Em quarentena, o
cérebro executivo está em alta. Quando o mundo exigiu parada quase total e nos
limitou à nossa casa, nossos cérebros foram sensibilizados a realizar
movimentos neuroplásticos (adaptativos) diversos. Nossas funções cognitivas
foram estimuladas a pensar e agir de outras maneiras porque a realidade do
movimento no mundo mudou. De repente, nós lembramos como são e quais são as
sensações quando estamos limitados / presos, independente de nossas vontades.
Desta forma, aspectos como curiosidade, criatividade e imaginação estão em
sinergia, principalmente, para fortalecer nossa inteligência. E como afirma
Kurzweil (2014), “como fenômeno mais
importante do universo, a inteligência é capaz de transcender as limitações
naturais e de transformar o mundo à sua própria imagem”.
Mas inteligência é
uma construção que depende dos tipos de estímulos e impulsos que recebemos
rotineiramente, no caso, deste momento, de nossas respirações em suspenso e de
nossas amígdalas em alerta ‘sinistro’. E a rotina constrói estilos de vida: estilos
de sentir, pensar e agir. O formato cognitivo depende, então, da aquisição e
assimilação das emoções, para que sua evocação seja pertinente e funcional. Somos
civilizados porque sabemos ser executivos-inovadores, quando em necessidade.
Neste processo, a
memória se qualifica tanto para lembrar, quanto para esquecer: princípio da
adaptação cerebral. E nossa inteligência, capacidade de pensar e superar
desafios utilizando todas as informações da memória, será nossa forma de
demonstrar que aprendemos e podemos realizar ou superar quaisquer restrições,
tanto de nossas heranças biológicas, quanto de nossas convivências ou ausências
sociais.
Hoje, lendo um
pouco de Kurzweil (2014) pensei na situação humana de ter que se reinventar
para continuar vivendo na Terra, junto e separado, por causa de um vírus,
aparentemente criado por ele mesmo, em laboratório. Não está sendo fácil!
Nossas invenções
causaram múltiplas mudanças nos estudos, nas profissões, nas artes, nas
famílias, nas formas de comunicação e de construção das relações amistosas e
amorosas. Ou seja, de novo, nossas invenções, nos deram a possibilidade de sair
de uma atuação constante e ilusória de vida para experimentarmos a experiência
inusitada de reprogramação desta mesma linha, a toque de caixa. Hoje, nós
precisamos sobreviver ao estilo McGayver: usando o que estiver em mãos e nossa
memória de trabalho, mesmo que de casa.
Estamos diante do
nosso grande medo: o improvável que chega, sem pedir licença; que assume o
comando de todo o mundo; e que exige que nós, os executivos / os racionais,
fiquemos ao largo, em casa, esperando. É a hora do controle inibitório: parar, esperar,
escutar e pensar. É a hora da flexibilidade cognitiva: parar, esperar, escutar,
pensar e DECIDIR. É a hora de deixar fluir, com estratégia, a memória de
trabalho: parar, esperar, escutar, pensar, decidir e AGIR, mesmo na incerteza e
na urgência.
Em quarentena,
esta é a corda bamba em que estamos; e cordas bambas desequilibram, mas também
exigem de nosso cérebro uma confluência atencional criando um composto
atencional profundo e concentrado, para não sucumbir. Nós não queremos cair,
não podemos cair e temos que fazer algo para não cair. Nós precisamos superar
este movimento inventando e reinventando competências e possibilidades, na
hora, agora. Nós temos que recompor nossa história num mundo baseado em
informações e, na sempre parceira evolutiva, comunicação.
Em quarentena, nós
sobrevivemos e protegemos nossa espécie; desenvolvemos redes de comunicação e
decisão (sistemas nervosos readaptados); e experimentamos o autoconhecimento e
o controle de nossa saúde mental. Mas, depois de tudo, quais comportamentos
emocionais e cognitivos permanecerão? Não sei...
Se somos capazes,
como descreve Kurzweil (2014) “de
pensamento hierárquico, de compreender uma estrutura formada por elementos
distintos e dispostos num padrão, de representar essa disposição por meio de um
símbolo e, depois, de usar esse símbolo como um elemento de uma configuração
ainda mais complexa” para nos comunicar, pensar e criar; seremos capazes de
recriar uma dimensão de realidade mais positiva, recursiva, assertiva,
estruturada, empática, solidária, enfim, humana.
Será possível?
Você acredita? Eu ainda não...
Prof.ª
Ms. Claudia Nunes (15.05.20)
Referência:
KURZWEIL, Ray. Introdução. In. Como cria
uma mente: os segredos do pensamento humano. São Paulo: Aleph, 2014.
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