Ausência de ânimo.
Vontade de nada. Realidade tediosa. Uma doença emocional? Talvez... Será
melancolia? Não sei... confusão... Penso em transtorno de humor e isso também
me incomoda. A vida precisa de humor. A vida só tem cor quando o humor recheia
nossas atitudes docemente. Melancholia, junção das
palavras Melan (negro) e Cholis (bílis), sendo traduzida
como “bile negra”, será? Em muitos estudos, ela é a antecessora da depressão e
da distimia[1].
Segundo Freud (Luto e Melancolia, 1917), melancolia é quando uma pessoa sofre por uma perda que não consegue compreender ou
identificar completamente, o que faz com que esse processo ocorra no seu
inconsciente. Será que preciso ou precisarei de terapia? Sinto mais do que
tristeza, sinto melancolia: é inexplicável e sem sabor ou intensidade. Pior:
ela não permanece, ela me atravessa em alguns dias e deixa rastros / marcas.
Nas noites, eu só sinto. Nos dias, eu penso demais. No meio de tudo, eu luto
contra a melancolia. Tenho cartas na manga: melancolia é um bom disfarce para introspecção,
observação e certos momentos de empatia. Puro blefe. É melancolia mesmo. É
impactante e perigosa. Ela não me deixa. Hoje me sinto fragmentada, espalhada,
quebrada. São pedaços em todo lugar. Perdi raízes, livros, lugar, calma. Será
anedonia? Sou incapaz de encontrar prazer porque mudei de vida e de lugar? Não
quero acreditar nisso. Mas é melancolia, o que sinto hoje. Só não sei se ela me
representa há um ano e pouco, ou se é parte da minha essência. Estou apática,
sem pensamentos claros e vazia. Hoje sou um papel em branco, esquecido dentro
de uma gaveta, depois que todos se mudaram. A escuridão da resignação me
preocupa. Há algo errado. E estou sem armas para criar atitudes mais
expressivas. Onde ou como encontrar estratégias de superação? Em algumas
leituras, autores afirmam que comida saudável, atividade física (incluindo
meditação), terapias alternativas, pensamentos positivos, sono regular,
desligamento eletrônico e midiático, e boas relações afetivas podem revigorar a
saúde mental para o autoconhecimento, a autoestima e o prazer de viver, apesar
das intempéries. Porém, por enquanto, é a melancolia, a dona do meu pedaço de
tempo. Sou um copo meio vazio, em cima de uma areia movediça. Então o que
fazer? Buscar uma ponte por sobre a escuridão, em um voo quase cego,
acreditando na Sra. Esperança, sempre guardada. A Sra. Esperança é um bálsamo
às perturbações do espírito, esvaziado pela necessidade de mudança. Ainda
assim, sinto melancolia, um desequilíbrio de humores ou um sentimento
dissonante nesse tempo. Quero me adaptar logo, mas hoje, o obstáculo interno é
enorme: a melancolia, ou seja, aquilo que não entendo porque sinto. Terei que ter
cuidado com meu fígado, centro do conhecimento desde Prometeu. Da melancolia à
preguiça, nem a leitura me sustenta mais. E agora, nova mudança. Um
descolamento de raízes. Um jeito diferente de viver. Um espaço novo para
recomeçar. Todos animados mas ninguém me entende. Mudar é melancólico. Meu
corpo vai encontrar outros caminhos, mas meu espírito não se preparou para
isso. Isso não fazia parte do meu show da vida. Mudar nunca foi o sonho; logo
não é uma conquista. Posso agradecer sempre, mas não me sinto bem. O momento é
de empacotar a vida e sentir de novo um vazio real. Ninguém entende. Sou
apegada, talvez possessiva e abertamente ciumenta; e mudar é necessitar
empacotar histórias em sacos pretos ou caixas de papelão, mas só as melhores ou
as úteis. Como assim? Todas as minhas histórias são MINHAS histórias e elas me
construíram. Meus livros foram encaixotados e levados embora para um espaço
novo. E ninguém entende ou quer saber: isso não é bom, nem motivador. Como
escreveu uma amiga, eles são meu DNA e agora se escondem em lugar estranho sem
saber quando ou como verão a luz da vida. Essa sou eu, a irreal, a fluida, a
dramática, a melancólica. Única certeza: estarei sozinha e no silencio, nos
próximos dias, sem meus alicerces e parceiros. Amanhã, eu posso experimentar:
pensar positivo, aumentar o humor, aceitar o medo, definir outros objetivos,
traçar planos, ter mais cuidado ou calma, saber respirar corretamente, assumir
riscos, acreditar no ‘vai dar certo’ etc. Amanhã eu posso experimentar viver
numa Matrix mais saudável e afetiva que todo mundo me afirma existir. Mas hoje,
o tempo é de preguiça, tédio, saudade, descrença, tristeza, apatia, ou seja,
MELANCOLIA.
Prof.ª
Claudia Nunes (11.09.2020)
[1] Segundo
site de Drauzio Varela, distima caracteriza um subtipo da depressão
caracterizado pelo estado de desanimo, irritação, baixa autoestima,
predominância de pensamentos negativos e mau humor.
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