domingo, 19 de abril de 2020

Houston, temos um problema!


Em tempos de isolamento social e de processos de aprendizagem mantidos pelo ensino a distância, por uma questão de urgência de saúde pública, manter as rotinas cognitivas tanto do professor, quanto do aluno, é um jogo de xadrez cujo xeque-mate não existe. Por questões de saúde pública, houve um rompimento do molde de ensino presencial, nas escolas públicas, para o surgimento de uma novidade: o ensino a distância no Ensino Médio.
Professores e aprendentes estão com seu software cognitivo rodando de forma diferente e em outra velocidade, pois seus dados sensoriais sobre o tempo e a profissão estão sendo afetados por informações de outro tom, volume e consistência. Informações que precisam ser continuadas e gerenciadas a distância. Neste aspecto, abre-se também a possibilidade de os professores estimularem outras versões de si mesmos como profissionais de ensino. É outra sala de aula, em outro ambiente e a distância.
Segundo Eagleman e Brandt (2020), o software mental, reconfigurado e reposicionado, dá origem ao amanhã. Ou seja, os professores estão em expectativa, se repensando e inaugurando um novo tempo educacional, apesar dos diferentes medos.
Em tempos de isolamento, nós, professores estamos ‘sofrendo’ “ajustes evolutivos nos algoritmos que rodam no cérebro humano” (2020, p.15), o que nos permite criar versões alternativas do que seja sala de aula. Base desse movimento: mais disponibilidade e quebra de padrões, o que nos leva à “inventividade irreprimível da espécie” e da formação docente para o futuro. E “só uma coisa nos permite enfrentar essas mudanças cada vez mais aceleradas: a flexibilidade cognitiva (p.16). Ou seja, “se queremos um futuro brilhante para nossos filhos, precisamos recalibrar nossas prioridades” (p. 16). E a opção, mesmo de forma atabalhoada, do ensino à distância, como possibilidade de manutenção das aprendizagens dos adolescentes, torna-se um meio para que repensemos padrões de ensino, de expectativa, de prioridade, de disponibilidade, de conhecimento e da formação.
Estamos em xeque-mate educacional. Quando olhamos de esguelha por outras portas cognitivas, aprendidas na formação profissional, nós nos deparamos certas ilusões pedagógicas, principalmente quanto ao ensino do aprendente ideal; mas hoje, reconhecendo a presença útil de outras metodologias de ensino, nós nos deparamos com outros manuais de vida e também com nossas fragilidades relacionadas às rotinas de comportamentos emocionais e cognitivos. Há realmente algo além dos conteúdos.
Esse xeque-mate, cuja senha é a urgência, nos leva a efetivar o entendimento de um tempo com outras habilidades prementes de estímulos variados, cheio de recursos possíveis para além do que aprendemos na formação, cujos contextos interferem nos processos de aprendizagem e que, ainda assim, exigem, as vezes de forma inconsciente, formação continuada de professores e aprendentes.
Neste ponto, duas habilidades são ilustrativas: a curiosidade e a criatividade. Ao imergirmos no mundo do ensino a distância, depois de passado o medo e a negação sobre o ambiente e nossas possíveis performances, estas habilidades devem ser o foco das alternativas pedagógicas de qualidade. São habilidades que também interagem com objetos, família, comunidade, sociedades, histórias, pensamentos etc.
Hoje é tempo de uma arqueologia do saber, em ambientes híbridos, muito pós-modernos e surrealistas, para se dar continuidade aos aprendizados.
Aproveitem professores! Não sabemos mesmo “como será o amanhã”, mas todas as descobertas de agora repercutirão como oportunidades de percebermos (e agimos) a educação e o ensino a distância, dentro de outros parâmetros, respeitando, principalmente, e com real efeito, como o aprendente aprende.

Profª MSc Claudia Nunes (16.04.20)

Referência:
EAGLEMAN, David e BRANDT, Anthony. Como o cérebro cria: o poder da criatividade humana para transformar o mundo. Rio de janeiro: Intrínseca, 2020.


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