sexta-feira, 22 de maio de 2020

Inteligência e cérebro executivo em alta


         Em quarentena, o cérebro executivo está em alta. Quando o mundo exigiu parada quase total e nos limitou à nossa casa, nossos cérebros foram sensibilizados a realizar movimentos neuroplásticos (adaptativos) diversos. Nossas funções cognitivas foram estimuladas a pensar e agir de outras maneiras porque a realidade do movimento no mundo mudou. De repente, nós lembramos como são e quais são as sensações quando estamos limitados / presos, independente de nossas vontades. Desta forma, aspectos como curiosidade, criatividade e imaginação estão em sinergia, principalmente, para fortalecer nossa inteligência. E como afirma Kurzweil (2014), “como fenômeno mais importante do universo, a inteligência é capaz de transcender as limitações naturais e de transformar o mundo à sua própria imagem”.
Mas inteligência é uma construção que depende dos tipos de estímulos e impulsos que recebemos rotineiramente, no caso, deste momento, de nossas respirações em suspenso e de nossas amígdalas em alerta ‘sinistro’. E a rotina constrói estilos de vida: estilos de sentir, pensar e agir. O formato cognitivo depende, então, da aquisição e assimilação das emoções, para que sua evocação seja pertinente e funcional. Somos civilizados porque sabemos ser executivos-inovadores, quando em necessidade.
Neste processo, a memória se qualifica tanto para lembrar, quanto para esquecer: princípio da adaptação cerebral. E nossa inteligência, capacidade de pensar e superar desafios utilizando todas as informações da memória, será nossa forma de demonstrar que aprendemos e podemos realizar ou superar quaisquer restrições, tanto de nossas heranças biológicas, quanto de nossas convivências ou ausências sociais.
Hoje, lendo um pouco de Kurzweil (2014) pensei na situação humana de ter que se reinventar para continuar vivendo na Terra, junto e separado, por causa de um vírus, aparentemente criado por ele mesmo, em laboratório. Não está sendo fácil!
Nossas invenções causaram múltiplas mudanças nos estudos, nas profissões, nas artes, nas famílias, nas formas de comunicação e de construção das relações amistosas e amorosas. Ou seja, de novo, nossas invenções, nos deram a possibilidade de sair de uma atuação constante e ilusória de vida para experimentarmos a experiência inusitada de reprogramação desta mesma linha, a toque de caixa. Hoje, nós precisamos sobreviver ao estilo McGayver: usando o que estiver em mãos e nossa memória de trabalho, mesmo que de casa.
Estamos diante do nosso grande medo: o improvável que chega, sem pedir licença; que assume o comando de todo o mundo; e que exige que nós, os executivos / os racionais, fiquemos ao largo, em casa, esperando. É a hora do controle inibitório: parar, esperar, escutar e pensar. É a hora da flexibilidade cognitiva: parar, esperar, escutar, pensar e DECIDIR. É a hora de deixar fluir, com estratégia, a memória de trabalho: parar, esperar, escutar, pensar, decidir e AGIR, mesmo na incerteza e na urgência.
Em quarentena, esta é a corda bamba em que estamos; e cordas bambas desequilibram, mas também exigem de nosso cérebro uma confluência atencional criando um composto atencional profundo e concentrado, para não sucumbir. Nós não queremos cair, não podemos cair e temos que fazer algo para não cair. Nós precisamos superar este movimento inventando e reinventando competências e possibilidades, na hora, agora. Nós temos que recompor nossa história num mundo baseado em informações e, na sempre parceira evolutiva, comunicação.
Em quarentena, nós sobrevivemos e protegemos nossa espécie; desenvolvemos redes de comunicação e decisão (sistemas nervosos readaptados); e experimentamos o autoconhecimento e o controle de nossa saúde mental. Mas, depois de tudo, quais comportamentos emocionais e cognitivos permanecerão? Não sei...
Se somos capazes, como descreve Kurzweil (2014) “de pensamento hierárquico, de compreender uma estrutura formada por elementos distintos e dispostos num padrão, de representar essa disposição por meio de um símbolo e, depois, de usar esse símbolo como um elemento de uma configuração ainda mais complexa” para nos comunicar, pensar e criar; seremos capazes de recriar uma dimensão de realidade mais positiva, recursiva, assertiva, estruturada, empática, solidária, enfim, humana.
Será possível? Você acredita? Eu ainda não...

Prof.ª Ms. Claudia Nunes (15.05.20)

Referência:
KURZWEIL, Ray. Introdução. In. Como cria uma mente: os segredos do pensamento humano. São Paulo: Aleph, 2014.

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