Enfim estou lendo Stephen King como na
adolescência. Ele é muito inteligente. Momento de terror na real e na ficção.
Penso que estou em espelhamento total e não me incomodo. Deixo rolar. Há um
monstro, em nossa cidade (It, a coisa), libertando vários monstros internos de
mim e do mundo. E, em isolamento, não há jeito: ou nos assumimos, ou entramos
em uma neurose das boas. O ‘fora’ não é mais um esconderijo perfeito. O livro A
Peste de Camus é a realidade; mas Carrie, a estranha, é nosso alerta; O
Iluminado, nosso medo; e Um sonho de liberdade, nossa esperança. Incrível!
Enfim estou lendo Stephen King como na adolescência para entender o poder da
(minha) escrita. Por isso me tornei professora de Literatura. Stephen King,
Agatha Christie, Malba Tahan, Irving Wallace, Machado de Assis e Clarice
Lispector assumiram minha mente e me colocaram uma duvida: como escreviam bem?
Ou, como escrever daquele jeito? Ou mesmo, como é bom escrever enredos com
múltiplos personagens? Enfim, como eles conseguiam? Em tempos de isolamento
social, a escrita me salva de emoções intensas e, às vezes, estarrecedoras. É
labuta. É todo dia. É vertiginoso. Como King afirma “a vida não é um suporte à
arte. É exatamente o contrário”. Escrever me diverte, me fortalece, me
distancia, me faz pensar melhor, me deságua, me assusta. Hoje, navegando pela
Internet, eu me deparei com vários conselhos de King para que possamos entender
(e praticar) a arte da escrita. Alguns conselhos são possíveis para os
esforçados; para outros é necessário talento real quanto à dinâmica da escrita.
Li todos os 33 conselhos, pensei em mim, no meu momento, e, adaptados, resolvi
reescrevê-los:
ð
Toda
história ou texto é do mundo, logo escreva para quem quiser ler.
ð
Não
há necessidade de silêncio absoluto: ele pode ser inspirador. Aproveite!
ð
Não
tenha medo do brainstorm, mas de sua
exposição sem revisão.
ð
Defina-se
entre dois ou três gêneros literários e escreva.
ð
Vez
por outra, escolha alguém para ler e comentar.
ð
Não
seja orgulhoso, há textos bons e outros nem tanto.
ð
Diante
de um insight ou de uma vivência, escreva (anote).
ð
No
mundo há muitos personagens, busque e escreva.
ð
Em
revisão, elimine excessos de subordinadas e advérbios.
ð
Saiba
bem o que seja coesão e coerência na construção de cada parágrafo.
ð
Equilibre
o uso de descrição e dissertação: um será naturalista e barroco demais; outro,
muito psicológico e filosófico.
ð
Sempre
há o que rever porque sempre somos diferentes em cada dia. Respeite seu leitor
e atualize a história sempre que possível.
ð
Ande
sempre com um caderno de notas porque a realidade é fonte inesgotável de
narrativas / de enredos. Seja um arqueólogo.
ð
Revisões
são boas para cortar os excessos e dar velocidade ao texto ou aos personagens:
dê ritmo.
ð
Assuma
seu texto, elimine a voz passiva: ‘a reunião é às sete horas’; e não, ‘a
reunião acontecerá às sete horas’.
ð
Entenda
a nem sempre a linguagem da narrativa precisa ser engessada: aproveita a
linguagem poética.
ð
Aprenda
que a história é sua enquanto você escreve; na revisão,a história será
modificada para viver no mundo;
ð
Sabia
que para criar um ‘pano de fundo’, você precisa de muita leitura para redefinir
o processo de escrita enquanto ela acontece.
ð
Leia
sempre e em qualquer lugar: você quer ser escritor.
ð
Quando
o leitor está atento à história, há um ritmo vertiginoso na trama narrativa,
logo perceba que a história afetaria seu público.
ð
Dialogue
com outros escritores. Pesquise várias histórias. Olha o ‘pano de fundo’ ai +
contexto.
ð
a
situação vem primeiro. Os personagens, sempre rasos e sem características, no
início, vêm depois. Faça rascunho da psicologia e relação entre personagens.
ð
Experimentar
não travar sua inspiração; mas trabalhe muito entorno dela depois.
ð
Inspire-se;
nunca imite: seu texto se tornará pálido; será sem sentimento e autoria.
ð
O parágrafo de
uma única frase lembra mais a fala que a escrita, e isso é bom. Escrever é
seduzir.
Deixa fluir.
ð
A primeira
versão de um livro – mesmo um livro longo – não deve demorar mais de três meses
para ser escrita, que é a duração de uma estação do ano; portanto, tire
um tempo real para escrever.
ð
Em
cada versão do seu livro, você perceberá uma diferença. Não se preocupe,
aceite. É sempre mais fácil frustrar os
desejos de outra pessoa do que os seus próprios.
ð
Quando
a história surgir em sua mente, aceite e escreva. É labuta sim; mas nunca algo
pragmático. A boa ficção sempre começa
com a história e progride até chegar ao tema.
Profª
MSc Claudia Nunes (07.04.20)
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