“Não adianta. Você está nua e precisa
aprender a ser gente! Essa é a essência da humanidade!” Zapeando pela TV
fechada eu me deparo com essa afirmação numa das minhas séries policiais
preferidas. Que loucura! Realmente, hoje, “o rei está nu”. Humanos estão nus,
limitados, expostos em suas emoções e, depois de mais de 40 dias de isolamento
social, ainda ignorante que a vida anterior acabou. É a pior nudez. Da
organização cotidiana, estamos na desorganização cotidiana e social, na
esperança de que estejamos criando um mundo mais humano, empático e solidário.
É a esperança de que, depois desse momento de exceção mundial, haja um mundo
melhor. Você acredita? Eu não. Ainda em processo de sobrevivência, nós estamos
adaptando nossa realidade ao mundo anterior. Ainda estamos agarrados à
perspectiva de que, de alguma maneira, precisamos nos manter numa volúpia
espiral de atividades e de estudos para não enlouquecer, perder ou morrer. Às
vezes temos a sensação de que isso é a grande distração do grande medo real:
medo de termos vividos uma vida em erro, dissonante e\ou frágil. Esse medo nos
leva a invadir os diferentes ambientes virtuais com ‘n’ ações referentes ao tempo
anterior justamente para não perdê-lo ou interrompê-lo. É também o medo da
desconexão de um mundo confortável e conhecido. Difícil sair das rotinas,
hábitos e\ou certezas, mesmo que já sejam enfadonhas ou tóxicas. É uma intensa
luta que, ao invés de nos tranquilizar, reforça, por exemplo, a presença e o
aumento das doenças psicossomáticas. Somos muito covardes! Em isolamento
social, nós precisaríamos experimentar a dor da mudança, romper seu ciclo
negativo em tempo mais curto possível e remodelar a nova realidade para
oportunizar novo uso à imaginação, à criatividade e, principalmente, à
curiosidade. A trilogia Matrix nos mostra que há sim diferentes dimensões de
realidade. Ela nos convoca a tomar decisões: pílula vermelha ou azul? E, por
isso, ela também nos lembra que o futuro é uma decisão que se toma no presente.
Ainda que sejamos influenciados por todos que perpassam nossas diferentes fases
do desenvolvimento, há uma verdade no livre arbítrio: somos possíveis. Nós
temos escolhas. E, diante de uma situação de exceção, investir em nossa
inteligência e sagacidade para mudar o panorama da própria realidade, é a
melhor decisão a se tomar. Não podemos esperar apenas aplausos ou deboches,
ambos virão; mas devemos esperar mudanças e novas oportunidades de sair do
casulo e tentar realizar sonhos. Somos humanos em processo, principalmente, de
adaptação, e esta vem sendo exigida há mais de 40 dias quando repentinamente,
de casa, só precisamos lidar conosco e nossos pertences e descendentes. Então
estamos realmente nus. É uma nudez forçada, mas uma nudez. E por isso está aberta
a estação da memória afetiva em que estão contidos sonhos, desejos e fantasias
que guardamos por causa da força e exigências do mundo exterior. De qualquer
jeito, eu não acredito em mudanças internas muito fortes, mas posso oferecer
sugestões: abra a torneira de opções emocionais e reveja necessidades,
comportamentos, pensamentos, atitudes e a própria vida. Vai ser bom! Vai ser doloroso,
mas vai ser bom. Vale a pena!
Profª.
Ms Claudia Nunes (31.04.20)
Nenhum comentário:
Postar um comentário