quinta-feira, 8 de abril de 2021

SANCHA – Isolamento: início das recompensas

Somos seres interconectados e interligados com tudo o que lembramos ou esquecemos. Por isso não há futuro, há o agora. E, no agora, vez por outra, nós devemos observar quem somos para diferenciar quem são ou podem ser, os outros. Diante de tantos problemas, Sancha precisava enxergar melhor a realidade que lhe foi imposta. Seu caminho fora interrompido pela vida realmente adulta. As combinações de antes não se encaixavam mais. O quebra-cabeças do seu cotidiano tinha 10 mil peças muito diferentes e, mesmo assim, ela tinha que juntá-las gradativamente. Assustador. Transformador. No lixo do ontem, rotinas, hábitos, prazeres, tudo que a fazia ser quem era. Sancha só lembrava da descida da Serra de Teresópolis, de carro, em tempo nublado: tenso, estressante, cego, mas algo necessário para voltar para casa. Ela precisava voltar para casa, acalmar os ânimos, tirar o sol da cara, diminuir o barulho do mundo, dar voz aos seus pensamentos e enxergar melhor quem realmente era. “Temos que ver a realidade [como ela se apresenta]. Há coisas certas e coisas injustas. E, em vez de [se] irritar com as coisas incorretas e injustas, [precisamos] tomar ações e atitudes que possam [nos] levar a um caminho de mudança” (Monja Cohen). O que fazer então? Ir em frente, do jeito que for. Ir em frente, seja com que for. Aceitar a perda dos esconderijos e tentar remontar o cotidiano, criativamente. Reinventar não é a palavra da hora. Sancha sabia que reinventar ignorava várias experiências; parecia uma tentativa de se ignorar uma vida inteira de aprendizado; ela gostava de REAJUSTAR ou RECOMPOR. Aos 55 anos, Sancha era a soma de todas as experiências vividas; ela era uma peça que sempre precisaria de recauchutagens para voltar a sorrir e se relacionar; ela era um organismo em constante recomposição, de tudo com tudo amealhado na vida. Em cada recauchutagem, limpezas eram necessárias, afinal ela se desenvolvia e amadurecia, em uma engrenagem plástica e movente. Não adiantava reclamar. Mesmo sem querer, mudanças precisavam ser vividas/ enfrentadas com todas as armas possíveis e impossíveis. Sancha recompunha-se por dentro de suas memórias e sonhos. Esse era seu segredo maior. Em isolamento, Sancha não era um ser especial; era apenas uma pessoa cuja vida foi surrada, com tristezas, ansiedades, medos e aflições; mas que sabia muito bem se refugiar em sua enorme autoestima para se libertar rapidamente e recondicionar o tecido da vida, com suas melhores recompensas. Para o alto e avante!

 

Prof.ª Claudia Nunes (14.08.2020)

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