Um abrigo. Um
jeito de se defender. Uma opção para que encontrar um novo ponto de contato
consigo mesma. Quando a vida perde a clareza, ter um abrigo é esperançar
renascer. Sancha sabia disso. Sancha tinha medo. E sozinha, em seu abrigo
mental, ela procurava se reconquistar. Seu abrigo tinha experiências estranhas,
doloridas, ridículas, fantasiosas, fantásticas, inocentes, familiares, coloridas,
emocionantes, risonhas e silenciosas. Era um abrigo com mais janelas do que
portas. Era um abrigo com janelas amplas e portas, um pouco estreitas. Sancha
gostava de sentir o ar e sorria com o coração apertado. Um abrigo. Um jeito de
se defender. Seu abrigo tinha uma aura que protegia seus sagrados e profanos.
Mestra e discípula em seu próprio abrigo. Sancha só precisava reaprender a
despertar para voltar à realidade. O abrigo é confortável, mas a vida sempre
acontece no ‘fora’. É o chamado da Natureza, mesmo em tempos de caos e isolamento.
Ela estava envolvida por sua mentalidade, cheia de vieses desconfiáveis e
duvidosos, pelo tempo de imersão no social. Por isso, abrigar-se foi essencial.
Liberdade. Conhecimento. Descartes. Sofrimento. Reencontro. Autoconhecimento.
Vontade. Ilusão. Tensão. Tudo estava no abrigo, esperando ajustes ou mesmo, o
lixo. No abrigo, um momento para cuidar de si mesma. “Tudo é a nossa própria vida e por isso devemos cuidar dela” (Monja
Cohen). Só que cuidar é lá fora. O tempo do abrigo tem limites. Hora de ir para
fora. Caminhar. Respirar. Acreditar. Compreender. Fazer. Ser melhor do que
antes. Esse era o ‘fora’ que seu corpo precisava para viver mais e de outra
forma. Na luz do dia, Sancha tomou um bom banho e, sorridente, abandonou seu
‘eu menor’ para sempre.
Prof.ª
Claudia Nunes (13.08.2020)
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