ABISMO. “Hoje a
palavra que me surpreendeu foi ABISMO”. Abismo como depressão, lugar
inexplorado e íngreme, precipício inóspito, profundeza desconhecida, grande
despenhadeiro. “Que loucura o abismo. Ele me diz” – sente Sancha.
Abismo, depois de
um momento caótico, é: descrença da vida; estranheza sem desesperos; tempo em
sentido anti-horário; fluxos emocionais tortuosos; pensamento ansioso;
tentativa frenética de voltar a sentir-se bem. “Só que não tenho tantos
recursos para um resgate emocional”. Então, “como reviver? Como buscar novos
manches para os controles internos?”
Sancha foi em
busca de seus livros e amigos para responder: talvez assumir a dor; manter-se
consciente das dificuldades; estar disposta a novas atitudes mentais e
corporais; rever as próprias histórias de vida; mais do que tudo, buscar
gatilhos para superar o afogamento emocional; reencontrar gostos antigos
(autoestima); diminuir os níveis de desconfiança, insegurança, medo e de
controle; delegar poderes; e flexibilizar crenças. Todas opções interessantes
para início de conversa.
Sancha estava à
beira do abismo sim, mas não se entregava à escuridão ou ao silêncio. Sancha
queria respirar: cruzar o vazio que existia dentro dela mesma. Observando as
pessoas, ela também ouvia: autoconhecimento; meditação; autodisciplina;
viagens; resiliência; novas escolhas. Será? Três dias dentro de um quarto
pensando. Será? O que há de positivo nisso tudo?
Sozinha ela se
julga inútil, sem propósito e repetitiva. Como criar uma emoção positiva? Como
ter vontade de luz do dia? Tudo é tão incapacitante e bobo... “Eu fui
atropelada por um caminhão de lixo” – sentia ela. “Eu não encontro o fio da
meada”. Cinco dias dentro de um quarto e pensando. E as emoções cavalgando
fortemente seus sonhos.
No sétimo dia,
dentro de um quarto, enfim ela abre os olhos:
“Nossa como esse
quarto é branco! Se eu pintasse de amarelo ficaria um luxo...”
“Caramba esse
armário precisa de pintura: está todo arranhado”.
“Impressionante
como a moça da limpeza nunca limpa esse lustre”
“Vou tomar
vergonha na cara e limpar esses livros: muita poeira”
“Amanhã vou passar
um pano com desinfetante nesse chão, está gordurento”.
Ops!
Décimo dia dentro de um quarto e incomodada? Ela não era assim. As coisas
precisavam de movimento, inclusive ela. Nada aconteceria com ela inerte e
plasmada numa cama. Ela precisava de força e ajuda. Ela precisa ir à luta. Ela
precisava abrir a porta e acreditar que o mundo pode ser ajustado por ela
mesma. Ela precisava de uma limpeza profunda na vida e no quarto.
“Mããããeeeeeeeeee,
a senhora me esqueceu? Cadê o limpa móveis?” – gritou Sancha, depois de um bom
banho, trocar de roupa e tirar todos os móveis do lugar.
Assim
é a vida: tudo começa quando todos os móveis estão fora do lugar...
Prof.ª
Claudia Nunes (10.05.2021)
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