quinta-feira, 8 de abril de 2021

Prova social e meus pensamentos

Estou lendo trechos do livro “A arte de pensar claramente” de Rolf Dobelli e, de novo, experimentando meu autoconhecimento. Há um artigo chamado “prova social”, algo como comportar-me de modo correto quando me comporto como os outros, que achei bem interessante. Ao mesmo tempo, terminei um curso sobre “Competências profissionais, emocionais e tecnológicas em tempos de mudança”, da PUCRS e fiquei pensando na vida pré-pandemia. Tantos planos, tantas situações, tantos nãos, tantas superações, tantos desenhos e sonhos, e agora meu navio está em ‘viagem de cruzeiro’ ou ancorado no porto habitual, por causa de uma doença e uma pandemia. Será que vivemos em um realismo fantástico e nem percebemos?

Os outros não somos nós; mas nós estamos em todos. As realidades não são iguais. E o mundo foi obrigado a mudar. É o realismo fantástico mesmo! Seres humanos tão soberbos, esquecidos de sua fragilidade orgânica, estão subservientes a um vírus que segue gerando nova narrativa de vida para o mundo. Nova narrativa. Novo sonho. Outras fantasias. Vírus como vanguarda que destrona mesmices, rotinas, ‘o de sempre’, em velocidade 4. Lembro do surrealismo como perspectiva de um ambiente mais natural pós-pandemia. Algo onírico, dissociativo e exigindo outra conectividade, agora, com menos corpo, ainda que o corpo seja eternamente fundamental.

É a era das readaptações (movimento funcional e pessoal diferente) e das experimentações (movimento funcional e pessoal novo), às vezes em paisagens bizarras, extraordinárias e/ou alegóricas. Estamos em um caleidoscópico sonho de liberdade. Em ambientes analógicos não há mais espaço para pensar propostas de inovação; o vírus ceifou essa oportunidade e a sociedade foi para o digital para reencontrar saídas do labirinto do tempo com inovações ‘da hora’, como se virasse uma página do livro “Alice, no país das maravilhas”. É um movimento tenso em que muitas ideias formam um ‘balaio de gatos’, científicos ou não, à espera de um milagre.

A prova social (comportar-se como os outros) não serve mais. Segundo Dobelli (2011), ela pode paralisar culturas inteiras e desvirtuar o bom senso do grupo. Mas ainda assim, querendo o futuro e agarrados ao passado, nós desejamos prova social. Muito confortável, conhecida e simples. Por que agimos assim? Porque, em nosso passado evolucionário, esse comportamento mostrou-se uma boa estratégia de reflexão.

Pena, realmente, pensar claramente é uma loucura, no absurdo de 2020.

 

Prof.ª Claudia Nunes (29.08.2020)

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