Sentada na varanda
de casa, Sancha observa as pessoas pedalando e, como sempre, pensa na vida...
na sua vida... na vida em geral. Segundo o dicionário, pedalar é mover ou impulsionar com pedais (peça no qual se assenta
o pé para criar movimento ou para travá-lo). Todos precisam voltar à vida.
Todos necessitam voltar à vida. Todos querem pedalar. É o momento que nos
transfere de animais da Natureza para animais sociais na Natureza. Não houve
descarte de essência; apenas evolução. Transferência como evolução.
Sancha observa a
força e a aleria de pedalar ao ar livre. São adultos experimentando a memória
afetiva mais fundamental: a infantil. O corpo não responde na velocidade de
antes. Mas é a oportunidade que todos ganham para, além de tudo, romper
diversas barreiras emocionais e dar qualidade aos níveis de endorfina, tão
necessários aos pensamentos positivos e às tomadas de decisão. Sim, pedalar é
uma tomada de decisão (médica ou por conta própria) que favorece outras tomadas
de decisões também emocionais.
Pedalar é sair da
vida ‘de sempre’. Pedalar é reconhecer outras possibilidades e mudar seu campo
de visão. Pedalar é acarinhar o corpo e a mente com movimentos que qualificam
seus funcionamentos. Em cena, independente da idade, sensibilidade, criatividade,
atenção plena, equilíbrio e a grande crença de que tudo vai melhorar. É a vida
como porta aberta ao prazer de SER e SENTIR, simples assim.
Pedalar é ação em
que o corpo está em processo de adaptação profunda; em condicionamento
trabalhoso, intenso e de qualidade; e em mudança sem dramas ou amarras. Pedalar
é ação contida na expressão ‘livre para voar’; é eliminar pontos finais
internos e ser ‘gouche’ no dia ou na vida; é acreditar que valemos a pena na
realidade; e é experimentar ir ao desconhecido com serenidade e bem-estar para
entender e superar insatisfações e estranhezas.
É interessante
observar, no movimento de ir e vir ‘pedalante’, que nada pelo que passamos nos
paralisa para sempre ou elimina nossa vontade de sonhar, desejar e fazer. Nós
reclamamos da falta de empatia de alguns diante de um vírus tão letal, mas
quando mudamos o foco só um pouco e observamos os ‘pedalantes’, nós entendemos
o porquê: é difícil não ser animal social por muito tempo. Somos memórias de
nossas sociedades e socialidades; além de memórias de nossas experiências de
convivência mais primitivas. Como reagir a essa essência? Talvez pedalando ao
ar livre e acreditando em dias melhores.
Depois de mais uma
caipirinha, Sancha observa com sorriso nos lábios. Enquanto as pessoas pedalam
pensando em si mesmas ou na ‘morte da bezerra’, pit stops são fundamentais. O descanso é sobrevida; é ajuste
corporal; é cérebro em plasticidade química positiva; é reconfigurar emoções
pra o autocontrole e autoconhecimento; e seguir em frente.
No processo de
crescimento humano e naquela avenida, os pedalantes levarão tombos e cicatrizes
se formarão, porem estes sinais de alerta não são grilhões ou algemas; são momentos
de aprendizado já que estamos em constante construção; e não haverá outra
atitude senão se levantar e seguir em frente. O chão nunca é uma definição; é
ponto de salto quase quântico. O
equilíbrio entre trabalho (exercício) e repouso é a essência da colheita de um
bom fruto.
O que é importante
reconhecer na hora da decisão de pedalar: que o passado, apesar de ser
referência de respeito, é só passado, não volta; e, como na música, ‘o para
sempre, sempre acaba’. Pedalar é então aceitar que vivemos em espirais
virtuosas, em dimensões diferentes de realidade; e em envelhecimento constante
e de forma inevitável. É a melhor hora para sermos inteligentes e construir
presentes mais amenos, efetivos, práticos e alegres. Quem somos, neste período,
tem como base nossas experiências, sem apegos inúteis. Quem você é hoje deve
ser com quem você convive realmente. Não somos sobras do passado; somos
discernimento diante do que podemos ser e fazer hoje.
A idade traz uma
vantagem: sabedoria para utilizamos nossas experiências. Então pedalar torna-se
o elemento possível à manutenção da vida, com saúde, em sociedade ou nao. Mas
antes, respeite:
ð
Seu
médico;
ð
Seu
sistema respiratório;
ð
Suas
variações arteriais;
ð
Sua
musculatura (flexibilidade, alongamento, força, limites);
ð
Seus
medos;
ð
Suas
manias e vergonhas;
ð
Suas
dores recentes;
ð
Seu
tempo de atividade;
ð
Suas
respostas reflexivas;
ð
Seus
desejos insanos de pedalar pela vida.
Prof.ª
Claudia Nunes (02.05.2021)
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