Somos seres
interconectados e interligados com tudo o que lembramos ou esquecemos. Por isso
não há futuro, há o agora. E, no agora, vez por outra, nós devemos observar
quem somos para diferenciar quem são ou podem ser, os outros. Diante de tantos
problemas, Sancha precisava enxergar melhor a realidade que lhe foi imposta.
Seu caminho fora interrompido pela vida realmente adulta. As combinações de
antes não se encaixavam mais. O quebra-cabeças do seu cotidiano tinha 10 mil
peças muito diferentes e, mesmo assim, ela tinha que juntá-las gradativamente.
Assustador. Transformador. No lixo do ontem, rotinas, hábitos, prazeres, tudo
que a fazia ser quem era. Sancha só lembrava da descida da Serra de
Teresópolis, de carro, em tempo nublado: tenso, estressante, cego, mas algo
necessário para voltar para casa. Ela precisava voltar para casa, acalmar os
ânimos, tirar o sol da cara, diminuir o barulho do mundo, dar voz aos seus
pensamentos e enxergar melhor quem realmente era. “Temos que ver a realidade [como ela se apresenta]. Há coisas certas e
coisas injustas. E, em vez de [se] irritar com as coisas incorretas e injustas,
[precisamos] tomar ações e atitudes que possam [nos] levar a um caminho de
mudança” (Monja Cohen). O que fazer então? Ir em frente, do jeito que for.
Ir em frente, seja com que for. Aceitar a perda dos esconderijos e tentar
remontar o cotidiano, criativamente. Reinventar não é a palavra da hora. Sancha
sabia que reinventar ignorava várias experiências; parecia uma tentativa de se
ignorar uma vida inteira de aprendizado; ela gostava de REAJUSTAR ou RECOMPOR.
Aos 55 anos, Sancha era a soma de todas as experiências vividas; ela era uma
peça que sempre precisaria de recauchutagens para voltar a sorrir e se
relacionar; ela era um organismo em constante recomposição, de tudo com tudo
amealhado na vida. Em cada recauchutagem, limpezas eram necessárias, afinal ela
se desenvolvia e amadurecia, em uma engrenagem plástica e movente. Não
adiantava reclamar. Mesmo sem querer, mudanças precisavam ser vividas/ enfrentadas
com todas as armas possíveis e impossíveis. Sancha recompunha-se por dentro de
suas memórias e sonhos. Esse era seu segredo maior. Em isolamento, Sancha não
era um ser especial; era apenas uma pessoa cuja vida foi surrada, com
tristezas, ansiedades, medos e aflições; mas que sabia muito bem se refugiar em
sua enorme autoestima para se libertar rapidamente e recondicionar o tecido da
vida, com suas melhores recompensas. Para o alto e avante!
Prof.ª
Claudia Nunes (14.08.2020)
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