Em tempos de
isolamento social e de processos de aprendizagem mantidos pelo ensino a distância,
por uma questão de urgência de saúde pública, manter as rotinas cognitivas
tanto do professor, quanto do aluno, é um jogo de xadrez cujo xeque-mate não
existe. Por questões de saúde pública, houve um rompimento do molde de ensino presencial,
nas escolas públicas, para o surgimento de uma novidade: o ensino a distância
no Ensino Médio.
Professores e
aprendentes estão com seu software cognitivo rodando de forma diferente e em
outra velocidade, pois seus dados sensoriais sobre o tempo e a profissão estão
sendo afetados por informações de outro tom, volume e consistência. Informações
que precisam ser continuadas e gerenciadas a distância. Neste aspecto, abre-se também
a possibilidade de os professores estimularem outras versões de si mesmos como
profissionais de ensino. É outra sala de aula, em outro ambiente e a distância.
Segundo Eagleman
e Brandt (2020), o software mental, reconfigurado e reposicionado, dá origem ao
amanhã. Ou seja, os professores estão em expectativa, se repensando e
inaugurando um novo tempo educacional, apesar dos diferentes medos.
Em tempos de
isolamento, nós, professores estamos ‘sofrendo’ “ajustes evolutivos nos algoritmos que rodam no cérebro humano”
(2020, p.15), o que nos permite criar versões alternativas do que seja sala de
aula. Base desse movimento: mais disponibilidade e quebra de padrões, o que nos
leva à “inventividade irreprimível da
espécie” e da formação docente para o futuro. E “só uma coisa nos permite enfrentar essas mudanças cada vez mais
aceleradas: a flexibilidade cognitiva”
(p.16). Ou seja, “se queremos um futuro
brilhante para nossos filhos, precisamos recalibrar nossas prioridades” (p.
16). E a opção, mesmo de forma atabalhoada, do ensino à distância, como
possibilidade de manutenção das aprendizagens dos adolescentes, torna-se um
meio para que repensemos padrões de ensino, de expectativa, de prioridade, de
disponibilidade, de conhecimento e da formação.
Estamos em
xeque-mate educacional. Quando olhamos de esguelha por outras portas
cognitivas, aprendidas na formação profissional, nós nos deparamos certas
ilusões pedagógicas, principalmente quanto ao ensino do aprendente ideal; mas
hoje, reconhecendo a presença útil de outras metodologias de ensino, nós nos
deparamos com outros manuais de vida e também com nossas fragilidades
relacionadas às rotinas de comportamentos emocionais e cognitivos. Há realmente
algo além dos conteúdos.
Esse xeque-mate,
cuja senha é a urgência, nos leva a efetivar o entendimento de um tempo com
outras habilidades prementes de estímulos variados, cheio de recursos possíveis
para além do que aprendemos na formação, cujos contextos interferem nos
processos de aprendizagem e que, ainda assim, exigem, as vezes de forma
inconsciente, formação continuada de professores e aprendentes.
Neste ponto,
duas habilidades são ilustrativas: a
curiosidade e a criatividade. Ao imergirmos no mundo do ensino a distância,
depois de passado o medo e a negação sobre o ambiente e nossas possíveis performances,
estas habilidades devem ser o foco das alternativas pedagógicas de qualidade. São
habilidades que também interagem com objetos, família, comunidade, sociedades,
histórias, pensamentos etc.
Hoje é tempo de
uma arqueologia do saber, em ambientes híbridos, muito pós-modernos e
surrealistas, para se dar continuidade aos aprendizados.
Aproveitem
professores! Não sabemos mesmo “como será o amanhã”, mas todas as descobertas de
agora repercutirão como oportunidades de percebermos (e agimos) a educação e o
ensino a distância, dentro de outros parâmetros, respeitando, principalmente, e
com real efeito, como o aprendente aprende.
Profª
MSc Claudia Nunes (16.04.20)
Referência:
EAGLEMAN, David e BRANDT, Anthony. Como
o cérebro cria: o poder da criatividade humana para transformar o mundo. Rio de
janeiro: Intrínseca, 2020.
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