domingo, 5 de abril de 2020

Paz ou Razão? Paz! Paz! Paz!



Linha do tempo: morte. Duro dizer, mas linha do tempo: morte! Dia a dia: mudanças e degeneração. Dia a dia: menos certezas e mais vida na corda bamba da desatenção. E na corda bamba, eu vou vivendo. Não é ruim, mas, às vezes, o cotidiano é interrompido, a respiração é suspensa e eu percebo que, na linha do tempo, o fim é o clássico que, por hora, eu não esperava. Ainda assim, na corda bamba, a desatenção dirige-me à capacidade de percepção de quem sou, de como sou e do que posso fazer.
Na corda bamba, em cada passo, minha memória faz seleção das possibilidades para sobreviver em dois tempos: hoje e amanha. Quero (e aceito) todas as pequenas seguranças. E, automaticamente, eu adquiro uma delas com clareza: RAZÃO. Se eu tenho que lidar comigo, em relação a tudo que me acontece, eu desejo ter razão para ter paz.
Em cada manhã, eu acredito que tenho muitas opções de vida e, na corda bamba do certo e do errado, é certo eu querer ter razão. Respiro melhor. Durmo melhor. Observo melhor. Mas, no momento, a linha do meu tempo é aprender a cuidar.
Não tive tempo para grandes ou pequenas organizações, portanto minha linha do tempo está trêmula, ainda que minhas têmporas estejam latejando por causa de uma simples mensagem: cuidar. Lidar comigo é algo natural, tenso e complexo. Lidar comigo e outra pessoa, num processo de alteração física e mental, torna a corda mais bamba ainda. E a razão vacila... Estranho...
Há algo certo que não barganha facilidades ou disfarces: a morte. A morte do outro. A perda do outro. É uma insensatez, é algo debilitante, é uma emoção dolorida, é uma certeza mitológica. Agora, então, a linha do tempo aponta ao cuidar e à qualidade de/para todos.
Com o tempo determinado, ter razão surge como instrumento de proteção, não tanto de segurança. Protejo o que sou para libertar o que eu posso ser. Só posso provar para mim o que posso ser e agir ao sabor dos acontecimentos, diante da finitude alheia. Há um ganho real em ter razão: é o autoconhecimento. Estou com meus sentidos nos lugares, mas agora, um pouco distorcidos, eu preciso enviá-los para cuidar do outro, no tempo que o tempo (ou as Moiras) me oferecer.
Neste tempo, a exigência é de comportamentos muito diferentes, aliás, eu tenho feito coisas do arco da velha e bem. Em cada dia, eu me aceito neste novo tempo cuja atenção me ignora completamente. Eu sou, mas agora eu não preciso; eu preciso ESTAR e, nessa luta, preciso criar nichos, tanto para aventuras (riscos) da ação de cuidar, quanto para me reencontrar pacificamente em meus prazeres e me reinventar. E a corda bamba está bem mexida: razão ou paz?
Esta é uma experiência que vem alterando meu sentir, pensar e agir. Na gaveta psíquica, a verdade absoluta e o jeito ideal. Não posso e não vou perder essa oportunidade. Não posso e nem vou deixar quaisquer coisas para depois. Na linha do tempo: antes tarde do que nunca. Logo, entre ter paz e ter razão, escolho sempre a PAZ. E digo o porque:
ð  Paz para recompor minhas emoções tóxicas quando me distraio do equilíbrio e do controle.
ð  Paz para reconhecer e ultrapassar quaisquer erros que possa (e vou) cometer.
ð  Paz para ignorar quaisquer julgamentos ou opiniões que, sinceramente, não peço.
ð  Paz para recompor as energias do meu corpo, da minha alma e do meu cérebro.
ð  Paz para viver o agora como ele se apresentar, sem ‘neuras’.
ð  Paz para incluir o destino como algo a se pensar no caso de.
ð  Paz para viver um grande amor materno como nunca se viu nessa vida.
ð  Paz para sentir o coração batendo sereno, mesmo diante do último ato das Moiras.
ð  Paz para relaxar à noite e reorganizar as informações para dormir bem e acordar melhor ainda.
ð  Paz para respirar na dor, respirar no amor, respirar nos invernos e nas primaveras, na ausência de.

Hoje não é a dor que ocupa espaço em mim, esta surgiu com uma noticia apenas, me jogou no chão e mudou meu olhar sobre o tempo. Ela trouxe outra linha do tempo: sobrevivência, no caso, de mim mesma com o que me aconteceu. Mais do que tudo, a partir da dor, das cinzas, surge a fênix da responsabilidade e da realidade. Sem problemas que isso venha ocorrendo aos trancos e barrancos, uma hora o alinhavo sairá perfeito para que surja o habito. Questão: eu tenho razão e aceito a fragmentação da ‘certeza ruim’ ou sobrevivo para oferecer o melhor de mim em paz? Sempre em paz!
Hoje, diante do aprendizado da dor, eu vivo o tempo do cuidado, da adaptação, do ser destemido e da possibilidade de ser diferente sem dúvidas ou reclamações. E por isso vivo a paz da qualidade de vida. Nem sempre certinha, nem sempre responsável, nem sempre verdadeira, nem sempre perfeita nas ações, mas sempre vivendo a paz de um sorriso bonito, de um olhar agradecido, de um abraço apertado, de uma conversa diferente, de uma batalha emocional vencida, todos os dias, de um jeito diferente, mesmo em isolamento social.
Eu não pedi essa luta, jamais pediria isso, mas ela chegou ao meu colo, surrupiando a dinâmica dos meus dias; criando outros textos e contextos, volumes e intensidades; logo, de um jeito ou de outro, ela é minha para aprender, aprender, aprender e, como simples humana, SOBREVIVER com uma memória de elefante.
Benção mãe! #tmj

Profª MSc Claudia Nunes (05.04.20)




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