Sempre me dizem: “viva no presente”. É
estranho isso porque, para viver o presente, é fundamental ter memória. Há uma
eternidade por dentro de mim e isso não pode ser sequestrado ou negado. São
minhas memórias que ajudam a pensar e agir com algumas ferramentas rotineiras
ou criativas. Não posso viver o dia seguinte sem observar outros territórios
como férteis de informação e sentimento. Não é cópia, é estratégia. Sei que a
vida segue em frente, mas esse ‘em frente’ desconhecido precisa ser feito com
alguma segurança. Besteira desfolhar-se de tudo para viver novidades. Isso é como
ignorar um amigo de anos porque outra pessoa surgiu em sua vida com atitudes e
falas atraentes. Eu não vou me descartar. Eu vou me ajustar, controlar e viver
o que for preciso ou desejado. As lembranças do passado são o perfume que
permanece por dentro de mim e bons andaimes para eu construir um novo ser.
Talvez as pessoas não entendam. Elas tem a mania de proteger. Só que proteção
demais é invasão, é incomodo, é estranho. Não preciso esticar ou imergir em
minhas memórias. Elas só precisam estar em mim para serem usadas quando o novo estiver
presente, ou precisando de força, ou mesmo desgastado. Alguns dirão ‘zona de
conforto’, com ironia. Lamento. O autoconhecimento tem o valor ou os aspectos
que EU der a ele. E corpo e mente precisam, às vezes, de pit-stops, em ambientes conhecidos, para crescer e tomar decisões.
Tudo mudou. Tudo está diferente. Os sentidos estão procurando organização. E
minhas memórias são minhas primeiras bagagens para experimentar a vida,
tentando não me distrair ou entrar em armadilhas ruins. Não há preparo para
tudo o que aconteceu e vem acontecendo, então, como ponta de lança, minhas
memórias. É o que eu tenho. Não há outro lugar para ir ou de onde partir sem a
sensação de me perder em algum ponto. Todas as partidas e chegadas; erros ou
acertos me trouxeram até aqui. Olhar para trás ou para dentro não pode
significar medo ou insegurança, neste início de reconhecimento de realidade.
Assim eu me reconheço, me deixo fluir, desaparecer, para viver, o que for
necessário. Então, viver o presente é isso: ir vivendo com minhas memórias +
todas as que virão como bônus ao meu aprendizado. Não me arrependerei. Sou isso
também. Sou assim... por enquanto...
Prof.ª
Claudia Nunes (24.05.2021)
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