos aceitar nossas vulnerabilidades e crescer. Não é fácil e nem simples... só vale a pena...

Profª Ms. Claudia Nunes (25.04.20)

Nada nunca é igual

  Nada nunca é igual   Enquanto os dias passam, eu reflito: nada nunca é igual. Não existe repetição. Não precisa haver morte ou decepçã...