De fato, nós somos a sociedade do espetáculo. Eu
estou admirada. Nós reconhecemos a convivência como maneira de exposição de
nossas habilidades e capacidades de forma a esconder nossas mazelas ou
defeitos, e também para angariar mais parceiros para viver dias tão diferentes,
como os de hoje. É uma linha tênue onde o ponto de equilíbrio está entre a
verdade que só nós sabemos e os blefes que nós precisamos. Ainda assim, a
sociedade do espetáculo de Debord (2003) parou e desligou boa parte do seu neon. É hora da Natureza, da calma, do silencio,
da recuperação mundial e animal. É hora de os humanos voltarem às suas
cavernas, agora informatizadas, para aprender a ‘ser gente’. Mas o espetáculo
não pode parar.
Somos produtores, inventores, inovadores,
principalmente, em meio a um desastre mundial biológico. Hollywood já produziu
isso e nós sobrevivemos. E agora ‘é a vera’, fora da ficção! Enquanto nós nos
desenvolvemos e nos ampliamos na Terra, junto às nossas invenções, nós
incapacitamos esta mesma Terra de se recuperar com essas mesmas invenções. O
espetáculo de imagens e informações se perdeu em quantidade; e nossos sentidos
se perderam em qualidade. O espetáculo, por exemplo, da Internet nos liberou do
toque, da mobilidade e nem nos preocupamos; ao contrário, nós discutimos sua
veracidade e importância. O espetáculo que nos separou é o mesmo espetáculo que
tem mantido a ligação humana com a vida. Doce contradição!
Em isolamento social, a Internet mantém nossa saúde
mental e, fundamentalmente, nossa perpetuidade CULTURAL. Nem um vírus invisível
trouxe a vontade de desistir; ao contrário, estamos surpreendendo com nossa
criatividade e solidariedade. É um novo espetáculo de comunicação. O invisível
amedronta e precisa ser superado. Qual é a atitude lógica inicial? Abertura do
acesso a todas as MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS sem pré-conceito ou pagamento.
O vírus vem editando um novo espetáculo à unidade
perdida. Estamos em testes de coreografia, de ritmo, de formas de relação e de
resiliência. E a criatividade segue seu curso. Alguns tombarão; mas muitos,
como um grupo controle, serão importantes à construção de uma sociedade em
outro patamar: eu acredito. O que antes era observado como para o esquecimento
do sentido de nossa humanidade e dos valores a ela pertinentes; agora, vem
sendo usado para agregar emoções, razões, de corpo e alma.
Enclausurados redescobrimos a vida real, em
ambiente virtual, através de aplicativos, sites e redes sociais. O espetáculo
nos entorpece? Pode ser. O espetáculo nos faz esquecer o isolamento? Pode ser.
O toque é impossível e perigoso; mas nossa racionalidade precisa de estímulos
positivos. Em rede, o espetáculo mantém a saúde mental coletiva. Nas telas, há
mais colaboração, cooperação, convivência e proximidade.
Segundo Debord (2003), “entra em negação a
sociedade de classes”, a partir da presença e uso da Internet. Em isolamento
social, com a Internet, há a apoteose da humanidade e da empatia. Eis, de novo,
o espetáculo da originalidade do humano para se manter social e são. Não
percebemos mais a separação das mentes criativas; e logo, os guetos culturais
são liberados; e os artefatos artísticos são disponibilizados. Todos ‘ganham’ o
direito de acesso a tudo para sobreviver. O mundo está aberto em ambiente
híbrido, ainda que por tempo determinado.
Só espero que as mudanças de comportamento entre
iguais e junto à natureza, em ambiente virtual, sejam positivas e perpétuas,
quando não precisarmos mais tomar vitamina D, em vidrinhos, comprados na
farmácia. E
o espetáculo deve continuar...
Profª MSc Claudia Nunes
(24.03.20)
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