Estou lendo
trechos do livro “A arte de pensar claramente” de Rolf Dobelli e, de novo,
experimentando meu autoconhecimento. Há um artigo chamado “prova social”, algo
como comportar-me de modo correto quando
me comporto como os outros, que achei bem interessante. Ao mesmo tempo,
terminei um curso sobre “Competências profissionais, emocionais e tecnológicas
em tempos de mudança”, da PUCRS e fiquei pensando na vida pré-pandemia. Tantos
planos, tantas situações, tantos nãos, tantas superações, tantos desenhos e
sonhos, e agora meu navio está em ‘viagem de cruzeiro’ ou ancorado no porto
habitual, por causa de uma doença e uma pandemia. Será que vivemos em um
realismo fantástico e nem percebemos?
Os outros não
somos nós; mas nós estamos em todos. As realidades não são iguais. E o mundo
foi obrigado a mudar. É o realismo fantástico mesmo! Seres humanos tão
soberbos, esquecidos de sua fragilidade orgânica, estão subservientes a um
vírus que segue gerando nova narrativa de vida para o mundo. Nova narrativa. Novo
sonho. Outras fantasias. Vírus como vanguarda que destrona mesmices, rotinas,
‘o de sempre’, em velocidade 4. Lembro do surrealismo como perspectiva de um
ambiente mais natural pós-pandemia. Algo onírico, dissociativo e exigindo outra
conectividade, agora, com menos corpo, ainda que o corpo seja eternamente
fundamental.
É a era das
readaptações (movimento funcional e pessoal diferente) e das experimentações
(movimento funcional e pessoal novo), às vezes em paisagens bizarras,
extraordinárias e/ou alegóricas. Estamos em um caleidoscópico sonho de
liberdade. Em ambientes analógicos não há mais espaço para pensar propostas de
inovação; o vírus ceifou essa oportunidade e a sociedade foi para o digital
para reencontrar saídas do labirinto do tempo com inovações ‘da hora’, como se
virasse uma página do livro “Alice, no país das maravilhas”. É um movimento
tenso em que muitas ideias formam um ‘balaio de gatos’, científicos ou não, à
espera de um milagre.
A prova social
(comportar-se como os outros) não serve mais. Segundo Dobelli (2011), ela pode paralisar culturas inteiras e
desvirtuar o bom senso do grupo. Mas ainda assim, querendo o futuro e
agarrados ao passado, nós desejamos prova social. Muito confortável, conhecida
e simples. Por que agimos assim? Porque, em
nosso passado evolucionário, esse comportamento mostrou-se uma boa estratégia
de reflexão.
Pena, realmente,
pensar claramente é uma loucura, no absurdo de 2020.
Prof.ª
Claudia Nunes (29.08.2020)
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