Linha do tempo: morte. Duro dizer, mas
linha do tempo: morte! Dia a dia: mudanças e degeneração. Dia a dia: menos certezas
e mais vida na corda bamba da desatenção. E na corda bamba, eu vou vivendo. Não
é ruim, mas, às vezes, o cotidiano é interrompido, a respiração é suspensa e eu
percebo que, na linha do tempo, o fim é
o clássico que, por hora, eu não esperava. Ainda assim, na corda bamba, a
desatenção dirige-me à capacidade de percepção de quem sou, de como sou e do
que posso fazer.
Na corda bamba,
em cada passo, minha memória faz seleção das possibilidades para sobreviver em
dois tempos: hoje e amanha. Quero (e aceito) todas as pequenas seguranças. E, automaticamente,
eu adquiro uma delas com clareza: RAZÃO.
Se eu tenho que lidar comigo, em relação a tudo que me acontece, eu desejo ter razão
para ter paz.
Em cada manhã, eu
acredito que tenho muitas opções de vida e, na corda bamba do certo e do
errado, é certo eu querer ter razão. Respiro melhor. Durmo melhor. Observo
melhor. Mas, no momento, a linha do meu
tempo é aprender a cuidar.
Não tive tempo
para grandes ou pequenas organizações, portanto minha linha do tempo está trêmula, ainda que minhas têmporas estejam
latejando por causa de uma simples mensagem: cuidar. Lidar comigo é algo
natural, tenso e complexo. Lidar comigo e outra pessoa, num processo de
alteração física e mental, torna a corda mais bamba ainda. E a razão vacila... Estranho...
Há algo certo
que não barganha facilidades ou disfarces: a morte. A morte do outro. A perda
do outro. É uma insensatez, é algo debilitante, é uma emoção dolorida, é uma
certeza mitológica. Agora, então, a linha
do tempo aponta ao cuidar e à qualidade de/para todos.
Com o tempo
determinado, ter razão surge como instrumento de proteção, não tanto de
segurança. Protejo o que sou para libertar o que eu posso ser. Só posso provar
para mim o que posso ser e agir ao sabor dos acontecimentos, diante da finitude
alheia. Há um ganho real em ter razão: é o autoconhecimento. Estou com meus
sentidos nos lugares, mas agora, um pouco distorcidos, eu preciso enviá-los
para cuidar do outro, no tempo que o tempo (ou as Moiras) me oferecer.
Neste tempo, a
exigência é de comportamentos muito diferentes, aliás, eu tenho feito coisas do
arco da velha e bem. Em cada dia, eu me aceito neste novo tempo cuja atenção me
ignora completamente. Eu sou, mas agora eu não preciso; eu preciso ESTAR e,
nessa luta, preciso criar nichos, tanto para aventuras (riscos) da ação de
cuidar, quanto para me reencontrar pacificamente em meus prazeres e me
reinventar. E a corda bamba está bem mexida: razão ou paz?
Esta é uma experiência
que vem alterando meu sentir, pensar e agir. Na gaveta psíquica, a verdade
absoluta e o jeito ideal. Não posso e não vou perder essa oportunidade. Não
posso e nem vou deixar quaisquer coisas para depois. Na linha do tempo: antes tarde do que nunca. Logo, entre ter paz e
ter razão, escolho sempre a PAZ. E digo o porque:
ð
Paz
para recompor minhas emoções tóxicas quando me distraio do equilíbrio e do
controle.
ð
Paz
para reconhecer e ultrapassar quaisquer erros que possa (e vou) cometer.
ð
Paz
para ignorar quaisquer julgamentos ou opiniões que, sinceramente, não peço.
ð
Paz
para recompor as energias do meu corpo, da minha alma e do meu cérebro.
ð
Paz
para viver o agora como ele se apresentar, sem ‘neuras’.
ð
Paz
para incluir o destino como algo a se pensar no caso de.
ð
Paz
para viver um grande amor materno como nunca se viu nessa vida.
ð
Paz
para sentir o coração batendo sereno, mesmo diante do último ato das Moiras.
ð
Paz
para relaxar à noite e reorganizar as informações para dormir bem e acordar
melhor ainda.
ð
Paz
para respirar na dor, respirar no amor, respirar
nos invernos e nas primaveras, na ausência de.
Hoje não é a dor
que ocupa espaço em mim, esta surgiu com uma noticia apenas, me jogou no chão e
mudou meu olhar sobre o tempo. Ela trouxe outra linha do tempo: sobrevivência, no caso, de mim mesma com o que me
aconteceu. Mais do que tudo, a partir da dor, das cinzas, surge a fênix da
responsabilidade e da realidade. Sem problemas que isso venha ocorrendo aos
trancos e barrancos, uma hora o alinhavo sairá perfeito para que surja o
habito. Questão: eu tenho razão e aceito a fragmentação da ‘certeza ruim’ ou
sobrevivo para oferecer o melhor de mim em paz? Sempre em paz!
Hoje, diante do
aprendizado da dor, eu vivo o tempo do cuidado, da adaptação, do ser destemido
e da possibilidade de ser diferente sem dúvidas ou reclamações. E por isso vivo
a paz da qualidade de vida. Nem sempre certinha, nem sempre responsável, nem
sempre verdadeira, nem sempre perfeita nas ações, mas sempre vivendo a paz de
um sorriso bonito, de um olhar agradecido, de um abraço apertado, de uma
conversa diferente, de uma batalha emocional vencida, todos os dias, de um
jeito diferente, mesmo em isolamento social.
Eu não pedi essa
luta, jamais pediria isso, mas ela chegou ao meu colo, surrupiando a dinâmica
dos meus dias; criando outros textos e contextos, volumes e intensidades; logo,
de um jeito ou de outro, ela é minha para aprender, aprender, aprender e, como
simples humana, SOBREVIVER com uma memória de elefante.
Benção mãe! #tmj
Profª
MSc Claudia Nunes (05.04.20)
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