Tem horas que o isolamento, um bom café e
o tempo passando nos leva a lugares interessantes na memória. Como não vamos a
lugar nenhum, o melhor lugar para se ir é à memória. Que lugar! Situações,
parentes, amigos, perdas, conquistas, atitudes e amores. Nossa, quanta coisa
escondida em nossas memórias porque, em nosso desenvolvimento e formas de convivência,
fomos levados a ter atenção a outras coisas, como as tais responsabilidades.
Nem temos tempo para pensar: vale a pena? E nessas memórias, nós nos revemos e
reconhecemos: nós podemos mudar com certeza. Foram muitos tropeços, falhas,
falas estranhas ou nervosas, muitos estudos, jantares de família, brigas em
família, distanciamento, socorros, sei lá quantas coisas mais. Interessante é saber
que as memórias nunca são verídicas. Memórias são compostas por impulsos que
nos atingem e se movimentam eletroquimicamente em todos os tipos de uso. Somos
feitos de lembranças e esquecimentos. Quando não o fazemos há certo esgaçamento
das convergências neuronais e ai não lembramos de tudo exatamente como foi ou
não esquecemos corretamente. Aliás nada tem uma narrativa verídica em nossas
memórias ou lembranças. E isso é bem bacana. Somos feitos de edições sem
roteiro prévio. Por isso, nosso cérebro se adapta às informações que recebemos
e, dependendo da intensidade e vivência destas emoções, as estruturas cerebrais
se alteram e ai nós reprimimos, esquecemos, alteramos e criamos experiências
misturadas ou em lugares e\ou pessoas imaginárias. É, de novo, bem bacana isso.
Nós temos um órgão que nos protege, incomoda, alivia e\ou destrói, como
hospedeiro. Que máquina! Nós somos participantes de um mundo cuja dinâmica nós
mesmos criamos e gerenciamos, por isso nossas memórias sempre são reconectadas,
revisitadas, transformadas e reconectadas ao sabor do tempo e das necessidades.
E, nessa hora de isolamento, um bom café e essa onda mnemônica, nós surfamos
por dentro de nós mesmos, sem vergonha, sem sustos, sem dramas, sem mentiras e
sem ninguém tentando responder a seguinte pergunta: O que você fez com você nesse tempo em que viveu junto aos outros?
Profª
Ms Claudia Nunes (01.05.20)
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