quinta-feira, 8 de abril de 2021

Quando o prejuízo é emocional dentro do castelo de pedra

Crescer depende das decisões que tomamos. Mas antes de tudo, crescer depende de todas as informações que acumulamos ao longo da vida para tomar as decisões que tomamos. Só que essas informações não são trabalhadas pelo nosso cérebro sem certas perdas. Há ganhos e perdas no processo de criação das memórias: ferramentas para tomar decisões. As conexões ocorrem construindo pensamentos muitas vezes incoerentes ou fragmentados. Nós queremos amor, afeto, segurança, privilégios; mas essa moldura de desejos depende de como percebemos as informações; depende de como as sentimos; e depende de como as trabalhamos internamente. A memória assim segue criando mundos imaginários tão fortes e intensos que, algumas vezes, não vemos portas melhores para fugir das toxinas sentimentais que nos surpreendem. Nós ficamos enraivecidos, invejosos, interesseiros, mascarados, intransigentes, loucos.

Os castelos são de pedras pesadas e nós as carregamos como proteção às nossas inseguranças, fragilidades e medos. Muitos medos. Dentro do castelo de pedra, somos o centro; fora dele, nem sabemos onde pisar. Castelos de pedra são territórios que estimulam ininterruptas fugas para dentro e dedos apontados para fora. E aí surgem os prejuízos emocionais. Perdemos a perspectiva do coletivo. Ignoramos os afetos sempre presentes. E desfrutamos apenas da vida fria e solitária de um castelo de pedra. Desaprendemos a olhar o mundo em 190º, pelo menos, para sobreviver. Somos extremamente umbilicais e alimentamos todas as nuances do orgulho. Uma pena!

Todos precisamos de todos. A vida é circular. Mas a vida fora do castelo é assustadora e para defende-lo muitos ataques, armas e agressões. Servir é um verbo abandonado. Empatia é um substantivo incompreensível. Que pena! “O que temos de mais íntimo somos nós mesmos” e quando esse ‘nós’ vive dentro do castelo de pedras pesadas, essa intimidade é viciante e orgulhosa. Esquecemos que, para entender o ‘nós’ mesmos, precisamos reconhecer a presença de outros. Só que dentro do castelo afirma-se apenas um lema: o ‘nós’ está protegido, por isso, sozinho, ele se sente mais forte.

É dura a revelação de que nunca fomos o centro do Universo; que nosso ‘eu superior’ é pura ilusão; que conexões em outros territórios é parte da própria sobrevivência; que tudo ao nosso redor nos estimula a ser melhor, no coletivo, e não dentro do castelo; que certos momentos nunca se traduzem em confiança ou no ‘para sempre’; e que toda mudança começa com um primeiro passo em direção ao desconhecido, mais escutando do que falando.

Realmente tudo é uma questão de escolha e saber escolher é um aprendizado de todas as experiências de vida. Se estas forem positivas, tudo é mais harmônico e acessível; mas senão, somos orgulhosos donos de um castelo de pedra sem cor, paixão ou humanidade.

 

Prof.ª Claudia Nunes (20.08.2020)

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