sexta-feira, 3 de abril de 2020

TEMPO do TÉDIO


Em tempo de isolamento social, algumas sensações ascendem e nos surpreendem: marasmo, desânimo, sensação de vazio, desinteresse, tristeza. Sensações que podem nos levar a atitudes antissociais sérias ainda que juntos em casa. Hoje eu me senti assim.
Sei que o período de recolhimento nos envolve em múltiplas emoções como se estivéssemos brincando em uma gangorra mais veloz do que o normal e, normalmente, nunca são emoções boas. É difícil ser inteligente e criar controles mentais adequados ao momento, mesmo que saibamos ser esta a melhor atitude para sobreviver a um inimigo invisível criado por nós mesmos. É uma sensação de apatia estranha pela limitação do movimento e da interação; além da presente (e crescente) sensação de medo, afinal “como será o amanhã?” nunca foi uma questão tão atual.
Quando eu escapo um pouco dessa ‘neura’, estudo aspectos da neurociência (sempre uma surpresa para mim ainda) e penso o seguinte: talvez o sistema límbico, área do cérebro também responsável pela sensação de recompensa, esteja pressionado demais e os processos conectivos (e de adaptação) entre grupos de neurônios não estejam com a neuroquímica adequada para a vivência da rotina de um isolamento compulsório. Dopamina, serotonina e noradrenalina, por exemplo, como diriam meus adolescentes, precisam de ‘uma força’ extra para estabelecerem o prazer e, com isso, estimularem comportamentos emocionais, cognitivos e físicos mais positivos. Será? Eu não sei... Eu estou me deixando levar ‘a La Zeca pagodinho’.
Este também é um tempo do autoconhecimento. A expansão das experiências dos encontros e dos contatos está controlada. A vida deve continuar a partir de casa e das telas digitais de algum jeito. Os níveis de gratificação individuais estão aquartelados. Quanto tempo durará? Não sei... Seria essa a sensação de um princípio de abstinência? Não sei... Só sei que hoje o tempo me acordou sem cor ou vibração. Da cama, eu respirei profundamente criando coragem para levantar sem saber para que. Ou seja, para além do sistema límbico, há um córtex pré-frontal desobediente e funções executivas em expectativa.
Não aceito vitimizações, mas não sinto qualquer atitude física ou mental. Lógico que, para não ser dominada por emoções tóxicas intensas, eu devo decidir rápido; devo remodelar meu circuito neuroquímico e acreditar que estou no tempo dos DESAFIOS; nunca de PROBLEMAS. A idéia então é romper esse circo vicioso e ser criativa, mais do que social. Engraçado que a força do tédio parece relacionar-se com a falta de noção de ‘quanto tempo’ isso durará. De novo, é o medo que alerta minhas amígdalas cerebrais para viver a sociedade do espetáculo. Então o que me resta é recuperar minha essência e criar jeitos de me distrair desse tédio com remédios básicos: estimulantes motivacionais.
Levantei, tomei café e resolvi arrumar meus livros do quarto, amigos das horas mais incertas ou insanas.
Tédio? Só amanha...

Profª MSc. Claudia Nunes (24.03.20)


Nenhum comentário:

Nada nunca é igual

  Nada nunca é igual   Enquanto os dias passam, eu reflito: nada nunca é igual. Não existe repetição. Não precisa haver morte ou decepçã...