quinta-feira, 8 de abril de 2021

Melancolia, momento de respiração profunda

Ausência de ânimo. Vontade de nada. Realidade tediosa. Uma doença emocional? Talvez... Será melancolia? Não sei... confusão... Penso em transtorno de humor e isso também me incomoda. A vida precisa de humor. A vida só tem cor quando o humor recheia nossas atitudes docemente. Melancholia, junção das palavras Melan (negro) e Cholis (bílis), sendo traduzida como “bile negra”, será? Em muitos estudos, ela é a antecessora da depressão e da distimia[1]. Segundo Freud (Luto e Melancolia, 1917), melancolia é quando uma pessoa sofre por uma perda que não consegue compreender ou identificar completamente, o que faz com que esse processo ocorra no seu inconsciente. Será que preciso ou precisarei de terapia? Sinto mais do que tristeza, sinto melancolia: é inexplicável e sem sabor ou intensidade. Pior: ela não permanece, ela me atravessa em alguns dias e deixa rastros / marcas. Nas noites, eu só sinto. Nos dias, eu penso demais. No meio de tudo, eu luto contra a melancolia. Tenho cartas na manga: melancolia é um bom disfarce para introspecção, observação e certos momentos de empatia. Puro blefe. É melancolia mesmo. É impactante e perigosa. Ela não me deixa. Hoje me sinto fragmentada, espalhada, quebrada. São pedaços em todo lugar. Perdi raízes, livros, lugar, calma. Será anedonia? Sou incapaz de encontrar prazer porque mudei de vida e de lugar? Não quero acreditar nisso. Mas é melancolia, o que sinto hoje. Só não sei se ela me representa há um ano e pouco, ou se é parte da minha essência. Estou apática, sem pensamentos claros e vazia. Hoje sou um papel em branco, esquecido dentro de uma gaveta, depois que todos se mudaram. A escuridão da resignação me preocupa. Há algo errado. E estou sem armas para criar atitudes mais expressivas. Onde ou como encontrar estratégias de superação? Em algumas leituras, autores afirmam que comida saudável, atividade física (incluindo meditação), terapias alternativas, pensamentos positivos, sono regular, desligamento eletrônico e midiático, e boas relações afetivas podem revigorar a saúde mental para o autoconhecimento, a autoestima e o prazer de viver, apesar das intempéries. Porém, por enquanto, é a melancolia, a dona do meu pedaço de tempo. Sou um copo meio vazio, em cima de uma areia movediça. Então o que fazer? Buscar uma ponte por sobre a escuridão, em um voo quase cego, acreditando na Sra. Esperança, sempre guardada. A Sra. Esperança é um bálsamo às perturbações do espírito, esvaziado pela necessidade de mudança. Ainda assim, sinto melancolia, um desequilíbrio de humores ou um sentimento dissonante nesse tempo. Quero me adaptar logo, mas hoje, o obstáculo interno é enorme: a melancolia, ou seja, aquilo que não entendo porque sinto. Terei que ter cuidado com meu fígado, centro do conhecimento desde Prometeu. Da melancolia à preguiça, nem a leitura me sustenta mais. E agora, nova mudança. Um descolamento de raízes. Um jeito diferente de viver. Um espaço novo para recomeçar. Todos animados mas ninguém me entende. Mudar é melancólico. Meu corpo vai encontrar outros caminhos, mas meu espírito não se preparou para isso. Isso não fazia parte do meu show da vida. Mudar nunca foi o sonho; logo não é uma conquista. Posso agradecer sempre, mas não me sinto bem. O momento é de empacotar a vida e sentir de novo um vazio real. Ninguém entende. Sou apegada, talvez possessiva e abertamente ciumenta; e mudar é necessitar empacotar histórias em sacos pretos ou caixas de papelão, mas só as melhores ou as úteis. Como assim? Todas as minhas histórias são MINHAS histórias e elas me construíram. Meus livros foram encaixotados e levados embora para um espaço novo. E ninguém entende ou quer saber: isso não é bom, nem motivador. Como escreveu uma amiga, eles são meu DNA e agora se escondem em lugar estranho sem saber quando ou como verão a luz da vida. Essa sou eu, a irreal, a fluida, a dramática, a melancólica. Única certeza: estarei sozinha e no silencio, nos próximos dias, sem meus alicerces e parceiros. Amanhã, eu posso experimentar: pensar positivo, aumentar o humor, aceitar o medo, definir outros objetivos, traçar planos, ter mais cuidado ou calma, saber respirar corretamente, assumir riscos, acreditar no ‘vai dar certo’ etc. Amanhã eu posso experimentar viver numa Matrix mais saudável e afetiva que todo mundo me afirma existir. Mas hoje, o tempo é de preguiça, tédio, saudade, descrença, tristeza, apatia, ou seja, MELANCOLIA.

 

Prof.ª Claudia Nunes (11.09.2020)



[1] Segundo site de Drauzio Varela, distima caracteriza um subtipo da depressão caracterizado pelo estado de desanimo, irritação, baixa autoestima, predominância de pensamentos negativos e mau humor.

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