sexta-feira, 3 de abril de 2020

Criatividade, Espetáculo e Exceção


De fato, nós somos a sociedade do espetáculo. Eu estou admirada. Nós reconhecemos a convivência como maneira de exposição de nossas habilidades e capacidades de forma a esconder nossas mazelas ou defeitos, e também para angariar mais parceiros para viver dias tão diferentes, como os de hoje. É uma linha tênue onde o ponto de equilíbrio está entre a verdade que só nós sabemos e os blefes que nós precisamos. Ainda assim, a sociedade do espetáculo de Debord (2003) parou e desligou boa parte do seu neon. É hora da Natureza, da calma, do silencio, da recuperação mundial e animal. É hora de os humanos voltarem às suas cavernas, agora informatizadas, para aprender a ‘ser gente’. Mas o espetáculo não pode parar.
Somos produtores, inventores, inovadores, principalmente, em meio a um desastre mundial biológico. Hollywood já produziu isso e nós sobrevivemos. E agora ‘é a vera’, fora da ficção! Enquanto nós nos desenvolvemos e nos ampliamos na Terra, junto às nossas invenções, nós incapacitamos esta mesma Terra de se recuperar com essas mesmas invenções. O espetáculo de imagens e informações se perdeu em quantidade; e nossos sentidos se perderam em qualidade. O espetáculo, por exemplo, da Internet nos liberou do toque, da mobilidade e nem nos preocupamos; ao contrário, nós discutimos sua veracidade e importância. O espetáculo que nos separou é o mesmo espetáculo que tem mantido a ligação humana com a vida. Doce contradição!
Em isolamento social, a Internet mantém nossa saúde mental e, fundamentalmente, nossa perpetuidade CULTURAL. Nem um vírus invisível trouxe a vontade de desistir; ao contrário, estamos surpreendendo com nossa criatividade e solidariedade. É um novo espetáculo de comunicação. O invisível amedronta e precisa ser superado. Qual é a atitude lógica inicial? Abertura do acesso a todas as MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS sem pré-conceito ou pagamento.
O vírus vem editando um novo espetáculo à unidade perdida. Estamos em testes de coreografia, de ritmo, de formas de relação e de resiliência. E a criatividade segue seu curso. Alguns tombarão; mas muitos, como um grupo controle, serão importantes à construção de uma sociedade em outro patamar: eu acredito. O que antes era observado como para o esquecimento do sentido de nossa humanidade e dos valores a ela pertinentes; agora, vem sendo usado para agregar emoções, razões, de corpo e alma.
Enclausurados redescobrimos a vida real, em ambiente virtual, através de aplicativos, sites e redes sociais. O espetáculo nos entorpece? Pode ser. O espetáculo nos faz esquecer o isolamento? Pode ser. O toque é impossível e perigoso; mas nossa racionalidade precisa de estímulos positivos. Em rede, o espetáculo mantém a saúde mental coletiva. Nas telas, há mais colaboração, cooperação, convivência e proximidade.
Segundo Debord (2003), “entra em negação a sociedade de classes”, a partir da presença e uso da Internet. Em isolamento social, com a Internet, há a apoteose da humanidade e da empatia. Eis, de novo, o espetáculo da originalidade do humano para se manter social e são. Não percebemos mais a separação das mentes criativas; e logo, os guetos culturais são liberados; e os artefatos artísticos são disponibilizados. Todos ‘ganham’ o direito de acesso a tudo para sobreviver. O mundo está aberto em ambiente híbrido, ainda que por tempo determinado.
Só espero que as mudanças de comportamento entre iguais e junto à natureza, em ambiente virtual, sejam positivas e perpétuas, quando não precisarmos mais tomar vitamina D, em vidrinhos, comprados na farmácia. E o espetáculo deve continuar...

Profª MSc Claudia Nunes (24.03.20)


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