Então a velhice chegou. Então os olhares
mudaram. Então aceite os sinais: a velhice chegou para ficar. Não há tempo para
surfar nos sonhos muito futuristas. O tempo é, no máximo, até amanhã. Não há
escolha e nem o que lamentar. Somos um edifício antigo, cheio de marcas e
rebocos precisando de conserto e de acertos artificiais: as argamassas. Não
faça dívidas ou despesas extraordinárias. As rachaduras e as corrugações já
estão aparecendo na pele e no físico: é o tempo e sua história. Somos
propriedade mexida, cansada, ainda que completamente viva, de todos os tempos
de experiência. Qual será o futuro, se nossas ruínas internas estão presas à
Natureza das coisas e do Tempo? Não jogue água, não use seringa, não se pinte,
não se disfarce demais: aceite! Sua experiência está em seu rosto e na
crescente lentidão do corpo. Não se culpe, você não foi descuidado: você é
apenas um frágil humano; você apenas viveu em caminhos áridos e frutíferos;
amargos e alegres; tristes e muito interessantes. A velhice chegou e, com ela,
sua oportunidade de fazer diferente, com calma e mais destreza / sabedoria.
Então, faça o que quiser! Então, como Sêneca, “abarquemos e amemos a velhice;
ela é cheia de prazeres, se soubermos fazer uso dela. Agradabilíssimos são os
frutos de fim de estação”: do inverno. Não brigue com a Natureza, torne-se
agradável para você mesma; seja mais doce e sábia; observe e escute muito mais.
Os prazeres de antes estão ao largo das expectativas e das ações: “ninguém é
tão velho que não possa esperar mais um único outro dia”. Esperar. Agora a onda
é esperar. Na velhice, é a sabedoria das relações informacionais que
apresentam: somos um aglomerado de partes de algo que transita em parabólica
quase ininterrupta. Nascemos, vivemos, crescemos e morremos. Triste? É... pode
ser... . Um único dia é o tamanho da vida e dos seus prenúncios. Aceite e
aproveite! É isso! Somos “o ano que reúne todos os anos em si mesmo” como se
fossemos instantes de nós mesmos. Borbulhamos multiplicando anos, amigos, loucuras,
conquistas, atitudes em diferentes curvas, declives e retas sem fim. Aceite e
se deixe levar! Vez por outra, surrupiamos o destino e vivenciamos auroras
boreais de experiências multicoloridas, em movimentos arriscados visando o dia
seguinte de risos e histórias; mas, na velhice, ficamos apenas com as histórias
e delas podemos realmente fazer grandes limonadas, se nossa linguagem e estilo
mantiverem nossa saúde mental. Eis o grande problema: saúde mental! O tempo da
velhice tem a senha de Heráclito: “um dia é igual a todos os outros”. No fim,
vivemos apenas 24 horas, todos os dias. No fim, todos os dias vividos se
assemelham e neles temos a oportunidade de buscar a luz do sol ou da lua (do
dia ou da noite), com destreza e qualidade. De qualquer forma, cada dia deve
ser vivido como se fosse o último. Aceite sua sorte, pois a velhice chegou e
precisamos viver mais esse dia, com orgulho e paz. Diante da velhice, as
necessidades precisam ser repensadas: valem à pena? Com o SIM, a roleta da
libertação roda de novo; com o NÃO, a roleta russa mental perde em força. Sendo
assim, “é possível se libertar das próprias necessidades” e fazer por menos.
Sabia se administrar emocionalmente porque a velhice chega e chega forte.
Profª.
Ms Claudia Nunes (31.01.20)
Referencia:
SENECA, Lucia Anneo. Aprendendo a viver: Carta a Lucílio.
Lp&M Pocket
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