Estou diante da
plataforma de aprendizagem remota para o Ensino Médio. Depois de tantos anos, o
Ensino Médio segue acontecendo em ambiente virtual. Eu, como professora, estou
em observação e observando. Eu e eles estamos em aprendizagem, nada espontânea.
Depois que o mundo
mudou, diante das tecnologias virtuais, um vírus rompeu a ligação ‘de sempre’
do humano com sua cultura pessoal. Foi um rompimento drástico e a saúde mental
foi muito abalada. Que estranho! Que angústia! Mesmo assim, eu tenho que
desenvolver jovens, de comunidade, a se interessarem pelos estudos a ponto de
conquistarem seus sonhos.
Há uma
desarticulação com o cotidiano anterior e uma rearticulação em ambientes novos,
com dinâmicas novas. Todos tem seus elãs seifados, mas também reconstituídos de
outro jeito. A teia da aprendizagem tem novos nós, costuras, caminhos e
dificuldades. Os sentidos, tão importantes, para o assimilação e
desenvolvimento da memória, da linguagem e da atenção, estão com várias
interrupções. É hora de aprender novas estratégias que podem ressignificar a
saúde mental de jovens e professores. Hoje estou mais preocupada com os jovens.
Lendo o livro
“Mindshift’, aceito a dificuldade de trabalharmos (nós, professores) percepções
que ajudem a esses jovens a desenvolver uma consciência maior de si mesmos e
ações inovadoras sobre suas próprias emoções e decisões. Nós precisamos evoluir
emocional e educacionalmente; e precisamos aprender com o tempo virótico a ‘ser
gente’, de novo. Nossos jovens AINDA precisam de muita atenção às suas emoções,
construídas em seus contextos, de certa maneira desajustados, disfuncionais, ou
mesmo, violentos.
Mais do que
tecnologias digitais, hoje, nós precisamos nos reorganizar mentalmente, além de
sabermos tirar proveito de aspectos comportamentais ‘de sempre’ e inadequados.
O ‘de sempre’ oferece a realidade dos obstáculos internos que precisam ser
superados basicamente para sobreviver. E nossos jovens tem dificuldade quanto a
isso, aliás sempre tiveram.
Ao olhar meu
entorno, percebo que a ênfase da aprendizagem está nas tecnologias virtuais,
esvaziando e ampliando as relações humanas. Paradoxo, ambiguidade e
complexidade, tudo ao mesmo tempo agora. E o sistema nervoso? E saúde
emocional? E o contexto social? Velha máxima: todos precisamos de estímulos,
inspiração, habilidades e uma tomada de decisão adequada. Não se pode APENAS
ficar no campo das idéias.
O alcance da capacidade de aprender e mudar é bem mais
amplo do que se imagina. Eis o processo de reinvenção e ressignificação. Simples capacidade de persistir em tarefas
difíceis. Simples? Não é não... Mesmo nos dias atuais, os jovens precisam
ser ensinados pelo exemplo, pela experiencia ou pelo contato direto a ter
atenção, esforço e foco. Não há mudança de comportamento sem uma tomada de
decisão radical sobre quem se quer ser ou o que se quer conquistar. E a decisão
radical pode vir diante de uma situação radical e inesperada, ou diante da
oportunidade de ouvir alguém bacana ou de acessos importantes a sua formação.
Ai eu me pergunto,
olhando aquela plataforma de ensino vazia: qual é a realidade deles? Quais
qualidades construíram ao longo da vida? Quais são suas perspectivas? A
sociedade é cruel: oferece pouco e quer demais. É a responsável pela
instituição das grandes inseguranças, dos medos e dos riscos, quase
inconsequentes. Eles vivem batalhas constantes. “O que vou fazer da vida?” é sua
pergunta mais angustiante.
Adolescente em
vida efervescente, divertida, sem grandes responsabilidades, experimentando
aventuras diversas, mas antes da maioridade, tendo que tomar decisões difíceis
e fora do seu campo de prazer ou perspectiva. Pior: eles são desencorajados em
tempo integral, pelos tantos estigmas com que se defrontam. Mudar é uma ação
comportamental que exige resiliência, autocontrole e muita reflexão: será que
eles estão preparados? Eu acredito que não. O mundo não é mais tão cognitivo;
ele exige padrões emocionais para que se construam processos cognitivos mais
adequados, empáticos e longevos.
Em nível
imaginativo, o mundo é um espaço a ser conquistado; mas, em nível real, os
jovens não tem prática. É a prática, em parceria com os exemplos, que reforça o
certo e o errado; que motiva; que gera reforço positivo; que desafia; que
provoca novas ações proativas; que constitui memórias mais positivas; etc.
O mundo tem
porosidade mínima para absorver tantos jovens, sonhos e necessidades, eu sei,
mas como somos seus mediadores (com limitações), nós temos grande
responsabilidade em criar, não um mundo cor de rosa ou paralelo, mas um mundo
possível de se viver, junto às diversas habilidades que podemos fortalecer e
ampliar. É acreditar que estes jovens tem limitações, mas estas não são
determinantes, pelo menos não deveriam. Estes jovens tem talentos e não
precisam se repetir dentro de um contexto ‘de sempre’ ou do imaginário alheio.
Hoje, olhando
aquela plataforma cheia de atividades diferenciadas, mas vazia de resultados ou
retornos, eu pensei que a ideia de retorno às aulas deve ser eivada de ações
que experimentem alterações nas atividades de vida diária desses jovens, como
se fossem compromissos que precisam ser realizados para que percebam que podem
ser mais do que dizem que são, ou que imaginam a partir do que dizem que são.
Pensando assim,
listei alguns compromissos realistas como:
ð
Silenciar
o celular e o computador por 12h ou 24h.
ð
Sentar
e escutar uma playlist de 20 músicas inteiras, de preferencia de olhos
fechados.
ð
Sair,
andar pelo bairro e listar 10 coisas novas que viu durante a caminhada.
ð
Esticar
o corpo no chão no fim da tarde por 2h.
ð
Ligar
para três pessoas que não fala há uma semana.
ð
Escrever
as impressões sobre o dia na hora de dormir.
ð Tirar um tempo para respirar profundamente e pensar coisas
boas para todos.
ð Começar algo que adia há muito tempo, sem medo.
ð Fazer exercício sem restrição e com liberdade.
ð Pensar em seus problemas e crie uma atitude resiliente.
ð Ser romântico e mais harmônico com os outros.
Aprender algo novo às vezes significa dar um passo
para trás e voltar a ser um novato. Mas pode ser uma aventura emocionante, para nós,
professores!
Prof.ª
Claudia Nunes (08.06.2021)
Referência:
OAKLEY, Barbara. Mindshift: mude seu padrão mental e descubra do que você é capaz. Rio
de Janeiro: BestSeller, 2020. [recurso eletrônico].
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