Sancha vivia num
mundo escuro. Depois do isolamento, ela só fazia uma coisa: ESCREVER. Nem
sempre escrevia suas ideias. Ideias são pensamentos. E ela não queria mais
pensamentos. Nem sabia mais o que fazer com tantos. Em isolamento, ela
desaguava sentimentos. Era parte de sua vida. Era sua forma de sobreviver.
Talvez no futuro alguém a escutasse e entendesse. Hoje ela não acreditava em
mais ninguém. Escrever registrava suas impotências, fragilidades e
inseguranças. Solitária, sob o som de uma música New Age, ela ia organizando
seu mundo numa folha sem linhas. Sim! Ela escolheu escrever fora da linha.
Escrevendo desenhava suas memórias, desejos e sonhos sem pensar em linhas /
limites. Nem precisava pensar no tempo. As situações e as pessoas só lhe
atravessavam, em cada respiração e moviam suas emoções. Eternizada. Escrever é
torna-se eternizada. Escrever era um convite à saúde mental. Escrever muda a
perspectiva das decisões e da vida. Sancha se dava ao deleite de navegar dentro
de si mesma para se encontrar, juntar cacos e evoluir. Escrever é um recomeço e
um mudança de olhar interno. Não é fácil. Sancha nem sabe quem a lerá. Só que
nada a impedia de escrever, nem ela mesma. Noite adentro, sem dor, escrever
catalisava perguntas e respostas. A música ajudava. Ela a distrai do mundo e de
seus inúmeros senões para inscrever-se, naquele papel, de qualquer jeito ou em
qualquer espaço. Plenitude. Reflexões. Preocupações. Impressões. Sentimentos. A
vida moderna impedia esse desaguar sentimental, mas o isolamento é autoritário.
“Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, diria o senso comum. Escrever então
é superação, bem-viver, sintonia, iluminação. Sancha não só registrava seu
autoconhecimento, como também criava um guia de apreciação da própria vida,
mesmo dentro do caos. Isso! O caos só se torna positivo quando nos permitimos
escrever fora dos seus vazios com grandeza e humanidade. Sancha se sentia viva.
Prof.ª
Claudia Nunes (13.08.2020)
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