sexta-feira, 8 de maio de 2020

Vida em nudez: aproveite!


“Não adianta. Você está nua e precisa aprender a ser gente! Essa é a essência da humanidade!” Zapeando pela TV fechada eu me deparo com essa afirmação numa das minhas séries policiais preferidas. Que loucura! Realmente, hoje, “o rei está nu”. Humanos estão nus, limitados, expostos em suas emoções e, depois de mais de 40 dias de isolamento social, ainda ignorante que a vida anterior acabou. É a pior nudez. Da organização cotidiana, estamos na desorganização cotidiana e social, na esperança de que estejamos criando um mundo mais humano, empático e solidário. É a esperança de que, depois desse momento de exceção mundial, haja um mundo melhor. Você acredita? Eu não. Ainda em processo de sobrevivência, nós estamos adaptando nossa realidade ao mundo anterior. Ainda estamos agarrados à perspectiva de que, de alguma maneira, precisamos nos manter numa volúpia espiral de atividades e de estudos para não enlouquecer, perder ou morrer. Às vezes temos a sensação de que isso é a grande distração do grande medo real: medo de termos vividos uma vida em erro, dissonante e\ou frágil. Esse medo nos leva a invadir os diferentes ambientes virtuais com ‘n’ ações referentes ao tempo anterior justamente para não perdê-lo ou interrompê-lo. É também o medo da desconexão de um mundo confortável e conhecido. Difícil sair das rotinas, hábitos e\ou certezas, mesmo que já sejam enfadonhas ou tóxicas. É uma intensa luta que, ao invés de nos tranquilizar, reforça, por exemplo, a presença e o aumento das doenças psicossomáticas. Somos muito covardes! Em isolamento social, nós precisaríamos experimentar a dor da mudança, romper seu ciclo negativo em tempo mais curto possível e remodelar a nova realidade para oportunizar novo uso à imaginação, à criatividade e, principalmente, à curiosidade. A trilogia Matrix nos mostra que há sim diferentes dimensões de realidade. Ela nos convoca a tomar decisões: pílula vermelha ou azul? E, por isso, ela também nos lembra que o futuro é uma decisão que se toma no presente. Ainda que sejamos influenciados por todos que perpassam nossas diferentes fases do desenvolvimento, há uma verdade no livre arbítrio: somos possíveis. Nós temos escolhas. E, diante de uma situação de exceção, investir em nossa inteligência e sagacidade para mudar o panorama da própria realidade, é a melhor decisão a se tomar. Não podemos esperar apenas aplausos ou deboches, ambos virão; mas devemos esperar mudanças e novas oportunidades de sair do casulo e tentar realizar sonhos. Somos humanos em processo, principalmente, de adaptação, e esta vem sendo exigida há mais de 40 dias quando repentinamente, de casa, só precisamos lidar conosco e nossos pertences e descendentes. Então estamos realmente nus. É uma nudez forçada, mas uma nudez. E por isso está aberta a estação da memória afetiva em que estão contidos sonhos, desejos e fantasias que guardamos por causa da força e exigências do mundo exterior. De qualquer jeito, eu não acredito em mudanças internas muito fortes, mas posso oferecer sugestões: abra a torneira de opções emocionais e reveja necessidades, comportamentos, pensamentos, atitudes e a própria vida. Vai ser bom! Vai ser doloroso, mas vai ser bom. Vale a pena!

Profª. Ms Claudia Nunes (31.04.20)


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