domingo, 19 de abril de 2020

Eugenia e Epigenética


Em tempos passados, com Francis Galton, primo de Darwin, nos apresentou a EUGENIA, teoria que prega o aperfeiçoamento da raça humana por meio de seleção genética. Ou seja, a partir de cruzamentos entre exemplares da espécie com características desejáveis, teríamos descendentes cada vez ‘melhores’. E uma dessas características seria a inteligência. Pais com genética ‘boa’ teriam filhos ‘bons’. Mas, por exemplo, para pais com transtornos mentais era preciso impedi-los de ter filhos. Alguns textos chamaram essas crianças de ‘azaradas’. E os cientistas temiam certas leituras genocidas. Por décadas, a ciência se desviou da investigação mais profunda sobre as bases da inteligência justamente “com medo de que suas pesquisas apontassem origens genéticas para as habilidades mentais e servissem de base para matança e preconceito”.
A linha de pensamento atual investe na ideia de que “a inteligência é PARCIALMENTE hereditária”. Como? A partir de estudos sobre gêmeos, filhos adotivos e DNA, nos últimos 50 anos. A base humana é a genética. A partir da concepção, a genética + hereditariedade representam os humanos como espécie ‘que pensa’, mas não os definem como sujeitos sociais. Por isso, a palavra parcialmente é fundamental.
A genética (hereditariedade) se transforma a partir de diferentes influências pós-nascimento. Áreas do cérebro ligadas à memória e à linguagem estão em constante modificação pelos estímulos recebidos e formas de associação neuronal. Essas modificações criam edições, descartes e interpretações às informações com que o córtex pré-frontal humano as evocará. É a hora do pensamento (raciocínio lógico) e da atitude (funções executivas).
Só que todo o movimento de transformação cujo resultado seja qualidade nas relações e cognições tem seu início na mais tenra idade. E sabemos que, em nossa sociedade, crianças de 0 a 7 anos, pelo menos, estão passando por emoções tóxicas em demasia e grande falta de estímulos adequados, em seus ambientes de imersão social, educacional e familiar.
A genética pode apresentar disfunções por causa do desconhecimento ou irresponsabilidade dos pais, no processo de gestação; mas a influência dos meios ambientes, pós-nascimento, gera problemas bem maiores às inteligências, tendo em vista o tempo de imersão, a repetição dos desencontros emocionais e a condição de saúde ou financeira.
Após o nascimento, os muitos estímulos recebidos revestem a bainha de mielina de neurônios mais consistentes ao gerenciamento e transmissão dos impulsos nervoso. Há um reforço e um esforço eletroquímico a vários conjuntos de neurônios, relacionada às áreas já mencionadas, por associações, as vezes imprevistas, criando inteligências mais focadas, atentas, equilibradas, empáticas e resilientes às experiências de vida, no processo de crescimento e de desenvolvimento cognitivo.
Ainda assim, nossa realidade é outra. Da repentina sensação ao acontecimento das funções executivas, as influências do meio ambiente causam grande confusão ao trânsito de informações nos neurônios e prejudicam as inteligências. Uma confusão que desenvolve autonomias e identidades que, às vezes, fogem às regras sociais. O acontecimento das neuroconexões, quando se relacionam à atenção, carinho ou positividade, tem a precisão de “alimentar” as inteligências com mais curiosidade e criatividade. É a inteligência como aspecto que envolve um conjunto de genes e que dá a capacidade de pensar e resolver problemas de forma criativa. E quando tal movimento tem a insistência de se relacionar com emoções e vivências não tão atentas, carinhosas e positivas, o que se estabelece são organismos humanos confusos, desorganizados, irritadiços, desatentos, pouco focados e diferentes em cada geração.
A inteligência então não é imutável. Muitas crianças não tem o destino mental de seus pais. Ainda assim são organismos cujos genes representam as tendências mentais paternas. Há pontos de contato com seus pais. Elas não são eles e, por isso, não merecem estigmatizações. E estes pontos de contato modificar-se-ão pelos tipos e intensidades das interações ao longo do seu desenvolvimento.
Da eugenia chegamos à epigenética (algo que está acima da genética), uma camada adicional de complexidade biológica que influencia o DNA; um conjunto de especializações possíveis; um sistema que controla a ativação e o desligamento de genes; um processo muito permeável a influências externas, como fatores de estresse, calor, frio, fome etc. Por isso devemos respeitar suas genéticas, mas também oportunizar interações diversas a essas crianças e assim promover associações criativas e comportamentos de agilidade emocional adequada às suas necessidades e às necessidades da sociedade.
Da Eugenia radical e preconceituosa à Epigenética, ponto de construção do equilíbrio e da inteligência emocional, nós, humanos, continuamos mantendo nossa melhor força: nossa sobrevivência como sujeitos sociais.

Profª MSc. Claudia Nunes (16.04.20)

Referencias:
LISBOA, Silvia. A Inteligência dos Bebês. Dossiê Superinteressante especial – Guia Definitivo da Inteligência. [Material em PDF].


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