Em tempo de isolamento social, algumas
sensações ascendem e nos surpreendem: marasmo, desânimo, sensação de vazio,
desinteresse, tristeza. Sensações que podem nos levar a atitudes antissociais sérias
ainda que juntos em casa. Hoje eu me senti assim.
Sei que o período de recolhimento nos
envolve em múltiplas emoções como se estivéssemos brincando em uma gangorra
mais veloz do que o normal e, normalmente, nunca são emoções boas. É difícil
ser inteligente e criar controles mentais adequados ao momento, mesmo que
saibamos ser esta a melhor atitude para sobreviver a um inimigo invisível
criado por nós mesmos. É uma sensação de apatia estranha pela limitação do
movimento e da interação; além da presente (e crescente) sensação de medo,
afinal “como será o amanhã?” nunca foi uma questão tão atual.
Quando eu escapo um pouco dessa ‘neura’,
estudo aspectos da neurociência (sempre uma surpresa para mim ainda) e penso o
seguinte: talvez o sistema límbico, área do cérebro também responsável pela
sensação de recompensa, esteja pressionado demais e os processos conectivos (e
de adaptação) entre grupos de neurônios não estejam com a neuroquímica adequada
para a vivência da rotina de um isolamento compulsório. Dopamina, serotonina e
noradrenalina, por exemplo, como diriam meus adolescentes, precisam de ‘uma
força’ extra para estabelecerem o prazer e, com isso, estimularem
comportamentos emocionais, cognitivos e físicos mais positivos. Será? Eu não
sei... Eu estou me deixando levar ‘a La Zeca pagodinho’.
Este também é um tempo do autoconhecimento. A
expansão das experiências dos encontros e dos contatos está controlada. A vida
deve continuar a partir de casa e das telas digitais de algum jeito. Os níveis
de gratificação individuais estão aquartelados. Quanto tempo durará? Não sei...
Seria essa a sensação de um princípio de abstinência? Não sei... Só sei que
hoje o tempo me acordou sem cor ou vibração. Da cama, eu respirei profundamente
criando coragem para levantar sem saber para que. Ou seja, para além do sistema
límbico, há um córtex pré-frontal desobediente e funções executivas em
expectativa.
Não aceito vitimizações, mas não sinto qualquer
atitude física ou mental. Lógico que, para não ser dominada por emoções tóxicas
intensas, eu devo decidir rápido; devo remodelar meu circuito neuroquímico e
acreditar que estou no tempo dos DESAFIOS; nunca de PROBLEMAS. A idéia então é
romper esse circo vicioso e ser criativa, mais do que social. Engraçado que a
força do tédio parece relacionar-se com a falta de noção de ‘quanto tempo’ isso
durará. De novo, é o medo que alerta minhas amígdalas cerebrais para viver a
sociedade do espetáculo. Então o que me resta é recuperar minha essência e
criar jeitos de me distrair desse tédio com remédios básicos: estimulantes
motivacionais.
Levantei, tomei café e resolvi arrumar meus
livros do quarto, amigos das horas mais incertas ou insanas.
Tédio? Só amanha...
Profª MSc. Claudia Nunes
(24.03.20)
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