quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

SANCHA e seus tantos abismos


ABISMO. “Hoje a palavra que me surpreendeu foi ABISMO”. Abismo como depressão, lugar inexplorado e íngreme, precipício inóspito, profundeza desconhecida, grande despenhadeiro. “Que loucura o abismo. Ele me diz” – sente Sancha.

Abismo, depois de um momento caótico, é: descrença da vida; estranheza sem desesperos; tempo em sentido anti-horário; fluxos emocionais tortuosos; pensamento ansioso; tentativa frenética de voltar a sentir-se bem. “Só que não tenho tantos recursos para um resgate emocional”. Então, “como reviver? Como buscar novos manches para os controles internos?”

Sancha foi em busca de seus livros e amigos para responder: talvez assumir a dor; manter-se consciente das dificuldades; estar disposta a novas atitudes mentais e corporais; rever as próprias histórias de vida; mais do que tudo, buscar gatilhos para superar o afogamento emocional; reencontrar gostos antigos (autoestima); diminuir os níveis de desconfiança, insegurança, medo e de controle; delegar poderes; e flexibilizar crenças. Todas opções interessantes para início de conversa.

Sancha estava à beira do abismo sim, mas não se entregava à escuridão ou ao silêncio. Sancha queria respirar: cruzar o vazio que existia dentro dela mesma. Observando as pessoas, ela também ouvia: autoconhecimento; meditação; autodisciplina; viagens; resiliência; novas escolhas. Será? Três dias dentro de um quarto pensando. Será? O que há de positivo nisso tudo?

Sozinha ela se julga inútil, sem propósito e repetitiva. Como criar uma emoção positiva? Como ter vontade de luz do dia? Tudo é tão incapacitante e bobo... “Eu fui atropelada por um caminhão de lixo” – sentia ela. “Eu não encontro o fio da meada”. Cinco dias dentro de um quarto e pensando. E as emoções cavalgando fortemente seus sonhos.

No sétimo dia, dentro de um quarto, enfim ela abre os olhos:

“Nossa como esse quarto é branco! Se eu pintasse de amarelo ficaria um luxo...”

“Caramba esse armário precisa de pintura: está todo arranhado”.

“Impressionante como a moça da limpeza nunca limpa esse lustre”

“Vou tomar vergonha na cara e limpar esses livros: muita poeira”

“Amanhã vou passar um pano com desinfetante nesse chão, está gordurento”.

            Ops! Décimo dia dentro de um quarto e incomodada? Ela não era assim. As coisas precisavam de movimento, inclusive ela. Nada aconteceria com ela inerte e plasmada numa cama. Ela precisava de força e ajuda. Ela precisa ir à luta. Ela precisava abrir a porta e acreditar que o mundo pode ser ajustado por ela mesma. Ela precisava de uma limpeza profunda na vida e no quarto.

“Mããããeeeeeeeeee, a senhora me esqueceu? Cadê o limpa móveis?” – gritou Sancha, depois de um bom banho, trocar de roupa e tirar todos os móveis do lugar.

            Assim é a vida: tudo começa quando todos os móveis estão fora do lugar...

 

Prof.ª Claudia Nunes (10.05.2021)

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