sexta-feira, 3 de abril de 2020

Escutar sem Julgar...



Escutar sem julgar, eis o drama da humanidade. Percepção do mundo de um jeito novo, eis a razão da experiência. Aprendizagem relacional significativa para encarar problemas como desafios solúveis, eis a nova ordem mundial. Como fazemos isso? Como passamos por isso? Idéia: nós precisamos recuperar o poder da escuta. Nós precisamos fortalecer nossa capacidade de nos conectar com a empatia dos outros e elaborar outros comportamentos mais positivos e respeitosos, de acordo com o livro ‘Comunicação não violenta’ (2006).
É interessante pensar nisso nestes tempos de isolamento social. É um tempo de limitação clássica em que perdemos o poder de ir e vir independente de nossa vontade. É o tempo do medo do elemento biológico que nos mata sufocados e, assustadoramente, rápido. É o tempo das emoções mais conturbadas porque, diante do espelho, nós temos que reconhecer vulnerabilidades e fraquezas, sem restrições.
Em casa, por dias, as pessoas se perdem em seus sonhos, atitudes e necessidades porque ainda vivem o ‘fora de casa’ em suas neuroconexões e motricidades; e porque reagem ao que lhes aconteceu como culpa, ao invés de escutarem suas possibilidades de SER como liberdade. Além disso, em muitos casos, há pessoas demais dentro de casa, algo que dificulta o processo de escuta sem julgamento e desrespeita diferenças de atitude e preenchimento do espaço.
Escutar com julgamento é atitude fácil, cômoda, segura. Escutar sem julgar é ação estressante, insegura, libertadora. Pensemos: casa, nosso lugar; parentes, nossas pessoas; e mesmo assim nossas emoções não encontram equilíbrio rápido para convivermos com qualidade. E, em isolamento, nós questionamos a nós mesmos; ficamos desmembrados de certezas; e lutamos para sobreviver dentro de casa.
Escutar sem julgar é lutar numa selva de vaidades e hábitos. A questão maior então é o trabalho que dá mudar comportamentos depois de ter travada a vida e a manutenção da experiência de ‘ser gente’ fora de casa.
Escutar sem julgar é mudar sentimentos num movimento parabólico e eletrizante. Logo, hoje em dia, nós precisamos ensinar operações mentais em sequência: ouvir, pensar, agir com equilíbrio e positividade, já que escutar sem julgar é ouvir necessidades para entender comportamentos (CNV, 2006). É uma experiência que constrói confianças e diminui vulnerabilidades emocionais.
Escutar sem julgar é retroalimentar o respeito ao outro e fazê-lo experimentar o reconhecimento das próprias necessidades e pontos de atenção. Então, diante da empatia, o que se tem é honestidade emocional na relação com o outro. É a quebra de padrões esperados e o reconhecimento da necessidade alheia de se expressar, mesmo agressivamente. Logo, é preciso preparação pessoal para escutar sem julgar e intenção estratégica de continuar convivendo em paz.
Escutar sem julgar precisa de tempo, esforço e disponibilidade; é promover argumentações (diálogos) internas e externas, basicamente, para lidar com os desequilíbrios alheios; e é uma questão de prática cotidiana.
Talvez devamos parar para dar atenção aos desafios que lidamos, às situações que passamos e às pessoas com quem nos relacionamos, porque a relação empática precisa de várias garantias, algo que fortaleça e proteja as conexões desejadas e/ou estabelecidas.
Todo ser humano convive positivamente quanto tem segurança para se relacionar, já que é defensivo, frágil, inseguro, duvidoso. “Quanto mais nos conectamos com os sentimentos e necessidades por trás das palavras das outras pessoas, menos assustador se torna nos abrirmos para elas” (CNV, 2006).

Profª MSc Claudia Nunes (03.04.20)

Referência:
ROSENBERG, Marshall B. O Poder da Empatia. In. Comunicação Não Violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Ágora, 2006, p. 199-214. [texto em PDF].

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